UCRÂNIA: O ANTIGO CELEIRO DA URSS 

Há exatamente um mês atrás o Goldman Sachs, um dos maiores grupos financeiros do mundo, publicou um relatório afirmando que o aumento nos preços dos grãos vai elevar a inflação global dos alimentos ao longo dos próximos anos. Naquele momento, o conflito entre a Ucrânia e a Rússia ainda era uma possibilidade, o que nos leva a crer que as coisas ainda vão piorar muito.  

De acordo com o estudo do Goldman Sachs, a produção de grãos vem sofrendo nos últimos anos com secas, problemas na cadeia de suprimentos como fertilizantes e pesticidas, com a escassez de mão de obra (como visto com a epidemia da Covid-19 na Europa), além do aumento da demanda. Os preços dos grãos aumentaram cerca de 25% no último ano e estão próximos do recorde histórico de 2011. 

A Ucrânia é um grande produtor de grãos, com uma produção de 84 milhões de toneladas em 2021. As exportações do país atingiram a marca de 42,5 milhões de toneladas, onde se destacam o trigo, com cerca de 18 milhões de toneladas, a cevada, com 5,5 milhões de toneladas, e o milho, com cerca de 18,6 milhões de toneladas.  Outro produto de destaque no país são as sementes de girassol (vide foto), usadas na produção de óleo comestível.

O conflito com a Rússia poderá afetar drasticamente essa produção e diminuir ainda mais a oferta de grãos no mercado internacional, o que vai significar preços mais altos em todo o mundo. Convém destacar que a Rússia também é uma grande produtora e exportadora de grãos – embargos comerciais internacionais poderão impedir a venda desses alimentos no mercado internacional. 

O território da Ucrânia tem cerca de 600 mil km2, pouca coisa a mais que o Estado de Minas Gerais, e uma população de 44 milhões de habitantes. O país é rico em solos de “terra negra”, ideais para a agricultura. Além de grãos, o país é um grande produtor de frutas, vegetais, legumes e tubérculos como batatas e beterrabas. Aliás, a Ucrânia é famosa pela sua grande produção de açúcar de beterraba. 

Outro produto agrícola importante do país são os vinhos. Existem registros históricos e sítios arqueológicos na Crimeia (região que foi invadido e anexada pela Rússia em 2014, e que está na raiz do atual conflito) que indicam que a produção vinícola vem ocorrendo na região desde o século IV a.C. 

Russos e ucranianos tem um “DNA” comum – o povo russo se formou no território da Ucrânia a partir da fusão de diversas tribos nômades das estepes asiáticas. De lá, esse povo passou a se expandir rumo ao Norte e ao Leste, conquistando sucessivos territórios até chegar a atual configuração da Rússia.  

Kiev, a capital da Ucrânia foi fundada no século V de nossa era, e foi a sede do governo russo durante vários séculos. Na literatura russa, Kiev é frequentemente chamada de a “mãe de todas as cidades russas”. Apesar de toda essa fraternidade histórica entre russos e ucranianos, a relação entre os dois povos já passou por momentos verdadeiramente dramáticos como o Holodomor

Após a chamada Revolução Russa de 1917 e a subsequente formação da URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, a Ucrânia assumiria o papel de “celeiro” do grande bloco socialistas. A República Socialista produzia farinha de trigo, pão, produtos lácteos, frutas e vegetais frescos, que eram distribuídos para todo o bloco dos países soviéticos. Essa abundancia de alimentos provocava inveja em muitos povos de Repúblicas localizadas em regiões subárticas e semiáridas, onde a produção de alimentos era bem pequena. 

Entre os anos de 1932 e 1933, período em que problemas climáticos afetaram imensamente a produção agrícola na Ucrânia, milhões de pessoas (as estimativas ficam entre 2 milhões e 7 milhões) morreram de fome no país. Devido a disputas políticas entre grupos, Josef Stálin, o grande chefe do Governo Central da URSS, confiscou toda a produção de alimentos da Ucrânia como uma forma de represália. Essa tragédia entrou para a história com o nome de Holodomor (em ucraniano – “holod“, de fome, e “mor“, de praga ou morte), o holocausto dos ucranianos. 

A animosidade entre russos e ucranianos tem outras razões – uma das principais foi a intensa colonização de seu território por russos durante a era da URSS. O Governo Central em Moscou criou uma política de “russialização” de todas as Repúblicas Soviéticas. Milhares de famílias de russos étnicos eram forçadas a mudar para os territórios das demais Repúblicas. Essa política era uma forma de forçar o uso da língua russa e de incorporar costumes típicos do país entre os demais povos soviéticos. 

Em algumas províncias da Ucrânia, como são os casos de Donetsk e Lugansk no Leste do país, os russos étnicos formam a maioria da população. Grupos separatistas pró-Rússia vem lutando contra o Governo de Kiev e, recentemente, essas províncias obtiveram o reconhecimento da independência por parte de Moscou. 

O verdadeiro “balaio de gatos” em que se transformou a Ucrânia tem um outro complicador – já há vários anos o país vem se aproximando da OTAN – Organização do Tratado do Atlântico Norte, uma aliança criada logo após a Segunda Guerra Mundial justamente para se contrapor a URSS. O Governo da Rússia, que não aceita essa aproximação em nenhuma hipótese, está usando toda essa série de questões, que segundo o discurso oficial “ameaçam a segurança da Rússia”, como justificativa para a invasão do país. 

Essa breve e pouca profunda exposição da situação da Ucrânia mostra como as questões entre o país e a Rússia são complexas e complicadas, indicando que o caos atual poderá se estender por muito tempo. E dentro desse cenário é bastante difícil imaginar que a outrora grande produção de alimentos no país venha a se repetir no curto prazo. 

Além da crise na produção de alimentos, conforme comentamos na postagem anterior, existe a questão do fornecimento de gás da Rússia para a Europa. Muitos países como a Alemanha e a Áustria importam metade do gás usado na geração de energia elétrica, em indústrias e no aquecimento de residências da Rússia. Muitos dos sistemas de transporte do produto – os gasodutos, atravessam o território ucraniano. 

Essa cruel dependência, que em muito foi criada pela pressa desses países em descarbonizar suas economias em prol do meio ambiente, está forçando muitos Governos a assumir uma postura de fraqueza diante do grave avanço da Rússia contra uma nação independente. Observem nos noticiários como as críticas da Alemanha à Rússia, citando um exemplo, estão vários tons abaixo do que se esperaria para a situação grave que estamos vivendo. 

Finalizando o raciocínio – o Brasil, que nos últimos anos vem assumindo uma posição de destaque como um dos grandes celeiros do mundo, é um dos poucos países que tem condições de expandir suas frentes agrícolas para aumentar a produção de grãos. Isso por um lado poderá representar um grande alívio para o mercado mundial de alimentos, mas traz em seu bojo enormes riscos ao meio ambiente – a abertura de novas frentes agrícolas poderá resultar em grandes derrubadas de matas nativas, especialmente na região do Cerrado

Vejam o tamanho do estrago que a atitude de um único Governo pode provocar na economia mundial. 

