ESPECIAL BIOMAS BRASILEIROS: A BACIA AMAZÔNICA

A Bacia Amazônica ocupa uma área com mais de 7,5 milhões de km², onde se encontram mais 1.000 rios e várias dezenas de milhares de pequenos cursos de água. Alguns dos rios formadores da bacia hidrográfica entram na lista dos maiores rios do mundo a exemplo dos rios Negro e Madeira. 

O principal curso da bacia hidrográfica é o Amazonas, o segundo maior rio do mundo em extensão, com quase 7 mil km das nascentes até a foz. Esse é o rio com maior fluxo de água do Planeta – calcula-se que um volume entre 12% e 20% de toda a água doce do mundo flua através dos rios e ares (os chamados “rios voadores”) da Bacia Amazônica e, mais cedo ou mais tarde, essa água irá atingir a calha do rio Amazonas.   

A bacia Amazônica se espalha por 7 países: Brasil, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela e Guiana. O Suriname e a Guiana Francesa, países que estão nos domínios da Floreta Amazônica não ficam dentro da Bacia Amazônica. 

A Amazônia – floresta e bacia hidrográfica, formam um verdadeiro mundo de águas. Para que todos entendam em profundidade o que isso significa, prestem atenção nessa conceituação a seguir:  

Algumas estimativas científicas indicam que um volume equivalente a 383 mil km³ de água evapore dos oceanos a cada ano (dependendo da fonte consultada, você poderá encontrar valores diferentes deste). Para que você tenha uma ideia mais precisa do que é esse volume, ele equivale a uma camada de 1,06 metro da superfície de todos os oceanos do mundo: Pacífico, Atlântico, Índico, mares polares, Mar Mediterrâneo, entre outros.  

É claro que nas regiões mais frias do Planeta a quantidade de água evaporada é muito pequena – nas regiões mais quentes, especialmente ao longo da Linha do Equador, a quantidade de água evaporada pelo calor do sol será bem maior do que o valor médio indicado.  

Essa inacreditável quantidade de água na forma de vapor é colocada em circulação ao redor do nosso Planeta pela força dos ventos, elemento esse que também é influenciado pelas diferentes temperaturas ao redor do globo terrestre.  

Em algum momento, quando o vapor esfria, a água volta ao estado líquido e é precipitada de volta a superfície do Planeta – cerca de 75% das chuvas caem de volta sobre os oceanos e os 25% restantes vão cair sobre os continentes, na forma de chuva, neve, granizo ou sereno.   

O volume total dessa precipitação sobre os continentes equivale a mais de 95 mil km³ – isso pode parecer muita coisa a princípio, mas esse volume equivale a menos de 0,5% da água existente no Planeta inteiro: 97,5% da água existente na Terra é salgada, ou seja – água do mar, imprópria para o consumo. 

A água doce ou potável, corresponde a apenas 2,5% do volume de água existente no Planeta, sendo que a maior parte está congelada nos Polos e nas geleiras, e grande parte se encontra em aquíferos e lençóis subterrâneos de difícil acesso.  

A região onde se encontra a Bacia Amazônica intercepta 1/5 de todo o volume de vapor de água das áreas continentais, que se precipita na forma de chuva – são quase 20 mil km³/ano de água que irão cair sobre os solos da região e, na sua maior parte, vão fluir pelos rios, riachos, lagos e igarapés, até atingir a calha do poderoso rio Amazonas, que muitas vezes é chamado, e com toda a razão, de “rio-mar”.  

O caudal médio do rio Amazonas, termo que indica o volume total de água que corre pela calha do rio, corresponde a 209 mil m³ por segundo – isso significa que, a cada 10 segundos, um volume de água equivalente à Baía da Guanabara é lançado pela foz do rio Amazonas no Oceano Atlântico.  

Esse volume de água doce é tão grande que a salinidade do Oceano Atlântico é afetada numa distância de até 150 km da foz. O Nilo, o maior rio do mundo em extensão (é cerca de 300 km mais longo que o Amazonas), tem um caudal médio 60 vezes menor que o do nosso grande rio.  

Esse grandioso rio, ao contrário do que talvez possa parecer, nasce em pequenas fontes no alto da Cordilheira do Andes no Peru. A água dessas nascentes surge a partir do gotejamento de geleiras no alto das montanhas, que derretem vagarosamente ao longo do ano.  

Ainda não existe um consenso científico sobre qual é a nascente mais longínqua do rio Amazonas – a certeza que temos é que dezenas de pequenos fios de água vão se juntando e formando pequenos córregos, que por sua vez se transformam em pequenos rios, que mais tarde se transformarão nos grandes afluentes do rio Amazonas.  

Entre os inúmeros afluentes do rio Amazonas, destacam-se os rios: Napo, Javari, Jandaiatuba, Putumayo (chamado Içá no Brasil), Jutaí, Juruá, Japurá, Tefé, Coari, Piorini, Purus, Negro, Madeira, Manacapuru, Uatumã, Nhamundá, Trombetas, Tapajós, Curuá, Maicuru, Uruará, Paru, Xingu e Jari. Se você consultar as postagens do blog, vai ver que já falamos de alguns desses rios (sublinhados), mas ainda há muitos outros para se falar.  

As águas da Bacia Amazônica são as veias que alimentam a vida na Floresta Amazônica, o maior sistema florestal equatorial do mundo (a maior floresta do mundo, ao contrário do que muitos afirmam, é a Taiga ou Floresta Boreal). Calcula-se que mais de 1/3 de todas as espécies animais e vegetais do mundo vivam na Amazônia – somente em espécies de peixes, já se conhecem mais de 2.100 espécies diferentes e, a cada dia, se descobrem novas espécies.  

A largura média do rio Amazonas se situa entre 6 e 8 km – no período das chuvas, essa largura pode chegar à casa dos 50 km em alguns trechos, com uma profundidade média entre 20 e 50 metros. Isso significa que, com as devidas cautelas de navegação por causa dos bancos de areia, um navio superpetroleiro ou um grande navio de cruzeiro podem navegar tranquilamente nas águas do “rio-mar”.  

Com a mesma cautela na navegação e a depender da época do ano, cargueiros de grande porte podem entrar na calha do rio Amazonas e atingir portos fluviais na Colômbia, Peru e Equador – nenhum outro rio do mundo se aproxima tanto de um mar como o rio Amazonas.  

Todo esse “mundo” de águas doces, porém, não está a salvo de secas grandiosas como aquelas registradas em tempos recentes como 1963, 2005 e 2010, quando rios caudalosos acabaram transformados em filetes d’água.  

O fluxo de massas de vapor que segue continuamente na direção da região Amazônica está no centro da manutenção das chuvas periódicas que alimentam os rios e regulam o clima da região. Mudanças climáticas globais poderão mudar toda essa dinâmica e alterar o funcionamento dessa grande máquina viva chamada Bacia Amazônica. 

ESPECIAL BIOMAS BRASILEIROS: A FLORESTA AMAZÔNICA

A Floresta Amazônica se distribui por uma área com aproximadamente 5,4 milhões de km², ocupando terras na Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Suriname, Guiana e Guiana Francesa. A maior parte dessa floresta, cerca de 60%, se encontra dentro do território do Brasil. 

