VACINA CONTRA A DENGUE EM DESENVOLVIMENTO APRESENTA RESULTADOS PROMISSORES

Na última postagem falamos do preocupante crescimento da dengue nos primeiros meses deste ano. De acordo com dados do Ministério da Saúde, os casos prováveis da doença cresceram 43,9% em comparação ao mesmo período de 2021. Os dados comparados se referem ao intervalo de 10 semanas entre os dias 2 de janeiro e 12 de março. 

Felizmente, existem boas notícias para um horizonte não muito distante. O Instituto Butantã, em parceria com o NIAID – Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos, na sigla em inglês, divulgou resultados animadores de uma vacina contra a dengue em desenvolvimento conjunto. 

Os resultados analisados mostram que a vacina induziu a geração de anticorpos contra a doença em 100% dos indivíduos que já haviam tido dengue e em mais de 90% dos indivíduos que nunca tiveram contato com o vírus. Para efeito de comparação, existem vacinas contra a Covid-19 em aplicação na população e que foram aprovadas pelos órgãos de saúde com pouco mais da metade dessa eficácia. Essas vacinas foram usadas em caráter emergencial devido à gravidade da pandemia.

Esses resultados foram obtidos na chamada Fase 1 dos ensaios clínicos, estudos que foram realizados nos Estados Unidos. Na Fase 2 da pesquisa, os estudos mostraram a formação de anticorpos em mais de 70% dos indivíduos contra 4 subtipos do vírus da dengue com apenas uma dose aplicada. Esses dados foram publicados no periódico Human Vaccines & Inmunotherapeutics, para a Fase 1, e na revista Lancet Infectious Diseases, para a Fase 2. 

Os pesquisadores agora trabalham nos estudos clínicos da Fase 3. Esta é a última fase de estudos necessários para a obtenção do registro sanitário da vacina e tem por objetivo demonstrar a sua eficácia. Os estudos envolvem a aplicação da vacina em um grupo grande de voluntários, onde parte recebe a vacina e parte um placebo (água destilada, por exemplo) – os resultados em ambos os grupos são comparados.  

Na Fase 2 dos estudos, para exemplificar como funcionam os testes, um grupo de 200 voluntários recebeu duas doses da vacina tetravalente ou do placebo, o que permitiu avaliar a capacidade do organismo dos vacinados em aumentar o número de anticorpos no organismo. 

Após a aplicação da primeira dose em pessoas que já haviam tido dengue observou-se a produção de anticorpos em 100% do grupo. No caso de voluntários que nunca tiveram a doença, essa produção de anticorpos foi da ordem de 92,6%. Na aplicação da segunda dose, as diferenças na produção de anticorpos não foram significativas. 

Ao longo de um ano e meio, a capacidade de indução da resposta imunológica dos voluntários, o que é chamado tecnicamente de imunogenicidade, foi analisada por meio de testes de neutralização do vírus e resposta se manteve alta. 

Também foram avaliados os efeitos colaterais da vacina. Entre os mais comuns se destacam dores de cabeça, fadiga, erupção cutânea e dores musculares. Esses efeitos não são considerados graves e até são comuns em vacinas, o que indica que a vacina é segura. 

A pandemia da Covid-19 que abalou o mundo inteiro nesses últimos dois anos e que, felizmente, parece estar se encaminhando para um final, deixou muito clara a importância das vacinas. Laboratórios e institutos de pesquisa de todo o mundo não pouparam esforços até conseguiram desenvolver vacinas num tempo recorde e que já foram aplicadas em bilhões de pessoas. 

A fatalidade da dengue está muito distante da Covid-19. Até novembro de 2021, foram registradas 212 mortes por dengue no Brasil. Em 2020, foram confirmadas 564 mortes. No mesmo período, a Covid-19 ceifou mais de 650 mil vidas no país. 

Apesar da baixa taxa de fatalidade, a dengue causa uma série de desconfortos físicos como febre alta, erupções cutâneas e dores musculares e articulares. Em casos graves, há hemorragia intensa e choque hemorrágico. Foram mais de 500 mil casos registrados no Brasil em 2021. 

A dengue e outras viroses provocadas pelos chamados Arbovírus tem em comum a presença ativa de vetores como o mosquito Aedes aegypti. A reprodução desses mosquitos está associada ao acúmulo de água das chuvas em resíduos sólidos, restos de materiais de construção, em caixas d`água e outros depósitos do líquido mal tampados, em construções abandonadas, entre muitos outros locais. 

Ou seja – o combate à dengue começa com a eliminação dos criadouros do mosquito Aedes aegypti. E é justamente aqui onde os problemas começam – basta uma única propriedade dentro de um bairro relaxar com esses cuidados para que surja um foco importante da doença. E isto sempre acaba acontecendo. 

A perspectiva da criação de uma vacina contra a doença no médio e longo prazo poderá ajudar a resolver da dengue. Porém, é importante lembrar que o mesmo mosquito transmite doenças como a febre amarela, a Zika e a febre Chikungunia, entre muitas outras.

Enquanto não surgir uma poderosa vacina que nos protege de todas essas doenças, as ações de controle sanitário dos focos de reprodução desses mosquitos sempre serão necessárias. 

LEMBRA DA DENGUE? O NÚMERO DE CASOS AUMENTOU 43,9% NOS PRIMEIROS MESES DESTE ANO 

Desde 2020, o mundo inteiro vem convivendo e sofrendo com a epidemia da Covid-19. De acordo com as informações disponíveis, cerca de 420 milhões de pessoas em todo o mundo foram acometidas da doença, sendo que mais de 6 milhões acabaram morrendo. Havia muito tempo que a humanidade não enfrentava nada parecido. 

Felizmente, as coisas parecem caminhar para uma relativa normalidade. As autoridades de muitos países estão reclassificando a doença e a pandemia está sendo reclassificada com epidemia. Muitas das regras higiênicas, como o uso obrigatório de máscaras, começam a ser flexibilizados. Todos começam a respirar um pouco mais aliviados. 

Um problema que começa a ficar cada vez mais evidente é o fato das preocupações com a Covid-19 terem jogado para um segundo plano os cuidados com outras doenças importantes. Problemas cardíacos, por exemplo, que afetam milhões de pessoas e que requerem uma grande atenção, tiveram expressivos aumentos nos números de vítimas devido ao excesso de atenção que passou a ser dado para a pandemia. 

Muitos desses problemas aconteceram aqui no Brasil. Um dos casos que vem chamando a atenção das autoridades de saúde do país são os casos de dengue. Segundo dados do Ministério da Saúde, o Brasil assistiu a um aumento dos casos de dengue da ordem de 43,9% apenas nos primeiros meses de 2022, quando comparado ao ano de 2021. São números preocupantes. 

No período entre 2 de janeiro e 12 de março, que compreende um total de apenas 10 semanas, foram registrados 161.605 casos prováveis de dengue. Essa probabilidade ocorre por que a confirmação dos casos depende de exames laboratoriais, o que nem sempre é possível em muitas regiões do país. A taxa de incidência é de 75,8 casos para cada 100 mil habitantes. 

A dengue, entre outras arboviroses com a Zika, a febre Chikungunya e a febre amarela urbana, são doenças transmitidas por Arbovírus. Esses são vírus que circulam e são transmitidos para hospedeiros vertebrados por artrópodes vetores da doença. O mais conhecido desses vetores é o mosquito Aedes Aegypti. 

O mosquito Aedes Aegypti é originário do continente africano, onde aprendeu a viver próximo dos assentamentos humanos desde milhares de anos atrás. Foi durante o período das grandes navegações europeias que esse mosquito “pegou carona” nas embarcações mercantis, especialmente nos chamados navios negreiros, e chegou ao continente americano, se fixando nas áreas tropicais e subtropicais, do Norte da Argentina até o estado da Flórida, nos Estados Unidos da América.  

