CERRADO BRASILEIRO: A TRANSFORMAÇÃO DE SOLOS ÁCIDOS E POBRES EM CAMPEÕES DE PRODUTIVIDADE AGRÍCOLA 

A questão dos fertilizantes agrícolas tem ocupado bastante espaço nas postagens aqui do blog nos últimos meses. Começamos com o problema do conflito entre a Rússia e a Ucrânia, o que restringiu o acesso dos fertilizantes russos ao mercado internacional. A Rússia e Belarus, país alinhado com Moscou, são dois dos maiores produtores mundiais de fertilizantes químicos.  

Mais recentemente falamos das restrições criadas por alguns governos devido a problemas ambientais – o uso de fertilizantes em plantações aumenta as emissões de derivados de hidrogênio, um dos mais importantes GEE – Gases de Efeito Estufa. Nessa lista estão o Sri Lanka, a Holanda e provavelmente o Canadá, onde o Governo está discutindo a redução do uso de fertilizantes.

Fertilizantes artificiais são problemáticos do ponto de vista ambienta. Além de aumentar as emissões de gases de efeito estufa, seus resíduos costumam ser carreados pelas águas das chuvas e lançados em corpos d`água como rios e lagos, onde também vão criar problemas. Porém, sem o uso de fertilizantes as culturas agrícolas não conseguiriam produzir alimentos suficientes para sustentar quase 8 bilhões de bocas humanas em todo o planeta. 

Solos férteis, conforme já tratamos em postagens anteriores, são o resultado de longos processos naturais que envolvem a degradação de rochas pelo sol, pelas chuvas e pelos ventos. Os fragmentos de rochas resultantes vão se juntar com os resíduos de matéria orgânica vindos de restos de plantas e de animais mortos, além de depender da presença de água e de ar. A formação de uma camada de solo fértil com 1 cm de espessura pode levar centenas de anos a depender da região. 

Quando esses solos são transformados em campos agrícolas, todo o “estoque” de nutrientes (nitrogênio, fósforo e potássio, entre muitos outros) se esgotam ao longo do tempo. Sem poder contar com os processos naturais que os formaram, é preciso “recarregar” os nutrientes desses solos artificialmente – é aqui que entram em cena os importantes fertilizantes. 

Em pequenas hortas caseiras podem ser usados adubos naturais feitos a partir de esterco de animais como cavalos e galinhas ou ainda terra de compostagem produzida a partir da decomposição de cascas de frutas e legumes entre outras sobras orgânicas. Porém, quando falamos de plantações comerciais de grande porte, esses fertilizantes naturais não dão conta do recado. 

Um exemplo da grande importância dos fertilizantes químicos na agricultura poder ser visto no Cerrado Brasileiro, um bioma que compreende cerca de 2 milhões de km2 em toda a região Central do Brasil. O Cerrado é o segundo maior bioma da América do Sul, só perdendo para a Amazônia

A área do Cerrado abrange os estados de Goiás, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Bahia, Maranhão, Piauí, Rondônia, Paraná, São Paulo e Distrito Federal, além dos encraves florestais (ou manchas de Cerrado) no Amapá, Roraima, Amazonas, e também pequenos trechos na Bolívia e no Paraguai. 

Os solos do Cerrado são extremamente ácidos e pobres em nutrientes, apresentando um tipo de vegetação muito rala quando comparada à da Amazônia e da Mata Atlântica. Até poucas décadas atrás, as áreas do bioma eram consideradas impróprias para o desenvolvimento de uma agricultura de alta escala de produção. 

Esses solos, porém, guardam uma fabulosa riqueza: inúmeros aquíferos e lençóis subterrâneos de água, que alimentam algumas das mais importantes bacias hidrográficas do Brasil como as do rio Paraná, São Francisco e Tocantins/Araguaia. Alguns dos maiores e mais importantes aquíferos do país estão localizados em regiões de Cerrado: o Bambuí, o Urucuia e o Guarani (esse parcialmente).  

A transformação das terras do Cerrado em maior fronteira agrícola do Brasil remonta a todo um conjunto de esforços feitos a partir da década de 1960 por diversos órgão de pesquisas nas áreas de agricultura e pecuária. Esses esforços culminariam com a criação da EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias, em 1972. Também é importante lembrar que o Governo brasileira via a ocupação de grandes extensões desertas do nosso território como estratégica para os interesses nacionais – a Amazônia é um desses casos.

Entre os muitos resultados desses esforços precisamos destacar o desenvolvimento de técnicas para a correção dos solos do Cerrado, solos que possuem altos teores de alumínio. A calagem, técnica que permite a diminuição da acidez dos solos, é uma delas. Ela é feita com a aplicação de calcário, mineral que também aumenta a disponibilidade de cálcio e magnésio para as plantas.   

Outro grande desenvolvimento técnico brasileiro foi o desenvolvimento de sementes de grão adaptados às características de solos e clima do Cerrado Brasileiro. Aqui o grande destaque é a soja. A soja surgiu originalmente na China há cerca de 5 mil anos atrás, a partir do cruzamento de duas espécies selvagens de grãos. O grão resultante desse cruzamento, com alto teor de gordura e proteína, rapidamente caiu no gosto popular e passou a ser um ingrediente fundamental na culinária chinesa na forma de óleos e molhos.  

Foi ao longo do século XX que a soja começou a ganhar o mundo, tendo sido plantada inicialmente nos Estados Unidos, onde o grão se adaptou rapidamente ao clima, muito similar ao da China. No Brasil, a soja começou a ser plantada inicialmente no Rio Grande do Sul, Estado localizado na única região brasileira de clima próximo ao Temperado.  

A variedade de soja adaptada às características do Cerrado, que foi batizada Doko, foi criada pelo Centro Nacional de Pesquisas de Soja da Embrapa, num projeto iniciado em 1975. Através de melhoramentos genéticos e de seleção artificial das plantas, os pesquisadores conseguiram obter uma planta que crescia e se desenvolvia normalmente em um meio ambiente completamente diferente do seu meio original.  

Os pesquisadores responsáveis pelo feito afirmam que o que eles fizeram foi “enganar a planta”, que passou a crescer em condições climáticas e de solos diferentes. Até a luminosidade e a duração dos dias na região do Cerrado é diferente das regiões da China onde a planta surgiu. 

Resolvidos os problemas de acidez dos solos e de adaptação das plantas às condições do Cerrado, era preciso garantir os nutrientes essenciais para o crescimento e desenvolvimento das plantas como o fósforo. É aqui que entram os fertilizantes artificiais. 

A combinação de todos esses esforços transformou o Cerrado Brasileiro de área praticamente improdutiva em um dos maiores celeiros agrícolas do mundo em menos de meio século. O bioma responde atualmente por 52% de toda a soja produzida no Brasil, com 15,6 milhões de hectares. Também se destacam a produção de milho e algodão, com 1,7 milhões de hectares, além de uma grande produção pecuária

Enquanto não se desenvolverem novas tecnologias para a fabricação de fertilizantes de baixo impacto ambiental e baixo custo a exemplo do uso do biocarvão agrícola, os fertilizantes químicos vão continuar sendo essenciais. 