Essa imensa massa florestal, nem de longe, é uma floresta homogênea com a Taiga ou Floresta Boreal das altas latitudes do Norte do planeta. A Amazônia é um grande mosaico de sistemas florestais, ou, como eu costumo chamar, uma verdadeira “colcha de retalhos” (patchwork), onde subsistemas florestais diferentes convivem lado a lado. 

Conforme o autor ou a fonte pesquisada, a Floresta Amazônica pode ser dividida em uma infinidade de subsistemas florestais. Para facilitar a didática dessa postagem, vamos usar uma das divisões mais simples, onde a Floresta Amazônica é dividida em floresta de terra firme, floresta de várzea, floresta de igapó, manguezais, campos de várzea, campos de terra firme, campinas, vegetação serrana e vegetação de restinga. 

As chamadas florestas de terra firme são áreas florestais que se ocupam solos que não estão sujeitos as grandes inundações anuais dos rios da Amazônia. Essas áreas têm como principal característica a presença de árvores de grande porte que podem alcançar até 60 metros de altura. Nessas florestas de vegetação densa a luz solar não consegue atravessar o dossel da copa das árvores, o que resulta em uma vegetação rasteira rala. 

As florestas de várzea, ao contrário, são sistemas florestais que se desenvolvem ao longo das várzeas inundáveis da Bacia Amazônica. Os rios dessa gigantesca bacia hidrográfica se caracterizam pela alternância de ciclos de cheia e de vazante, onde o nível das águas pode variar em até 15 metros conforme a estação. 

Durante o período das cheias, essas águas barrentas cobrem os solos pobres com uma grosa camada de sedimentos carregados de nutrientes. Essa dinâmica de águas se reflete numa vegetação especializada e adaptada, que possui uma diversidade bem menor que nas florestas de terra firme. 

Outro sistema florestal típico da Amazônia são as matas ou florestas de igapó, um tipo de vegetação que se desenvolve em terrenos baixos e frequentemente inundados (vide foto). Esse tipo de vegetação ocupa cerca de 8% da Floresta Amazônica. Uma planta típica dessas áreas é a vitória-régia, um dos símbolos da Amazônia. 

As espécies vegetais dos igapós são altamente adaptadas as condições ambientais dos terrenos alagadiços. A maioria das árvores tem altura entre 4 e 5 metros, com algumas raras espécies que podem atingir alturas de até 20 metros. Bromélias e orquídeas de diversas espécies são comuns nessas áreas. 

Os campos de várzea ou simplesmente várzeas são faixas alagáveis ao longo dos grandes rios onde se alternam uma temporada com solos secos e outra com solos encobertos pelas águas durante as cheias. Essas áreas possuem uma vegetação perfeitamente adaptada a esses diferentes ciclos. Essa faixa de terras costuma ser dividida em várzea alta e várzea baixa. 

A várzea alta apresenta um tempo de inundação menor e seca completamente durante o período da vazante. Caracteriza-se pela presença de espécies arbóreas como a sumaúma, assacu, andiroba e copaíba, além de palmeiras. A várzea baixa é a faixa de terras que fica mais próxima do leito dos rios e que se mostra inundada pela maior parte do ano. A vegetação predominante é de espécies de palmeiras como o açaizeiro e o buriti. 

As áreas de várzeas da Amazônia são as mais procuradas pelas populações tradicionais que sobrevivem do extrativismo vegetal, especialmente do açaí, da seringueira e da andiroba. Essas áreas também permitem a produção de culturas de milho, mandioca, arroz, cupuaçu, cana-de-açúcar e diversas espécies de frutas. 

Nos trechos da Floresta Amazônica que ficam próximos do Oceano Atlântico, especialmente no litoral do Amapá e do Pará, além da região do delta do rio Amazonas, se encontram regiões cobertas por manguezais e restingas. 

Os manguezais ou mangues, como são chamados popularmente, são ecossistemas costeiros de transição entre os ambientes marinhos e terrestres. São encontrados nas regiões tropicais e subtropicais de todo o mundo, sendo encontrados em enseadas, barras, lagunas, foz de rios, baías e em outras formações costeiras onde as águas doces de rios e lagos se encontram com as águas marinhas, formando um ambiente de águas salobras.   

As áreas de mangues possuem uma vegetação adaptada ao regime das marés. São plantas com raízes bem desenvolvidas, conhecidas como halófilas, e perfeitamente adaptadas às águas salobras. Os solos dos manguezais recebem e acumulam grandes quantidades de sedimentos e de matéria orgânica em decomposição, sendo considerados um dos mais férteis do planeta. As áreas de restinga se formam nos depósitos de areia ao longo das praias, formando um mosaico de vegetação predominantemente rasteira. A restinga delimita o ambiente costeiro e a floresta continental. 

Do lado oposto da Floresta Amazônica, nos terrenos altos das encostas da Cordilheira dos Andes e do Maciço da Guianas, a vegetação assume características de floresta serrana ou alta montana. Esses terrenos podem atingir altitudes de até 2 mil metros, com altos níveis de unidade, ventos e temperaturas baixas. Essas regiões costumam apresentar solos rochosos onde se desenvolvem árvores de pequeno porte, algumas espécies de palmeira, gramíneas que lembram pequenos bambus, musgos e orquídeas. 

Entre esses dois extremos também encontramos diferentes formações de campos com características muitos semelhantes ao Cerrado. Muitos desses campos surgem como manchas de vegetação rasteira cercada de florestas com árvores altas por todos os lados. Apesar de parecerem o resultado de ações de desmatamento, esses campos são formações naturais. 

Esse gigantesco complexo de sistemas florestais abriga uma rica fauna com uma infinidade de espécies de mamíferos, aves, peixes, répteis e anfíbios, além de uma infinidade de insetos. A floresta também abriga uma enorme população humana – apenas no território brasileiro são cerca de 25 milhões de habitantes, onde se destacam as populações ribeirinhas e as populações tradicionais indígenas. 

A Floresta Amazônica é um mundo a parte.

ESPECIAL BIOMAS BRASILEIROS: AMAZÔNIA

A Amazônia é, de longe, o maior e mais complexo bioma do Brasil. Serão necessárias diversas postagens para conseguirmos apresentar aos leitores do blog uma visão ampla da tão falada e ameaçada Amazônia. 

Antes de qualquer coisa é preciso ter em mente três conceitos diferentes: Bacia Amazônica, Floresta ou bioma Amazônico e, finalmente, Amazônia Legal. À primeira vista podem parecer a mesma coisa, mas, existem diferenças conceituais importantes para um bom entendimento da questão. 

Comecemos falando da Bacia Amazônica, um mundo de águas que ocupa uma área com mais de 7 milhões de km², onde se encontram mais 1.000 afluentes – alguns destes afluentes, como o Negro e o Madeira, entram na lista dos 10 maiores rios do mundo.  

O maior desses rios, o Amazonas, é o segundo maior rio do mundo em extensão (algumas fontes afirmam que é o maior), com quase 7 mil km das nascentes na Cordilheira dos Andes até a foz, no Oceano Atlântico e é, de longe, o rio com maior fluxo de água do Planeta – calcula-se que um volume entre 12% e 20% de toda a água doce do mundo flua através dos rios e ares (os chamados “rios voadores”) da Bacia Amazônica e, mais cedo ou mais tarde, essa água irá atingir a calha do rio Amazonas. 

