Rios e grandes populações são complementares – é só você pensar numa grande cidade ou num grande povo, e, quase que automaticamente, virá a sua mente o nome de um grande rio. Na última postagem falamos do rio Ganges, um dos berços das grandes civilizações do Subcontinente Indiano. Também tratamos do rio Tigre, que junto com o rio Eufrates, foi o berço de inúmeras civilizações da Mesopotâmia. Outro grande rio de importância na história humana e sobre o qual falamos recentemente é o Mekong, o maior e mais importante do Sudeste Asiático.
Vamos falar hoje de um dos rios mais importantes do mundo – o grande rio Nilo. Esse “grande” tem um duplo significado: o Nilo disputa com o Amazonas o título de rio mais extenso do mundo. A grandeza do rio Nilo também expressa a sua importância histórica – suas águas permitiram o surgimento de uma das maiores e mais importantes civilizações da história humana – os Egípcios. A história, infelizmente, não foi tão generosa com o velho Nilo, que sofre imensamente com a poluição, redução dos caudais, construção de represas, assoreamento e, principalmente, com o grande crescimento das populações que vivem ao longo de suas margens.
De acordo com informações do CNI – Centro Nacional de Investigações do Egito, cerca de 17 mil crianças morrem de diarreia e gastroenterite a cada ano nos países da bacia hidrográfica; essas doenças são contraídas após o consumo das águas contaminadas do rio Nilo. Essa mesma instituição afirma que, caso não sejam adotadas medidas para o controle da poluição, toda a água da calha do Nilo ficará imprópria para o consumo dentro de 15 anos. Essa previsão é dramática – o rio Nilo é a única fonte de água permanente em uma extensa faixa de terras áridas e semiáridas, onde vive uma população de 250 milhões de pessoas. Projeções de crescimento demográfico indicam que essa população irá dobrar até o ano de 2050. Para efeito de comparação, o rio Ganges, o mais importante corpo d’água da Índia e de Bangladesh, atende uma população da ordem de 400 milhões de pessoas.
Os problemas do rio Nilo começam com a intensa disputa pelo controle de suas águas. Além do Egito, país que tem sua vida e história ligados umbilicalmente com o rio, a bacia hidrográfica do Nilo também inclui Sudão, Uganda, Tanzânia, Quênia, República Democrática do Congo, Burundi e Ruanda. Existe uma disputa crescente entre todos esses países pelo uso das águas do Nilo, disputa essa que tem potencial para deflagrar uma guerra regional de grandes proporções.
Entre 1882 e 1952, o Egito esteve sob a administração colonial do Império Britânico, domínio esse que se estendia rumo ao Sul e incorporava grande parte da região, incluindo o Sudão Anglo-Egípcio, Uganda e África Oriental Britânica – no meio dessa grande região, existia um enclave independente, o Reino da Abissínia (atual Etiópia), e colônias da Bélgica. Entre os países que formam a atual bacia hidrográfica do rio Nilo – Egito, Sudão, Uganda, Tanzânia e Quênia, foram formados a partir do desmantelamento dessa estrutura colonial britânica; a República Democrática do Congo, Ruanda e Burundi, são ex-colônias belgas.
A fim de atender aos seus próprios interesses, o Governo Britânico criou um “tratado” para a divisão das águas do rio Nilo, onde 80% do recurso ficava reservado para o Egito e o Sudão. Além do uso pleno das águas do rio, esses países passaram a ter o direito de vetar quaisquer projetos de aproveitamento hidráulico a montante da bacia hidrográfica que, eventualmente, pudessem contrariar seus interesses. Esse “tratado” foi reconfirmado em 1959 e os demais países foram obrigados a se conformar com os 20% restantes das águas do rio Nilo. Não houve qualquer critério geográfico, tanto em aspectos físicos quanto humanos, que justificasse esses percentuais – a partilha das águas atendeu exclusivamente interesses políticos e econômicos dos ingleses.