O ciclo de vida dos mosquitos apresenta quatro fases distintas – ovo, larva, pupa e inseto adulto, destacando que os três primeiros estágios dependem da presença de água parada, o que nunca faltou nos assentamentos humanos e foi peça chave na predileção do inseto pela nossa companhia. A adaptação do mosquito Aedes aegypti ao convívio com os seres humanos foi tão grande que, de acordo com estudos especializados recentes, o inseto passou também a se reproduzir em águas paradas com altos índices de poluição como nos esgotos, o que explica os grandes níveis de infestações nas cidades brasileiras. 

O ciclo da reprodução dos mosquitos depende da presença de água parada, onde as fêmeas depositam seus ovos. Esses ovos primeiro se transformam em larvas, um ciclo que leva de dois a três dias, e depois em pupas. Nessa última fase surge o mosquito propriamente dito, que eclode em cerca de 48 horas. Um mosquito Aedes aegypti costuma “colonizar” uma área com raio de 200 metros a partir do local do seu nascimento, ou seja, o recipiente com a água parada. 

Entulhos da construção civil caixas d`água destampadas, resíduos sólidos descartados incorretamente (o famoso lixo jogado em terrenos baldios), construções abandonadas, entre muitos outros locais, formam pontos de acúmulo de água e se transformam em verdadeiras maternidades para a procriação dos mosquitos, o que resultar em grandes ondas de contaminação pela dengue. 

Uma das medidas mais eficientes para a prevenção dessa e de muitas outras Arboviroses é combater os focos de proliferação dos mosquitos: as poças de água de água parada nos quintais e terrenos baldios, além das caixas d’água e outros reservatórios destampados. 

Com a preocupações que todos tivemos com a pandemia da Covid-19, muitos dos cuidados e medidas de prevenção acabaram sendo esquecidos e estamos vendo agora um crescimento perigoso da dengue em muitas regiões do país. As chuvas de verão ainda devem persistir por algumas semanas em boa parte do país e os riscos de empoçamento de água ainda são muito grandes. 

É preciso uma atenção maior das autoridades no combate a esse problema. Todos precisamos fazer uma varredura em nossas casas e vizinhas em busca de pontos de acúmulo de água. Esses locais podem estar tanto no meio de grandes montes de entulho num quintal vizinho, quanto em um inocente pratinho colocado sobre um vasinho de plantas. Uns milímetros de água parada são suficientes para a procriação de dezenas de mosquitos – basta a picada de apenas um deles para transmitir a doença para uma pessoa. 

Que todos os cuidados na prevenção contra a Covid-19 continuem, mas reservando algum espaço para a prevenção de doenças como a dengue. 

A PRODUÇÃO DE CACAU ESTÁ RENASCENDO NO SUL DA BAHIA 

Um dos romances mais famosos do grande escritor baiano Jorge Amado é, sem dúvida nenhuma, “Gabriela, Cravo e Canela”, livro lançado em 1958. A personagem central do enredo é Gabriela, uma jovem sertaneja humilde que migra para uma cidade rica do litoral em busca de trabalho, o que ela encontra na casa do árabe Nacib. 

O pano de fundo da história é Ilhéus, a rica cidade dos coronéis do cacau, grandes proprietários de terras no Sul da Bahia que comandavam com mão de ferro a produção desse fruto e de suas valiosas castanhas. Entre 1901 e 1925, o Brasil foi o maior produtor e exportador de cacau do mundo, posição que foi sendo gradativamente perdida para países do Leste da África. 

Além da crescente concorrência africana, os produtores brasileiros receberam um segundo golpe em 1929, ano da quebra da Bolsa de Valores de Nova York, crise que levou o mundo a uma profunda depressão econômica. Não muito tempo depois, o mundo passou pela Segunda Guerra Mundial (1939-1945). A opulência e a riqueza de décadas passadas nunca mais se repetiriam em Ilhéus e região. 

O maior e mais forte golpe contra a indústria cacaueira viria em 1989, quando o Sul da Bahia foi invadido pela “vassoura-de-bruxa-do-cacaueiro”, uma doença vegetal causada pelo fungo Moniliophtora perniciosa, que ataca e destrói as plantas. No período entre 1991 e 2000, a participação do Brasil no mercado internacional do cacau caiu de 15% para apenas 4%. A economia da cidade de Ilhéus foi uma das mais prejudicadas com a crise que se seguiu. 

O cacaueiro (Theobroma cacao) é uma árvore originária da bacia hidrográfica do rio Amazonas, que produz um fruto chamado cacau – são as castanhas do cacau que dão origem ao nosso chocolate do dia a dia. Foram as grandes civilizações mesoamericanas dos Maias e dos Astecas que desenvolveram as primeiras bebidas preparadas a base do cacau – o kabkajatl.  

Os conquistadores espanhóis que chegaram ao continente americano a partir do final do século XV e que experimentaram a bebida, tinham muita dificuldade para pronunciar esta palavra nativa, que acabou sendo hispanizada para cacauatl, e por fim acabou resumida a cacau. Levado inicialmente para a Espanha, o cacau passou a ser consumido como uma bebida quente com leite e açúcar. A partir daí ganharia o mundo com o nome de chocolate. 

Diferente de outras culturas, o cacau depende da sombra de uma floresta para sobreviver, o que torna o seu cultivo sustentável do ponto de vista ambiental. O sucesso da região Sul da Bahia na produção do cacau se deve a razões históricas importantes: os ferozes índios antropófagos que viviam na região rechaçaram todas as tentativas dos primeiros colonizadores em instalar plantações de cana e engenhos de açúcar. A Mata Atlântica preservada foi fundamental para o início da cultura há mais de 200 anos na região, fornecendo sombra, umidade e proteção contra os ventos. 

Esse regime de produção em sistema agroflorestal – conhecido como cabruca, foi fundamental para a conservação de grandes corredores de mata nativa, onde hoje encontramos algumas espécies raras como o jequitibá-rosa (Cariniana legalis), o pau-brasil (Caesalpinea echinata) e a gameleira (Ficus gomelleira), espécies que desapareceram em outras regiões onde a Mata Atlântica foi praticamente dizimada. 

Muito dessa riqueza vegetal acabou sendo perdida nas duas últimas décadas com a crise do cacau. Muitos proprietários de terras dessa região abandonaram a cultura e acabaram derrubando as suas matas para a criação de pastagens para o gado. Mesmo assim, muitos foram aqueles que persistiram com o cacau e, ao que tudo indica, a cultura está renascendo paulatinamente no Sul da Bahia. 

De acordo com um animador relatório elaborado pelo Instituto Arapyaú, o Sul da Bahia conta hoje com cerca de 3 mil produtores de cacau. Diferentemente dos áureos tempos da cultura comandada pelos grandes coronéis, a produção atual está concentrada em pequenas propriedades. Segundo o relatório, 55% das propriedades tem menos de 20 hectares e apenas 18,6% são propriedades entre 50 e 300 hectares

A média de idade dos produtores rurais é de 62 anos, com um nível de escolaridade de no máximo 7 anos. O cacau representa 79% do rendimento das propriedades rurais, sendo que metade tem renda mensal abaixo de R$ 1.606,00. A produção está concentrada em 26 municípios do Sul da Bahia, tendo Ilhéus como um dos principais polos produtores. 

A concentração de cacaueiros é de 30 árvores para cada hectare de mata, porém, os estudos técnicos indicam que essa concentração pode ser elevada para 100 árvores por hectare, o aumentaria substancialmente a produção da região. Nos áureos tempos dos coronéis, a produção de cacau na Bahia superava fácil a marca de 1,4 milhão de toneladas. Antes da chegada da vassoura-de-bruxa em 1989, essa produção já tinha caído para 390 mil toneladas. Atualmente é de apenas 40 mil toneladas/ano. 

