AS ÁGUAS DO RIO INDUS E O PAQUISTÃO

Paquistão

Na última postagem falamos rapidamente da dependência que os paquistaneses têm das águas do rio Indus (ou Indo) e do medo explícito da Índia, seu país arqui-inimigo, fazer desvios nas fontes de água na região da Caxemira. Ancestrais cantos e poemas mitológicos dos Vedas, antigos livros sagrados dos hindus, falam de um grande rio que desapareceu na região e que levou centenas de cidades ao abandono progressivo. A ciência já comprovou que esse rio, chamado de Ghaggar-Hakra, realmente existiu e que desapareceu devido a fenômenos naturais – os paquistaneses temem que o mesmo aconteça com o rio Indus. 

É bem fácil entender esse receio por parte do Paquistão – o Indus é o maior e mais importante rio do país e suas águas respondem pela irrigação e nutrição de 90% das culturas agrícolas da nação. Sem as águas do rio Indus, grande parte do Paquistão se transformaria em um deserto árido – o restante do país já é hoje uma sucessão de terrenos áridos e semiáridos. 

O Paquistão ocupa uma área total de 796 mil km², entre o Noroeste da Índia, o Afeganistão e a China. Apesar de ser um dos poucos membros do seleto grupo de nações que possuem armamentos nucleares, o Paquistão é um país de economia essencialmente agropecuária. O país tem uma área com 22 milhões de hectares de terras agrícolas (o que corresponde a 38% da área total do país) e 43% da população economicamente ativa trabalha em atividades rurais, em agricultura e pecuária. Desse total de terras agricultáveis, 19 milhões de hectares utilizam sistemas de irrigação para produzir e 16 milhões de hectares dependem diretamente das águas do rio Indus – observem que é uma situação bastante semelhante à do Egito em relação às águas do rio Nilo. A agricultura gera 25% do PIB – Produto Interno Bruto, do Paquistão.  

A produção agrícola no Paquistão é dividida em dois períodos bem distintos: 

No kharif, o período do verão, as fortes chuvas da Monção nas terras altas da Caxemira provocam fortes inundações em todo o vale do rio Indus. As águas dessas cheias, muitas vezes catastróficas para as vilas e cidades, carregam enormes quantidades de sedimentos e nutrientes, que cobrem as terras das áreas de várzeas com uma camada de solo altamente nutritivo. Esse é o período de plantio do arroz, cana-de-açúcar, algodão e milho. 

Durante os meses secos de inverno, o rabi, os solos são preparados para o plantio do trigo, o alimento mais importante da dieta dos paquistaneses e responsável por 85% das calorias ingeridas pela população. O inverno também é a época de produção das gramíneas para alimentação dos rebanhos animais, de oleaginosas, cevada e mostarda. 

A produção agrícola do Paquistão atinge a marca de 25 milhões de toneladas/ano. A cultura mais importante para o mercado interno é o trigo (vide foto), que responde por 2,8% do PIB. O arroz, com uma produção anual da ordem de 2,5 milhões de toneladas, é um dos mais importantes produtos da pauta de exportações do país, respondendo por aproximadamente 11% das receitas externas. Outro produto agrícola fundamental para o Paquistão é o algodão, cultura que ocupa uma área de 2,5 milhões de hectares. A exportação de algodão e de tecidos responde por 55% das exportações do país. A cana-de-açúcar ocupa cerca de 5% das terras cultiváveis e responde por uma produção de 50 milhões de toneladas ano. 

Longe das férteis terras do vale do rio Indus, uma das poucas opções de áreas agrícolas do Paquistão ficam nos vales úmidos dos sopés das Montanhas Himalaias. Esses vales concentram pomares e áreas de produção de trigo para ração animal, batatas, legumes e verduras. As áreas semiáridas vizinhas do vale do rio Indus, com solos pobres e com pouca disponibilidade de água, muito semelhantes às regiões de Caatinga do Brasil, são usadas quase que exclusivamente para a criação extensiva de animais, principalmente bovinos, caprinos e ovinos. As atividades  ligadas à pecuária empregam aproximadamente 35 milhões de paquistaneses e respondem por cerca de 11% das exportações do país, especialmente carne e leite. O Paquistão, aliás, é o 4° maior produtor de leite do mundo. 

Sem as águas do rio Indus para abastecer e alimentar sua população, o Paquistão entraria em colapso total. Entre outras razões milenares, a disputa pelas regiões de nascentes do rio Indus na Caxemira levou o país a entrar em guerra com a Índia em três ocasiões diferentes (1947, 1965 e 1971), sem conseguir lograr êxito. A China controla um trecho da Caxemira e também já se envolveu em conflitos militares na região. Movimentos separatistas pró Paquistão da Caxemira entraram em conflitos com tropas indianas em 1999 e entre 2001-2002. Todos esses conflitos armados já custaram milhares de vidas e ainda não se encontrou uma solução viável para a partilha da Caxemira. 

Lamentavelmente, muitas águas do rio Indus ainda vão rolar desde as Montanhas Himalaias na Caxemira até que se consiga chegar a um acordo sobre a partilha desta disputada região.

Muito pior – os conflitos entre países pela posse de fontes de água se tornarão cada vez mais frequentes em todo o mundo.

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