GOVERNO DO CANADÁ ESTUDA REDUZIR AS EMISSÕES DE GASES DE EFEITO ESTUFA PELA AGRICULTURA 

Mais uma notícia preocupante para a produção mundial de alimentos: o Governo do Primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, está estudando um plano para a redução de 30% das emissões de GEE – Gases de Efeito Estufa, pela agricultura do país. Recentemente, divulgamos uma postagem aqui no blog falando de uma medida muito parecida adotada pela Holanda

De acordo com informações divulgadas pela Ministério da Agricultura do país, a redução do uso de fertilizantes pela agricultura canadense é uma das formas de se atingir essa redução nas emissões de GEE. Plantas em crescimento liberam óxido nitroso (um dos derivados do nitrogênio), um dos mais importantes gases de efeito estufa. 

Os agricultores canadenses, assim como seus colegas holandeses, estão preocupados com esse tipo de medidas e estão protestando nas ruas. De acordo com um estudo encomendado por produtores de fertilizantes, uma redução de 20% no uso desse insumo entre 2023 e 2030 resultaria nu prejuízo de US$ 48 bilhões em função da redução da produtividade das culturas agrícolas. 

Um exemplo citado no estudo é a canola, grão muito utilizado para a produção de óleos comestíveis. O Canadá é o maior produtor mundial de canola com um volume da ordem de 12 milhões de toneladas. Segundo esse estudo, as exportações de canola pelo país ficarão próximas de zero caso a redução no uso de fertilizantes venha a ser adotada.  

Outro exemplo citado foi o trigo, grão cuja produção no país é de cerca de 30 milhões de toneladas. Com restrições ao uso de fertilizantes, a redução da produtividade das lavouras chegaria a 14 milhões de toneladas. Por mais justificadas que sejam do ponto de vista ambiental, a adoção esse tipo de medida nesse momento complicado em que vivemos poderá ser desastroso para todos. 

Como todos devem estar acompanhando nos noticiários, a Rússia e Ucrânia estão em meio a um conflito militar, o que está tendo reflexos em todo o mundo. Os dois países, entre outras coisas, são grandes produtores de grãos. Um exemplo – juntos, eles respondem por quase um terço da produção mundial de trigo. Devido ao citado conflito, parte do abastecimento mundial ficou comprometido. 

Outro produto agrícola importante da pauta de exportações tanto da Ucrânia quanto da Rússia é o óleo de semente de girassol. O produto já está em falta em diversos países da Europa. A Itália, por exemplo, importa mais de 90% do produto da Ucrânia. 

Agora imaginem como ficaria esse cenário já complicado com uma redução da produção agrícola de grandes países exportadores como o Canadá e a Holanda? E tudo isso por causa de pautas ambientais de políticos. 

A produção agrícola depende da presença de água, luz solar e, principalmente, da fertilidade dos solos. Solos férteis, falando de uma forma bem simplificada, são os que permitem o desenvolvimento e a sustentação de vida vegetal. Esse tipo de solo reúne sedimentos minerais como areia, silte e argila; matéria orgânica resultante da decomposição de plantas e animais mortos; água e também ar. Também precisa reunir algumas formas de vida animal como as colônias de bactérias responsáveis pela decomposição da matéria orgânica.  

Insetos como as formigas e vermes como as minhocas também possuem um papel importante na fertilidade dos solos. As formigas carregam grandes quantidades de folhas e outras matérias orgânicas para suas colônias subterrâneas – essa matéria servirá para o “cultivo” de fungos, o alimento das formigas. A decomposição dessa matéria orgânica libera nitrogênio no solo, um elemento fundamental para a nutrição das plantas. As fezes das minhocas também liberam nitrogênio nos solos. 

As dificuldades para a manutenção da fertilidade dos solos agrícolas ao longo de grandes períodos de tempo sempre foi um fantasma que acompanhou a humanidade desde o início da agricultura, surgida entre 10 e 12 mil anos. Povos que viviam ao lado de grandes rios como o Tigre e o Eufrates na Mesopotâmia; o Nilo no Egito; o Ganges e o Indus no Subcontinente Indiano, ou ainda nas várzeas de grandes rios do Sudeste Asiático e Extremo Oriente, sempre podiam contar com o período das enchentes, quando uma grossa camada de nutrientes era trazida todos os anos pelas águas e recobria esses solos.  

Povos que não contavam com essa dadiva da natureza eram obrigados a se valer de uma série de artimanhas para garantir uma produção agrícola adequada. Uma dessas técnicas, que se manteve por vários milênios, era a rotação de terras. Enquanto um pedaço de uma área de terras estava sendo usado para a agricultura, outros trechos ficavam “descansando” por alguns anos, o que permitia que os solos recuperassem a sua fertilidade. 

As coisas, porém, nem sempre saíam do jeito que se esperava. Safras com baixa produtividade, secas, pragas agrícolas e ataques de gafanhotos, guerras, entre outros males, frequentemente assolavam povos inteiros e grandes contingentes populacionais sofriam com a fome e a desnutrição. Esse fantasma da insegurança alimentar ligada à produção agrícola (contra as guerras nunca houve muito o que se fazer) só passou a ser razoavelmente controlada há bem poucas décadas.  

Entre os muitos avanços que impulsionaram a agricultura estão os fertilizantes químicos. Numa definição rápida, fertilizantes são compostos minerais que são usados para melhorar a nutrição das plantas. Por mais surpreendente que possa parecer, muitos dos avanços da química criados para o desenvolvimento de armas durante a Segunda Guerra Mundial passaram a ser usados para a produção de fertilizantes baratos no pós-guerra. 

Esse grande salto na produção agrícola foi batizado de Revolução Verde em meados da década de 1960 e ajudou a acabar com a fome de centenas de milhões de pessoas em todo o mundo. 

Com todas as reservas que precisamos fazer sobre os impactos ambientais dos excessos praticados, é simplesmente impossível desenvolver uma agricultura moderna de grande produtividade sem o uso de fertilizantes  especialmente em um mundo que tem 7,7 bilhões de bocas para alimentar.   

E essa mudança brusca nos padrões de produção da agricultura que muitos grupos políticos estão querendo impor rapidamente podem não dar muito certo – lembrem do caso recente do Sri Lanka 

ANUNCIADA A DESCOBERTA DE MANGUEZAL DE ÁGUA DOCE NA AMAZÔNIA 

Os manguezais ou mangues, como são chamados popularmente, são ecossistemas costeiros de transição entre os ambientes marinhos e terrestres. São encontrados nas regiões tropicais e subtropicais de todo o mundo, sendo encontrados em enseadas, barras, lagunas, foz de rios, baías e em outras formações costeiras onde as águas doces de rios e lagos se encontram com as águas marinhas, formando um ambiente de águas salobras.  

As áreas de mangues possuem uma vegetação adaptada ao regime das marés. São plantas com raízes bem desenvolvidas, conhecidas como halófilas, e perfeitamente adaptadas às águas salobras. Os solos dos manguezais recebem e acumulam grandes quantidades de sedimentos e de matéria orgânica em decomposição, sendo considerados um dos mais férteis do planeta.  

Essa característica transforma os manguezais em importantes “exportadores” de matéria orgânica, algo essencial para a produtividade das áreas costeiras. Esse ecossistema rico em alimentos abriga centenas de espécies de peixes, moluscos, crustáceos, verme, aves, mamíferos e, também, populações humanas.   

Segundo estudos científicos, cerca de 70% das espécies marinhas utilizadas para alimentação humana, onde se incluem peixes, siris, camarões, lagostins, caranguejos, entre outras espécies, dependem das áreas de mangue para a sua reprodução.  