A EUROPA E A DEPENDÊNCIA DO GÁS DA RÚSSIA 

Ao longo das últimas horas estamos assistindo o avanço das tropas da Rússia dentro do território da Ucrânia. As últimas informações dão conta da entrada dos primeiros tanques e tropas em Kiev, a capital do país. Apesar dos muitos protestos e sanções econômicas impostas por grandes países pelo mundo afora, os russos seguem com sua guerra minuciosamente planejada. 

Existem inúmeras questões geopolíticas envolvidas nessa questão que fogem da minha área de especialização. Parte do discurso repetido por Moscou faz referência a questões de segurança – a Ucrânia, já há muito tempo, vem se aproximando das nações Ocidentais, inclusive tentando entrar para a OTAN – Organização do Tratado do Atlântico Norte, uma força que foi criada logo após a Segunda Guerra Mundial justamente para se contrapor à antiga URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. 

Na visão dos russos, essa é uma questão crítica de segurança e que remonta ainda aos tempos da invasão do país pelas tropas de Napoleão Bonaparte no início do século XIX. Após a derrota dos franceses, o Império Russo passou a criar políticas para a formação de uma forte zona de influência política, econômica e militar ao redor de suas fronteiras. Essa seria uma espécie de escudo que, após a Revolução Russa de 1917, passaria a ser chamada de “Cortina de Ferro”. 

As preocupações com a segurança do país foram multiplicadas durante a Segunda Guerra Mundial após a invasão da Rússia por tropas alemãs. Para o Terceiro Reich de Adolf Hitler, a conquista do imenso território da URSS era essencial para seu conceito de Lebensraum – o “espaço vital”. O território alemão era pobre em recursos naturais como minérios e petróleo, sendo fundamental a conquista de regiões que pudessem fornecer esses insumos para o Reich nazista.

Ao longo das últimas décadas, especialmente após a queda do Muro de Berlim em 1989 e com o fim da URSS em 1991, os russos arrefeceram um pouco as suas desconfianças com a Europa e passaram a desenvolver um importante relacionamento comercial. Um dos grandes trunfos da Rússia nessa nova fase foram as suas grandes reservas de petróleo e, especialmente, de gás. 

Gigantescos sistemas de gasodutos foram construídos desde os campos produtores na distante Sibéria e chegando até importantes centros consumidores na Europa Ocidental. Um dos países que mais se beneficiaram do gás russo foi justamente a sua antiga arqui-inimiga, a Alemanha. Metade do gás consumido na Alemanha atualmente vem da Rússia. 

O sucesso do gás russo na Europa está ligado diretamente a razões de ordem ambiental. Com a intensificação das preocupações ecológicas ao longo das últimas décadas, o gás passou a ser visto como uma alternativa “mais sustentável” do que o carvão mineral, especialmente para a geração de energia elétrica. 

Apesar de também ser um combustível de origem fóssil, a queima do gás gera 90% menos gases de efeito estufa. Uma grande quantidade de usinas de geração termelétrica a gás foi construída por todos os cantos. Inúmeras indústrias passaram a utilizar o combustível em seus processos industriais. Outra área onde o gás russo passou a ser fundamental é na calefação ou aquecimento de residências no forte inverno europeu. 

A forte dependência de muitos países europeus pelo gás russo passou a mostrar seu lado sombrio com a recente crise decorrente da epidemia da Covid-19. Com a implantação das políticas de restrição da circulação de pessoas por causa da doença, houve um brusco resfriamento econômico nos países, o que resultou numa queda substancial no consumo de combustíveis, inclusive do gás. 

Nos últimos meses, com a retomada gradual das atividades econômicas ao redor do mundo, houve um brusco aumento da necessidade de energia pelos países. Atividades ligadas a produção de petróleo e gás, além da mineração do carvão, que andavam a passos lentos repentinamente passaram a ser retomadas devido ao aumento rápido do consumo. Com a falta dos produtos no mercado e com o repentino aumento no consumo, aconteceu o óbvio – os preços explodiram. 

Em alguns países, como foi o caso da Alemanha, o preço do gás simplesmente triplicou e rapidamente gerou fortes impactos nas economias dos países. Um desses impactos mais dramáticos pode ser visto no brutal aumento das taxas de inflação. Não são poucos os especialistas que creditam essa crise à brusca mudança dos padrões energéticos por causa da pressão de grupos ambientais. 

A situação da Rússia é bastante confortável – se os países europeus começarem a falar muito em sanções comerciais e outros tipos de retaliações por causa da invasão da Ucrânia, eles simplesmente podem fechar as válvulas dos seus gasodutos. No outro extremo do seu grande território, a China está desesperada para aumentar as suas compras de gás da Rússia. 

É aqui que a “porca torce o rabo” como falam os caipiras aqui de São Paulo. Muitos países europeus caíram numa verdadeira armadilha por causa dos discursos de proteção ao meio ambiente e fizeram uma migração muito brusca para uma matriz energética mais limpa. Se os russos cessarem o fornecimento de gás para esses países, a coisa vai se complicar de vez. 

Se os leitores prestarem atenção nas entrelinhas das reportagens que estão falando sobre a invasão da Ucrânia, vão perceber claramente que muitos países estão condenando a invasão, “pero no mucho“. Eles sabem que se tomarem algumas atitudes mais duras contra a Rússia seus estoques de gás estarão ameaçados. 

O abastecimento de gás via Rússia se transformou ao longo dos últimos anos numa excelente alternativa ao gás fornecido pelo Oriente Médio. A conturbada região, com seus inúmeros conflitos regionais e desconfiança generalizada entre os países é rica em petróleo e gás, porém apresenta uma série de incertezas sobre a capacidade de fornecimento contínuo do produto. 

Os russos perceberam essa dificuldade e enxergaram uma grande oportunidade para conquistar o mercado europeu. O que ninguém esperava era uma atitude de tamanha agressividade contra a Ucrânia. A questão agora é saber até onde vai o pragmatismo dos europeus. 

Vão ficar em cima do muro, garantindo assim o gás nosso de cada dia ou vão passar a falar grosso com os russos, arriscando assim a perder o seu fornecimento de gás? 

Só o tempo nos responderá… 

A ALTA NOS PREÇOS DOS GRÃOS: DOS PROBLEMAS CLIMÁTICOS À AMEAÇA DE GUERRA NA UCRÂNIA 

Quem está acompanhando os noticiários já deve ter percebido que o clima na Ucrânia está ficando cada vez mais quente. Tropas da Rússia ameaçam invadir duas províncias separatistas com maioria da população de etnia russa. Enquanto isso, Os Estados Unidos tem subido o tom e estão ameaçando a Rússia com uma série sanções de ordem econômica, além de estar mobilizando tropas para uma possível reação militar. 

Um leitor médio talvez se pergunte: qual a importância de um embate entre países que ficam do lado outro lado do mundo? Sem nos perdermos em inúmeras questões geopolíticas, corremos o risco de sentir um pesado aumento no custo do pão nosso de cada dia. Explicando: 

A Rússia é um grande produtor de trigo – de acordo com dados da CONAB – Companhia Nacional de Abastecimento, o país produz cerca de 74 milhões de toneladas de trigo a cada ano. A Ucrânia produz cerca de 33 milhões de toneladas ano. O maior produtor mundial é a União Europeia, com uma produção de mais de 150 milhões de toneladas.  