A retomada da produção cacaueira na região não foi uma simples obra do acaso. Grandes esforços em pesquisas cientificas em importantes universidades brasileiras – entre elas a UNICAMP de São Paulo, levaram ao aprimoramento genético dos cacaueiros e a descoberta de uma molécula que combate naturalmente o fungo que provoca a vassoura-de-bruxa. 

Essa retomada da cacauicultora no Sul da Bahia está sendo acompanhada por uma mudança de mentalidade – ao invés de grandes esforços para a produção maciça de uma commodity para exportação in natura, os produtores estão se esforçando para produzir um cacau de alta qualidade destinado à produção de chocolates gourmets, um produto que tem um preço de venda muito maior e que pode gerar uma grande demanda local por mão de obra. 

Entre o sonho de atingir essa meta e a realidade atual dos produtores existem enormes desafios e grandes problemas. Um dos mais importantes é falta de interesse das novas gerações pelo trabalho na produção agrícola. Os filhos e netos dos produtores buscam oportunidades de trabalho e de vida nas cidades grandes, o que poderá comprometer a continuidade da atividade dentro de poucos anos. 

Enquanto na Bahia a produção do cacau é “coisa de gente velha”, na África é justamente o contrário. Nos países que formam a Costa do Ouro no Leste do continente o grande problema é o uso abusivo de mão de obra infantil. Grandes empresas da Europa, por forte pressão dos seus consumidores, têm sido forçadas a deixar de importar matérias primas dessa região. 

Uma produção ecologicamente sustentável e socialmente responsável no Sul da Bahia (e também na Amazônia) poderá representar uma excelente oportunidade para os produtores brasileiros ao longo dos próximos anos e uma oportunidade única para recuperar importantes fragmentos de florestas. Que os anjos digam amém! 

OPERAÇÃO GUARDIÕES DO BIOMA DESMATAMENTO 

Entra ano e sai ano, e as coisas se repetem – conforme vai chegando o verão amazônico, período de poucas chuvas e muito calor, começa a temporada das queimadas e das manchetes catastróficas na mídia internacional – a “Amazônia está queimando” ou “a Amazônia está sendo transformada em cinzas”. 

Conforme já apresentamos em inúmeras postagens ao longo da história de quase sete anos aqui do blog, a Floresta Amazônica não possui uma vegetação única – ela é formada por todo um conjunto de subsistemas florestais que formam uma espécie de “colcha de retalhos”. Existem matas secas, matas alagáveis, restingas, manguezais, várzeas, igapós, áreas montanas, campos amazônicos, entre muitos outros. 

Além dos subsistemas florestais tipicamente amazônicos, também existem as chamadas áreas de transição entre biomas. Dentro do território brasileiro, a transição entre os biomas Amazônia e Cerrado é a mais importante. São justamente essas áreas de transição as mais susceptíveis às queimadas

Esse ano a temporada vai começar com uma novidade – os Ministérios da Justiça e do Meio Ambiente organizaram a Operação Guardiões do Bioma Desmatamento, uma força tarefa para combater os desmatamentos e as queimadas ilegais na região. Essa unidade vai reunir cerca de 1.200 agentes das Polícias Federal e Rodoviária Federal, da Força Nacional de Segurança, além de funcionários do IBAMA, ICMBIO e também das forças de segurança pública dos Estados. 

Essa força tarefa irá atuar em toda a Região Amazônica, sendo que as equipes serão divididas em dez bases de operações. O foco das atenções, entretanto, se concentrará numa faixa que engloba o Sul dos Estados do Amazonas e do Pará, região famosa pelo grande número de queimadas e desmatamentos.  

Além da fiscalização no bioma Amazônia, os olhos dessa força tarefa vão dar uma atenção especial a áreas vizinhas do Cerrado e do Pantanal, que também sofrem dos mesmos males. Normalmente, são as queimadas e os desmatamentos que ocorrem nessas regiões vizinhas que entram na “conta” e inflam a “destruição” da Floresta Amazônica, fazendo a “alegria” da mídia internacional. 

Tirando o exercício de relações públicas e de propaganda que o anúncio da formação dessa força tarefa representa para o Governo Federal, esse tipo de operação costuma se caracterizar pela efetiva integração dos diferentes órgãos envolvidos. Com recursos e pessoal escassos para o tamanho do problema, qualquer maximização de forças será sempre bem-vinda. 

É sempre importante lembrar que a chamada Amazônica Legal, onde se incluem o bioma Amazônia e partes do Cerrado, ocupa 5,2 milhões de km2, o que corresponde a 61% do território brasileiro. Se essa força tarefa fosse multiplicada por cem, ou seja, se tivesse 120 mil agentes, ainda não estaria à altura da colossal tarefa. 

As denúncias sobre a temporada das queimadas na Amazônia datam já de várias décadas, porém, a visibilidade da questão cresceu enormemente a partir de 2019. Na tarde de 19 de agosto, os moradores da Região Metropolitana de São Paulo foram surpreendidos com uma chuva com água da cor de chá mate, evento que foi batizado pela imprensa a partir daquele dia de a “chuva negra”. 

Naquele momento diversas áreas do Sul da Amazônia enfrentavam uma forte seca, o que favoreceu as queimadas numa extensa faixa entre o Sul do Estado do Amazonas, Rondônia, Acre e Bolívia. A densa nuvem de fumaça dessas queimadas foi arrastada para a Região Sudeste por fortes correntes de vento e foi a fuligem de toda essa fumaça que “tingiu” a água da chuva. 

A repercussão do noticiário nacional rapidamente ganhou o todo o mundo e, líderes políticos, artistas, famosos e outros opositores ao recém empossado Presidente de “extrema direita” do Brasil, passaram a fazer suas postagens nas mídias sociais denunciando a destruição da Floresta Amazônica

Emmanuel Macron, Presidente da França, usou fotografias de antigas queimadas na região, que inclusive foram tiradas por um fotógrafo que já havia morrido, para ilustrar suas postagens apocalípticas. O jogador português Cristiano Ronaldo foi mais infeliz – sua postagem mostrou a foto de uma queimada nos Pampas Sulinos. Ganhou força nesse momento a garota Greta Thunberg e sua mensagem sobre a destruição do “pulmão do mundo”. 

De todos os cantos do mundo passaram a surgir especialistas em ecologia amazônica, cada um falando mais bobagens que o outro. Essa onda de más notícias e de prognósticos ambientais dos mais terríveis queimaram, literalmente, o filme do Brasil no exterior. Passamos a ostentar o título de “vilões internacionais do meio ambiente”. 

Uma das principais atividades econômicas do Brasil, a agricultura, acabou sendo atingida em cheio pela chuva de más notícias sobre as queimadas. Muitos desses “especialistas” passaram a espalhar falsas notícias sobre as áreas de produção agrícola e também de criação de animais – as queimadas visavam abrir espaços para a ampliação dessas atividades dentro dos domínios da Floresta Amazônica. 

Muitos consumidores estrangeiros, em especial europeus, que mal sabem onde fica o Brasil e que ainda acham que a nossa capital é Buenos Aires, passaram a evitar comprar produtos agropecuários brasileiros, preferindo pagar mais caro por produtos de outras origens. É evidente que muito dessa aversão aos nossos produtos foi estimulada pela mentalidade protecionista aos produtores rurais da Europa. 

Apesar dessa campanha ter perdido um pouco de força desde então, a temporada das queimadas será sempre uma época de empenharmos um cuidado redobrado com a Amazônia. Qualquer boa notícia e esforços que nossas autoridades possam criar e mostrar para a comunidade internacional serão sempre bem-vindos. 