Um exemplo são os alevinos de diversas espécies de peixes, que passam a fase inicial de suas vidas abrigados entre as raízes do mangue, só migrando para as águas abertas dos oceanos após atingirem um tamanho maior e mais adequado para fugir dos predadores. Em regiões onde as áreas de mangue foram destruídas ou ocupadas, a produtividade pesqueira é cada vez menor. 

Todos esses conceitos, que já foram citados em diversas postagens aqui do blog, precisarão passar por algumas revisões: uma expedição da National Geografic e da Rolex Perpetual Planet Amazon Expedition acaba de comprovar uma hipótese levantada por pesquisadores do Departamento de Oceanografia da Universidade Federal do Espírito Santo – a existência de manguezais de água doce. 

Essa expedição deverá se estender por cerca de dois anos, percorrendo toda a Bacia do rio Amazonas desde o Oceano Atlântico até os Andes. A primeira fase da expedição, que aconteceu entre os dias 10 e 27 de abril, explorou 11 florestas de mangue na região do delta do rio Amazonas. Essa região engloba áreas dos Estados do Pará e do Amapá, englobando todo o Arquipélago de Marajó. 

Os pesquisadores analisaram dados da água e do solo, avaliando a salinidade, a composição, a densidade e o volume das árvores dos mangues, onde foi usado um sistema de varredura a laser 3D do solo e de drones. 

Esse esforço resultou numa expansão de 20% do mapeamento dos manguezais da região, perfazendo um total de 180 km2. Os pesquisadores comprovaram que, devido à fabulosa vazão do rio Amazonas, os solos desses manguezais são hiposssalinos, ou seja, possuem pouco sal. 

A estrutura da vegetação dos manguezais do Delta do rio Amazonas é bem diferente de todos os manguezais de águas salobras conhecidos. Aliás, segundo os pesquisadores, é provável que esse tipo de manguezal não existe em nenhum outro lugar do mundo. As condições específicas das águas do rio Amazonas levaram a uma adaptação da vegetação do mangue a água doce. 

Essa notícia surpreendente só vem confirmar o quão pouco conhecemos sobre a Amazônia. E olhem que não estamos falando de nenhum rincão escondido nas cabeceiras de algum grande rio encravado no meio da selva. A foz do rio Amazonas é, desde o começo da colonização do Brasil, uma das áreas mais visitadas e habitadas da Amazônia. Uma curiosidade: essa região foi descoberta pelo navegador espanhol Vicente Yañes Pinzón em 1500, meses antes da chegada da frota de Pedro Álvares Cabral no litoral da Bahia. 

A expedição de Pinzón partiu da Espanha em dezembro de 1499 com quatro naus, zarpando de Palos de La Fronteira e rumando primeiro para as Ilhas Canárias, seguindo depois na direção da Ilha de Santiago, no arquipélago de Cabo Verde. No dia 26 de janeiro, essa expedição atingiu um cabo, que recebeu o nome de Santa Maria de la Consolación. De acordo com o historiador brasileiro Adolfo de Varnhagen (1816-1878), esse cabo é a Ponta do Mucuripe, na cidade de Fortaleza, no Ceará.  

Seguindo rumo ao Oeste, a expedição percebeu a certa altura que estava navegando em águas doces e encontrou “uma boca de 15 léguas que saía no mar com grande impacto”. Essa boca era a foz do rio Amazonas e o impacto era um fenômeno que passou a ser conhecido como pororoca. Pinzón batizou o grande rio como Santa Maria de La Mar Dulce.  

A expedição espanhola chegou a navegar pelas águas do grande rio, onde encontraram uma densa floresta cheia de selvagens. O grande volume de água que chegava na foz fez com que os espanhóis deduzissem que se tratava de uma grande área continental, porém, a expedição não se interessou em fazer maiores descobertas. As naus retornaram ao Oceano Atlântico e seguiram o litoral rumo ao Norte. A descoberta do grande rio se transformou numa mera curiosidade nas páginas do diário de bordo. 

É bem provável que essa expedição, assim como aconteceu com outras grandes expedições que vasculharam a Floresta Amazônica no passado, nós traga notícias de novas e importantes descobertas nesses próximos dois anos. 

Vamos ficar esperando com muita ansiedade! 

ERA UMA VEZ UMA GRANDE FLORESTA TROPICAL NO SAARA..

Mudanças climáticas estão “pipocando” por todos os cantos do mundo. Elas podem ser vistas nas grandes ondas de calor que estão assolando diversos países da Europa. Na esteira do calor vemos grandes incêndios florestais, perspectivas de quebra de safras agrícolas, rios importantes com baixíssimos níveis. Também é importante citar o elevado número de mortes provocadas pelo calor. 

Na postagem anterior falamos das consequências devastadoras de mudanças climáticas na região onde floresceu o grande Império dos Maias. Estudos científicos recentes comprovaram que a região entre o Sul do México e a Guatemala enfrentou duas secas fortíssimas há cerca de mil anos, eventos que levaram as grandes cidades-estados dos maias ao colapso. 

Para ilustrar melhor o que mudanças climáticas podem causar em uma determinada região vou citar o caso do Saara, o maior deserto do mundo. Ocupando uma área de 9,5 milhões de km2, exatamente 1 milhão a mais que o território brasileiro, o Saara ocupa todo a faixa Norte do continente africano. 

O Saara engloba um total de 12 países: Argélia, Chade, Egito, Líbia, Mali, Mauritânia, Marrocos, Níger, Saara Ocidental, Sudão, Sudão do Sul e Tunísia. A população somada de todos estes países está próxima dos 290 milhões de habitantes, porém na região do Saara vivem aproximadamente 2,5 milhões de pessoas 

Pode ser difícil para os leitores acreditaram, mas, até alguns poucos milênios atrás, grande parte da área que hoje está tomada pelas areias e terrenos áridos do Saara era coberta por uma luxuriante floresta tropical. Outros trechos eram cobertos por savanas muito parecidas com o nosso Cerrado, onde grandes manadas de animais da fauna africana viviam confortavelmente. 

Provas de toda essa exuberância de vida animal e vegetal em uma das regiões mais secas do mundo em nossos dias podem ser encontradas por todos os cantos do Saara. Um dos exemplos mais didáticos são pinturas rupestres que nos foram legadas por povos pré-históricos que viviam na região. Nessas pinturas vemos cenas de grandes bandos de animais como elefantes, girafas, hipopótamos, zebras e gnus, entre muitos outros, animais que hoje só são encontrados nas savanas e florestas mais ao Sul do continente. 

Há cerca de 20 mil anos atrás, após o último período de Glaciação ou Era do Gelo, como é mais conhecida popularmente, o Norte da África apresentava um clima mais úmido e com temperaturas mais baixas que as atuais, contanto com diversos rios permanentes. Os solos do Saara mostram vestígios da calha de um grande rio que corria no sentido Leste-Oeste – muitos especialistas acreditam que essa era a antiga calha do rio Nilo. O famoso rio que hoje atravessa o Egito de Sul a Norte e deságua no Mar Mediterrâneo, provavelmente atravessava todo o Norte da África naqueles tempos e tinha a sua foz no Oceano Atlântico.  

Esse clima e vegetação permaneceram inalterados até um período entre 8 e 10 mil anos atrás, quando o nosso planeta sofreu uma leve alteração no seu eixo de rotação, que foi suficiente para alterar a incidência solar no Norte da África e provocar uma alteração climática nos regimes de umidade e temperatura. Alguns cientistas afirmam que essa mudança ocorreu a menos tempo, há cerca de 5 mil anos atrás, mas com as mesmas consequências – as florestas retrocederam lentamente até desaparecer e as áreas de savana se ampliaram.  