As nascentes de alguns dos principais rios dessa bacia hidrográfica se formam nas encostas da Cordilheira dos Andes, distantes centenas de quilômetros da Floresta Amazônica. Um desses casos é o rio Beni, que nasce no trecho boliviano da Cordilheira dos Andes e que vai se juntar aos rios Mamoré e Guaporé para formar o rio Madeira, um dos principais afluentes do rio Amazonas. 

A Bacia Amazônica ocupa áreas no Brasil, Bolívia, Equador, Peru, Colômbia, Venezuela e Guiana. Observem que o Suriname e a Guiana Francesa, que são classificados como Países Amazônicos, não fazem parte da Bacia Amazônica. 

Passemos agora para a Floresta Amazônica, a maior floresta equatorial (que muitos chamam de floresta tropical) do mundo. É comum “especialistas” afirmarem que essa é a maior floresta do mundo: esse título pertence a Taiga, também conhecida como Floresta das Coníferas ou Floresta Boreal, um sistema florestal que ocupa cerca de 15 milhões de km² numa faixa de altas latitudes ao redor do Norte do nosso planeta. 

A área ocupada pela Floresta Amazônica é de aproximadamente 5,4 milhões de km², ocupando terras na Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Suriname, Guiana e Guiana Francesa – mais de 60% da Floresta se encontra no Brasil. Algumas fontes afirmam que a floresta ocupa uma área total de até 6,7 milhões de km², o que provavelmente está incluindo várias áreas de transição entre biomas.

A área total da Floresta Amazônica equivale a mais da metade de todo o território europeu. Calcula-se que mais de 1/3 de todas as espécies animais e vegetais do mundo vivam na Amazônia – somente em espécies de peixes, já se conhecem mais de 2.100 espécies diferentes e, a cada dia, são feitas novas descobertas. 

Finalmente, precisamos falar da Amazônia Legal, um conceito jurídico que foi introduzido em meados da década de 1950 com o objetivo de estimular o desenvolvimento econômico da Região Norte do Brasil. A Amazônia Legal compreende uma área total de mais de 5,2 milhões de km², o que inclui toda a área coberta pela Floresta Amazônica no Brasil, além de todo o território dos Estados de Mato Grosso e Tocantins e uma parte do Oeste do Maranhão. 

O conceito da Amazônia Legal é uma das principais fontes dos problemas ligados às notícias de queimadas e à “transformação da Floresta Amazônica em cinzas”, temas muito comuns nas notícias veiculadas pela mídia internacional. 

Caso qualquer um dos leitores tenha a curiosidade de consultar um mapa de biomas, vai perceber facilmente que o bioma Amazônico ocupa apenas a faixa Norte do Estado do Mato Grosso, um pequeno trecho no Noroeste do Tocantins e uma faixa no Oeste do Maranhão. A maior parte do Mato Grosso e do Tocantins são cobertas pelo bioma Cerrado. No Maranhão, além do bioma Amazônico, existem áreas cobertas pelos biomas Cerrado e Caatinga

O Cerrado, conforme já tratamos em postagens anteriores, abriga as grandes frentes do avanço agrícola no país. Esse bioma apresenta solos de baixa fertilidade e de grande acidez, problemas que durante séculos impediram seu aproveitamento em larga escala para atividades agropecuárias.  

Com o desenvolvimento de sementes adaptadas para esse bioma pela Embrapa –Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias, na década de 1970, e de técnicas de correção de solos como a calagem, o Cerrado virou um dos principais celeiros da agropecuária do país. O Cerrado do Mato Grosso é uma espécie de “carro chefe” de toda essa expansão e, por estar totalmente inserido na chamada Amazônia Legal, está sempre colocando a “Amazônia” nas manchetes. 

Para muita gente, a Floresta Amazônica é um enorme tapete de matas verdes e homogêneas que se estende do Oceano Atlântico até os sopés da Cordilheira dos Andes, formando os “pulmões do mundo”. A foto que ilustra esta postagem é um exemplo dessa imagem. Essa visão romantizada do bioma, que é compartilhada por ecologistas e “especialistas” de todo o mundo, é totalmente falsa. 

A Floresta Amazônica é, na verdade, um grande mosaico ou “colcha de retalhos” (patchwork), como eu costumo chamar, apresentando todo um conjunto de sistemas florestais. Usando apenas uma dentre muitas divisões da vegetação, a floresta pode ser subdividida em floresta de terra firme, floresta de várzea, floresta de igapó, manguezais, campos de várzea, campos de terra firme, campinas, vegetação serrana e vegetação de restinga. 

Um exemplo da complexidade da Floresta Amazônica são os campos, um subsistema florestal muito parecido com o Cerrado Brasileiro e que foge totalmente da imagem da floresta com árvores altas e frondosas. Esses campos naturais surgem na forma de grandes manchas de vegetação rala cercada por árvores altas. À primeira vista, um observador inexperiente poderá até imaginar se tratar de uma área que foi desmatada. 

Um caso típico é Roraima, Estado amazônico que tem mais de 1/3 de seu território coberto por campos e lavrados, um tipo de vegetação aberta como as savanas africanas e estepes asiáticas. Outro desses casos é Rondônia, onde 30% da superfície era ocupada por cerrados e cerradões, áreas que passaram a ser usadas para agricultura e pecuária. 

Estudos recentes realizados pela Embrapa resultaram na criação de uma variedade de trigo especialmente adaptada para as condições de solo e de clima do Cerrado. Projetos experimentais em áreas do bioma na Bahia e em Goiás mostraram-se excepcionalmente produtivos, aliás, bem mais produtivos que a Região Sul do país, onde a cultura já é tradicional. Os campos e lavrados de Roraima despontaram como potenciais candidatos à produção desse novo trigo. 

A exemplo do que aconteceu nos cerrados e cerradões de Rondônia, a introdução da cultura do trigo em Roraima não implicaria na derrubada de áreas de matas da Amazônia. A pergunta que fica – como os ecologistas e os defensores da Amazônia veriam isso? 

Essa questão é apenas uma amostra da complexidade do bioma Amazônico e de todos os desafios para a sua exploração racional e preservação. 

ESPECIAL BIOMAS BRASILEIROS: A HISTÓRICA DEVASTAÇÃO DA CAATINGA

A Caatinga ou os Domínios da Caatinga é um imenso mosaico de sistemas vegetais especialmente adaptados para as condições climáticas do chamado Semiárido Brasileiro. É o único bioma totalmente brasileiro e se espalha por todos os Estados do Nordeste, além de ocupar uma faixa no Norte de Minas Gerais. 

A Região do Semiárido Brasileiro compreende 925.043 km², ou seja, 55,6% da área da Região Nordeste. Estima-se que uma população de 23,5 milhões habite a região (dados de 2014).  A vegetação, em função do clima e dos tipos de solo, pode ser dividida, de forma muito rudimentar em três áreas: o agreste, a caatinga e o alto sertão. Cada uma destas áreas possui uma quantidade imensa de subdivisões dos tipos de vegetação, formando biomas independentes e completos.  

O povoamento da região do semiárido e os problemas ambientais na Caatinga começaram nas primeiras décadas da colonização do Brasil, quando os criadores de bois foram expulsos da região dos canaviais no litoral. Inclusive, uma carta régia, assinada pelo rei de Portugal, previa sérias penalidades à criação de gado a menos de 60 quilômetros dos canaviais.  