Com o início do recente conflito entre a Rússia e a Ucrânia, um volume considerável da produção mundial de grãos – especialmente o trigo, foram comprometidos, o que poderá ajudar a recuperar parte da reputação dos produtores brasileiros. O Governo alemão, só para citar um exemplo, já está admitindo liberar áreas de preservação ambiental para permitir o aumento da produção de alimentos. 

Precisamos aproveitar o momento para mostrar o quão sustentável é a nossa agricultura (que ocupa apenas 8% do território brasileiro) e que não precisamos devastar a Floresta Amazônica para aumentar a nossa produção. Se essa força tarefa mostrar bons resultados no combate as queimadas e aos desmatamentos, muito melhor será. 

OS ESTUDOS PARA A CONCESSÃO DE QUATRO PARQUES NACIONAIS NO BRASIL 

Quem é um pouco mais velho deve se lembrar do desenho animado do Zé Colmeia, um personagem que se autodenominava como o “mais esperto dos ursos”. Sempre ao lado do seu fiel companheiro Catatau, Zé Colmeia adorava roubar as cestas de piquenique dos visitantes do famoso Parque Yellowstone, nos Estados Unidos. Essa “tarefa” não era coisa simples pois o Guarda Smith, um agente florestal do parque, frustrava a imensa maioria dos planos de Zé Colmeia. 

O lar de Zé Colmeia e Catatau, o Yellowstone, é o mais antigo parque nacional dos Estados Unidos, inaugurado em 1872. O parque ocupa uma área total de 8.980 km2 e se entende entre os Estados do Wyoming, Montana e Idaho. Entre as atrações turísticas destacam-se os gêiseres, as fontes de águas termais e uma enorme vida animal onde se destacam os ursos, é claro, lobos, alces, bisões, entre muitas outras espécies. 

A diversidade de paisagens do Yellowstone atrai todo o tipo de turistas: ciclistas, montanhistas, excursionistas, observadores de pássaros, pescadores, praticantes de rafting, remadores ou simplesmente pessoas comuns que gostam de admirar a vida selvagem. O parque recebe cerca de 2,5 milhões de visitantes a cada ano

Um outro bom exemplo de parque nacional nos Estados Unidos é o Grand Canyon, localizado no Estado do Arizona. Aqui a grande atração é o canyon de 450 km de extensão que foi escavado pelo rio Colorado ao longo de milhões de anos. Esse parque recebe cerca de 5 milhões de visitantes a cada ano

Juntos, esses dois parques recebem 7,5 milhões de turistas a cada ano, um número maior do que todos os turistas que visitam o Brasil anualmente. De acordo com relatório da OIT – Organização Mundial do Turismo, o número de turistas que visitam o Brasil aumentou de 5,3 milhões para 6,4 milhões ao longo dos últimos 20 anos. Com a pandemia da Covid-19, os visitantes caíram para pouco mais de 2 milhões de visitantes, número que gradativamente está voltando a crescer. 

Comecei esta postagem fazendo uma longa introdução para falar de um projeto que está ganhando forma – os estudos para a concessão de parques nacionais aqui no Brasil. A ideia central é conseguir que empresas privadas se transformem em concessionárias desses parques, onde farão grandes investimentos em infraestrutura para o atendimento dos turistas.  

Com os ganhos, essas empresas poderão investir cada vez mais na preservação ambiental, além de gerar milhares de postos de trabalho e arrecadar volumes consideráveis em impostos, especialmente para os Municípios e Estados. O sucesso dos parques nacionais em muitos países, como os que citamos nos Estados Unidos, nos dão uma ideia do potencial turístico e econômico dos parques nacionais aqui no Brasil. 

Os estudos e as negociações envolvem os Ministérios do Turismo e do Meio Ambiente, além do ICMBIO – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Os estudos de viabilidade técnica e econômica incluem os Lençóis Maranhenses (vide foto), no Maranhão, Jericoacoara, no Ceará, a Chapada dos Guimarães, no Mato Grosso, e a Serra da Bodoquena em Mato Grosso do Sul. 

A concessão de patrimônio público para exploração pela inciativa privada, que muita gente prefere chamar de privatização, é um assunto bastante delicado e complexo aqui em nosso. Existe aqui entre nós uma tradição mais do que secular de se colocar na mão do Estado brasileiro a administração de inúmeras atividades econômicas e sociais. 

Nessa lista se incluem/incluíram bancos, previdência social, serviços de saúde, correios e telégrafos, serviços de telefonia, rodovias, ferrovias, navegação marítima e de cabotagem, entre outras. Essa lista já incluiu a construção de veículos – falo aqui da antiga FNM: Fabrica Nacional de Motores, que produzia os famosos caminhões “FeNeMê”; de aviões – a Embraer, além de muitas siderúrgicas. Essas atividades, felizmente, saíram da alçada do Governo Federal. 

Como sempre acontece, onde entra a” mão do Governo” ocorrem mandos, desmandos, muita corrupção, além da criação dos chamados “cabides de emprego”. Quem tem mais de 40 anos certamente vai se lembrar das dificuldades e problemas que enfrentávamos quando todo o sistema de telefonia do país estava nas mãos dos Governos. Uma linha telefônica valia uma fortuna e os serviços eram péssimos. 

É evidente que a simples concessão de uma atividade ou bem público para a iniciativa privada não resolve tudo num passe de mágica. Em todas as concessões já feitas tivemos enormes ganhos, porém, muitos problemas e distorções foram ocorrendo. Foi preciso criar várias agências reguladoras e órgãos específicos para fiscalizar e controlar muitas dessas atividades. Na minha humilde opinião, o balanço final entre os prós e contras acabaram pesando mais para a privatização. 

Numa área tão sensível e problemática como é a área ambiental, esses estudos e as discussões para a concessão desses parques deverão “esquentar” muito ao longo do tempo. Muitos ecologistas de “ar condicionado” do Leblon e de Ipanema, no Rio de Janeiro, e da Vila Madalena e dos Jardins, em São Paulo (uso ironicamente essas regiões, mas existem muitas outras) vão protestar, e muito. 

A provável argumentação é que, sob o comando do Governo Federal, essas áreas já sofrem com desmatamentos, queimadas, garimpo ilegal e invasões, imaginem o que acontecerá se elas forem repassadas para uma iniciativa privada que “só se importa com lucros” – quanto maiores esses forem, melhor. 

Essa é uma questão importantíssima. A imagem de nosso país como gestor ambiental é péssima pelo mundo afora. Somos conhecidos por derrubar e queimar a Floresta Amazônica, por desrespeitar e matar as nações indígenas, por estimular o garimpo ilegal, por praticar agricultura e pecuária em áreas de conservação ambiental, entre inúmeros outros pecados. 

Para essas pessoas, conceder importantes áreas de conservação ambiental para a iniciativa privada capitalista seria uma espécie de “último prego no caixão”. Com toda a certeza, os debates que se seguirão serão acalorados e bastante tensos. 

Pessoalmente, eu vejo aqui uma excelente oportunidade para conseguirmos movimentar o turismo, uma atividade econômica que cresce fortemente em todo o mundo, com conservação ambiental. Minha lógica é simples – ninguém em sã consciência mata a “galinha dos ovos de ouro”. 

Quem curte turismo ambiental e de aventura não vai perder seu tempo e gastar seu rico dinheiro visitando terras devastadas e campos queimados, onde só se vê morte e destruição. Essas pessoas querem ver e curtir ambientes naturais perfeitamente preservados. Quem quer que seja o concessionário desses parques não vai poupar esforços para conservar da melhor maneira possível as paisagens, garantindo assim a sua “clientela”. 