É aqui que entra em cena uma tese interessante, resultado de uma série de pesquisas publicadas nos últimos anos, para a qual devemos prestar atenção: o processo de desertificação do Norte da África que levou ao surgimento do Saara foi acelerado por ações humanas. Evidências arqueológicas indicam que o avanço da criação e pastoreio de animais a partir de 10 mil anos atrás foi acompanhado de um processo de substituição de trechos de matas por pastagens (qualquer semelhança com a queima de árvores da Caatinga Nordestina para a formação de campos não é mera coincidência).  

Sem a proteção dessas matas e com o avanço das mudanças climáticas naturais e de redução das chuvas, essas regiões tiveram um processo mais rápido de desertificação. O resto é história e geografia. 

Estudos científicos desta magnitude, envolvendo uma região tão grande e complexa, é claro, vão necessitar de muitos e muitos anos mais para aprofundar as pesquisas e comprovar todos os resultados nos campos da arqueologia, geologia, botânica, zoologia, geografia física e humana, meteorologia e climatologia, história entre outras ciências. Porém, a analogia entre uma ancestral super exploração dos recursos naturais de áreas de antigas savanas no Norte da África e os processos de desertificação observados em áreas da Região do Semiárido brasileiro devem servir como um alerta.  

Como mostrado em postagem anterior aqui do blog, as áreas em processo de desertificação grave no Brasil já somam 230 mil km² somente em áreas da Caatinga, além de uma área com 69 mil km² na região Norte do Estado de Minas Gerais – lembrando que estas duas regiões concentram a maior parte da bacia hidrográfica do Rio São Francisco.  

A derrubada de árvores dos caatingais e do agreste para uso da madeira e da lenha, as queimadas para preparação do solo para agricultura e para formação de pastos, além da criação extensiva de animais – principalmente os caprinos, são ações humanas que, comprovadamente, estão transformando terrenos férteis em áreas desérticas, onde os solos ficam imprestáveis para agricultura e formação de pastos.  

Muitos de vocês podem até pensar que este processo de desertificação se deve as poucas chuvas que caem nestas regiões – a precipitação média anual de chuvas na nossa Região do Semiárido está entre 200 mm e 400 mm, superior àquela de cidades importantes como Barcelona e Paris, e muito acima da precipitação média no Deserto do Saara, que se situa entre 100 e 150 mm de chuva durante o ano.

É sempre importante lembrar que o clima do Deserto do Saara tem forte influência no Sul da Europa – grande parte dessas ondas de calor que atormentam a vida de diversos países europeus tem suas “raízes” no calor do Saara

A pergunta que muitos devem estar se fazendo – é possível que parte da Europa se transforme em uma extensão do Saara algum dia? Sim, aliás isso é até bastante provável. Porém, como foi mostrado no texto da postagem, esse processo levaria centenas de anos para se concretizar. 

Até lá, ao que tudo indica, as ondas de calor vão continuar se sucedendo, talvez com intensidades cada vez maiores. Será uma espécie de “cozimento lento e gradativo”. A diferença em relação ao que ocorreu num passado distante é que hoje em dia contamos com conhecimentos técnicos e científicos que nossos ancestrais nem em sonho poderiam imaginar. 

Gosto de imaginar que, com muito esforço, vamos conseguir remediar muitos dos danos ambientais que fizemos ao planeta ao longo dos últimos séculos e, assim, conseguiremos diminuir um pouco o tamanho dos estragos. 

MUDANÇAS CLIMÁTICAS FORAM AS PROVÁVEIS RESPONSÁVEIS PELO FIM DA CIVILIZAÇÃO MAIA 

Fortes ondas de calor estão castigando diversos países europeus ao longo das últimas semanas. Todos os dias recebemos notícias de grandes incêndios florestais, recordes de altas temperaturas ou ainda ficamos sabendo de vítimas fatais do forte calor. Temperaturas acima dos 40° C viraram rotina em grande parte da Europa. 

A situação da Europa não é um caso isolado – na América do Norte e em partes da Ásia o clima também não tem dado trégua. Mesmo aqui no Brasil estamos assistindo a importantes mudanças nos padrões climáticos – estamos chegando ao final do mês de julho, período de pico do inverno na Região Centro-Sul do país, e, até agora, não sentimos grandes ondas de frio por aqui. 

E o que está por trás de tudo isso?  

Estamos vivendo em tempos de mudanças climáticas decorrentes do aquecimento global que nós, seres humanos, construímos pacientemente ao longo dos últimos 250 anos (para falar o mínimo). Desde meados do século XVIII, quando teve início a chamada Revolução Industrial, os países industrializados vêm emitindo volumes crescentes de GEE – Gases de Efeito Estufa. Essas ondas de forte calor são um dos resultados de todo esse “esforço”. 

Todo esse conjunto de mudanças nos padrões climáticos já estão provocando fortes mudanças no comportamento de muita gente e muito mais mudanças deverão ocorrer nos próximos anos. Cada vez mais estamos buscando fontes de energia renováveis, carros elétricos ganharam a preferência dos consumidores e muitos dos nossos hábitos de consumo estão sendo mudados. 

A pergunta que não quer calar – será que ainda teremos tempo de reduzir o ritmo do aquecimento global e de toda uma série de catástrofes ambientais que parecem descortinar no horizonte? 

Sem querer bancar algum futurólogo do caos, recomendo que olhemos para o nosso passado aqui no continente americano, mais especificamente para a América Central. Essa região viu florescer grandes civilizações que, em muitos aspectos, foram até mais adiantadas que outras na Europa, Ásia e África ao seu tempo. Um dos casos mais intrigantes foram os maias. 

As chamadas Civilizações Mesoamericanas começaram a desabrochar entre os anos 2000 e 1000 a.C, quando indígenas de diversos grupos começaram a abandonar as áreas rurais e passaram a viver em cidades. Um dos casos mais significativos foram os Olmecas, povo cuja civilização atingiu seu clímax entre os anos 1500 e 1000 a.C.  

A cultura Olmeca é considerada a civilização matriz da América Central. Foram os Olmecas os primeiros a construir grandes cidades de pedra na região. Também desenvolveram importantes técnicas agrícolas e criaram um sistema de comércio apurado, o que ampliou muito a sua área de influência. Também foram os Olmecas que lançaram as bases da religião que influenciaria todos os povos que floresceriam futuramente nessa região. 

Os maias foram um dos muitos “herdeiros” da cultura Olmeca. Sua civilização atingiu o ápice entre os anos 250 e 800 de nossa era, em um território que se estendia entre o Sul do México e a Guatemala, além de ocupar porções de El Salvador, Belize e Honduras. Entre suas principais cidades destacam-se PalenqueTikalCalakmul, além da cidade de Chichén Itzá (vide foto) onde os pesquisadores encontraram elementos culturais dos maias e dos toltecas, outra grande civilização da região. 

Quando os primeiros conquistadores espanhóis desembarcaram no litoral do México em 1517, eles ficaram fascinados com as ruínas das fabulosas cidades maia da Península de Yucatán, que àquela altura já estavam abandonadas há cerca de 500 anos. Desde então os pesquisadores e historiadores vem tentando entender o que aconteceu com a civilização Maia.  

