
Fortes ondas de calor estão castigando diversos países europeus ao longo das últimas semanas. Todos os dias recebemos notícias de grandes incêndios florestais, recordes de altas temperaturas ou ainda ficamos sabendo de vítimas fatais do forte calor. Temperaturas acima dos 40° C viraram rotina em grande parte da Europa.
A situação da Europa não é um caso isolado – na América do Norte e em partes da Ásia o clima também não tem dado trégua. Mesmo aqui no Brasil estamos assistindo a importantes mudanças nos padrões climáticos – estamos chegando ao final do mês de julho, período de pico do inverno na Região Centro-Sul do país, e, até agora, não sentimos grandes ondas de frio por aqui.
E o que está por trás de tudo isso?
Estamos vivendo em tempos de mudanças climáticas decorrentes do aquecimento global que nós, seres humanos, construímos pacientemente ao longo dos últimos 250 anos (para falar o mínimo). Desde meados do século XVIII, quando teve início a chamada Revolução Industrial, os países industrializados vêm emitindo volumes crescentes de GEE – Gases de Efeito Estufa. Essas ondas de forte calor são um dos resultados de todo esse “esforço”.
Todo esse conjunto de mudanças nos padrões climáticos já estão provocando fortes mudanças no comportamento de muita gente e muito mais mudanças deverão ocorrer nos próximos anos. Cada vez mais estamos buscando fontes de energia renováveis, carros elétricos ganharam a preferência dos consumidores e muitos dos nossos hábitos de consumo estão sendo mudados.
A pergunta que não quer calar – será que ainda teremos tempo de reduzir o ritmo do aquecimento global e de toda uma série de catástrofes ambientais que parecem descortinar no horizonte?
Sem querer bancar algum futurólogo do caos, recomendo que olhemos para o nosso passado aqui no continente americano, mais especificamente para a América Central. Essa região viu florescer grandes civilizações que, em muitos aspectos, foram até mais adiantadas que outras na Europa, Ásia e África ao seu tempo. Um dos casos mais intrigantes foram os maias.
As chamadas Civilizações Mesoamericanas começaram a desabrochar entre os anos 2000 e 1000 a.C, quando indígenas de diversos grupos começaram a abandonar as áreas rurais e passaram a viver em cidades. Um dos casos mais significativos foram os Olmecas, povo cuja civilização atingiu seu clímax entre os anos 1500 e 1000 a.C.
A cultura Olmeca é considerada a civilização matriz da América Central. Foram os Olmecas os primeiros a construir grandes cidades de pedra na região. Também desenvolveram importantes técnicas agrícolas e criaram um sistema de comércio apurado, o que ampliou muito a sua área de influência. Também foram os Olmecas que lançaram as bases da religião que influenciaria todos os povos que floresceriam futuramente nessa região.
Os maias foram um dos muitos “herdeiros” da cultura Olmeca. Sua civilização atingiu o ápice entre os anos 250 e 800 de nossa era, em um território que se estendia entre o Sul do México e a Guatemala, além de ocupar porções de El Salvador, Belize e Honduras. Entre suas principais cidades destacam-se Palenque, Tikal, Calakmul, além da cidade de Chichén Itzá (vide foto) onde os pesquisadores encontraram elementos culturais dos maias e dos toltecas, outra grande civilização da região.
Quando os primeiros conquistadores espanhóis desembarcaram no litoral do México em 1517, eles ficaram fascinados com as ruínas das fabulosas cidades maia da Península de Yucatán, que àquela altura já estavam abandonadas há cerca de 500 anos. Desde então os pesquisadores e historiadores vem tentando entender o que aconteceu com a civilização Maia.
Várias pesquisas realizadas ao longo das últimas décadas lançaram importantes luzes na história perdida dos maias. Existiam diversas hipóteses para o fim dessa grande civilização: colapso de rotas comerciais, invasão e conquista por outros povos, guerra civil, secas, entre outras. Os mais recentes estudos confirmaram uma dessas hipóteses: a região sofreu com longas e fortes secas, o que levou ao abandono sistemático das grandes cidades.
Estudos conduzidos por pesquisadores norte-americanos e ingleses reuniram registros climáticos descobertos ao longo de muitos anos, o que permitiu construir um quadro ambiental completo de toda a região de influência da civilização maia. Esse quadro mostrou que toda a região Sul do Império Maia nos atuais territórios da Guatemala e de Belize foi castigada por uma severa seca no século IX.
As evidências arqueológicas mostram que as grandes cidades dessa região passaram a perder população gradativamente nesse período. Curiosamente, enquanto as cidades maias do Sul agonizavam, as do Norte do Império floresciam como é o caso de Chichén Itzá que ressurgiu nesse período.
Mas isso não é tudo. As mesmas evidências climáticas mostraram que houve um segundo período de seca muito forte na região Norte do Império Maia entre os anos 1.020 e 1.100 de nossa área, período em que se observa uma nítida redução da produção de peças cerâmicas e de outros artefatos nas cidades, além de uma redução gradativa das populações.
O Império Maia era formado por grandes cidades-estados independentes, cada uma delas dirigida por um rei e por uma classe de sacerdotes. Nessas cidades viviam centenas de milhares de habitantes que dependiam sobretudo da cultura do milho para sobreviver. Grandes extensões da floresta tropical centro-americana foram derrubadas para garantir o sustento de toda essa população.
Além da grande devastação ambiental das florestas, o que por si só já causaria enormes problemas para agricultura, todo o território maia foi assolado por mudanças climáticas regionais que resultaram na maior seca na região em 2 mil anos. Essa seca começou na parte Sul do Território e depois se expandiu para o Norte.
Sem contar com soluções técnicas que permitissem conviver com a forte seca – falo aqui de sistemas de irrigação agrícola, represas e sistemas de canais para o transporte de água a longas distancias, as cidades maias colapsaram. As populações abandonaram as cidades e passaram a viver em pequenas aldeias espalhadas por toda a América Central. Muitos desses grupos maias existem até os dias de hoje.
Se mudanças climáticas regionais foram as responsáveis pela destruição de uma das mais impressionantes civilizações Mesoamericanas há cerca de mil anos, as mudanças climáticas que estão assolando diversas partes do mundo atualmente não teriam potencial de fazer a mesma coisa?
Será que países e povos acostumados a climas temperados como a maior parte dos europeus vão conseguir se adaptar a temperaturas de verão próximas dos 50° C como estamos vivendo hoje?
Desgraçadamente, essas são incômodas perguntas que vamos precisar responder daqui para a frente
[…] MUDANÇAS CLIMÁTICAS FORAM AS PROVÁVEIS RESPONSÁVEIS PELO FIM DA CIVILIZAÇÃO MAIA […]
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