Vamos acompanhar esse processo e torcer para que tudo dê certo no final. 

A “CHUVA” DE IRREGULARIDADES EM PETRÓPOLIS 

Como todos devem estar acompanhando pelos noticiários, a cidade de Petrópolis, na Região Serrana do Rio de Janeiro, voltou a ser castigada por fortes chuvas no domingo, dia 20 de março. Aliás, essa não foi apenas uma chuva forte – as medições feitas indicam que essa foi a maior chuva já registrada na história da cidade, com um índice pluviométrico de 534,4 mm de água acumulada em 24 horas

Para que todos tenham uma ideia do isso significa – nas fortes chuvas que devastaram a cidade em 15 de fevereiro, os índices pluviométricos oficiais registraram 260 mm de água acumulada em 24 horas. Apesar da menor intensidade, esse temporal deixou 233 mortos e 4 vítimas ainda seguem desaparecidas. 

O temporal do último domingo deixou 5 mortos e 4 vítimas seguem desaparecidas. Segundo os dados oficiais divulgados pelas autoridades locais, foram registradas 365 ocorrências, sendo que 250 se referem a deslizamentos de encostas sobre casas ou vias públicas. 

Conforme tratamos em uma postagem recente, estudos indicam que tanto as temperaturas quanto as chuvas extremas tem aumentado sistematicamente aqui no Brasil nos últimos 90 anos. Os pesquisadores ainda não têm certeza sobre as causas reais dessas mudanças, porém, o aquecimento global e as ações antrópicas (causadas pelo próprio ser humano) são as mais prováveis. 

No caso de Petrópolis e de outras cidades da Região Serrana do Rio de Janeiro, que, sistematicamente, sofrem verdadeiras tragédias ao longo da temporada das chuvas, a ocupação irregular das encostas íngremes da região está na raiz dos problemas. 

Além da devastação da vegetação nativa, a construção de imóveis resulta no corte e na modificação dos taludes (terrenos que formam as encostas), o que altera completamente a estabilidade dos terrenos. Quando chove forte, estes terrenos absorvem grandes quantidades de água, o que torna os solos liquefeitos, ou seja, transformados em lama, lama essa que passa a correr ladeira abaixo carregando casas e outras construções. 

Conforme já comentamos em outras ocasiões, não existe nenhum “milagre” de engenharia que permita resolver essa questão – é preciso construir novas residências para transferir os moradores dessas encostas, gente pobre em sua imensa maioria, para áreas mais adequadas e seguras. As construções nas encostas precisam ser demolidas, alguns muros de contenção e canais de drenagem construídos, finalizando com um intenso trabalho de revegetação. 

Sem nos estendermos mais nessas questões lamentáveis, gostaria de tocar numa ferida aberta dessa situação – de acordo com reportagem publicada hoje, o DRM-RJ – Departamento de Recursos Minerais do Governo do Rio de Janeiro, contratou serviços de análise geológica para realização de trabalhos nas áreas de risco de forma irregular menos de 10 dias depois dos temporais de fevereiro. 

Segundo a matéria, uma empresa foi contratada sem licitação, um procedimento obrigatório para qualquer órgão público, a um custo de R$ 4,2 milhões. Esse “negócio suspeito” inclui a contratação de 15 geólogos de uma empresa terceirizada por um período de 6 meses, a um custo total de R$ 2,5 milhões. 

Segundo o que foi apurado, o DRM-RJ possui ao menos 10 geólogos trabalhando em seus quadros, profissionais que não foram enviados para a Região Serrana. Esses profissionais são funcionários de carreira concursados do órgão, com vencimentos mensais entre R$ 6 mil e R$ 12 mil – salários até 3 vezes menores do que o que será pago para os profissionais do contrato emergencial para a empresa terceirizada. 

Em resposta aos questionamentos feitos, o DRM-RJ informou através de nota oficial que a contratação emergencial foi feita para “não prejudicar os demais atendimentos no Estado”. Entretanto, as informações disponíveis indicam que, em tragédias semelhantes como a ocorrida em 2011, todos os profissionais do órgão foram deslocados para a Região Serrana sem maiores prejuízos para o restante do Estado. 

A história desse contrato emergencial fica mais nebulosa quando se verifica que a pesquisa de preços foi feita em apenas 24 horas. Um decreto do Governo do Rio de Janeiro publicado em 2019, impôs um prazo mínimo de 5 dias para a apresentação de propostas mesmo em casos de contratações emergenciais. 

As outras duas empresas que enviaram propostas com preços mais altos não possuem serviços de geologia entre as atividades cadastradas na Receita Federal, o que lança ainda mais suspeitas sobre essa “história”. Em sua defesa, o DRM-RJ afirma que elas “são categorizadas como empresa de engenharia civil, atuando na área de geotécnica, que inclui, entre outras atividades, escavação, investigação e análise geotécnica em taludes e contenções“. 

Existem inúmeras outras irregularidades nos procedimentos usados para o fechamento desse contrato, o que torna a “história” cada vez mais suspeita. Lembro que as situações de calamidade pública sempre abrem todo um leque de oportunidades para agentes públicos “ganharem um dinheiro por fora”. 

Nessas situações, que dependem da decretação oficial de estado de calamidade pública, as regras para a contratação de serviços e compra de produtos são afrouxadas, inclusive se dispensando a necessidade de licitação pública em grande parte dos casos. É nessa hora que os “amigos” dos gestores públicos entram em cena, incluindo generosas gratificações dentro dos preços cobrados. Como diz aquele velho ditado – uma mão lava outra… 

Muito mais lamentável que noticiar a repetição das mesmas tragédias anunciadas de sempre, é perceber que grupos estão se aproveitando da situação para ganhar dinheiro de forma irregular. Só podemos esperar que as autoridades de fiscalização e a polícia cumpram os seus papéis e esclareçam mais esse caso. 

PESQUISADORES DESCOBREM QUE A POLUÍDA BAÍA DA GUANABARA É UM IMPORTANTE REFÚGIO DE RAIAS-GIGANTES 

Todo santo dia, lendo as notícias nos jornais e nos websites, somos bombardeados com um grande número de más notícias na área ambiental. São informações sobre o aquecimento global, guerras, desastres provocados por chuvas, incêndios florestais, riscos de extinção de espécies, entre muitas outras tragédias. 

Raramente, nos deparamos com boas e inspiradoras notícias nessa área. Hoje é um desses dias – circulou ontem uma notícia que fala da descoberta de um importante refúgio de raias-gigantes, uma espécie marinha ameaçada de extinção, num dos locais mais improváveis que se poderia imaginar: a poluída Baía da Guanabara. 

A espécie em questão é a raia-borboleta (Gymnura altavela), animais que podem chegar a 3 metros de envergadura e são classificadas como Criticamente em Risco na Natureza. De acordo com informações do ICMBIO – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, a população dessa espécie sofreu um declínio de 95% na natureza.  

A principal ameaça as raias-borboletas é a prática da pesca de arrastro, técnica que acaba capturando esses animais e outras espécies que não tem valor comercial. Os animais mortos são simplesmente descartados nos mares ou nas praias. 

O refúgio das raias-borboletas fica em plena região central da cidade do Rio de Janeiro, no trecho da Baía da Guanabara entre a cabeceira do Aeroporto Santos Dumont e a Praça XV. A descoberta foi feita pelo biólogo e diretor do IMU – Instituto do Mar Urbano, Ricardo Gomes, que há mais de trinta anos mergulha nessa região. 

O biólogo relata que já fotografou e filmou mais de cem animais nadando juntos nesse trecho em uma única noite. Essa grande concentração de animais dessa espécie fortemente ameaçada vivendo num local marcado pela intensa poluição é um fato que vem surpreendendo os biólogos. 