Expulsos da faixa costeira, homens e bois foram penetrando nos sertões e descobrindo em poucos anos o vale do Rio São Francisco, que viu suas margens ficarem cheias de fazendas e de boiadas. Nas estradas criadas para levar as boiadas para venda no litoral foram surgindo pequenos povoados e, em poucas décadas, todos os recantos dos sertões estavam cheios de gentes e de rebanhos.  

Os criadores perceberam já nos primeiros anos que os escassos campos entre os caatingais eram insuficientes para suprir a alimentação dos animais e se começou a prática de queimar as árvores para se aumentar, artificialmente, as áreas de campos. Com o crescimento dos rebanhos por toda a região do semiárido, essa prática se generalizou e já provocou alterações em mais de 70% da área da Caatinga. Em diversas regiões estão surgindo manchas de desertificação devido a superexploração dos solos provocada pelo excessivo número de rebanhos. 

A caprino-ovinocultura é a principal atividade agropecuária do sertão nordestino. A produção de caprinos, animais de pequeno porte extremamente adaptáveis às condições mais adversas impostas pelo clima, se moldou perfeitamente aos sertões semiáridos nordestinos, que detém o maior rebanho dessa espécie no Brasil, com aproximadamente 9 milhões de animais, mesmo número do rebanho de ovinos da região.  

O rebanho bovino no Nordeste tem aproximadamente 30 milhões de cabeças, grande parte vivendo em áreas do semiárido. Ainda é preciso incluir neste cálculo um rebanho com, talvez, 700 mil cavalos e de 900 mil asnos, onde estão incluídos os bons e velhos jumentos, burros e mulas que já foram os companheiros de vida e de trabalho de muitos nordestinos. 

Um exemplo dessa superpopulação é o que se vê na região da bacia hidrográfica do rio São Francisco, a mais importante do semiárido brasileiro. Das mais de 15 milhões de pessoas que vivem dentro da região da bacia hidrográfica, pelo menos 30% vivem no semiárido nordestino, o que representa quase o dobro da população que vive no Saara, o maior deserto do mundo, e transforma o nosso semiárido no mais habitado de todo o planeta.  

Todas as práticas de agricultura e pecuária, mineração, extrativismo dos mais diversos, ocupações urbanas de tamanhos diferentes, enfim – todos os usos e abusos ambientais que se desenvolveram por todos os cantos da região do semiárido, são encontradas também nas margens de todos os riachos e rios que alimentam o Velho Chico. 

A exceção de municípios como Petrolina em Pernambuco, com 338 mil habitantes, e Juazeiro e Barreiras na Bahia, com 200 mil e 138 mil habitantes respectivamente, a bacia hidrográfica do Velho Chico nos domínios do semiárido é formada por centenas de municípios com populações abaixo dos 40 mil habitantes, distribuídos em pequenas cidades, vilas e povoados dispersos por uma gigantesca região.  

Por todos os cantos se encontram pequenas propriedades rurais familiares, com seus pequenos roçados de subsistência e suas criações de bois, bodes e ovelhas. Em cada uma dessas pequenas propriedades são feitas queimadas frequentes para a preparação do solo para mais um plantio. Também há coleta de lenha para uso nas cozinhas, muitas vezes sendo necessária a derrubada de árvores.  

Os rebanhos pastam soltos pelos campos comendo tudo o que está disponível para se comer. Para a construção e manutenção das suas casas ou para realizar seus ofícios, os sertanejos usam as matérias primas disponíveis ao seu redor. Somando-se todos os bichos e gentes espalhados por todos os recantos do semiárido, são muitas bocas para se alimentar – bocas de gentes e de bichos, dentro de um ecossistema com tantas limitações. 

Essa superexploração dos recursos naturais do semiárido se refletem no Rio São Francisco – a redução sistemática no volume dos caudais do rio é indicativa do uso intensivo das águas nas centenas de afluentes da bacia hidrográfica. O assoreamento que se vê por todos os recantos ao longo do seu curso mostra que as matas ciliares de todos esses afluentes sofrem com o intenso desmatamento, com práticas agrícolas insustentáveis e com mineração descontrolada nas terras ao longo das suas margens.  

A baixa qualidade das suas águas mostra que cidades e vilas captam grandes volumes de águas frescas e limpas dos rios e devolvem esgotos sem qualquer tipo de tratamento – resíduos sólidos de todos os tipos, despejados por essas vilas e cidades em lixões improvisados, sempre acabam alcançando as águas de algum afluente e chegam por fim na grande calha do São Francisco. 

De acordo com algumas projeções oficiais, cerca de 50% da vegetação da Caatinga Nordestina já foi impactada por atividades humanas, o que colocada o bioma em posição semelhante ao Cerrado e aos Pampas Sulinos em termos de devastação, só ficando atrás da destruição ocorrida na Mata Atlântica. 

Com suas características peculiares de flora e fauna, muitas vezes tratadas como pobres quando comparadas a exuberância da Floresta Amazônica ou ao Pantanal Mato-grossense, a Caatinga tem uma enorme importância dentro do fabuloso conjunto de mosaicos ambientais do Brasil, merecendo toda a nossa atenção e cuidado. 

ESPECIAL BIOMAS BRASILEIROS: CAATINGA

A Caatinga é o único bioma ou sistema florestal totalmente brasileiro, com plantas e animais perfeitamente adaptados a um clima sujeito a longos períodos de estiagem. A Região do Semiárido ou Domínio da Caatinga compreende 925.043 km², ou seja, 55,6% do Nordeste brasileiro. Estima-se que uma população de 30 milhões de pessoas habite a região.  

A Caatinga engloba áreas dos estados nordestinos do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Sergipe, Alagoas e Bahia, possuindo o mais baixo índice pluviométrico do território brasileiro. Uma microrregião do Norte do Estado de Minas Gerais, também de clima semiárido, é associada ao sertão Nordestino numa conceituação geográfica conhecida como Polígono das Secas.  

A característica mais marcante dessa extensa área territorial é o seu clima semiárido do tipo tropical seco, com chuvas escassas e irregulares. A região possui uma média de temperatura elevada. O solo do sertão é em geral pouco espesso apresentando manchas de solos argilosos muito férteis, principalmente nas depressões e nos baixios. Os solos nessas manchas formam os chamados tabuleiros aluvionais e as várzeas de tabuleiros. 

Como acontece em qualquer grande bioma, a vegetação da caatinga não é uniforme e se constitui numa verdadeira “colcha de retalhos”. Em função do clima e dos tipos de solos, essa vegetação pode ser dividida, de forma muito rudimentar, em três áreas: o agreste, a caatinga e o alto sertão. Cada uma destas áreas possui uma quantidade imensa de subdivisões dos tipos de vegetação, formando biomas independentes e completos. 

A região conhecida como agreste constitui uma faixa de transição entre o Nordeste semiárido e espinhento e o outro Nordeste úmido da Zona da Mata, ocupada pelos canaviais. Os rios e as fontes de água dessa região nunca secam por completo nos verões, mantendo sempre um magro filete de água ou pequenas poças. A vegetação do agreste é chamada genericamente pelos botânicos de florestas espinhentas  

A região da caatinga pode ser definida como o reino das cactáceas. No solo ríspido e seco abundam as espécies conhecidas como coroas-de-frade e os mandacarus. As árvores de pequeno porte e arbustos completam a paisagem. É a região de maior aridez do sertão, que nas épocas mais secas vê desaparecer a água dos rios e dos açudes.  