O crescimento econômico e demográfico de países do Alto rio Nilo, com grandes necessidades de água para geração de energia elétrica e para irrigação, está levando a rompimentos unilaterais desse “tratado”, situações que tem gerado crescentes tensões com o Egito, maior e mais importante país da bacia hidrográfica. Um dos casos mais graves é a barragem da Usina Hidrelétrica Merowe, construída pela Etiópia na calha do Nilo Azul, o caudaloso tributário que responde por 86% do fluxo de águas do rio Nilo. Com uma capacidade estimada em 7 GW, essa será a maior usina hidrelétrica da África, que também possibilitará a irrigação de uma área com 2,5 milhões de km². Essa barragem tem potencial para “secar”, literalmente, a calha do rio Nilo e está tirando o sono de muita gente. A China é a grande financiadora dessa obra e tem enorme interesse na produção de grãos na região, que serão exportados para seu próprio abastecimento.
Apesar de sua grande extensão, o rio Nilo tem uma vazão pequena, muito mais próxima da vazão do rio Tietê de São Paulo do que a do rio Amazonas, seu grande rival na disputa pelo título de maior rio do mundo. Com a construção de barragens e com a incidência de chuvas cada vez mais irregulares no seu Alto Curso, o rio Nilo vem apresentando vazões cada vez menores. Na região do Delta do rio Nilo, um importante centro de produção agrícola, a intrusão de águas salinas do Mar Mediterrâneo é cada vez maior, criando enormes dificuldades para o abastecimento da grande população da região e para a irrigação de lavouras. O Delta do rio Nilo, que é uma grande ilha verdejante no meio do deserto, corre o risco de desaparecer em um futuro muito próximo.
Enquanto todos esses países e populações se armam de palavras e ânimos numa disputa ferrenha pelo controle das águas do rio Nilo, ninguém parece estar preocupado com a gestão ambiental desse importante recurso hídrico. A população do Egito quadruplicou desde 1960, sem maiores preocupações com a infraestrutura de saneamento básico do país. Cidades de toda a bacia hidrográfica crescem sem qualquer planejamento e infraestrutura, lançando milhões de litros de esgotos e toneladas de resíduos nas águas do rio.
Um grande exemplo é Cartum (vide foto), a capital do Sudão, que fica localizada no encontro dos rios Nilo Branco e Azul, os formadores do curso principal do rio Nilo. A cidade abriga uma população de 1,5 milhão de habitantes e sua região metropolitana já conta com uma população de mais de 4 milhões de pessoas. A mancha metropolitana, que é dividida em três partes pelos rios, cresce sem parar e sem as mínimas infraestruturas de saneamento básico.
Em regiões de nascentes do Alto rio Nilo, são os grandes desmatamentos para ampliação de campos agrícolas a grande fonte de preocupação. São as fortes chuvas que caem nessas regiões florestais que formam os principais caudais da bacia hidrográfica. Sem a proteção da cobertura vegetal, as perdas de água por evaporação aumentam significativamente e a recarga de aquíferos que alimentam os pequenos rios é prejudicada, aumentado também os carreamentos de sedimentos para as calhas dos rios e resultando em contribuições cada vez menores desses pequenos tributários.
Os impactos ambientais para a biodiversidade decorrentes de todo esse crescimento demográfico e dos lançamentos crescentes de efluentes e resíduos nas águas do rio são evidentes. As águas do rio Nilo abrigavam, até poucas décadas atrás, cerca de 123 espécies de peixes. Pesquisadores do Egito afirmam que, no trecho do Baixo rio Nilo no país, 35 dessas espécies já desapareceram. Uma das espécies mais comuns, especialmente durante o período de reprodução nos meses de verão, era o kawara, um peixe que tem um formato que lembra uma frigideira. De acordo com os relatos de muitos pescadores, está sendo cada vez mais raro encontrar peixes dessa espécie nas redes. Outra espécie icônica que desapareceu é o oxirrinco, um peixe que era considerado sagrado para os antigos egípcios. A tendência é de uma piora progressiva no desaparecimento de espécies.
Caso não sejam tomadas medidas para estabilizar ou reverter essa situação, o rio Nilo correrá o risco de virar mais uma grande ruína dessa região histórica.
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