Um dos pontos com a maior concentração de arraias é a cabeceira do Aeroporto Santos Dumont, onde foi construída uma grande base de pedra dentro da Baía da Guanabara como extensão da pista. Essa estrutura acabou se transformando numa espécie de recife artificial. 

Segundo os pesquisadores, esse trecho abriga outras espécies como garoupas, robalos, sargos-de-beiço, marimbas e moreias, além de espécies ornamentais como os parus e os peixes-frades. Qualquer pessoa que conheça de perto a poluída Baía da Guanabara ficará surpreso com essa informação. 

No total, os pesquisadores já comprovaram a presença de sete espécies de raias (também chamadas de arraias) na Baía da Guanabara, o que a coloca na quinta posição mundial entre as baías com maior diversidade dessas espécies de peixes. E é justamente no trecho da cabeira da pista do aeroporto um dos principais locais de reprodução dessas espécies. 

Os pesquisadores ainda não têm uma explicação para esse fato. Entre outras coisas, podemos supor que a ausência de pescadores praticando pesca de arrastro nesse trecho possa estar favorecendo o refúgio da espécie. A própria poluição das águas da Baía da Guanabara pode estar dando a sua contribuição – espécies que predam esses animais podem estar evitando o local, o que está beneficiando as raias-borboletas. 

A Baía da Guanabara ocupa uma área com aproximadamente 400 km² e acumula um volume de água com cerca de 3 bilhões de m³. A área de influência direta é bem maior e ocupa algo em torno de 4.000 km², onde estão incluídos os maciços e as colinas da Serra do Mar, a Baixada Fluminense, extensas áreas de manguezais e uma rede hidrográfica com aproximadamente 50 rios e córregos que despejam, em média, 200 mil litros de água por segundo na Baía da Guanabara. Nessa conta se inclui o despejo de cerca de 10 mil litros de esgotos por segundo.  

Essa grande região incorpora um total de 16 municípios, sendo que 10 estão totalmente inseridos na bacia hidrográfica (Duque de Caxias, Mesquita, São João de Meriti, Belford Roxo, Nilópolis, São Gonçalo, Magé, Guapimirim, Itaboraí e Tanguá) e 6 de forma parcial (Rio de Janeiro, Niterói, Nova Iguaçu, Cachoeiras de Macacu, Rio Bonito e Petrópolis). Nesta região vive 80% da população do Estado do Rio de Janeiro, estimada em 17 milhões de habitantes de acordo com o IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. 

Em áreas mais urbanizadas das cidades, tubulações de emissários de esgotos se juntam aos cursos naturais, poluindo as águas de forma difusa. Como se já não bastasse toda a poluição lançada por via hídrica, a Bacia da Guanabara também recebe o lançamento diário de dezenas de toneladas de resíduos sólidos dos mais diferentes tipos, que descartados de maneira irregular em ruas, avenidas e em terrenos baldios, acabam carreados para dentro de rios e córregos, alcançando assim as águas da Baía. 

A situação da Baía da Guanabara só não é mais crítica devido ao seu contato com o Oceano Atlântico, que com suas correntes marinhas consegue renovar completamente as águas da Baía a cada duas semanas, Mesmo com toda esta ajuda da natureza, a qualidade das águas na Baía não é das melhores e a maioria das 44 praias é considerada imprópria para banhos. Existem alguns pontos onde a poluição das águas é considerada crítica: a Península do Caju, o Canal do Fundão e o Porto do Rio de Janeiro, além da foz dos rios Irajá, Sarapuí e Iguaçu. O refúgio das raias-borboletas é justamente um desses locais em situação mais crítica. 

Além de toda essa poluição ambiental das águas, os animais correm um outro risco ainda mais grave. Existem diversos estudos para a ampliação da pista do Aeroporto Santos Dumont. O projeto prevê a realização de obras para ampliação da base de pedras localizada nas águas da Baía da Guanabara, justamente o local de reprodução e maior concentração dos espécimes. 

Os impactos diretos dessa obra poderão perturbar dramaticamente o habitat dos animais, além alterar a dinâmica das correntes marítimas nesse trecho da Baía, reduzindo a velocidade de renovação das águas e da circulação de nutrientes. As autoridades ambientais precisarão ficar atentas a todos esses possíveis impactos. 

Apesar da tão sonhada despoluição da Baía da Guanabara não ter saído papel – ela foi prometida para as vésperas dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro em 2016, a descoberta desse refúgio de biodiversidade marinha nós enche de esperança. 

ESTUDO MOSTRA O AUMENTO CONSTANTE DAS TEMPERATURAS E DAS CHUVAS EXTREMAS NO BRASIL NOS ÚLTIMOS 90 ANOS 

Na próxima quarta-feira, dia 23 de março, o INMET – Instituto Nacional de Meteorologia, vai divulgar oficialmente o documento “Normais Climatológicas do Brasil 1991-2020. Esse estudo comprova que, ao longo dos últimos 90 anos, houve um aumento constante das temperaturas no país, além da ocorrência de chuvas cada vez mais extremas. Um resumo do documento foi divulgado hoje pelo Estadão/Broadcast. 

As características climáticas de um local são representadas por normais, que nada mais são que as médias históricas meteorológicas apuradas em longos períodos de tempo. O intervalo considerado nesse estudo compreende o período entre 1° de janeiro de 1991 e 31 de dezembro de 2020, feito em 271 estações meteorológicas do INMET espalhadas por todo o Brasil. 

Esse amplo estudo feito pelo INMET compara os dados obtidos em medições de períodos anteriores: 1931-1961, 1961-1990, 1981-2010 e os mais recentes, de 1991-2020. A comparação entre os dados indica que houve um aumento das temperaturas tanto em grandes cidades quanto em municípios pequenos e médios. Também houve uma alteração do padrão dos períodos mais chuvosos e o crescimento do volume das chuvas em anos mais recentes. 

Os dados analisados deixam claro que houve um aumento gradativo das temperaturas no país nos últimos 90 anos. Esses aumentos se deram tanto nas temperaturas mínimas quanto nas máximas, elevando assim as temperaturas médias em todas as regiões do Brasil. 

Um exemplo das mudanças dessas normais foi observado no município de São Paulo, onde os dados coletados mostram importantes alterações climáticas. Em alguns meses, a população da cidade tem enfrentado temperaturas mínimas até 2,7° C mais altas que o normal. A ocorrência de chuvas com intensidade na ordem dos 80 mm quase duplicou e os eventos com precipitações acima dos 100 mm são mais que três vezes maiores. Esse cenário vem se intensificando na cidade desde a década de 1990. 

Outro exemplo citado é Belo Horizonte: quando se compara as temperaturas médias na cidade entre 1931-1960 e 1991-2020, se observa um aumento de até 1,7° C na temperatura média nos meses de julho e dezembro, de 1,6° C em junho e de 1,5° C nos meses de abril, maio, agosto e outubro. 

Nem mesmo a capital com fama de possuir o clima mais ameno do Brasil escapou do aumento das temperaturas. A temperatura média nos últimos anos em Curitiba no mês de julho, considerado o mês mais frio do ano na cidade, foi de 13,8° C, 0,9° C mais quente do que a média do período entre 1961-1990. Os meses que apresentaram os maiores aumentos de temperatura foram dezembro e abril, com aumentos de temperatura de 1,4° C e 1,3° C, respectivamente. 

Na Região Nordeste, onde ficam algumas das cidades mais quentes do país, os aumentos nas temperaturas também foram uma constante. Em Fortaleza, capital do Estado do Ceará, por exemplo, foram observados aumentos de temperatura em todos os meses do ano, com destaque para os meses de agosto e setembro, onde o aumento médio foi de 1,2° C. 