Várias pesquisas realizadas ao longo das últimas décadas lançaram importantes luzes na história perdida dos maias. Existiam diversas hipóteses para o fim dessa grande civilização: colapso de rotas comerciais, invasão e conquista por outros povos, guerra civil, secas, entre outras. Os mais recentes estudos confirmaram uma dessas hipóteses: a região sofreu com longas e fortes secas, o que levou ao abandono sistemático das grandes cidades. 

Estudos conduzidos por pesquisadores norte-americanos e ingleses reuniram registros climáticos descobertos ao longo de muitos anos, o que permitiu construir um quadro ambiental completo de toda a região de influência da civilização maia. Esse quadro mostrou que toda a região Sul do Império Maia nos atuais territórios da Guatemala e de Belize foi castigada por uma severa seca no século IX. 

As evidências arqueológicas mostram que as grandes cidades dessa região passaram a perder população gradativamente nesse período. Curiosamente, enquanto as cidades maias do Sul agonizavam, as do Norte do Império floresciam como é o caso de Chichén Itzá que ressurgiu nesse período. 

Mas isso não é tudo. As mesmas evidências climáticas mostraram que houve um segundo período de seca muito forte na região Norte do Império Maia entre os anos 1.020 e 1.100 de nossa área, período em que se observa uma nítida redução da produção de peças cerâmicas e de outros artefatos nas cidades, além de uma redução gradativa das populações. 

O Império Maia era formado por grandes cidades-estados independentes, cada uma delas dirigida por um rei e por uma classe de sacerdotes. Nessas cidades viviam centenas de milhares de habitantes que dependiam sobretudo da cultura do milho para sobreviver. Grandes extensões da floresta tropical centro-americana foram derrubadas para garantir o sustento de toda essa população. 

Além da grande devastação ambiental das florestas, o que por si só já causaria enormes problemas para agricultura, todo o território maia foi assolado por mudanças climáticas regionais que resultaram na maior seca na região em 2 mil anos. Essa seca começou na parte Sul do Território e depois se expandiu para o Norte. 

Sem contar com soluções técnicas que permitissem conviver com a forte seca – falo aqui de sistemas de irrigação agrícola, represas e sistemas de canais para o transporte de água a longas distancias, as cidades maias colapsaram. As populações abandonaram as cidades e passaram a viver em pequenas aldeias espalhadas por toda a América Central. Muitos desses grupos maias existem até os dias de hoje. 

Se mudanças climáticas regionais foram as responsáveis pela destruição de uma das mais impressionantes civilizações Mesoamericanas há cerca de mil anos, as mudanças climáticas que estão assolando diversas partes do mundo atualmente não teriam potencial de fazer a mesma coisa? 

Será que países e povos acostumados a climas temperados como a maior parte dos europeus vão conseguir se adaptar a temperaturas de verão próximas dos 50° C como estamos vivendo hoje? 

Desgraçadamente, essas são incômodas perguntas que vamos precisar responder daqui para a frente 

RELATÓRIO AFIRMA QUE MEIO AMBIENTE DA AUSTRÁLIA É “POBRE E ESTÁ SE DETERIORANDO” 

No último dia 19 de julho, foi divulgado um relatório elaborado pelo Ministério do Meio Ambiente da Austrália onde foi feito um “raio X” da situação ambiental do país. Segundo o estudo, que foi concluído em 2021, a situação ambiental da Austrália se deteriorou muito nos últimos cinco anos. 

Entre todos os 38 membros da OCDE – Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, a Austrália foi o país que mais perdeu espécies de mamíferos. E isso não é tudo – atualmente existem mais espécies exóticas do que as nativas da fauna local. 

Segundo os estudos, o país perdeu mais de 77 mil km2 de habitats de espécies nativas nas duas últimas décadas. Essa área é equivalente a todo o território da Tasmânia, a grande ilha localizada ao Sul da Austrália, ou a quase duas vezes o tamanho do Estado do Rio de Janeiro

Além dessa grande perda de habitats naturais, é sempre importante lembrar que a Austrália sofreu muito com grandes incêndios florestais nos últimos anos, o que reduziu ainda mais os habitats de espécies nativas. Um exemplo desse drama são os coalas, uma das espécies mais carismáticas da fauna local – esses animais estão ameaçados de extinção em três estados australianos. 

Em 2020, conforme comentamos em postagem aqui do blog, mais de 4 milhões de hectares de matas nativas foram destruídos por incêndios florestais no Sul e no Sudeste da Austrália. Dados da época afirmam que quase meio bilhão de animais, entre animais domésticos e da fauna nativa, morreram em consequência desses incêndios. 

Além da destruição de matas nativas e dos incêndios florestais, a fauna australiana sofreu muito com a introdução de espécies exóticas destinadas à criação comercial como bois, carneiros e cavalos. A Austrália também sofreu uma verdadeira invasão de espécies animais silvestres da Europa. Um grande exemplo foi a introdução da raposa vermelha (Vulpes vulpes), espécie que foi introduzida na Austrália por saudosistas da tradicional caça à raposa das áreas rurais da Inglaterra. 

Outro caso desastroso foram os coelhos que foram soltos no meio ambiente australiano – muitos imigrantes vindos das Ilhas Britânicas apreciavam caçadas e esses animais eram uma de suas presas favoritas. Sem possuir grandes predadores naturais na Austrália, esses animais se reproduziram sem qualquer controle. 

O primeiro caso da importação de coelhos na Austrália que se conhece foi em 1859, quando um latifundiário de Winchelsea, no estado de Vitória, adquiriu 24 coelhos selvagens europeus (Oryctolagus cuniculus). Esses animais foram soltos numa mata em sua propriedade. É provável que muitos outros australianos tenham feito a mesma coisa. Cerca de 70 anos depois, a população de coelhos no país era estimada em 10 bilhões de animais

Os problemas ambientais da Austrália também não poupam os mares ao redor do continente. Um dos casos mais emblemáticos é o da Grande Barreira de Coral, uma formação com aproximadamente 2 mil km que se estende entre o Leste australiano e a ilha de Papua-Nova Guiné. Essa Barreira abriga a maior concentração de corais do mundo – são cerca de 400 espécies catalogadas. 

Esse grande bioma também abriga cerca de 1.500 espécies de peixes e 4 mil variedades de moluscos, entre inúmeras espécies marinhas. Devido ao aquecimento global, a acidificação das águas do oceano e também devido a poluição, todo esse patrimônio natural está ameaçado. 

De acordo com estudos realizados em 2016 pela Universidade James Cook da Austrália, cerca de um terço dos corais estavam mortos ou morrendo, colocando a Grande Barreira de Coral na lista dos ecossistemas em maior risco no mundo. 

Nas águas ao Norte da Austrália alguns dos mais graves problemas ambientais estão associados à pesca predatória comercial. Estudos indicam que cerca de 14 mil tartarugas marinhas morrem anualmente presas em redes de pesca lançadas ou perdidas nas águas.  

Durante muitos milhões de anos, a Austrália foi uma das porções de terra mais isoladas de todo o mundo. Esse grande território com aproximadamente 7,5 milhões de km2 surgiu a partir da fragmentação do Supercontinente de Gondwana, processo que teve início há cerca de 160 milhões de anos. 

Gondwana era formado pela junção das terras da América do Sul, Antártida, África, Madagascar, Índia, Austrália, Nova Zelândia, Nova Caledônia e outras ilhas menores. Devido à movimentação das Placas Tectônicas, todos esses grandes blocos de terra começaram a se movimentar em diferentes direções até formar a atual configuração dos continentes. 