Na região conhecida como alto sertão, o clima se ameniza levemente, com vegetação do tipo de savana e com faixas verdes dos carnaubais ao redor dos vales férteis da região. As espécies de cactáceas são mais raras no alto sertão. Pode ser classificada como uma área de transição entre o semiárido e o Cerrado.  

Ao contrário da imagem estereotipada de árvores eternamente secas e retorcidas, a vegetação do semiárido é altamente especializada em função do clima e acompanha a disponibilidade da água: quando chove, a vegetação se apresenta verdejante – já em épocas de seca, as folhas das árvores caem como forma de conservar a energia das plantas e se sobressaem as cactáceas como o mandacaru, o xiquexique e a coroa-de-frade.  

Um exemplo da adaptação da vegetação do sertão é a babugem, uma vegetação rasteira de rápido crescimento, que em poucos dias após as primeiras chuvas pinta o chão da Caatinga de verde, a cor da esperança, e faz surgir toda uma infinidade de flores coloridas – o sertão renasce das cinzas tal qual a mitológica fênix. 

A flora de toda a região passou por um intenso processo de adaptação à falta de água e a umidade do ar. Um dos exemplos mais espetaculares é o do frondoso cajueiro da praia que se transformou no cajuí do sertão, com folhas reduzidas e imensas raízes. Várias espécies de bromélias se adaptaram ao clima, incluindo-se as macambiras, cróias e croatais.  

Outras espécies, típicas de áreas desérticas como as cactáceas, são as mais adaptadas às condições físicas do sertão, incluindo-se aí as palmas, os mandacarus, os xique-xiques e os facheiros. São plantas de valor inestimável para alimentação dos gados e das gentes do sertão em épocas de secas extremas.  

Nos terrenos mais altos das serras como a do Araripe, de Baturité e da Borborema, a maior quantidade de chuvas e principalmente a estrutura diferente do solo dão origem a uma vegetação de aspecto mais doce, com tons de verde mais úmido e carregado, semelhante à vegetação das chamadas áreas de brejo. Essas áreas formam verdadeiros oásis de grande importância na vida econômica e social do sertão.  

A fauna sertaneja também é altamente especializada e adaptada às condições do meio ambiente. Segundo informações disponíveis, haja vista que é uma das regiões menos estudas do Brasil, já foram identificadas oficialmente 348 espécies de aves e 148 espécies de mamíferos. A maioria dos mamíferos do bioma tem hábitos noturnos e possui uma coloração na pelagem que se confunde com o meio, o que torna difícil sua observação e contabilização exata da quantidade local de espécies endêmicas.  

A região também possui inúmeras espécies de répteis e anfíbios. Como grandes áreas do sertão nordestino já tiveram suas características originais alteradas ou destruídas desde o início da colonização do Brasil, nunca teremos certeza do total de espécies da fauna já extintas pela ação humana. Exemplos ainda encontrados e de grande representatividade da fauna local são o veado-catingueiro, a capivara, a onça parda ou suçuarana, o sagui-de-tufo-branco, as cotias, os preás, os gambás, o tatupeba, a simbólica asa branca eternizada pela música de Luiz Gonzaga e o sapo-cururu da poesia de Manuel Bandeira.  

As primeiras expedições exploratórias que alcançaram o Semiárido Nordestino, ainda nos primeiros tempos da colonização, buscavam especialmente ouro e pedras preciosas. Encontraram uma terra de clima e vegetação bastante diferente da luxuriante vegetação da Mata Atlântica litorânea, tribos indígenas hostis e nenhuma evidência de ouro ou pedras preciosas. 

Esses exploradores passaram a se referir a essa imensa região como um “desertão” de gentes e de animais domésticos. A gente simples do litoral simplificou essa palavra e todos passaram a se referir ao semiárido como sertão – e as gentes que aos poucos passaram a ocupar essas paisagens foram batizadas de sertanejos. 

Coisas da história e da cultura do Brasil… 

ESPECIAL BIOMAS BRASILEIROS: A AGROPECUÁRIA E O CERRADO

O bioma Cerrado ocupa mais de 2 milhões de km² e abrange áreas nos estados de Goiás, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Bahia, Maranhão, Piauí, Rondônia, Paraná, São Paulo e Distrito Federal, além dos encraves no Amapá, Roraima e Amazonas (que são chamados de Campos Amazônicos). 

Formado por solos considerados pobres e de baixa fertilidade, o Cerrado ficou relegado a um segundo plano na história econômica brasileira por muito tempo. Nas últimas décadas, com o desenvolvimento de tecnologias para a correção dos solos e criação de sementes de grãos adaptas especialmente para o plantio no bioma, o Cerrado foi transformado no mais importante celeiro agrícola do Brasil. 

Falando apenas da soja, o grão mais importante produzido no país: mais de 60% da produção está concentrada em áreas de Cerrado. Essas terras também se destacam na produção de algodão e milho, entre outras culturas, além de uma pecuária de alta produtividade. 

O verdadeiro “pulo do gato” dessa revolução agrícola começou na década de 1970, com o desenvolvimento pela Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias, de grãos especialmente adaptados para o clima e solos do Cerrado, com destaque para a soja

De um modo geral, os solos do Cerrado possuem uma baixa fertilidade natural, são altamente permeáveis e possuem uma baixa capacidade de reter água nas camadas superficiais. Completando o quadro, esses solos possuem altos teores de ferro e de alumínio em sua composição. Também é preciso destacar que possuem grandes reservas de água no subsolo. 

A vegetação nativa do bioma passou por uma série de mudanças evolutivas, se adaptando para essas condições ambientais. Essas plantas desenvolveram sistemas de raízes maiores e mais profundas como estratégia para contornar esses problemas nos solos. 

Os cultivos comerciais mais tradicionais como a soja e o milho possuem raízes curtas e, portanto, não se desenvolviam adequadamente nos solos do bioma. Depois de 10 anos de pesquisas e de melhoramentos genéticos nas plantas, a Embrapa lançou a variedade de soja “Doko”, um cultivar especialmente adaptado para os solos do bioma Cerrado, em 1980. De lá para cá a empresa lançou mais de 50 variedades de soja especialmente adaptadas para o Cerrado. 

Além da soja, a Embrapa desenvolveu inúmeras outras variedades de culturas agrícolas adaptadas para o Cerrado, com destaque para o milho e o feijão, o algodão herbáceo, além de plantas como a mandioca e a cana-de-açúcar. Um dos mais recentes sucessos da empresa é o trigo

Desde 2012, pesquisadores da EMBRAPA vinham trabalhando na tropicalização do trigo, cultura que se adaptou muito bem ao clima subtropical do Sul do Brasil. Cerca de 90% da produção brasileira de trigo, estimada em 7,7 milhões de toneladas, está concentrada em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. O consumo brasileiro é de 12,7 milhões de toneladas, o que obrigada a importação de mais de 5 milhões de toneladas a cada ano.  