Essas mudanças também resultaram num aumento dos temporais com volumes acumulados entre 80 e 100 mm. Os pesquisadores também observaram uma mudança no ciclo das chuvas em algumas regiões, com a mudança dos meses com os maiores volumes de chuvas. Combinadas com a alta impermeabilização dos solos urbanos, com os desmatamentos e ocupação irregular de encostas, além da falta de sistemas de drenagem de águas pluviais, essas chuvas aumentaram muito o seu potencial destruidor. 

Chuvas extremas como a que devastou recentemente a cidade de Petrópolis, na Região Serrana do Rio de Janeiro, estão ficando cada vez mais comuns. Na maioria das cidades, especialmente nas grandes, a causa provável dessas mudanças nos padrões das chuvas a nível local é uma combinação dos efeitos das ações humanas e do crescimento da mancha urbana das cidades, o que forma as chamadas “ilhas urbanas de calor”. 

Em Belém e em Porto Alegre, extremos diferentes do país, a situação é semelhante – houve um aumento no número de dias com chuvas acima de 50 mm e 80 mm desde a década de 1960. Em Belém, houve um aumento de 75 para 110 dias com chuvas de 50 mm. Os dias com chuvas acima de 80 mm aumentaram de 15 para 26 dias. As chuvas acima de 100 mm ficaram praticamente estáveis, passando de 8 para 7 dias. 

Em Porto Alegre os dias com chuvas acima de 50 mm aumentaram de 23 para 56 dias quando se compara o período 1961-1970 com o período 1991-2020. As chuvas acima de 80 mm passaram de 5 para 8 dias, e as chuvas acima de 100 mm passaram de 1 para 2 dias no mesmo período. 

Como a cautela é usual entre pesquisadores, o estudo não indica a causa dessas mudanças climáticas, que tanto podem estar associadas a variabilidades naturais, ao aquecimento global ou ainda ao processo de crescimento das cidades. Fatores antrópicos, ou seja, causados pelo próprio homem, podem ter contribuído para essas mudanças. 

Segundo o INMET “os extremos estão superando a resiliência de alguns ecossistemas e sistemas humanos, e desafiando as capacidades de adaptação de outros, incluindo impactos com consequências irreversíveis. Pessoas e sistemas humanos vulneráveis e espécies e ecossistemas sensíveis ao clima estão em maior risco“. 

Esse estudo vem confirmar uma sensação que a maioria de nós brasileiros já tinha – o clima em nossas cidades já não é o mesmo há muito tempo. Essas informações também nos enchem de angustias – o que o futuro está reservando para todos nós? 

Por enquanto, temos uma única certeza: só quem viver, verá! 

ANTÁRTIDA REGISTRA TEMPERATURA 30° C ACIMA DO NORMAL 

Nessa última semana, pesquisadores do Instituto de Geociências Ambientais de Grenoble, na França, observaram que as temperaturas na base antártica francesa de Dumont d`Urville, na costa da Terra de Adélia, atingiram a marca de 4,9° C. Essa temperatura extremamente agradável para os padrões da Antártida é nada menos que 30° C mais quente do se esperaria para essa época do ano. 

Em outra unidade de pesquisa – a base franco-italiana Concórdia, localizada na cúpula C do Planalto Antártico a uma altitude de 3 mil metros, os termômetros marcaram -11,5° C. Essa marca bateu o antigo recorde, registrado em dezembro de 2016, quando a temperatura máxima atingiu –13,7° C. A constatação é óbvia – as temperaturas no grande continente gelado estão aumento mais rápido do que os especialistas imaginavam. 

De acordo com os pesquisadores, as temperaturas na Antártida costumam cair a partir de dezembro, época em que ocorre o solstício de verão. O solstício ocorre quando um dos polos do planeta tem sua inclinação máxima em direção ao sol. Esse evento ocorre duas vezes a cada ano, sendo uma vez no Hemisfério Norte e outra no Hemisfério Sul. 

Cautelosos como sempre, os pesquisadores afirmam que ainda é muito cedo para afirmar que esses picos de altas temperaturas no Continente Antártico estejam ligados diretamente ao aquecimento global e a todas as mudanças climáticas em andamento. Entretanto, para nós “leigos”, é difícil não associar esse evento de altas temperaturas a outros pelo mundo afora. 

No início deste ano publicamos uma postagem aqui no blog onde falamos de uma fortíssima onda de ar quente e seco que se abateu primeiro sobre a Argentina, atingindo depois o Paraguai, o Uruguai e o Sul do Brasil. Na cidade de San Antonio Oeste, na Patagônia argentina, foi registrada a temperatura recorde de 42,8º C.  

Outro evento climático similar ocorreu na cidade de Verkhoyansk, na Sibéria russa, em junho de 2020, quando os termômetros registraram 38° C. Segundo informações do website meteorológico russo Pagoda i Kimat, a cidade vem registrando temperaturas entre 10 e 14° C acima da média nos verões dos últimos anos. Historicamente, as temperaturas máximas no verão siberiano são da ordem de 15° C. 

Estudos recentes indicam que o degelo na Antártida está atualmente com uma velocidade seis vezes maior do que era registrado há 40 anos atrás. Segundo um artigo, publicado na revista científica norte-americana PNAS – Proceedings Of the Academy of Sciences, o derretimento do gelo antártico produziu um aumento do nível do mar de 1,4 centímetro entre 1979 e 2017.  

Isso pode até não parecer muita coisa, mas estamos falando de uma lâmina de água cobrindo toda a extensão dos oceanos do mundo, o que corresponde a cerca de 363 milhões de km². As correntes de água fria da Antártida que correm para os oceanos também estão causando mudanças na direção de correntes marítimas importantes e alterando os padrões climáticos em muitas regiões.  

No outro lado do globo terrestre, no Ártico, a situação também não é nada animadora. Um exemplo dramático do derretimento do manto de gelo é a Groenlândia, ilha autônoma pertencente à Dinamarca. Segundo um estudo publicado na prestigiada revista científica Nature no final de 2020, as três maiores geleiras do país: Jacobshavn Isbrae, Kangerlussuq e Helheim, estão apresentando um rápido derretimento.   

De acordo com as estimativas dos pesquisadores, a Jacobshavn Isbrae perdeu 1,5 trilhão de toneladas de gelo entre 1888 e 2012. Nas geleiras Kangerlussuq e Helheim essa perda de massa, entre os anos de 1900 e 2012, foi estimada em 1,3 trilhão e 3,1 bilhão de toneladas, respectivamente. Entretanto, nem é preciso ser um especialista no assunto para observar o que está acontecendo – existem enormes crateras cheias de água por toda a ilha, um sinal claro do derretimento do manto de gelo. Esse problema se repete por todo o Ártico. 

O derretimento de tamanha quantidade de gelo tem reflexos diretos no nível dos oceanos. As simulações sugerem que por volta do ano de 2060, o derretimento do gelo atingirá um “ponto sem retorno”, onde as perdas de gelo e o aumento do nível dos oceanos se voltará contra o manto de gelo e os penhascos marítimos, aumentando cada vez mais a perda de gelo.   

Se confirmando esse cenário, o aumento do nível dos oceanos até o ano de 2100 chegará a cerca de 150 milímetros. A partir de então, o derretimento das grandes massas de gelo da Antártida representará um aumento de 5 milímetros por ano no nível dos oceanos. Mantido esse cenário, o nível dos oceanos poderá aumentar cerca de 1,5 metro até o ano 2300, um cenário nada animador para as futuras gerações. 

Todas as cidades costeiras do mundo, em maior ou menor intensidade, serão fortemente impactadas pelo aumento do nível dos oceanos. Em planícies costeiras e áreas deltaicas, esses impactos serão enormes. Cito como exemplo a região do Delta do rio Ganges, entre a Índia e Bangladesh, onde vivem mais de 300 milhões de pessoas e é um grande celeiro agrícola. O aumento do nível das águas do Golfo de Bengala poderá desalojar toda essa população e inviabilizar uma importante fonte de produção de alimentos. 