Um conflito entre a Rússia e a Ucrânia tem potencial para abalar o abastecimento de trigo em todo o mundo. O Brasil não é um grande produtor de trigo – nossa produção é suficiente para atender cerca de metade do nosso consumo. A diferença é importada de países como Argentina, Canadá e Estados Unidos, com pagamento feito em dólar. 

A produção mundial de trigo não vem andando muito bem nesses dois últimos anos, principalmente na União Europeia. Com o início da epidemia da Covid-19 em 2020, muitos dos trabalhadores da agricultura foram obrigados a voltar para seus países de origem por causa das políticas de restrição à circulação de pessoas. A maior parte desses trabalhadores vem de países do Leste Europeu como a Polônia, Bulgária e Geórgia.  

Com a redução da oferta de trigo no mercado internacional, os preços vêm subindo fortemente – essa é a famosa lei da oferta e da procura. Num mercado que já vive com escassez, a perspectiva de uma redução ainda maior na oferta por causa do conflito na Ucrânia produz mais nervosismo e mais aumentos de preços. 

E as preocupações com os preços dos grãos não se limitam apenas ao trigo. A cotação da saca de soja fechou hoje, 23 de fevereiro, a R$ 194,00. A demanda internacional pelo grão, que é usado em sua maior parte para a produção de ração para aves e suínos, está sendo muito forte. A China é um dos maiores consumidores de soja do mundo. 

Aqui na América do Sul, como todos devem estar acompanhando pelos noticiários, acabamos de passar por um período de forte seca em várias regiões do Brasil, do Paraguai e da Argentina. Depois, muitas regiões produtoras – especialmente no Centro-oeste brasileiro, passaram a enfrentar fortes chuvas justamente no momento da colheita. Valendo a mesma lei da oferta e da procura – a redução na oferta do grão resulta num aumento dos preços. 

Apesar dos altos preços serem um grande negócio para os produtores, que lucram muito com a exportação da soja, para os consumidores do mercado interno a situação é problemática. Com os preços do grão mais altos, as rações usadas pelos criadores de aves e de suínos também sobe, o que vai resultar em altas nos preços das carnes e dos ovos. 

Outro grão essencial para a produção de rações é o milho, produto que também está escasso no mercado. No último inverno, muitos de vocês irão se lembrar, uma poderosa frente fria entrou pelo Sul do Brasil e causou fortes geadas, resultando na destruição de parte importante das lavouras de milho da região. Nos Estados Unidos, maior produtor mundial de milho, os problemas foram provocados pela seca no Meio-oeste.

Um grão importante para a vida dos brasileiros e que sofreu uma forte alta nos últimos tempos foi o café. O produto fechou o ano de 2021, com uma alta de 50% em seu preço. De acordo com os especialistas da área, a alta no preço do café foi uma consequência da forte estiagem que atingiu parte das regiões produtoras. 

Também não podemos deixar de falar da alta de cerca de 40% no preço do arroz ao longo de 2021. As causas aqui são diversas: o aumento no consumo mundial, a redução das exportações de grandes produtores como a China, a Índia e o Vietnã, a alta do dólar e também os aumentos de insumos agrícolas como os fertilizantes. 

Até algumas décadas atrás, o caminho entre as lavouras e os consumidores era bem mais simples. O feijão e o arroz, alimentos dos mais tradicionais da mesa dos brasileiros, saiam do campo e iam diretamente para as cidades, sem muitos intermediários. Atualmente, com a internacionalização cada vez maior da economia dos países, as coisas ficaram bem mais complicadas. 

Se os chineses querem comer mais carne de porco, eles passam a importar volumes cada vez maiores de soja. Sobra para os moradores das regiões mais pobres das cidades brasileiras, que tradicionalmente sempre tiveram os ovos como a principal proteína de suas mesas – a soja mais cara eleva o preço da ração, o que vai se refletir em ovos mais caros. 

Uma nevasca fora de época no Meio-oeste dos Estados Unidos ou uma seca mais forte no Centro-oeste do Brasil são suficientes para mexer com o mercado mundial do milho e da soja. Ou então, chuvas da Monção mais forte no Sul e no Sudeste da Ásia podem comprometer o fornecimento mundial de arroz e mandar os preços para as nuvens. 

A pior parte dessa história: gente que nem imagina onde fica a Ucrânia ou o Vietnã, está sentindo no bolso a alta nos preços do trigo e do arroz, além de muitos outros alimentos que estão tendo seus custos pressionados por outros problemas climáticos e políticos pelo mundo afora.  

Esse nosso mundo está ficando mesmo muito complicado… 

ONÇAS INVADEM O DISTRITO FEDERAL

Começo essa postagem explicando que o título não é nenhuma pegadinha. Não vamos falar de nenhum esquema de corrupção ou de desvio de dinheiro público envolvendo algum grupo político que seja denominado como as “onças”. Vamos falar mesmo de felinos de grande porte, mais especificamente de onças-pardas (Puma concolor), também conhecidas como pumas, suçuaranas e leão-baio. 

Chácaras e sítios da região do Altiplano Leste de Brasília estão sendo invadidos por onças-pardas, que estão atacando e matando animais domésticos como galinhas, carneiros e cabras – até mesmo cavalos já foram atacados. Esse é um problema que está diretamente ligada à fragmentação de habitats sobre o qual tratamos na postagem anterior

Segundo informações da Associação dos Produtores Rurais do Altiplano Leste, esses ataques vêm acontecendo desde novembro do ano passado. A confirmação que os ataques tem partido de onças-pardas se deu em janeiro último, quando câmeras de segurança de uma propriedade filmou o animal. 

O Batalhão Ambiental da PMDF – Polícia Militar do Distrito Federal, afirma que só foi notificada do problema em meados de fevereiro. Desde então, o Batalhão começou a instalar câmeras fotográficas com sensores de presenças para determinar as áreas onde o animal (ou animais) estão circulando. O objetivo dos militares é capturar o animal vivo e com segurança. 

Brasília, a nova Capital Federal de nosso país, começou a ser construída em meados da década de 1950, tendo sido inaugurada oficialmente em 1960. A cidade foi um marco da ocupação do Cerrado brasileiro, região que acabou sendo transformada na grande fronteira agrícola do país nas últimas décadas. 

O começo da degradação ambiental do Cerrado em grande escala se deu em meados da década de 1970, época em que a EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias, lançou as primeiras de grãos – destaque para a soja, adaptados para as condições de solos e clima do Cerrado. 

O Cerrado ocupa aproximadamente 2 milhões de km2 do território brasileiro. O bioma está presente em dez Estados brasileiros – Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Piauí, Maranhão, Tocantins, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, além de ocupar pequenas áreas do Paraguai e da Bolívia.  

O bioma tem como uma de suas principais características a presença de solos ácidos e de pouca fertilidade, o que sempre foi um entrave para a sua ocupação. Na década de 1950, foram desenvolvidas técnicas para a aplicação de calcário nesses solos – a calagem, o que passou a permitir a correção da acidez. Com o advento das sementes adaptadas ao Cerrado, a agricultura no bioma não parou mais de crescer. 