Os esforços dos pesquisadores levaram à criação das variedades de trigo BRS 264, BRS 394 e BRS 404, todas adaptadas para o cultivo no Cerrado. Plantios experimentais dessas variedades começaram a ser feitos em Goiás, no Distrito Federal e em Minas Gerais, onde se obteve uma produtividade acima da média brasileira. Em 2021, um produtor de Cristalina, em Goiás, obteve uma produtividade de 9,6 toneladas por hectare, mais de três vezes a média obtida no Sul do Brasil. 

A mais nova frente de pesquisas são os Campos Amazônicos de Roraima, que são muito parecidos com os do Cerrado. O plantio experimental foi feito no final de 2021 e os resultados da primeira colheita foram promissores. As variedades utilizadas foram as mesmas desenvolvidas para o Cerrado.  

A produtividade obtida em Roraima foi superior à do Sul do Brasil, com um período de desenvolvimento das plantas na faixa de 75 dias, enquanto na Região Sul esse período pode chegar aos 180 dias. As perspectivas para a cultura nas áreas de campos naturais da Amazônia são extremamente promissoras. 

Todos esses esforços em pesquisa e desenvolvimento não tardaram a mostrar resultados. Os antigos domínios do Cerrado concentram atualmente 36% de todo o rebanho bovino nacional, sendo que 30% dos solos do bioma foram transformados em pastagens para boiadas. Cerca de 63% da produção brasileira de grãos está concentrada no Cerrado, onde se inclui mais da metade de toda a produção brasileira de soja.  

Todo esse sucesso na agricultura e na pecuária, entretanto, acabou se voltando contra a fauna e a flora nativa desse grande bioma. Nas últimas décadas o Cerrado se transformou numa espécie de campeão nacional em desmatamentos e queimadas. 

Nos últimos dez anos o Cerrado foi o bioma brasileiro que sofreu a maior perda de área nativa – 50 mil km², área maior do que o território do Estado do Rio de Janeiro. A região conhecida como Matopiba, que incorpora áreas dos Estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, é a maior fronteira agrícola atual de expansão da cultura da soja e apresenta as maiores perdas de vegetação e de espécies animais nativas do Cerrado. 

De acordo com dados do SAD Cerrado – Sistema de Alerta de Desmatamento, os desmatamentos registrados no bioma foram de 815.532 hectares em 2022, um crescimento de 20% em relação ao ano anterior.  

Outra grande ameaça ao bioma, que vem no encalço dos avanços da agricultura e da pecuária, são as grandes queimadas e incêndios florestais – foram 7,4 milhões de hectares queimados em 2022, de acordo com dados do Monitor do Fogo, uma iniciativa do MapBiomas Fogo em parceria com o IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia). 

Além das grandes ameaças a flora e a fauna do Cerrado, esses problemas impactam diretamente nos importantes recursos hídricos da região. Conforme já tratamos em diversas postagens aqui do blog, o Cerrado é o “berço das águas do Brasil” – 8 grandes bacias hidrográficas brasileiras têm nascentes no bioma: Paraguai, Paraná, Parnaíba, São Francisco, Tocantins/Araguaia, Atlântico Leste, Atlântico Nordeste Ocidental e Amazônica (cerca de 4% do total). 

Um único exemplo da importância dos recursos hídricos do bioma: 94% das águas que formam a bacia hidrográfica do rio São Francisco vem de rios com nascentes que ficam dentro de áreas do Cerrado. 

É ou não um excelente motivo para se preocupar com a conservação da biodiversidade desse grande bioma brasileiro? 

ESPECIAL BIOMAS BRASILEIROS: CERRADO

De acordo com informações do Ministério do Meio Ambiente, o Cerrado é o segundo maior bioma da América do Sul, ocupando uma área de 2 milhões de km², ficando atrás da Floresta Amazônica, que ocupa uma área de 5,5 milhões de km² em 9 países (lembrando que 60% da Floresta Amazônica fica em território brasileiro). O Cerrado ocupa cerca de 22% do território nacional.  

Os domínios do Cerrado abrangem áreas nos estados de Goiás, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Bahia, Maranhão, Piauí, Rondônia, Paraná, São Paulo e Distrito Federal, além dos encraves no Amapá, Roraima e Amazonas (que são chamados de Campos Amazônicos), além de pequenos trechos na Bolívia e no Paraguai.  

Neste espaço territorial encontram-se as nascentes de importantes bacias hidrográficas da América do Sul como a Amazônica, Tocantins/Araguaia, Paraguai, Paraná e São Francisco, o que resulta em um elevado potencial aquífero e favorece a sua biodiversidade. O Cerrado abriga três dos maiores e mais importantes aquíferos do país: Bambuí, Urucuia e parte do grandioso aquífero Guarani. 

Quando comparado a Floresta Amazônica e a Mata Atlântica, o Cerrado não impressiona à primeira vista – árvores pequenas e retorcidas, com no máximo 15 metros de altura na região dos campos e com até 25 metros nas matas ciliares, espalhadas em grandes espaços de campos abertos com alguns arbustos. Mas isso é só ilusão: o Cerrado é considerado como uma das áreas de savanas mais ricas em biodiversidade do mundo, com 11.627 espécies de plantas nativas já catalogadas em seus diversos tipos de habitats

Em termos de vida animal, o Cerrado também se destaca: são 199 espécies de mamíferos, 837 espécies de aves, 180 espécies de répteis e 150 espécies de anfíbios. Já foram catalogadas mais de 1.200 espécies de peixes, porém, devido ao encontro de importantes bacias hidrográficas na região, ainda não foi possível se determinar quais espécies são endêmicas do Cerrado. Estimativas recentes mostram que o bioma é refúgio de 13% das borboletas, 35% das abelhas e de 23% dos cupins dos trópicos. 

Os solos do Cerrado são muito antigos e apresentam uma alta porosidade – expostos às chuvas e ao intemperismo ao longo de milhões de anos, esses solos sofreram um processo de lavagem da camada externa pela água, o que diminuiu, em elevado grau, a sua fertilidade ao longo do tempo. Também são solos que apresentam uma elevada acidez e, durante muito tempo, foram considerados inadequados para a agricultura em larga escala.  

As características peculiares dos solos do Cerrado tiveram importantes reflexos na evolução das espécies vegetais do bioma, especialmente na vegetação de maior porte. Essas plantas desenvolveram sistemas de raízes desproporcionalmente maiores e mais longos, perfeitamente adaptados para captar águas em profundidades maiores. 

Como acontece em todo grande bioma, a vegetação do Cerrado é complexa e pode ser dividida em três grupos principais (essa divisão varia conforme o autor). O primeiro grupo são as Florestas, onde a vegetação é dividida em Mata Ciliar, Mata de Galeria, Mata Seca e Cerradão (que é uma savana florestada). As Savanas, onde se encontram as formações Cerrado, os Parques de Cerrado, os Palmeirais e as Veredas. E, por fim, os Campos, que se apresentam com grandes extensões cobertas por Campos Limpos, Campos Sujos e os Campos Rupestres.  

A elevada acidez e a baixa fertilidade dos solos inibiram uma ocupação e uma exploração econômica mais efetiva da região do Cerrado até poucas décadas atrás. Graças a isso o bioma permaneceu praticamente inalterado até meados do século XX. Atividades agrícolas em algumas regiões do Cerrado só começaram a ganhar força a partir da década de 1950, quando tecnologias para a correção dos solos passaram a ser utilizadas. 

