
Os manguezais ou mangues, como são chamados popularmente, são ecossistemas costeiros de transição entre os ambientes marinhos e terrestres. São encontrados nas regiões tropicais e subtropicais de todo o mundo, sendo encontrados em enseadas, barras, lagunas, foz de rios, baías e em outras formações costeiras onde as águas doces de rios e lagos se encontram com as águas marinhas, formando um ambiente de águas salobras.
As áreas de mangues possuem uma vegetação adaptada ao regime das marés. São plantas com raízes bem desenvolvidas, conhecidas como halófilas, e perfeitamente adaptadas às águas salobras. Os solos dos manguezais recebem e acumulam grandes quantidades de sedimentos e de matéria orgânica em decomposição, sendo considerados um dos mais férteis do planeta.
Essa característica transforma os manguezais em importantes “exportadores” de matéria orgânica, algo essencial para a produtividade das áreas costeiras. Esse ecossistema rico em alimentos abriga centenas de espécies de peixes, moluscos, crustáceos, verme, aves, mamíferos e, também, populações humanas.
Segundo estudos científicos, cerca de 70% das espécies marinhas utilizadas para alimentação humana, onde se incluem peixes, siris, camarões, lagostins, caranguejos, entre outras espécies, dependem das áreas de mangue para a sua reprodução.
Um exemplo são os alevinos de diversas espécies de peixes, que passam a fase inicial de suas vidas abrigados entre as raízes do mangue, só migrando para as águas abertas dos oceanos após atingirem um tamanho maior e mais adequado para fugir dos predadores. Em regiões onde as áreas de mangue foram destruídas ou ocupadas, a produtividade pesqueira é cada vez menor.
Todos esses conceitos, que já foram citados em diversas postagens aqui do blog, precisarão passar por algumas revisões: uma expedição da National Geografic e da Rolex Perpetual Planet Amazon Expedition acaba de comprovar uma hipótese levantada por pesquisadores do Departamento de Oceanografia da Universidade Federal do Espírito Santo – a existência de manguezais de água doce.
Essa expedição deverá se estender por cerca de dois anos, percorrendo toda a Bacia do rio Amazonas desde o Oceano Atlântico até os Andes. A primeira fase da expedição, que aconteceu entre os dias 10 e 27 de abril, explorou 11 florestas de mangue na região do delta do rio Amazonas. Essa região engloba áreas dos Estados do Pará e do Amapá, englobando todo o Arquipélago de Marajó.
Os pesquisadores analisaram dados da água e do solo, avaliando a salinidade, a composição, a densidade e o volume das árvores dos mangues, onde foi usado um sistema de varredura a laser 3D do solo e de drones.
Esse esforço resultou numa expansão de 20% do mapeamento dos manguezais da região, perfazendo um total de 180 km2. Os pesquisadores comprovaram que, devido à fabulosa vazão do rio Amazonas, os solos desses manguezais são hiposssalinos, ou seja, possuem pouco sal.
A estrutura da vegetação dos manguezais do Delta do rio Amazonas é bem diferente de todos os manguezais de águas salobras conhecidos. Aliás, segundo os pesquisadores, é provável que esse tipo de manguezal não existe em nenhum outro lugar do mundo. As condições específicas das águas do rio Amazonas levaram a uma adaptação da vegetação do mangue a água doce.
Essa notícia surpreendente só vem confirmar o quão pouco conhecemos sobre a Amazônia. E olhem que não estamos falando de nenhum rincão escondido nas cabeceiras de algum grande rio encravado no meio da selva. A foz do rio Amazonas é, desde o começo da colonização do Brasil, uma das áreas mais visitadas e habitadas da Amazônia. Uma curiosidade: essa região foi descoberta pelo navegador espanhol Vicente Yañes Pinzón em 1500, meses antes da chegada da frota de Pedro Álvares Cabral no litoral da Bahia.
A expedição de Pinzón partiu da Espanha em dezembro de 1499 com quatro naus, zarpando de Palos de La Fronteira e rumando primeiro para as Ilhas Canárias, seguindo depois na direção da Ilha de Santiago, no arquipélago de Cabo Verde. No dia 26 de janeiro, essa expedição atingiu um cabo, que recebeu o nome de Santa Maria de la Consolación. De acordo com o historiador brasileiro Adolfo de Varnhagen (1816-1878), esse cabo é a Ponta do Mucuripe, na cidade de Fortaleza, no Ceará.
Seguindo rumo ao Oeste, a expedição percebeu a certa altura que estava navegando em águas doces e encontrou “uma boca de 15 léguas que saía no mar com grande impacto”. Essa boca era a foz do rio Amazonas e o impacto era um fenômeno que passou a ser conhecido como pororoca. Pinzón batizou o grande rio como Santa Maria de La Mar Dulce.
A expedição espanhola chegou a navegar pelas águas do grande rio, onde encontraram uma densa floresta cheia de selvagens. O grande volume de água que chegava na foz fez com que os espanhóis deduzissem que se tratava de uma grande área continental, porém, a expedição não se interessou em fazer maiores descobertas. As naus retornaram ao Oceano Atlântico e seguiram o litoral rumo ao Norte. A descoberta do grande rio se transformou numa mera curiosidade nas páginas do diário de bordo.
É bem provável que essa expedição, assim como aconteceu com outras grandes expedições que vasculharam a Floresta Amazônica no passado, nós traga notícias de novas e importantes descobertas nesses próximos dois anos.
Vamos ficar esperando com muita ansiedade!
[…] publicamos uma postagem aqui no blog comentando sobre a descoberta de manguezais que crescem em águas exclusivamente doces na região […]
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