A vegetação nativa do Cerrado é altamente adaptada às condições ambientais do bioma. As plantas possuem sistemas de raízes extremamente longos, o que permite captar a água que se acumula em lençóis e aquíferos profundos. O Clima no bioma possui duas estações bem definidas – um verão quente e seco, e um inverno quente e chuvoso. 

De acordo com os levantamentos mais recentes, mais de 40% da vegetação nativa do Cerrado já desapareceu por causa do vigoroso avanço das frentes agrícolas. Algumas fontes afirmam que esse grau de devastação já comprometeu metade da vegetação nativa do bioma. 

É aqui que começam os problemas com os animais nativos do bioma, como é o caso das onças-pardas. Com a devastação da vegetação, ocorre uma diminuição das populações de animais que eram predados pelas onças. Com a falta de alimentos, os animais se arriscam entrando em fazendas e chácaras em busca de animais domésticos. 

Um dos sitiantes da região relatou que onze galinhas desaparecem de sua propriedade apenas no começo de janeiro. Outra propriedade teve dois carneiros mortos; um aras informou que dois pequenos potros foram atacados. Todos esses ataques demonstram que as onças-pardas estão buscando comida. 

Para os moradores da região, o problema vai muito além da perda de animais domésticos – é uma questão de segurança. Uma onça-parda adulta pode atingir um comprimento de cerca de 2,4 metros um peso próximo aos 100 kg. Encontrar um animal desse tamanho durante uma caminhada ou em seu quintal é algo assustador, principalmente para quem tem crianças pequenas em casa. 

O Distrito Federal não está sozinho nessa questão. Tem sido cada mais frequente os relatos de onças-pardas andando em cidades por todo o país. Há relatos de visitas desses animais inclusive em cidades da Região Metropolitana de São Paulo, a mais densamente povoada do Brasil. Há coisa de uns dois anos atrás um animal dessa espécie foi capturado dentro de uma fábrica em Itapecerica da Serra, munícipio limítrofe com São Paulo. 

Quando a captura desses animais é feita por policiais dos Batalhões Ambientais, são usadas redes e/ou dardos tranquilizantes para sedar o animal. Normalmente, o animal passa por um exame geral feito por um médico veterinário e depois é encaminhado para ser solto dentro de alguma área de proteção ou reserva ambiental. 

Em muitos casos, infelizmente, os moradores se valem de armas de fogo para abater os animais em nome da segurança de suas famílias. Não custa lembrar que as onças-pardas estão ameaçadas de extinção e todo e qualquer esforço para salvar esses animais é sempre bem-vindo. 

Vamos torcer pela captura segura desse animal (ou animais) que estão assustando os moradores do Altiplano Leste de Brasília e que as autoridades consigam levá-los para uma das reservas naturais da região. E que isso aconteça antes que algum valentão resolva o problema a bala… 

OS DISPOSITIVOS PARA TRAVESSIA DE FAUNA 

Depois de uma sequência de postagens onde só falamos de problemas ambientais, vamos começar esta semana falando de um assunto mais ameno – dos dispositivos para a travessia de fauna que começam a ser instalados em rodovias e ferrovias aqui no Brasil. 

Antes de mais nada, deixem-me explicar o termo que foi usado – dispositivos, que nada mais são do que viadutos, tuneis, passarelas ou até mesmo sistemas de cabos que são instalados ao longo de rodovias e ferrovias com o objetivo de permitir que animais silvestres consigam atravessar de um lado para outro em segurança. 

Muito comuns na Europa, nos Estados Unidos e Canadá, entre muitos outros países, o uso desses dispositivos é uma ideia que começa a ser considerada aqui em nosso país. Um exemplo é o projeto de pavimentação do chamado Lote Charlie da BR-319, rodovia que liga Porto Velho, em Rondônia, a Manaus, no Amazonas, e que é mais conhecida como “o caminho das onças“. O projeto, que se encontra na fase final do licenciamento ambiental prevê, entre outras preocupações com os impactos ambientais, a construção de 20 passagens aéreas e 12 passagens subterrâneas para a travessia de fauna em um trecho de 52 km

Talvez você esteja se perguntando qual seria a importância dessa notícia. Segundo estudos do CBEE/UFLA – Centro Brasileiro de Ecologia de Estradas da Universidade Federal de Lavras, cerca de 475 milhões de animais silvestres são atropelados em rodovias brasileiras todos os anos. São cerca de 15 vítimas a cada segundo. Cerca de 90% dos animais atropelados são de pequeno porte como sapos, cobras e aves

Esses acidentes também costumam envolver animais de grande porte como antas, veados e onças, eventos que inclusive podem representar riscos para os motoristas. Um exemplo é o que ocorre na rodovia BR-262, na região do Pantanal Mato-grossense em Corumbá. De acordo com o IHP – Instituto do Homem Pantaneiro, ao menos duas onças são atropeladas na região por ano. Um animal adulto da espécie pode passar dos 100 kg de peso, o que nos dá uma ideia do impacto com um carro em alta velocidade. 

A imagem que ilustra esta postagem mostra um viaduto vegetado que foi construído na Rodovia dos Tamoios, no Estado de São Paulo, com o objetivo de minimizar esse tipo de acidentes. Essa rodovia liga o Vale do rio Paraíba do Sul ao Litoral Norte de São Paulo, atravessando a Serra do Mar, região que concentra um dos trechos contínuos mais bem preservadas da Mata Atlântica. 

A estrutura de concreto, que está coberta por vegetação, interliga as duas bordas da mata e tem como objetivo oferecer um caminho seguro para a passagem dos animais silvestres. Para evitar que os animais tentem atravessar diretamente pela pista, cercas foram instaladas ao longo da rodovia. Já existem dispositivos semelhantes em rodovias dos Estados do Rio de Janeiro, Pará e Paraná, além de vários projetos em estudos em outros estados. 

Um outro exemplo de preocupação com a passagem de fauna é o que vem sendo feito na Ferrovia Norte Sul, projeto que vai interligar por trilhos o Porto de Itaqui, no Maranhão, ao Porto de Santos, em São Paulo. Sob os trilhos foram montadas pequenas passagens para animais rasteiros como jabutis e cobras. Também foram instaladas passarelas de cabos entre áreas de mata para permitir a passagem aérea de animais arbóreos. 

Sempre que um trecho contínuo de uma mata é cortado por uma rodovia ou ferrovia, cria-se automaticamente uma barreira para a livre circulação de animais. Animais pequenos como roedores, aves e anfíbios evitam áreas descampadas por causa dos riscos de ataques por predadores. Aves de rapina como gaviões e carcarás, citando exemplos, tem uma visão excelente e costumam atacar com grande velocidade presas mais descuidadas. Muitas espécies simplesmente não conseguem sair do meio da mata.

Para animais arbóreos como macacos e bichos-preguiça, esse trecho descampado passa a funcionar como uma barreira bastante difícil de atravessar. Eu já encontrei vários vídeos nas redes sociais mostrando o enorme esforço de bichos-preguiça para atravessar de um lado para outro de uma rodovia – muitas vezes, essa travessia dependeu da boa ajuda de um ser humano. 