Com o gradual isolamento, a Austrália desenvolveu uma flora e uma fauna muito particulares, com espécies bem diferentes de outras regiões do mundo. Entre os mais espetaculares grupos de animais locais destacam-se os marsupiais – entre os mais fascinantes podemos destacar os cangurus, os coalas e o diabo-da-Tasmânia (o famoso Taz dos desenhos animados). 

Uma das primeiras invasões de espécies exóticas no continente australiano se deu com a chegadas dos primeiros seres humanos há cerca de 65 mil anos. Muitos estudiosos acreditam que esses primeiros grupos de humanos “invasores” chegaram na Austrália acompanhados de cachorros, que com o tempo passaram a viver em estado selvagem e se transformariam nos ancestrais diretos dos dingos (Canis dingo), os cães selvagens australianos. Esses animais foram responsáveis pelo extermínio de dezenas de espécies nativas da Austrália desde então. 

Com início da colonização da Austrália a partir dos últimos anos do século XVIII, os novos imigrantes deram continuidade ao “trabalho” iniciado no passado pelos dingos e a devastação ambiental no continente nunca mais parou, chegando ao nível crítico que assistimos agora. 

Enquanto muitos líderes mundiais, artistas e celebridades gastam seu tempo se preocupando com a “destruição” da Floresta Amazônica, existem inúmeros outros ecossistemas em avançado processo de destruição sem chamar a atenção do mundo. A Austrália é um desses tristes casos. 

LONDRES 40 GRAUS, OU FALANDO DA ONDA DE CALOR NA EUROPA

Lembra daquela imagem tradicional de Londres com tempo chuvoso e fog, aquela forte neblina típica? Pois então – esqueça de tudo isso. Ontem, dia 19 de julho, os termômetros próximos ao Aeroporto de Heathrow marcaram 40,2° C, temperatura de cidades tropicais como o Rio de Janeiro no verão. Aliás, o título da postagem faz referência a música Rio 40 graus, de Fernanda Abreu. 

O recorde anterior de temperatura mais alta na Inglaterra havia sido alcançado em 2019, quando os termômetros marcaram 37,8° C. O Met Office, o serviço nacional de meteorologia do país, confirmou que essa é a maior temperatura já registrada desde o início das medições no Reino Unido. 

De acordo com previsões dos meteorologistas, o Reino Unido só deveria enfrentar temperaturas dessa ordem de grandeza nos verões a partir do ano 2050. Esse recorde de temperatura antecipou em 28 anos as previsões climáticas no país. 

Existem relatos de incêndios em áreas de matas por toda a Grã-Bretanha, inclusive nos arredores da capital britânica – especialmente ao longo de rodovias. O Governo emitiu um alerta vermelho para a onda de calor, o que indica que existe risco potencial para a vida humana. 

As temperaturas em toda a Inglaterra – especialmente no Sul do país, vem aumentando sistematicamente ao longo dos últimos anos. Uma evidência clara desse fenômeno pode ser vista na produção de vinhos no país. Isso está ocorrendo em um momento onde tradicionais produtores da bebida como a França e a Itália assistem a uma redução em suas produções. 

Sem nenhuma tradição na produção de bons vinhos, a Inglaterra apresentou um crescimento de 60% na produção da bebida nos últimos 5 anos. O Sul da Inglaterra vem experimentando um aumento sistemático no número de dias ensolarados nos verões, o que vem proporcionando condições cada vez mais favoráveis ao cultivo da uva e a produção do vinho. 

Os britânicos não estão sendo os únicos a sofrer com a atual onda de calor na Europa. Há notícias de mais de mil mortes em todo o continente em decorrência das altas temperaturas – Portugal e Espanha concentram o maior número de vítimas. 

No total, 21 países da Europa já emitiram alertas de emergência para as suas populações. Um desses casos é a Itália, onde 9 das 27 capitais de província estão em alerta máximo por causa das altas temperaturas. Entre outras cidades estão Bolonha, Gênova, Florença, Milão, Turim e Roma. 

Além dos riscos à saúde das populações, as altas temperaturas estão provocando grandes incêndios florestais em diversos países. Além de Portugal, Espanha, França e Croácia, que já tratamos em uma postagem anterior, entrou nessa lista a Grécia. Há notícias de um grande incêndio nos arredores de Atenas e o Governo já emitiu um alerta para evacuação de moradores que moram em áreas de risco. 

O calor extremo e a seca também deverão ter reflexos na produção agrícola da Europa. Um dos casos mais preocupantes é a produção de trigo. Os países da União Europeia devem colher 125,7 milhões de toneladas do grão este ano, o que representa uma queda de 3,4% em relação à safra de 2021. 

Aqui é sempre importante lembrar que o conflito entre a Rússia e a Ucrânia, que já entrou no seu quinto mês e não tem perspectivas de uma solução no curto prazo, representa uma ameaça para o abastecimento de trigo nos países europeus. Conforme já citamos em outras postagens, Rússia e Ucrânia respondem por 1/3 da produção mundial de trigo. 

Para encerrar, o verão europeu costuma atingir seu pico em agosto. Ou seja – ainda há espaço para as coisas piorarem ainda mais por lá… 

8 BILHÕES DE SACOLAS PLÁSTICAS A MENOS NO MEIO AMBIENTE 

Quem tem mais de 50 anos com certeza vai se lembrar dos clássicos sacos de papel pardo que eram usados nas mercearias e mercados para se embalar as compras. Um tanto frágeis, essas embalagens rasgavam com facilidade e também eram danificadas pela umidade de produtos congelados. 

Então, num belo dia, “acabaram-se todos os seus problemas com as compras!“. Grandes redes de supermercados passaram a usar as icônicas sacolas plásticas – elas eram bem mais resistentes, suportavam bem a umidade e ainda podiam ser utilizadas para descartar o lixo das casas. Essa embalagem “mágica” ganhou o mundo. 

Calcula-se que algo próximo a um trilhão dessas embalagens seja produzido no mundo a cada ano. Baratas e muito práticas, essas sacolas são descartadas aos milhões em terrenos baldios, ruas, lixões, rios e nos oceanos, causando todo o tipo de problemas para o meio ambiente – especialmente para a vida animal. 

De alguns anos para cá, movimentos ambientalistas de todo o mundo passaram a combater o uso desenfreado dessas embalagens. Esse tipo de pressão, felizmente, passou a dar bons resultados – muitos países passaram a limitar o uso de sacolas plásticas e a estimular a volta dos bons e velhos sacos de papel. 

Aqui no Brasil, seguindo-se a tendência mundial, surgiram várias leis com vistas à redução do uso dessas sacolas. Em muitos Estados, como no caso aqui de São Paulo, os estabelecimentos comerciais deixaram de fornecer essas embalagens gratuitamente – é preciso pagar por cada sacola plástica. Existem também muitos estímulos para o uso de sacolas retornáveis. 

Esses esforços começam a mostrar bons resultados – de acordo com informações da Associação de Supermercados do Rio de Janeiro cerca de 8 bilhões de sacolas plásticas deixaram de circular aqui no Brasil nos últimos três anos. O estudo também mostrou que 70% dos consumidores da capital fluminense passaram a utilizar sacolas retornáveis. 

Além da redução do número de sacolas plásticas em uso no mercado, as diferentes legislações adotadas em todo o país têm levado a uma redução das embalagens feitas com plástico “virgem”. Os produtos disponibilizados pelos estabelecimentos devem utilizar, pelo menos, 51% de plásticos reciclados ou feitos com matérias primas vindas de fontes renováveis. Essa medida estimula a reciclagem do plástico. 

