OS GIGANTESCOS PROBLEMAS AMBIENTAIS DA AUSTRÁLIA

Dingo australiano

Para falarmos dos problemas ambientais que a Austrália vive nos dias atuais, precisamos voltar no tempo para entender a história geológica do continente e conhecer as razões que levaram ao seu isolamento e surgimento de uma flora e fauna únicas. 

Até cerca de 165 milhões de anos atrás, a América do Sul, a África, a Antártica, a Ilha de Madagascar, a Índia (o famoso subcontinente indiano), a Austrália, a Nova Zelândia, a Nova Caledônia e algumas outras ilhas, formavam um único supercontinente conhecido pelo nome de Gondwana. Foi então que teve início uma série de eventos geológicos de grande magnitude, que levaram a fragmentação dessa grande massa continental e a uma lenta e gradual separação desses blocos de terra, formando à configuração de continentes que conhecemos atualmente. 

Um dos grandes testemunhos desse período de intensa atividade vulcânica aqui no Brasil é o chamado Derrame de Trapp. Entre 137 e 127 milhões de anos atrás, centenas de vulcões entraram em erupção contínua, derramando cerca de 650 mil km³ de lava vulcânica, o que cobriu cerca de 1,2 milhões de km² de solos na região da Bacia Hidrográfica do rio Paraná. Esses derrames de lava também ocorreram na Namíbia e em Angola, na África, territórios que até aquele momento estavam unidos com a atual América do Sul. As famosas “terras roxas”, solos de altíssima fertilidade encontrados nessa região, se formaram a partir da degradação desses derrames vulcânicos. 

A separação dos grandes blocos continentais, que é explicado pela Teoria da Deriva Continental ou Tectônica de Placas proposta por Alfred Wegener em 1912, empurrou gradativamente a Austrália rumo ao Leste, mantendo suas plantas e animais completamente isolados do resto do mundo. Esse isolamento favoreceu a evolução e a especialização dos seres vivos locais para uma vida adaptada ao meio, surgindo assim linhagens e espécies com características únicas, não encontradas em qualquer outro lugar do mundo. Exemplos dessa especialização são os mamíferos marsupiais australianos como os coalas e os cangurus, ou ainda os monotremados, ordem de mamíferos que botam ovos e são representados pelos ornitorrincos e pelas equidnas. 

A primeira grande “invasão” estrangeira no continente Australiano ocorreu há aproximadamente 65 mil anos, quando os primeiros Homo sapiens surgidos no continente africano atingiram as terras austrais, finalizando um processo migratório de dezenas de milhares de quilômetros e de milhares de anos através de toda a Ásia. Muitos estudiosos acreditam que esses primeiros grupos de humanos “invasores” chegaram na Austrália acompanhados de cachorros, que com o tempo passaram a viver em estado selvagem e se transformariam nos ancestrais diretos dos dingos (Canis dingo), os cães selvagens australianos (vide foto). Outras fontes afirmam que esses cães chegaram na Austrália há “apenas” 4 mil anos.  

Os dingos se transformariam nos maiores predadores terrestres da Austrália, alterando completamente a cadeia alimentar entre as espécies nativas do continente e impactando diretamente nas populações de espécies locais, levando muitas a extinção. Um desses animais pode ter sido o tilacino (Thylacinus cynocephalus), mais conhecido como tigre-da-Tasmânia ou lobo-da-Tasmania, o grande predador australiano antes da chegada dos dingos. Os tilacinos, que na verdade eram marsupiais que evoluíram até ficar parecidos com um lobo, foram perdendo espaço na área continental da Austrália, ficando restritos a Ilha da Tasmânia. Perseguidos pelos criadores de ovelhas, que os acusavam de caçar seus animais, os tilacinos da Tasmania foram completamente extintos em meados do século XX. 

A grande invasão moderna da Austrália, porém, teve início a partir do ano de 1770, quando o HMS Endeavour, um navio de pesquisas da Marinha Real Britânica sob o comando de James Cook, atingiu a costa Leste do continente. Seguindo as pegadas dos perplexos tripulantes, maravilhados com a fauna e flora exclusivas desse “novo mundo”, centenas de ratos que se escondiam nos porões do Endeavour também começaram a fazer seu próprio desembarque. 

As principais espécies de ratos “domesticados” pela humanidade – o rato cinza (Rattus rattus), o rato preto (Rattus norvegicus) e o camundongo (Mus musculus), vem acompanhando nossos passos há milhares de anos. Esses animais aprenderam a viver próximos de acampamentos e cidades, onde sabiam que poderiam encontrar alimentos com muita facilidade. Com o início da Era das Navegações a partir do século XIV, ratos clandestinos em navios foram espalhados pelos quatro cantos do mundo. 

Ratos são animais inteligentes, onívoros e facilmente adaptáveis a novos ambientes. Logo após sua chegada ao continente australiano, os ratos descobriram inúmeras espécies de aves indefesas e seus ninhos construídos sobre os solos – filhotes de aves e ovos passaram a constituir a dieta principal dos ratos, enquanto avançavam pelo novo território e passavam a ocupar os grandes nichos ecológicos da “grande ilha”. 

A segunda grande frente invasora dos tempos modernos em terras da Austrália teve início com a chegada das primeiras levas de imigrantes, onde muitos eram presidiários transferidos para as distantes terras do Pacífico Sul. Eram aqueles os difíceis anos do início do século XIX, época em que as grandes cidades do Reino Unido sofriam com a superpopulação. Os novos territórios deste lado do mundo – Austrália, Nova Zelândia, Nova Caledônia e Nova Guiné, entre outros, se apresentavam com uma grande oportunidade para a “desova” desses excedentes populacionais e uso dessa mão de obra barata (para não dizer quase gratuíta”), na formação de colonias produtoras de gêneros exportáveis.

Na bagagem desses colonizadores vieram cavalos, bovinos, carneiros, porcos, galinhas, patos, coelhos, gatos, cachorros, entre outros animais domésticos criados pelos europeus desde os tempos imemoriais. Para se sentirem menos melancólicos nessas terras distantes, muitos colonos de origem nobre se preocuparam em trazer raposas selvagens entre seus itens pessoais, o que lhes permitiria realizar as tradicionais “caçadas” inglesas junto com os novos amigos da Austrália. 

Além de dezenas de espécies de animais domésticos de origem europeia, os ingleses também se “preocuparam” em introduzir algumas espécies de origem asiática e africana, onde são destaques algumas espécies de búfalos, uma fonte alternativa para a produção de carne em regiões pantanosas da Austrália, e os dromedários, uma opção para o transporte de tropas militares através das terras desérticas do centro do continente. 

Além de dezenas de espécies animais, os colonizadores ingleses também introduziram uma infinidade de espécies vegetais nessas “novas terras”, indo das insubstituíveis batatas “inglesas” às árvores frutíferas das mais diferentes espécies, árvores produtoras de madeira de lei como o icônico carvalho inglês e outras simplestemente decorativas para seus famosos jardins. Também se preocuparam em trazer espécies vegetais de grande valor comercial para exportação como o algodão, o tabaco e a cana-de-açúcar. Essas novas espécies passaram a ocupar grandes extensões de terras, especialmente em áreas do Leste, Sul e Sudeste do continente. Grandes áreas “inúteis” de florestas de eucalipto nativas da Austrália passaram a ser derrubadas e queimadas, abrindo espaços para a produção de gêneros de grande valor comercial. 

Toda essa somatória de alterações na flora e fauna da Austrália não tardariam a gerar graves consequências e desequilíbrios no meio ambiente. Trataremos disso na próxima postagem.

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