A fragmentação de habitats por rodovias e ferrovias é um dos grandes problemas ambientais de nossos dias. Quando se interrompe a livre circulação de animais e se formam “ilhas de vegetação” isoladas, tem início um processo de enfraquecimento genéticos dessas populações – a exceção aqui são as aves que voam e os morcegos. Sem poder circular por grandes territórios, passa a existir a tendência de cruzamento de animais com relações de parentesco muito próximas (irmão com irmã, pai com filha, mãe com filho, etc.). 

Filhotes de animais nascidos desses relacionamentos estão sujeitos a deformidades físicas e também estão mais propensos ao desenvolvimento de inúmeras doenças. A falta de diversidade genética em uma população pode significar o começo do fim de uma espécie animal.

De alguns anos para cá tem crescido os debates sobre a necessidade de criação dos chamados corredores de biodiversidade. Falamos aqui do plantio de faixas de vegetação para a interligação de fragmentos florestais isolados. Um grande exemplo são as áreas de topo de morros que foram poupadas dos desmatamentos (pela dificuldade de acesso, é claro). Entre essas áreas, que formam verdadeiras ilhas de vegetação, normalmente existem plantações e pastagens, tipos de vegetação que não proporcionam uma travessia segura para muitos animais. 

Outra forma bastante importante de se criar esses corredores é a recuperação da mata ciliar de rios e riachos. Além de proteger as margens dos efeitos da erosão dos solos e dos desmoronamentos, a mata ciliar evita que resíduos sejam arrastados para a calha dos rios pelas enxurradas. E de quebra, essa faixa de vegetação permite a circulação dos animais silvestres. 

Em grande parte dos casos, esse corredor de biodiversidade pode ser criado com o plantio de uma faixa de mata com uma largura entre 10 e 20 metros. A combinação desses corredores com as matas ciliares e com os dispositivos de passagem de fauna em rodovias e ferrovias pode facilitar bastante a circulação de animais silvestres por uma grande área. 

Um dos grandes limitadores para a construção desses dispositivos em grande quantidade em rodovias e ferrovias brasileiras são os altos custos. Depois de construídas e colocadas em operação, qualquer alteração nessas infraestruturas passa a ser algo complicado. O ideal, como vem sendo feito, é prever a inclusão desses tipos de estruturas ainda na fase do projeto desses empreendimentos. 

Ainda existe muito o que se fazer nessa área, mas essas iniciativas já são um bom começo. E a natureza, como sempre, agradece! 

A CPI DAS CHUVAS NA REGIÃO SERRANA FLUMINENSE DE 2011. LEMBRA? 

A cidade de Petrópolis segue em seu luto, com equipes de resgate ainda buscando os corpos de vítimas sob os escombros. Ainda serão necessárias várias semanas até que a cidade volte a viver dentro de alguma normalidade. 

Hoje gostaria de entrar em um assunto delicado: em 2011, logo depois da grande tragédia provocada por fortes chuvas que atingiram toda a Região Serrana do Rio de Janeiro, a ALERJ – Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, criou uma CPI – Comissão Parlamentar de Inquérito, com a intenção de avaliar as causas e as eventuais responsabilidades, além de sugerir obras que garantissem a segurança dos moradores das encostas. 

Só para recordar – aquelas fortes chuvas provocaram a maior tragédia natural já registrada no Brasil. As cidades mais atingidas foram Petrópolis, Teresópolis, Nova Friburgo, Sumidouro, São José do Vale do Rio Preto e Bom Jardim, além de ter provocado reflexos na cidade de Areal, na região Centro-Sul do Estado. De acordo com dados da Secretaria de Estado da Saúde e Defesa Civil do Rio de Janeiro, foram registradas 916 mortes e perto de 345 desaparecidos nessa tragédia. 

Iniciada pouco tempo depois da tragédia, a CPI da ALERJ durou cerca de seis meses. Foram ouvidos vários especialistas e governantes; documentos foram analisados, locais atingidos pelos deslizamentos foram visitados por caravanas de parlamentares. O relatório final da CPI, que foi publicado em novembro de 2011, apontou uma série de problemas estruturais e de planejamento, sugerindo uma série de medidas para que se evitassem tragédias futuras. 

Um dos temas em destaque no relatório foram as casas construídas de forma irregular nas encostas e também ao largo das margens dos rios. Segundo os estudos, a ocupação dessas áreas de risco decorreu da falta de uma robusta política habitacional pública. Também foram apontadas grandes falhas na estruturação dos sistemas de defesa civil das cidades. 

Os parlamentares também concluíram que houve enormes falhas das prefeituras municipais na retirada das populações das áreas de risco logo após a tragédia. Também foram feitas denúncias de desvios de verbas emergenciais liberadas para o atendimento das vítimas, além de se denunciar indícios de corrupção nos contratos fechados com empreiteiras para a realização de obras emergenciais. 

Entre as recomendações feitas no relatório, os parlamentares sugeriram a continuidade das investigações relativas ao desvio de dinheiro público, o mapeamento geológico-geotécnico das encostas dos morros e de outras áreas de risco, a formulação de um acordo com a União para a criação do Centro Nacional de Prevenção de Catástrofes, órgão que teria seus correspondentes em Estados e municípios, entre muitas outras sugestões. 

A fim de permitir a remoção das famílias que continuaram vivendo em áreas de alto risco geológico, o relatório indicou a necessidade de um planejamento com a meta de construir 40 mil habitações. Essas habitações seriam construídas em áreas seguras dentro do território das cidades da região. 

Passados mais de 11 anos e muitas tragédias mais, a pergunta que não quer calar: quanto desse relatório da Comissão Parlamentar da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro foi colocado em prática, ao menos parcialmente, ao longo de todo esse tempo? A triste resposta é praticamente nada. 

Ao contrário: as cidades da região continuaram a assistir passivamente o avanço de suas manchas urbanas na direção de morros ainda cobertos por vegetação. Aliás, muitos vereadores até estimularam a invasão de algumas dessas áreas alegando que as populações pobres tinham direito ao uso social dessas terras. 

Também foram construídas alguns conjuntos e apartamentos populares com o objetivo de receber moradores de algumas dessas áreas de risco. O problema é que muitas dessas construções foram feitas em áreas de risco geológico, seja por estarem muito próximas de encostas de morros com riscos de deslizamento, seja por estarem em áreas sujeitas a alagamentos pela proximidade com os rios da região. 

Assim chegamos a mais uma grande tragédia anunciada na Região Serrana do Rio de Janeiro. A todo o momento os flashes dos noticiários fazem transmissões ao vivo da área da tragédia, fazendo atualizações sobre o número de corpos já recuperados ou contando histórias dos dramas pessoais dos moradores da cidade. 

Até quando coisas sérias como a ocupação de áreas de encostas de morros com alto risco geológico vai continuar acontecendo sob o olhar passivo de prefeituras e outros órgãos públicos? 

Vamos continuar olhando passivamente o dinheiro público liberado emergencialmente para a realização de obras e serviços essências para as vítimas ser desviado por gestores públicos em contratos forjados com a iniciativa privada? 