As mais conhecidas dessas técnicas são a calagem – correção da acidez mediante a aplicação de calcário, a adubação fosfatada e a adubação potássica. Na década de 1970, a Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias, desenvolveu variedades de grãos especialmente adaptados às características do Cerrado, com destaque para a soja

Graças a todas essas tecnologias, o Cerrado foi transformado na mais importante fronteira agropecuária do Brasil dos últimos 50 anos, quebrando recordes de produtividade ano após ano. Atualmente, o bioma já responde por mais de 60% de toda a produção nacional de soja, além de uma expressiva produção de milho, algodão e de carnes. 

Considerando-se a área total já alterada por ocupação e atividades humanas, o Cerrado é, depois da Mata Atlântica, o bioma brasileiro que mais sofreu impactos ambientais. As estimativas indicam que mais de 50% de suas áreas originais de vegetação natural já foram substituídas por campos agrícolas e pastagens para rebanhos.  

Além da supressão da vegetação nativa, o que compromete as nascentes de água, essas atividades pressionam os corpos hídricos captando grandes quantidades de água para uso em irrigação, aonde excedentes voltam para os leitos dos rios contaminados por resíduos de fertilizantes e de agrotóxicos

Sem a proteção da vegetação nativa, grandes volumes de sedimentos dos solos expostos acabam sendo arrastados na direção das calhas dos rios, assoreando e entulhando os canais. Como resultado, bacias hidrográficas importantes como a do rio São Francisco e dos rios Tocantins/Araguaia recebem quantidades de água cada vez menores e com qualidade cada vez mais baixa dos seus antigos tributários do Cerrado. 

E a devastação ambiental no Cerrado não para de crescer. De acordo com dados do SAD Cerrado – Sistema de Alerta de Desmatamento, o desmatamento no bioma cresceu 20% em 2022 quando comparado a 2021. O desmatamento registrado no bioma foi de 815.532 hectares. 

Esse sistema é gerenciado pelo IPAM – Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, em parceria com a rede MapBiomas e com o LAPIG – Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento, da UFG – Universidade Federal de Goiás, e utiliza imagens de satélite fornecidas pela Agência Espacial Europeia.

A situação do Cerrado é realmente preocupante e merece toda a nossa atenção. 

ESPECIAL BIOMAS BRASILEIROS: AS AGRESSÕES AMBIENTAIS AO PANTANAL MATO-GROSSENSE

O Pantanal Mato-grossense é a maior planície alagada do mundo e uma verdadeira “ilha” de biodiversidade. O bioma reúne fauna e flora da Mata Atlântica, do Cerrado e da Amazônia, espécies que se adaptaram ao ciclo de cheias e de vazantes do Pantanal. 

Como toda boa ilha, o Pantanal Mato-grossense é cercado por todos os lados, não com água, mas sim com o Cerrado, um bioma que vem sofrendo intensamente com o avanço das frentes agrícolas. São justamente os problemas criados no Cerrado que se repercutem dentro do Pantanal Mato-grossense. 

O problema mais evidente é a destruição de nascentes de rios que correm na direção das terras alagadiças do Pantanal. Este problema está ligado diretamente à destruição da vegetação do Cerrado, um tema que já apresentamos em diversas postagens aqui do blog

O Cerrado cobre uma área com aproximadamente 2 milhões de km², abrangendo áreas nos estados de Goiás, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Bahia, Maranhão, Piauí, Rondônia, Paraná, São Paulo e Distrito Federal, além dos encraves florestais (ou manchas de Cerrado) no Amapá, Roraima, Amazonas, e também pequenos trechos na Bolívia e no Paraguai. 

Uma característica marcante do bioma é a grande concentração de nascentes de rios formadores de algumas das mais importantes bacias hidrográficas da América do Sul como a Amazônica, Tocantins/Araguaia, Paraguai, Paraná e São Francisco, o que resulta em um elevado potencial aquífero e favorece a sua biodiversidade.   

O bioma, inclusive, abriga três dos mais importantes aquíferos do país: o Bambuí, o Urucuia e parte do gigantesco aquífero Guarani. Aquíferos são formações ou grupos de formações geológicas constituídas por rochas porosas e permeáveis que permitem o armazenamento de grandes volumes de águas das chuvas – essas águas alimentam as nascentes de rios e também podem ser captadas em poços semiartesianos e artesianos para abastecimento de populações humanas. 

O processo de recarga dos aquíferos e de outros lençóis subterrâneos de água depende da preservação da cobertura vegetal. No Cerrado, onde essas reservas de água são mais profundas, a vegetação passou por diversas adaptações evolutivas e desenvolveu sistemas de raízes maiores e mais profundos. Na temporada das chuvas, são os sistemas de raízes dessas plantas que facilitam a infiltração das águas nos solos profundos. 

Em grandes plantações, onde as terras são tomadas por plantas de raízes muito curtas como a soja e o milho, a água das chuvas não consegue infiltrar adequadamente nos solos, o que prejudica a recarga dos reservatórios subterrâneos de água. Uma das consequências mais diretas disso é uma diminuição do volume de água que brota nas nascentes, especialmente na época da seca. 

Com volumes de água menores correndo na direção das terras baixas do Pantanal Mato-grossense, a vegetação tende a se tornar mais seca e sujeita a ação de queimadas, um problema que tem crescido nos últimos anos. 

De acordo com dados do INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, a última temporada de seca no Cerrado terminou com o registro de mais de 20 mil queimadas, número superior ao que foi registrado na Amazônia e na Mata Atlântica na mesma temporada – 16.874 e 4.684 focos de incêndios, respectivamente. 

Por estar totalmente cercado por vegetação de Cerrado, o Pantanal Mato-grossense acaba sofrendo com o avanço dessas queimadas. Em 2020, ano em que essas queimadas foram mais intensas, o Pantanal Mato-grossense perdeu uma área de vegetação equivalente a 2.095 km² para as chamas. 

Esse problema não está restrito apenas ao território brasileiro – ele também vem afetando a Bolívia, país vizinho que abriga uma parte do Pantanal, que localmente é conhecido como El Chaco. Cerca de 20% do território boliviano é coberto por vegetação de savana (uma extensão do nosso Cerrado), com destaque para a região de Llanos de Moxos. Assim como no Cerrado brasileiro, as savanas bolivianas vêm assistindo a um forte avanço das frentes agrícolas nas últimas décadas.   

Esse ano, graças a uma excepcional temporada de chuvas que está se encerrando, a área alagada do Pantanal sofreu um incremento de mais de 82 mil hectares. A velocidade de escoamento no Pantanal é tão baixa que as águas de uma chuva, nas cabeceiras do rio Paraguai, poderão levar mais de quatro meses para atravessar toda a planície alagada. Isso é sinal que uma grande área de vegetação estará mais protegida das queimadas durante os próximos meses. 

Essa “relativa” proteção, entretanto, tem hora marcada para acabar. Com a chegada da temporada da seca e com o escoamento gradual das águas, as terras vão ficar secas e a vegetação vai voltar a ficar sujeita a ação do fogo, colocando inúmeras espécies animais e também vegetais em risco. 

Os ciclos de seca cada vez mais intensos no Pantanal Mato-grossense não estão afetando somente a flora e a fauna nativa – os rios que atravessam o bioma também estão sofrendo com as consequências. O caso mais dramático é o do rio Paraguai, o mais importante da região. 