Apesar da excelente notícia, o número de sacolas plásticas que deixaram de circular nesse período ainda é irrelevante quando comparado ao volume total produzido a cada ano no mundo. Isso mostra quanto trabalho ainda resta para ser feito. 

Conforme já destacamos em outras postagens aqui do blog, o descarte de plásticos – especialmente embalagens, é um dos grandes problemas ambientais de nosso tempo. Eu nunca me esqueço de uma palestra que assisti nos tempos da faculdade onde o diretor de uma empresa fabricante de plástico afirmou que a chave do sucesso de seu produto era o baixo custo – enquanto não se inventasse algo mais barato, os plásticos reinariam no mercado

A questão do custo é um dos maiores entraves para uma reciclagem maior de resíduos plásticos. Existem inúmeras tecnologias disponíveis para o reprocessamento, porém, o custo final dos produtos sempre será maior que o de peças similares feitas a partir de resinas plásticas novas. 

Uma ideia que vem ganhando força em muitos países é o uso dos resíduos plásticos em usinas termelétricas especialmente adaptadas. Como todo bom derivado de petróleo, os resíduos plásticos são altamente inflamáveis – a queima de 1 kg de plásticos gera uma energia térmica equivalente ao de 1 litro de óleo diesel

Um outro caminho interessante é o uso de plásticos alternativos como o polietileno verde derivado do etanol da nossa cana-de-açúcar. Esse plástico tem as mesmas características técnicas do polietileno comum (plástico muito utilizado na fabricação de potes e utensílios de cozinha), com as vantagens de ser produzido a partir de uma planta cultivada em larga escala em todo o país e de ser biodegradável (os cientistas alertam que não existe ainda nenhum polímero criado a partir de fontes vegetais que seja 100% biodegradável – sempre haverá algum resíduo). 

Outra alternativa é o uso do amido, um polímero natural que é encontrado nos grãos de diversos cereais como o milho, aveia, arroz, trigo, cevada e centeio, e também pode ser encontrado em raízes como a batata e a mandioca. Com esse polímero natural é possível a produção de um plástico biodegradável que, diferente dos polímeros inorgânicos de origem petroquímica, ao ser descartado no meio ambiente têm suas moléculas (ou grande parte delas) consumidas por toda uma série de micro-organismos, deixando um volume de resíduos muito pequeno no ambiente. 

Infelizmente, todas as alternativas ao uso dos plásticos derivados do petróleo continuam esbarrando na questão dos custos. Dentro de tal cenário, qualquer redução no uso e no descarte de resíduos plásticos precisa ser comemorada. 

Que avancem ainda mais as leis que limitem o uso de plásticos em nosso dia a dia e que outros bilhões de resíduos deixem de ser descartados no meio ambiente. 

ADOLESCENTE SOLTA 1,4 MILHÃO DE RÃS EM UM LAGO NA INGLATERRA. SERÁ? 

Um vídeo viral que está circulando nas redes sociais está deixando ambientalistas e especialistas de “cabelo em pé”. De acordo com o relato do vídeo, cuja veracidade não foi confirmada até o momento, um jovem britânico recolheu cerca de 1,4 milhão de ovos de rã (algumas fontes dizem se tratar de sapos) na natureza e os colocou em um pequeno lago na propriedade de sua família. 

Dentro desse ambiente protegido e longe dos predadores naturais, a imensa maioria desses ovos eclodiu na forma de girinos, a primeira fase da vida dos anfíbios, passando depois para a fase adulta. Ou seja – esse jovem produziu artificialmente uma população de mais de 1 milhão de sapos ou rãs em seu quintal. 

De acordo com relatos de diversas reportagens que tratam desse assunto, os animais estão se espalhando pela região e invadindo propriedades vizinhas – animais precisam de alimentos e seria lógico supor que o pequeno lago “berçário” não teria capacidade para sustentar um número tão grande de animais. 

A “grande” ideia desse jovem britânico não é um caso isolado – em abril último circulou um outro vídeo nas redes sociais que mostra um jovem que soltou 100 milhões de joaninhas no Central Park em Nova York. Segundo o relato do próprio autor do vídeo, ele foi processado pelas autoridades locais e expulso dos Estados Unidos. A autenticidade dessa “história” também não foi confirmada. 

Sendo ou não verdadeiros, esses vídeos tem o potencial de inspirar outras pessoas a fazerem coisas parecidas, muito provavelmente imaginando que estarão ajudando a natureza. O primeiro caso que comentamos, segundo o texto das reportagens, foi motivado por uma forte seca no ano anterior que teria matado milhares de girinos – o ato do jovem teve a intenção de salvaguardar toda uma nova geração de anfíbios. 

Ambientes naturais, apesar de toda a sua aparente crueldade, são sistemas em perfeito equilíbrio, ou seja, as populações de plantas e animais nunca crescem acima de um determinado limite. Vou citar o exemplo das tartarugas marinhas – segundo as estimativas dos biólogos apenas 2 ou 3 tartarugas chegam a fase adulta a cada 1 milhão de tartaruguinhas que nascem. 

Imaginemos por um momento que alguém com as melhores intenções do mundo consiga “salvar” esse grande número de tartaruguinhas, por exemplo, recolhendo os animais recém-nascidos e os soltando em um braço de mar protegido ou num lago de águas salgadas. Em tal situação é muito provável que dezenas de milhares de tartarugas consigam atingir a idade adulta. 

E o que viria a seguir? 

Essa enorme população de tartarugas comprometeria facilmente todos os estoques de alimentos disponíveis nesse novo ambiente. Espécies nativas desse ambiente sofreriam com essa competição desleal, com muitas inclusive podendo desaparecer para sempre. Esse simplório resumo pode lhes dar uma ideia dos riscos de se introduzir espécies em ambientes diferentes. 

Uma das postagens campeãs em visualizações aqui do blog trata justamente dos sapos-cururus (Rhinella marina), uma espécie nativa aqui da América do Sul e bastante famosa nos poemas de Manuel Bandeira (leia o poema Os Sapos).  

Os sapos-cururu foram introduzidos na Austrália em 1933, com a missão de combater uma praga de besouros-da-cana (Dermolepida albohirtum) que infestava os canaviais de algumas regiões do país. Um lote de cento e dois animais foi trazido das Ilhas do Havaí, onde a espécie havia sido introduzida décadas antes para realizar o controle biológico de insetos que atacavam os canaviais locais.  

Como o território havaiano é muito pequeno, os impactos ambientais que a espécie invasora provocava não eram tão evidentes e os “serviços” de controle biológico pareciam ser bastante satisfatórios. Naquele momento, fazia sentido introduzir a espécie nos canaviais da Austrália.  

Infelizmente, os sapos-cururus não foram felizes em sua missão na Austrália. Diferentemente dos insetos rasteiros que infestavam os canaviais das Ilhas do Havaí, os besouros-da-cana da Austrália ficavam alojados nos caules das plantas acima do solo, numa altura que os sapos não conseguiam atingir com seus pulos. Sem conseguir se alimentar desses besouros, os sapos-cururu passaram a buscar outros alimentos e assim passaram a se dispersar pelas matas costeiras do país e a criar problemas para inúmeras espécies nativas.  