O derretimento de grandes volumes de gelo nas áreas polares e também no alto de grandes cadeias montanhosas também poderá afetar fortemente as correntes marítimas e alterar o regime dos ventos, alterando completamente o regime das chuvas ao redor do mundo. Só para relembrar, toda a água doce disponível no mundo vem da evaporação dos oceanos e depende dos ventos para a sua distribuição ao redor do planeta. 

O calor do sol, que incide sobre os oceanos, cria uma gigantesca massa de vapores de água, com um volume total calculado em 383.000 km³ a cada ano. Esse vapor é espalhado pelos ventos por toda a superfície do planeta e uma parte considerável, cerca de 30%, é precipitada sobre os solos dos continentes e ilhas na forma de chuva, neve e granizo.  

Ou seja –a notícia de mais essa temperatura recorde em uma zona polar é motivo de grandes preocupações. É mais um sintoma de um mal que está afetando toda a “mecânica” climática do nosso planeta e que, mais dia menos dia, vai afetar a vida de todos nós. 

GERAÇÃO DE ENERGIA SOLAR NO BRASIL SUPERA ITAIPU

Em meio aos altos custos da energia devido aos sucessivos aumentos nos preços do petróleo e do gás, enfim surge uma ótima notícia: a geração de energia elétrica em sistemas fotovoltaicos aqui no Brasil acaba de superar produção da usina hidrelétrica de Itaipu. 

De acordo com dados da ANEEL – Agencia Nacional de Energia Elétrica, o país atingiu a marca de 404.733 sistemas fotovoltaicos instalados até dezembro de 2021, superando a produção de 14 GW de energia elétrica, valor equivalente à produção total de Itaipu. Só para lembrar, Itaipu é a segunda maior unidade geradora de hidroeletricidade do mundo (era a maior, mas foi superada recentemente pela Usina Hidrelétrica Três Gargantas da China).

Desde 2012, os investimentos totais em energia solar no país já ultrapassaram o valor de R$ 74,6 bilhões em plantas de grandes usinas. Foram gerados mais de 420 mil empregos no setor. Segundo os especialistas, o volume de energia solar produzido no Brasil é suficiente para abastecer toda a demanda do planeta Terra por 19 horas

Um dos grandes trunfos dos sistemas de energia solar ou fotovoltaica é a sua simplicidade de operação. Um conjunto de placas fotovoltaicas pode ser facilmente montado sobre o telhado de uma casa ou fábrica, convertendo a energia do sol em eletricidade. Essa energia pode ser armazenada em baterias ou pode ser injetada imediatamente na rede elétrica (após passar por circuitos retificadores), alimentando diretamente os equipamentos elétricos.  

Andando pelas ruas e avenidas de uma cidade qualquer, está sendo cada vez mais comum encontrarmos painéis fotovoltaicos instalados sobre os telhados. Além dessa geração descentralizada, a implantação de grandes centrais de geração também é muito mais simples e de menor impacto ambiental do que uma grande usina hidrelétrica. 

A possibilidade da conversão da energia solar em elétrica é uma ideia antiga – em 1877, Wiliam Gryls, um professor de filosofia natural do King’s College de Londres, junto com seu aluno Richard Day, desenvolveram a primeira placa fotovoltaica sólida. Eles aplicaram um filme de selênio sobre um substrato de ferro, onde um fino filme de ouro servia como contato elétrico. Esse painel apresentava uma eficiência de conversão de energia de aproximadamente 0,5%.   

Daqueles tempos pioneiros até os nossos dias, novos materiais passaram a ser desenvolvidos e a eficiência dos painéis fotovoltaicos é cada vez maior, com custos de produção cada vez mais baixos. As grandes estrelas do momento são as pesquisas com painéis construídos com grafeno, que possuem eficiência energética de 42% – os melhores painéis solares atualmente no mercado têm uma eficiência da ordem de 16%. 

Uma das referências mundiais na geração de energia fotovoltaica é a Alemanha. Desde o ano 2000, o Governo do país vem concedendo pesados subsídios para o estímulo da instalação de sistemas fotovoltaicos como uma forma de reduzir a dependência da eletricidade gerada em usinas termelétricas a carvão. Graças a todos esses estímulos, a capacidade de geração fotovoltaica do país já supera a marca dos 40 GW. Graças a sua localização geográfica na faixa tropical do planeta, o Brasil possui uma insolação cerca de 3 vezes maior que a da Alemanha, além de possuir um território 23 vezes maior. 

Já existem diversos Parques Solares em operação aqui no Brasil, que são grandes centrais de geração de energia fotovoltaica. A Região Nordeste vem ocupando uma posição de destaque nessa geração de energia. Veja uma lista com alguns deles:  

Parque Solar São Gonçalo – Piauí: Localizado no município de São Gonçalo do Gurguéia. Inaugurado em 2020, é o maior empreendimento do tipo no Brasil, com uma capacidade de geração de energia de 1,5 GW;  

Parque Solar de Nova Olinda – Piauí: Localizado em Ribeira do Piauí. Esse Parque possui 930 mil painéis solares instalados e ocupa uma área total de 690 hectares. Possui uma capacidade de geração de energia de 292 MW, o que é suficiente para abastecer 300 mil residências;  

Parque Solar Ituverava – Bahia: Em operação desde 2017, fica localizado em Tabocas do Brejo Velho. Possui 850 mil painéis solares em uma área de 579 hectares. A capacidade de geração é de 158 MW, o suficiente para abastecer 166 mil residências;  

Parque Solar de Bom Jesus da Lapa – Bahia: Em operação desde 2017, tem uma capacidade de geração de energia de 158 MW, o suficiente para abastecer 166 mil residências;  

Parque Solar Horizonte – Bahia: Também localizado no município de Tabocas do Brejo Velho. Possui uma capacidade instalada de 103 MW e capacidade para abastecer 108 mil residências. O parque está sendo expandido, com expectativa de atingir a marca de 220 MW.  

Um outro destaque importante é o projeto piloto do Parque Solar flutuante do Lago da Usina Hidrelétrica de Sobradinho, na Bahia, que foi inaugurado em agosto de 2019. Contando inicialmente com 3.792 painéis fotovoltaicos e com uma capacidade instalada de 1 MW, essa iniciativa abre uma nova perspectiva para o aumento da produção de energia elétrica nas usinas hidrelétricas já existentes no país, sem que haja a necessidade de se aumentar as áreas de águas represadas.   

Um dos “segredos” para o forte crescimento do setor de energia elétrica fotovoltaica aqui no Brasil é a sua não dependência de investimentos do setor público – a imensa maioria dos projetos está ligado a grupos da iniciativa privada. Os investidores enxergam a demanda represada de energia, fazem os investimentos e faturam com o fornecimento de energia para a população. Simples assim! 

O atual conflito entre a Rússia e a Ucrânia, que implica em riscos para o fornecimento de gás para importantes países da Europa, mostra mais uma vez a importância de fontes alternativas de geração de energia elétrica que não dependem de insumos externos. 

Também é importante lembrar da recente crise hídrica que enfrentamos aqui no Brasil e que, felizmente, parece ter sido superada. No início do ano passado, com o nível dos reservatórios de grandes hidrelétricas com baixos níveis de água, havia uma perspectiva crise energética, inclusive com riscos de racionamento a exemplo do que ocorreu em 2001 – o famoso “apagão”. 

Em meio a tantos problemas que estamos enfrentando nesses últimos tempos, essa é uma notícia a ser muito comemorada .