Esses políticos e gestores poderão continuar se candidatando a cargos públicos sem qualquer tipo de restrição da Justiça Eleitoral, ou ainda, continuar impunes a qualquer processo civil e criminal por desvio e mal uso do dinheiro público? 

Essas e muitas outras perguntas difíceis precisam ser feitas pelas populações dessas e de outras cidades por todo o Brasil. Não é possível continuarmos a assistir passivamente tantas coisas erradas acontecendo com tamanha normalidade em todo o nosso país. 

O que aconteceu há poucos dias atrás em Petrópolis aconteceu em Franco da Rocha e Francisco Morato, cidades da Região Metropolitana de São Paulo há poucas semanas atrás. Outras tragédias semelhantes e com o mesmo “DNA” do descaso do poder público nos três níveis de governo se repetem frequentemente por todos os cantos e nada acontece.  

É preciso que se de um basta em tudo isso. A vida humana vale muito e não podemos continuar a assistir milhões de pessoas vivendo numa “corda banda”, onde tudo pode desmoronar na próxima chuva que se forma no horizonte… 

Por hora, vamos nos solidarizar e orar pela população de Petrópolis. 

AINDA FALANDO DA TRAGÉDIA PROVOCADA PELAS CHUVAS EM PETRÓPOLIS 

Uma postagem rápida. 

Ao longo de toda essa quinta-feira, dia 17 de fevereiro, equipes trabalharam no resgate às vítimas dos desmoronamentos de encostas em Petrópolis. Foram registrados um total de 148 desmoronamentos na cidade. O número de vítimas fatais até o início da noite chegou a 117 e o número de pessoas desaparecidas pode chegar a 100 pessoas.

Os trabalhos de limpeza e recuperação também prosseguiram por todos os cantos da cidade. Casas destruídas, ruas cobertas de lama, pontos de alagamentos, carros que foram arrastados pelas fortes enxurradas e que se amontam pelas ruas, ônibus caídos em rios – o cenário lembra um campo de guerra. Voltou a chover no final da tarde, o que assustou muita gente e forçou a interrupção dos trabalhos de busca e salvamento. 

Lojas e outros estabelecimentos comerciais que conseguiram abrir suas portas ficaram lotados. Há falta de diversos produtos. Muitas lojas tiveram seus estoques invadidos pelas águas e serão necessários vários dias até que haja uma regularização dos serviços. 

De acordo com informações divulgadas pela Defesa Civil, a cidade de Petrópolis recebeu um volume de chuvas da ordem de 300 mm ao longo de 6 horas a partir do início da noite do dia 15 de fevereiro. Isso significa que cada metro quadrado do território da cidade foi atingido por 300 litros de água ao longo desse período de tempo. 

Em 2010, quando trabalhava na cidade de Porto Velho em Rondônia, eu acompanhei uma chuva fortíssima – foram 246 mm ao longo de pouco menos de 4 horas. Esse volume de chuva provocou enchentes generalizadas por toda a cidade, atingindo mais de um metro em algumas avenidas. A cidade é bem plana e está relativamente bem preparada para suportar as fortes chuvas da região. 

O que aconteceu em Petrópolis foi uma chuva de proporções amazônicas, porém caindo em terrenos com encostas muito íngremes, um fator que faz com que as águas da chuva ganhem energia e velocidade. Uma cena impressionante que foi veiculada nos noticiários e redes sociais mostrou dois ônibus que foram arrastados para a calha de um rio pelas fortes enxurradas. Isso demonstra o potencial destruidor dessas chuvas e explica o rastro de destruição que ficou para trás. 

Enquanto a luta das equipes de resgate em busca de possíveis sobreviventes soterrados prosseguia e a população se esforçava para tentar se recuperar dos estragos causados pelo temporal, a guerra de narrativas entre as autoridades na busca de um possível responsável pela tragédia esquentava. 

Uma dessas narrativas afirma que o Governo do Estado do Rio de Janeiro gastou apenas 60% dos recursos orçamentários destinados a obras de contenção de encostas foram usados. Outras narrativas afirmam que grupos de vereadores da cidade estimularam a criação de bairros populares em áreas de risco, muitas das quais vieram ao chão com essa forte tempestade. 

Infelizmente, e mais uma vez, essa briga entre autoridades chegou tarde para as dezenas de vítimas fatais e também para as centenas de desabrigados. A ocupação desordenada das encostas de Petrópolis vem sendo um processo contínuo nas últimas décadas, algo que acontece diante dos olhos da Prefeitura e do Governo do Estado. 

Em 2011 e 2013, sem contar outros eventos de menor porte, as chuvas provocaram grandes tragédias na cidade e em toda a Região Serrana do Rio de Janeiro. Em cada uma dessas tragédias ouvimos discursos de autoridades lamentando as fatalidades e prometendo ações para remediar os problemas de ocupação irregular das encostas. Nem é preciso lembrar que muito pouca coisa foi feita. Muito pior: o avanço da mancha urbana nos morros continuou. 

O momento é de tristeza e de muita indignação. Existem coisas urgentes e inadiáveis a serem feitas – localizar, identificar e enterrar dignamente os mortos, tratar os feridos, providenciar abrigo para os desalojados, além de recuperar, da melhor maneira possível, a infraestrutura da cidade. Passada essa fase crítica, será preciso cobrar as autoridades locais e estaduais pelos feitos e mal feitos na cidade. 

Já passou da hora de se resolver ou, no mínimo, de se minimizar os problemas urbanos e os riscos nas encostas de Petrópolis e de outras cidades da região.

CHUVAS E DESMORONAMENTOS DE ENCOSTAS EM PETRÓPOLIS: UMA TRAGÉDIA QUE SE REPETE

Essa é mais uma postagem triste que precisamos publicar aqui no blog: fortes chuvas na cidade de Petrópolis, Região Serrana do Estado do Rio de Janeiro provocaram alagamentos, inundações e, o mais grave, deslizamentos de encostas. As últimas notícias divulgadas pela Prefeitura local já falam de 94 mortes confirmadas. 

Já existem diversos vídeos circulando nas redes sociais que mostram as encostas desmoronando e carros sendo arrastados pela correnteza. Nas palavras do Governador do Estado – Cláudio Castro, a cidade vive “cenas de guerra“. 

De acordo com informações dos serviços de meteorologia, a chuva que caiu sobre Petrópolis nessa terça-feira, dia 15 de fevereiro, foi a maior e mais intensa dos últimos 70 anos. 

Equipes da Defesa Civil, do Corpo de Bombeiros e muitos voluntários correm contra o tempo em operações de buscas a pessoas soterradas. Além dos esforços para a remoção de grandes volumes de entulho e de lama para a busca de sobreviventes, essas equipes temem pela chegada de novas chuvas. 

Infelizmente, essa não é a primeira grande tragédia provocada pelas chuvas na cidade. Em 2011, toda a Região Serrana foi devastada por fortes chuvas. De acordo com dados da Secretaria de Estado da Saúde e Defesa Civil do Rio de Janeiro, foram registradas 916 mortes e perto de 345 desaparecidos nessa tragédia. Somente em Petrópolis, o número de mortos chegou a 71. 