Os baixíssimos níveis do rio Paraguai nas temporadas de seca nos últimos anos vêm criando enormes problemas para a navegação e escoamento da produção regional, especialmente para a Bolívia, país sem fachada oceânica que depende imensamente da hidrovia Paraguai-Paraná para o escoamento de sua produção agrícola. 

Em julho de 2021, citando um exemplo, o nível do rio atingiu a impressionante marca de 70 cm na altura da cidade de Cáceres. Em alguns trechos, a lâmina de água mal passava de 30 cm. Esse foi o mais baixo nível das águas do rio desde 1965.  

Aqui é importante salientar que não basta apenas proteger a vegetação e a fauna nativa que vive dentro dos domínios do bioma Pantanal Mato-grossense – sem a chegada das águas que correm das áreas do Cerrado na direção das terras baixas alagáveis o sistema natural inteiro colapsa. 

O Pantanal Mato-grossense é um caso típico onde é preciso encontrar um ponto de equilíbrio interno e externo. Ou seja – é fundamental proteger a flora e a fauna do bioma, além de preservar os recursos hídricos que vem das áreas de entorno no bioma Cerrado. 

Sem esse equilíbrio, é impossível se falar em preservação do Pantanal Mato-grossense. 

ESPECIAL BIOMAS BRASILEIROS: PANTANAL MATO-GROSSENSE 

Pantanal Mato-grossense é uma das maiores planícies alagáveis do mundo e constitui o segundo menor bioma do Brasil. Em anos de cheias excepcionais a área alagada se aproxima dos 250 mil km², o que equivale a 3% do território brasileiro ou a uma área equivalente ao Estado de São Paulo.    

Esse importante bioma se estende pelo Sudoeste do Estado de Mato Grosso e Oeste do Mato Grosso do Sul, englobando também áreas no Paraguai e na Bolívia – nesses países é conhecido como El Chaco.  A UNESCO – Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura, promoveu o Pantanal Mato-grossense a Patrimônio Natural Mundial e Reserva da Biosfera no ano 2000. 

A flora e a fauna do bioma misturam plantas e animais dos grandes biomas brasileiros: Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica, que se adaptaram para o ciclo de vida dessa região. Já foram catalogadas mais de 650 espécies de aves, 80 espécies de mamíferos, 50 espécies de répteis e mais de 260 tipos diferentes de peixes.    

Como vem acontecendo em todos os biomas brasileiros, o Pantanal Mato-grossense também tem seus problemas, felizmente em escala bem menor. De acordo com informações da EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias, o Pantanal Mato-grossense é o bioma brasileiro mais preservado, com mais de 84% de sua área original ainda intacta, um percentual muito próximo da área preservada da Amazônia brasileira.   

As terras alagáveis do Pantanal Mato-grossense integram uma longa faixa de terrenos baixos que se estendem entre a Amazônia e a Pampa argentina, onde as altitudes raramente ultrapassam uma altitude dos 100 metros acima do nível do mar. Essa faixa de terras está espremida entre a Cordilheira dos Andes, a Oeste, e terrenos altos da faixa Leste do Brasil. 

Durante o longo processo de formação geológica da América do Sul após a sua separação do Supercontinente de Gondwana há cerca de 160 milhões, esses terrenos baixos já ficaram semi submersos no oceano, já acomodaram um grande lago na Amazônia (que depois se transformaria na calha do rio Amazonas) e também um mar interior na região onde encontramos hoje o Pantanal Mato-grossense e os diversos Chacos da Bolívia, Paraguai e Argentina Esse último evento ocorreu logo após o soerguimento da Cordilheira dos Andes há cerca de 40 milhões de anos.   

Ao longo dos últimos milênios, acompanhando as mudanças climáticas naturais, a extensão dos terrenos alagados vem aumentando e diminuindo, sistematicamente. Em décadas mais recentes, desmatamentos para a criação de áreas agrícolas e pastagens para a criação de animais também tem criado importantes impactos no Pantanal Mato-grossense. 

Relembrando um pouco das aulas de história do ensino fundamental, toda a região do Pantanal Mato-grossense e dos diversos chacos da América do Sul ficavam dentro do território da Coroa da Espanha segundo o Tratado de Tordesilhas. Assinado em 1494, entre as coroas de Portugal e da Espanha, esse Tratado dividiu os territórios das Américas entre esses dois países. 

Devido às grandes dificuldades de acesso, a região permaneceu relativamente isolada até o final do século XVII, quando passou a ser frequentada por bandeirantes paulistas. A situação mudou drasticamente quando foram descobertas as minas de ouro em Cuiabá nos primeiros anos do século XVIII. 

Assim como aconteceu na região das Geraes, as notícias sobre a descoberta do ouro atraíram um grande número de aventureiros para o Mato Grosso, especialmente na década de 1720. O principal acesso à região era feito por canoas monçoeiras através dos rios Tietê e a fluentes do rio Paraná até atingir os chamados Campos das Vacarias. Depois, essas expedições seguiam pelos rios Emboteteu (Miranda), Paraguai e Cuiabá. 

Com o rápido esgotamento das minas de ouro e devido ao difícil acesso à região, muitos desses aventureiros acabaram indo embora, fatores que contribuíram muito para o isolamento e a preservação do Pantanal Mato-grossense. Para se ter uma ideia das dificuldades de acesso à região, o melhor e mais fácil meio de comunicação era através da navegação a partir do rio da Prata, entre o Uruguai e a Argentina, subindo depois pelos rios Paraná e Paraguai. 

O isolamento da região da região só começaria a mudar no início do século XX com a chegada da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil à cidade de Porto Esperança, no território do atual Estado de Mato Grosso do Sul. As obras foram iniciadas em 1905 na cidade de Bauru, interior do Estado de São Paulo, e concluídas em 1914. Outro marco para a efetiva ocupação da região foi a criação da Companhia de Viação São Paulo – Mato Grosso em 1942. 

Para a grande maioria dos brasileiros, entretanto, o Pantanal Mato-grossense só passaria a ser conhecido na década de 1970, quando inúmeras reportagens de equipes de televisão passaram a dar destaque à caça indiscriminada do jacarés-do-pantanal (Caiman yacare). A espécie foi impiedosamente caçada por coureiros brasileiros, bolivianos e paraguaios entre as décadas de 1970 e 1980, quase levando a espécie para o caminho da extinção. Calcula-se que 5 milhões de jacarés foram mortos ilegalmente ao longo de uma década.   

Para a sorte dos jacarés e crocodilos de todo o mundo, esse tipo de couro saiu de moda no final da década de 1980, o que reduziu imensamente a demanda e, consequentemente, a caça ilegal. Movimentos ambientalistas e de proteção à vida animal começaram a ganhar força em todo o mundo, impondo forte pressão na indústria da moda e lutando bravamente contra o uso de peles de animais no vestuário, o que também ajudou a salvar inúmeras outras espécies que vinham sendo caçadas por causa dos seus couros e peles.   

Essa triste fase da história do bioma, felizmente, contribuiu muito para a sua popularização junto ao grande público, o que acabou ajudando a conscientizar muitos sobre a importância da sua conservação. Diferentemente da Mata Atlântica, que teve a maior parte de sua área devastada ao longo de nossa história. O Pantanal Mato-grossense tem tudo para continuar sendo um paraíso das águas e da vida.