GOVERNO DO CANADÁ ESTUDA REDUZIR AS EMISSÕES DE GASES DE EFEITO ESTUFA PELA AGRICULTURA 

Mais uma notícia preocupante para a produção mundial de alimentos: o Governo do Primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, está estudando um plano para a redução de 30% das emissões de GEE – Gases de Efeito Estufa, pela agricultura do país. Recentemente, divulgamos uma postagem aqui no blog falando de uma medida muito parecida adotada pela Holanda

De acordo com informações divulgadas pela Ministério da Agricultura do país, a redução do uso de fertilizantes pela agricultura canadense é uma das formas de se atingir essa redução nas emissões de GEE. Plantas em crescimento liberam óxido nitroso (um dos derivados do nitrogênio), um dos mais importantes gases de efeito estufa. 

Os agricultores canadenses, assim como seus colegas holandeses, estão preocupados com esse tipo de medidas e estão protestando nas ruas. De acordo com um estudo encomendado por produtores de fertilizantes, uma redução de 20% no uso desse insumo entre 2023 e 2030 resultaria nu prejuízo de US$ 48 bilhões em função da redução da produtividade das culturas agrícolas. 

Um exemplo citado no estudo é a canola, grão muito utilizado para a produção de óleos comestíveis. O Canadá é o maior produtor mundial de canola com um volume da ordem de 12 milhões de toneladas. Segundo esse estudo, as exportações de canola pelo país ficarão próximas de zero caso a redução no uso de fertilizantes venha a ser adotada.  

Outro exemplo citado foi o trigo, grão cuja produção no país é de cerca de 30 milhões de toneladas. Com restrições ao uso de fertilizantes, a redução da produtividade das lavouras chegaria a 14 milhões de toneladas. Por mais justificadas que sejam do ponto de vista ambiental, a adoção esse tipo de medida nesse momento complicado em que vivemos poderá ser desastroso para todos. 

Como todos devem estar acompanhando nos noticiários, a Rússia e Ucrânia estão em meio a um conflito militar, o que está tendo reflexos em todo o mundo. Os dois países, entre outras coisas, são grandes produtores de grãos. Um exemplo – juntos, eles respondem por quase um terço da produção mundial de trigo. Devido ao citado conflito, parte do abastecimento mundial ficou comprometido. 

Outro produto agrícola importante da pauta de exportações tanto da Ucrânia quanto da Rússia é o óleo de semente de girassol. O produto já está em falta em diversos países da Europa. A Itália, por exemplo, importa mais de 90% do produto da Ucrânia. 

Agora imaginem como ficaria esse cenário já complicado com uma redução da produção agrícola de grandes países exportadores como o Canadá e a Holanda? E tudo isso por causa de pautas ambientais de políticos. 

A produção agrícola depende da presença de água, luz solar e, principalmente, da fertilidade dos solos. Solos férteis, falando de uma forma bem simplificada, são os que permitem o desenvolvimento e a sustentação de vida vegetal. Esse tipo de solo reúne sedimentos minerais como areia, silte e argila; matéria orgânica resultante da decomposição de plantas e animais mortos; água e também ar. Também precisa reunir algumas formas de vida animal como as colônias de bactérias responsáveis pela decomposição da matéria orgânica.  

Insetos como as formigas e vermes como as minhocas também possuem um papel importante na fertilidade dos solos. As formigas carregam grandes quantidades de folhas e outras matérias orgânicas para suas colônias subterrâneas – essa matéria servirá para o “cultivo” de fungos, o alimento das formigas. A decomposição dessa matéria orgânica libera nitrogênio no solo, um elemento fundamental para a nutrição das plantas. As fezes das minhocas também liberam nitrogênio nos solos. 

As dificuldades para a manutenção da fertilidade dos solos agrícolas ao longo de grandes períodos de tempo sempre foi um fantasma que acompanhou a humanidade desde o início da agricultura, surgida entre 10 e 12 mil anos. Povos que viviam ao lado de grandes rios como o Tigre e o Eufrates na Mesopotâmia; o Nilo no Egito; o Ganges e o Indus no Subcontinente Indiano, ou ainda nas várzeas de grandes rios do Sudeste Asiático e Extremo Oriente, sempre podiam contar com o período das enchentes, quando uma grossa camada de nutrientes era trazida todos os anos pelas águas e recobria esses solos.  

Povos que não contavam com essa dadiva da natureza eram obrigados a se valer de uma série de artimanhas para garantir uma produção agrícola adequada. Uma dessas técnicas, que se manteve por vários milênios, era a rotação de terras. Enquanto um pedaço de uma área de terras estava sendo usado para a agricultura, outros trechos ficavam “descansando” por alguns anos, o que permitia que os solos recuperassem a sua fertilidade. 

As coisas, porém, nem sempre saíam do jeito que se esperava. Safras com baixa produtividade, secas, pragas agrícolas e ataques de gafanhotos, guerras, entre outros males, frequentemente assolavam povos inteiros e grandes contingentes populacionais sofriam com a fome e a desnutrição. Esse fantasma da insegurança alimentar ligada à produção agrícola (contra as guerras nunca houve muito o que se fazer) só passou a ser razoavelmente controlada há bem poucas décadas.  

Entre os muitos avanços que impulsionaram a agricultura estão os fertilizantes químicos. Numa definição rápida, fertilizantes são compostos minerais que são usados para melhorar a nutrição das plantas. Por mais surpreendente que possa parecer, muitos dos avanços da química criados para o desenvolvimento de armas durante a Segunda Guerra Mundial passaram a ser usados para a produção de fertilizantes baratos no pós-guerra. 

Esse grande salto na produção agrícola foi batizado de Revolução Verde em meados da década de 1960 e ajudou a acabar com a fome de centenas de milhões de pessoas em todo o mundo. 

Com todas as reservas que precisamos fazer sobre os impactos ambientais dos excessos praticados, é simplesmente impossível desenvolver uma agricultura moderna de grande produtividade sem o uso de fertilizantes  especialmente em um mundo que tem 7,7 bilhões de bocas para alimentar.   

E essa mudança brusca nos padrões de produção da agricultura que muitos grupos políticos estão querendo impor rapidamente podem não dar muito certo – lembrem do caso recente do Sri Lanka 

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