Os predadores dos sapos nativos da Austrália, onde se incluem cobras, lagartos, aves de rapina e marsupiais, passaram a se intoxicar com o veneno dos sapos-cururu e a morrer em grandes quantidades, alterando completamente o equilíbrio ecológico de várias regiões. Sem grandes predadores naturais, a espécie sul americana prosperou muito no Continente Australiano. 

De acordo com cálculos feitos por entidades ambientais do país já existem mais de 200 milhões de sapos-cururu na Austrália e a espécie não para de invadir ecossistemas em todas as regiões australianas. De acordo com estudos feitos através do monitoramento de sapos que receberam pequenos radiotransmissores, esses animais conseguem percorrer até 2 km por dia em suas migrações pelo interior do país.  

Os problemas não param por aí. Estudando a rápida propagação da espécie por toda a Austrália, os cientistas descobriram que os sapos-cururu passaram por adaptações físicas e aumentaram a sua velocidade de propagação em cinco vezes ao longo dos últimos 60 anos.  

Estudos anatômicos comparativos com espécimes preservados em museus demonstraram que as patas traseiras dos sapos-cururu tiveram um aumento de 25% em seu comprimento, aumentando proporcionalmente a força muscular e a velocidade dos animais – os sapos se transformaram em “pequenos cangurus” e passaram a usar essa vantagem “evolutiva” na sua conquista do Outback australiano. 

Se qualquer um dos leitores fizer uma pesquisa nos arquivos do blog encontrará dezenas de postagens que tratam da introdução de espécies invasoras. Falando de memória posso citar os castores, as trutas e os javalis que foram introduzidos na Argentina e no Chile décadas atrás e que atualmente possuem populações que fogem de qualquer tipo de controle. 

Espécies vegetais exóticas também podem causar enormes estragos em um determinado meio ambiente – posso citar os casos do pinus e do eucalipto, espécies que foram introduzidas aqui no Brasil e que ameaçam inúmeras espécies nativas. Também há o caso dos dendezeiros africanos que foram introduzidos em países do Sudeste Asiático, resultando na destruição de grandes extensões de florestas tropicais. 

Quantos “amantes da natureza” não poderão se sentir inspirados por qualquer um desses vídeos virais que circulam livremente pela internet e quantos crimes ambientais poderão estar cometendo inconscientemente com as melhores intenções? 

GERAÇÃO EÓLICA “INSTANTÂNEA” BATE RECORDE NA REGIÃO NORDESTE

Uma notícia curiosa: o ONS – Operador Nacional do Sistema Elétrico, informou que a Região Nordeste bateu um novo recorde na geração de energia elétrica eólica instantânea (pico de geração) no último dia 8 de julho. Os aerogeradores da Região atingiram um pico de geração de 14.167 MW, um volume de energia equivalente a 123,2% da demanda local. 

Trocando em miúdos – pelo período de um minuto a produção de energia eólica foi suficiente para atender toda a demanda da Região Nordeste, com uma sobra de 23,2%, excedente que foi exportado para outras regiões do Brasil. 

A geração fotovoltaica também surpreendeu – no último dia 12, às 10h28, foi atingido um novo recorde. Foram produzidos 2.963 MW solares, um volume de energia equivalente a 27,5% da demanda de energia elétrica de toda a Região Nordeste por um minuto. 

Fontes de geração eólicas e fotovoltaicas são intermitentes, ou seja, não produzem em sua capacidade máxima durante todo o tempo, mas são importantes auxiliares dos sistemas de geração mais tradicionais como os hidrelétricos e termelétricos. É sempre importante lembrar que os sistemas de geração eólica e fotovoltaica estão entre as mais sustentáveis que existem. 

Contando com ventos fortes e contínuos, a Região Nordeste foi transformada na maior geradora de energia elétrica por fonte eólica do Brasil. De acordo com dados da Associação Brasileira de Energia Eólica, a Região concentra 708 parques eólicos de um total de 805 instalados em todo o país. A geração eólica representa, segundo dados de dezembro de 2021 do Ministério de Minas e Energia, quase 11% de toda a matriz energética do Brasil.  

O potencial eólico da Região é tão grande que já existe um grande projeto para a instalação de centenas de torres offshore (dentro do mar ao longo da costa) por todo o litoral nordestino. Segundo informações preliminares, esse potencial seria equivalente a 50 usinas hidrelétricas do tamanho de Itaipu

De acordo com dados da ABSOLAR – Associação Brasileira de Energia Solar, a geração de energia elétrica a partir de painéis fotovoltaicos no Brasil atingiu a marca de 7,5 GW em 2020, o que equivale à metade da capacidade instalada da Usina Hidrelétrica de Itaipu. De acordo com essa Associação, o preço das placas solares e dos demais equipamentos caiu cerca de 90% nos últimos 10 anos, o que vem incentivando cada vez mais o crescimento do setor.  

De acordo com estimativas do setor, as empresas de geração solar empregam mais de 130 mil profissionais no Brasil e faturam cerca de R$ 21 bilhões ao ano. No mundo, as empresas desse setor empregam mais de 3,5 milhões de profissionais, o que corresponde a um terço dos empregos gerados pelas energias renováveis.  

Existem atualmente no Brasil cerca de 350 mil pequenos sistemas de geração fotovoltaica instalados em telhados de residências, pequenas empresas e terrenos, além de 3.900 sistemas de geração centralizada, que geram a eletricidade em um local e enviam a energia para consumo em outros locais através de linhas de transmissão. 

A ensolarada Região Nordeste se destaca nessa modalidade. Vejam alguns dos mais importantes parques fotovoltaicos da Região:  

Parque Solar São Gonçalo – Piauí: Localizado no município de São Gonçalo do Gurguéia. Inaugurado em 2020, é o maior empreendimento do tipo no Brasil, com uma capacidade de geração de energia de 1,5 GW;  

Parque Solar de Nova Olinda – Piauí: Localizado em Ribeira do Piauí. Esse Parque possui 930 mil painéis solares instalados e ocupa uma área total de 690 hectares. Possui uma capacidade de geração de energia de 292 MW, o que é suficiente para abastecer 300 mil residências;  

Parque Solar Ituverava – Bahia: Em operação desde 2017, fica localizado em Tabocas do Brejo Velho. Possui 850 mil painéis solares em uma área de 579 hectares. A capacidade de geração é de 158 MW, o suficiente para abastecer 166 mil residências;  

Parque Solar de Bom Jesus da Lapa – Bahia: Em operação desde 2017, tem uma capacidade de geração de energia de 158 MW, o suficiente para abastecer 166 mil residências;  

Parque Solar Horizonte – Bahia: Também localizado no município de Tabocas do Brejo Velho. Possui uma capacidade instalada de 103 MW e capacidade para abastecer 108 mil residências. O parque está sendo expandido, com expectativa de atingir a marca de 220 MW.  

Um outro destaque importante é o projeto piloto do Parque Solar flutuante do Lago da Usina Hidrelétrica de Sobradinho, na Bahia, que foi inaugurado em agosto de 2019. Contando inicialmente com 3.792 painéis fotovoltaicos e com uma capacidade instalada de 1 MW, essa iniciativa abre uma nova perspectiva para o aumento da produção de energia elétrica nas usinas hidrelétricas já existentes no país, sem que haja a necessidade de se aumentar as áreas de águas represadas.   

Em tempos de crise energética em todo o mundo e de uma enorme preocupação com o avanço das fontes de geração renováveis, é muito bom constatar os avanços dessas modalidades de geração aqui no Brasil.