Em 1984, quando eu trabalhava como técnico em eletrônica numa empresa fabricante de equipamentos de radiocomunicação, conheci um aventureiro “maluco” que apareceu na fábrica com um barco de madeira construído por ele mesmo, com o qual pretendia atravessar o Oceano Atlântico a remo. O nome daquele aventureiro era Amyr Klink e meses após esse encontro (a empresa instalou os equipamentos de radiocomunicação no barco, o Paratii), ele realizou a façanha de atravessar o Atlântico remando ao longo de 100 dias. Durante a longa travessia, Amyr manteve contato frequente via rádio com um colega da empresa – lembro bem de uma dessas conversas, quando ele relatou espantado que tinha encontrado uma ilha flutuante, formada por todo o tipo de resíduos de plásticos. Nos dias atuais, infelizmente, isso não seria mais uma notícia relevante dada a quantidade de resíduos de plástico flutuando nos oceanos, rios e lagos, além dos volumes ainda maiores descartados nas ruas, terrenos baldios e em todo o tipo de aterros sanitários e lixões.
Como comentei em meu último post, o plástico é uma matéria prima muito barata (é um subproduto do refino do petróleo), é facilmente moldável e permite a produção de peças bonitas, com acabamento impecável e extremamente fáceis de montar; as embalagens plásticas são práticas de usar, podem ser fechadas hermeticamente, sem agregar qualquer cheiro característico ou sabor ao produto embalado, especialmente no caso de alimentos. Em resumo – o plástico, em todas as suas formas, é um sucesso de mercado, o que só faz crescer o volume de resíduos plásticos descartados.
Além de ser um dos resíduos sólidos de maior crescimento no mundo, os diversos tipos de plásticos levam dezenas de anos para serem decompostos na natureza. “Bactérias e fungos que decompõem os materiais não tiveram tempo de desenvolver enzimas para degradar a substância”, afirmou a engenheira química Marilda Keico Taciro, do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) em entrevista concedida ao site Mundo Estranho. E serão necessários milhares de anos até que os micro-organismos evoluam e passem a se alimentar naturalmente de plástico, consumindo milhões de toneladas de resíduos plásticos descartados na natureza.
Para que todos entendam a gravidade do problema dos resíduos plásticos, vejam a expectativa de tempo de decomposição de alguns tipos de polímeros plásticos:
Polietilenotereflalato (PET) – 200 anos
Polietileno e poliestireno – 50 anos
Polipropileno – 100 anos
Esses polímeros são a matéria prima de produtos e materiais que fazem parte do nosso dia a dia e são encontrados em utensílios domésticos, brinquedos, embalagens, eletroeletrônicos e eletrodomésticos, peças de carros, materiais descartáveis de hospitais, materiais de construção entre outros produtos. Mas há aqui uma distorção importante: enquanto uma tubulação de PVC instalada dentro de uma parede de um imóvel tem uma expectativa de vida maior do que 50 anos e peças de automóveis continuarão em uso por mais de 10 anos, a maioria dos plásticos tem uma expectativa de vida muito menor – no caso de embalagens plásticas, que é um dos resíduos sólidos mais abundantes atualmente no lixo domiciliar, essa expectativa é de apenas algumas horas após a compra de um produto e o destino final é o descarte.
Enquanto aguardamos o surgimento espontâneo ou em laboratório de algum micro-organismo devorador de plásticos ou de alguma nova tecnologia que possibilite a reutilização de resíduos plásticos em altíssima escala e a preços ínfimos, precisamos aprender a utilizar os produtos e utensílios de plástico pelo maior tempo possível e a descartá-los corretamente após a sua utilização..
Para encerrar, uma triste constatação dos problemas criados pelo descarte irregular destes resíduos: sacos plásticos (como as sacolinhas de supermercado) flutuando pelos oceanos são hoje uma das maiores causas de morte das tartarugas marinhas – o animal confunde o plástico com as águas vivas, uma de suas presas favoritas e o que seria um petisco se transforma na causa da sua morte.
Continuamos no próximo post.
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