A Região Serrana do Rio de Janeiro começou a ganhar destaque em meados do século XIX, quando a Família Imperial Brasileira se encantou pelo lugar. A partir de então começaram a surgir cidades e vilas, que foram transformadas em refúgios de verão para a alta sociedade da Corte.  

Como exemplo podemos citar a própria cidade de Petrópolis, que foi o marco inicial desse tipo de ocupação e foi fundada por iniciativa do Imperador Dom Pedro II após a assinatura de um decreto em 1843. Esse também é o caso da cidade de Teresópolis, que surgiu na década de 1890. O nome dado a cidade foi uma homenagem à imperatriz brasileira Teresa Cristina de Bourbon-Duas Sicílias, esposa de Dom Pedro II. 

Ao longo do século XX, essas cidades deixaram de ser apenas um refúgio para as elites e passaram a crescer desordenadamente. Esse, que é um problema crítico em muitas cidades brasileiras, tornou-se dramático em cidade totalmente cercada por morros íngremes. Além da ocupação das encostas,, a cidade também passou a sofrer com falta de saneamento básico, transportes, saúde, educação, entre muitos outros. 

A chegada de uma tempestade fortíssima foi apenas o estopim que deu início a mais essa grande tragédia brasileira. Como muitos de vocês, estou acompanhando os noticiários atentamente e torcendo pelo resgate de vítimas soterradas. 

Vai chegar um momento em que nossas cidades vão precisar discutir seriamente sobre o problema de ocupação de encostas de morros. São dezenas de milhões de pessoas vivendo em áreas de risco e, frequentemente, assistimos tragédias semelhantes se repetindo. 

Esses “bairros” (uso aspas por que chamar muitos desses lugares de bairros é um exagero) vão precisar ser evacuados de um jeito ou de outro, custe o que custar, e as famílias que ali residem vão precisar de casas e apartamentos construídos pelas diferentes esferas de Governo. 

Vai custar caro? 

Sim, uma verdadeira fortuna. Porém, não podemos continuar assistindo passivamente tragédias fatais como essa se repetindo a cada chuva mais forte que cai sobre as nossas cidades. 

AVES MIGRATÓRIAS DA AMÉRICA DO NORTE ESTÃO FICANDO MENORES POR CONTA DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS 

Estudos realizados por pesquisadores de universidades dos Estados Unidos chegaram a uma constatação surpreendente: as aves migratórias da América do Norte estão encolhendo por conta das mudanças climáticas. E isso não é tudo – a mudança está afetando mais as aves que tem cérebros menores. 

A principal fonte de pesquisa foram os dados coletados pelo Museu Field da cidade de Chicago. Desde a década de 1970, esse museu vem coletando e catalogando pássaros que morrem ao se chocar contra as vidraças dos grandes arranha-céus da cidade. Os dados incluem informações de 70 mil pássaros coletados entre 1978 e 2016. 

A cidade de Chicago fica no caminho de diversas rotas migratórias de aves que, todos os anos, viajam do Canadá para a América Latina em busca de um clima mais quente e de alimentos ante a chegada do rigoroso inverno local. Muitas dessas aves acabam encontrando a morte ao se chocarem contra as cortinas de vidro dos prédios. 

O estudo comparativo do tamanho e peso de aves da mesma espécie ao longo do tempo mostrou que os animais estão ficando menores com o passar do tempo. Segundo os pesquisadores, essa diminuição de tamanho é uma resposta direta às mudanças climáticas – com temperaturas ambientais mais altas, as aves não precisam ter corpos tão grandes. Corpos grandes, que conservam melhor o calor, são fundamentais para a sobrevivência das aves em locais muito frios. 

Outra constatação interessante – a envergadura das asas dessas aves também pode estar aumentando. Corpos menores tendem a gerar menos energia para o voo a longas distancias nas migrações e o aumento das asas é uma forma de se aumentar a eficiência do voo dessas aves. 

Os estudos também indicam que muitos animais estão desenvolvendo bicos e penas maiores, características que permitem uma melhor regulação da temperatura corporal. O ouvido das aves também está ficando mais sensível. Estudos similares feitos com morcegos, musaranhos e até com seres humanos também vem sugerindo mudanças morfológicas por causa das mudanças climáticas. 

Um exemplo rápido: populações humanas que vivem em regiões com clima quente e úmido tendem a ter um nariz maior do que habitantes de regiões frias e secas, onde um nariz mais estreito ajuda a umedecer e aquecer o ar antes dele descer para os pulmões. Essa mudança morfológica foi o resultado de dezenas de milhares de anos de adaptação dos diferentes povos ao clima de suas respectivas regiões. Caso uma região fria comece a ficar quente, há uma tendência de se repetir essa mudança nos narizes de seus habitantes

Um detalhe polemico desses estudos faz referência as aves com cérebros maiores em relação ao tamanho do corpo que, segundo as análises, estão encolhendo menos que as aves com cérebros menores. Não existe um consenso entre os pesquisadores sobre isso. 

Segundo conclusões de pesquisadores da Universidade de Washington, aves com cérebros maiores possuem uma maior flexibilidade e estabilidade comportamental, além de uma maior capacidade de aprendizado, o que contribui para uma maior expectativa de vida. 

Esse conjunto de características permite que essas aves encontrem micro habitats com temperaturas mais baixas, o que estaria evitando a necessidade de redução do volume corporal. Muitos pesquisadores não acreditam nessa explicação e estão buscando outras respostas. 

As aves formam um dos grupos animais de maior êxito evolutivo na história natural. Elas são encontradas em todos os continentes – inclusive na gélida Antártida, além de ilhas completamente isoladas no meio dos grandes oceanos. Em cada um desses diferentes habitats, as aves se adaptaram ao longo de milhões de anos para viver em climas e vegetações dos mais diversos. Mudanças ambientais bruscas podem ser fatais para esses animais. 

Um grande exemplo do sucesso evolutivo desses animais foram as moas da Nova Zelândia, um grupo de aves que era formado por nove espécies de seis gêneros. Essas aves não voavam e as duas maiores espécies, a Dinornis robustus e a Dinornis novaezelandiae podiam atingir uma altura de 3,6 metros com o pescoço estendido e um peso de 230 kg. Esses animais reinaram absolutos nessas ilhas por dezenas de milhões de anos. 

Quando os polinésios desembarcaram nas ilhas neozelandezas por volta do ano 1280, estima-se que existiam ali cerca de 58 mil moas. No ano 1440, todas as moas já haviam desaparecido devido à caça excessiva. Esses animais não conseguiram se adaptar rapidamente às mudanças ambientais criadas pela chegada dos seres humanos. 

Um destino semelhante, desgraçadamente, parece estar reservado ao kakapo, uma espécie de papagaio da Nova Zelândia que não voa e que chega a pesar até 4 kg. Essa ave tinha como único predador natural a águia-de-haast, uma espécie local que também foi levada à extinção pelos maoris por volta do ano 1400. A caça para o aproveitamento das penas (que felizmente já foi abolida há muito tempo) e a introdução de espécies invasoras como raposas, ratos e gatos domésticos vem dizimando gradativamente a espécie. 

Outras espécies de aves extremamente adaptadas para uma vida em condições ambientais muito específicas são os pinguins. Essas aves perderam a capacidade de voar ao longo de seu processo evolutivo, porém, se adaptaram como nenhuma outra a uma vida semiaquática. As diferentes espécies de pinguins são praticamente exclusivas do Hemisfério Sul, a exceção de pinguins-de-Humbolt que vivem nas Ilhas Galápagos. 

As maiores populações dessas aves são encontradas no continente Antártico, onde os animais se adaptaram perfeitamente a condições climáticas extremas, suportando temperaturas inferiores a –20 C. Tente imaginar quais serão as consequências do gradual aquecimento que já se verifica nas águas e terras da Antártica para esses animais… 

Todas essas mudanças morfológicas que estão sendo observadas nessas aves migratórias são uma resposta evolutiva natural às mudanças ambientais. A questão que fica em aberto – haverá tempo hábil para mudanças bruscas em tão pouco tempo? 

ACONTECEU DE NOVO: MANCHAS DE ÓLEO ATINGEM 64 PRAIAS DO CEARÁ

Ao menos 64 praias do litoral do Ceará estão apresentando sinais de contaminação por óleo de acordo com um levantamento feito pela SEMACE – Secretaria do Meio Ambiente do Ceará, que foi divulgado no último dia 11 de fevereiro. Nessa segunda-feira, dia 14, será divulgado um novo relatório com atualizações. 

As primeiras informações sobre manchas de óleo em praias cearenses começaram a circular no dia 25 de janeiro. As manchas foram avistadas primeiro na famosa praia de Canoa Quebrada, no município de Aracati. Depois foram feitos registros em Fortaleza, Aquiraz, Fortim e Beberibe. 

O Governo do Ceará acionou equipes de diversos órgãos para remover o óleo das praias o mais rápido possível. Segundo as informações já divulgadas, cerca de 4 mil litros de óleo foram coletados nas praias de Aracati, Fortaleza, Caucaia e Trairi. Nessa segunda-feira, dia 14, será feita a limpeza de praias em Aquiraz e Fortim. 

Desde o dia 11, um avião de patrulha marítima Poseidon P3 da Força Aérea Brasileira, aeronave equipada com diversos sensores especializados para detecção de vazamentos de óleo no mar, está sobrevoando a costa dos Estados do Ceará e do Rio Grande do Norte em busca de pistas sobre a origem do vazamento. O IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, através da Coordenação Geral de Emergências Ambientais, está a frente dessas operações. 

Esses vazamentos coincidem com a época da desova de várias espécies de tartarugas marinhas nessa região, o que é uma preocupação a mais para as autoridades. O Governo local fez um pedido para a população entrar em contato com o Instituto Verdeluz caso encontrem tartarugas vivas, mortas ou em ninhos. Caso os animais estejam cobertos por óleo, a orientação é o contato com Aquasis, uma organização não governamental. 

A Marinha do Brasil e o Instituto de Ciências do Mar da UFC – Universidade Federal do Ceará, estão trabalhando com o objetivo de descobrir a origem dessas manchas de óleo. Amostras foram coletadas e analisadas em laboratório – os resultados indicam que o óleo encontrado não é do mesmo tipo encontrado em uma extensa faixa do litoral nordestino em 2019. 

Em 30 de agosto de 2019, grandes manchas de óleo foram encontradas nas praias de Tambaba, Jacumã e Gramame, no litoral da Paraíba. Ao longo das primeiras semanas de setembro, outras manchas passaram a surgir ao longo de uma faixa de 2 mil km, atingindo praias nos Estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe.  

Vestígios de óleo chegaram até o Arquipélago de Abrolhos, no Sul da Bahia, e em praias dos Estados do Espírito Santo e Rio de Janeiro. Esse incidente é considerado como o maior desastre ambiental em águas territoriais brasileiras. 

Uma das grandes preocupações há época eram os manguezais e arrecifes, biomas encontrados em toda a costa da Região Nordeste e que são fundamentais para a reprodução de peixes, crustáceos e moluscos. Esses dois biomas são as “maternidades” do oceano e a maior parte das espécies marinhas dependem de sua preservação para continuar sobrevivendo. 

Segundo estudos científicos, cerca de 70% das espécies marinhas utilizadas para alimentação humana, onde se incluem peixes, siris, camarões, lagostins, caranguejos, entre outras espécies, dependem das áreas de mangue para a sua reprodução.  

No caso dos recifes de coral ou arrecifes como se diz no Nordeste, as estimavas afirmam que 50% de todas as espécies de peixes do mundo vivam nesse tipo de formação, onde encontram alimentos e áreas abrigadas para a reprodução. Esses números nos dão uma ideia dos riscos de derramamentos de óleo nas águas dessa região. 

Depois de mais de dois anos de investigação, a Polícia Federal concluiu que os vazamentos de óleo ocorridos em 2019, foram causados por um navio petroleiro de bandeira grega. A embarcação seguia da Venezuela para a África do Sul quando houve o vazamento de mais de 5 mil toneladas de petróleo em uma área a cerca de 700 km da costa do Nordeste. 

Os responsáveis pelo acidente – a empresa proprietária do navio, seus representantes legais, o comandante e o engenheiro-chefe, foram acusados dos crimes de poluição ambiental, não cumprimento das obrigações ambientais e danos às reservas naturais. Medicas jurídicas cabíveis vem sendo tomadas contra esses responsáveis desde ventão. 

Esses novos derramamentos de óleo ainda continuam sendo um mistério e serão necessárias extensivas investigações até que se identifique os responsáveis. Assim como acontece com os aviões, navios cargueiros e petroleiros são obrigados a utilizar o transponder, um equipamento que transmite sinais de rádio indicando a localização das embarcações. 

A Marinha do Brasil monitora todos as embarcações que navegam em águas territoriais brasileiras através dos sinais dos transponders. Utilizando modelos matemáticos que simulam a velocidade e o rumo das correntes marítimas é possível se determinar quais os navios petroleiros que passaram numa determinada região e que podem ter sido os responsáveis pelo vazamento. 

Existe, porém, um problema aqui – nos últimos anos tem crescido o número de navios petroleiros e cargueiros “piratas”, ou seja, que desligam o transponder para não serem detectados. Essas embarcações são contratadas por países que estão sob embargo econômico e que se valem dessa estratégia para tentar enganar as autoridades internacionais. Esse artifício poderá complicar as investigações.

Como trabalham na ilegalidade, essas embarcações também não costumam seguir os procedimentos de segurança para o transporte de cargas perigosas como o petróleo. Tão pouco costumam ter em seus quadros de funcionários gente especializada para esse tipo de trabalho. Acidentes com esses tipos de embarcações não são incomuns. 

Em 2019, as equipes de limpeza que trabalharam nas áreas atingidas em toda a costa da Região Nordeste recolheram mais de 4,5 mil toneladas de óleo. Vamos ver qual será o tamanho dessa nova tragédia. 

O petróleo e seus derivados são de extrema importância para a humanidade e, mesmo com a crescente adoção de combustíveis renováveis, eles terão relevância por muito tempo. É preciso que países e organismo internacionais se esforcem ainda mais para tornar o transporte desses produtos – especialmente pela via marítima, cada vez mais seguros.