FALANDO DE UM TAL DE CARBONO

Todos os combustíveis fósseis têm uma característica comum – sua composição é rica em hidrocarbonetos, um elemento formado pela combinação de átomos de carbono e de hidrogênio. São esses elementos que garantem uma alta concentração de energia, energia essa que é liberada pela queima dos combustíveis fósseis. 

Para entendermos como foi o processo de formação do petróleo e do carvão mineral, os dois principais combustíveis fósseis (lembro aqui que o petróleo passa por um processo de partição nas refinarias e gera diferentes derivados como a gasolina, o óleo diesel e a querosene, entre muitos outros), precisamos falar um pouco sobre o carbono e seu ciclo biológico. 

O carbono é classificado como o 15º elemento químico mais abundante no planeta Terra e o 4º elemento mais abundante do universo, só ficando atrás do hidrogênio, do hélio e do oxigênio. Ele é um elemento fundamental para a formação de células vivas e está presente em todas as formas de vida. Para que todos tenham uma ideia da importância desse elemento – cerca de 18,5% da nossa massa corporal é formada por carbono.  

Logo, não é de se estranhar que o petróleo foi formado há milhões de anos atrás a partir do acúmulo de restos de matéria orgânica – animal e vegetal, em bacias sedimentares. Essa massa orgânica foi encoberta por diferentes processos geológicos e, com a combinação de pressão e temperatura se transformou no petróleo que conhecemos hoje. 

Esse carbono passa a fazer parte dos organismos vivos através de um processo conhecido como ciclo biológico do carbono. Esse ciclo começa com a absorção do carbono presente na atmosfera na forma de gás – o dióxido de carbono (CO2). Esse carbono é fixado na matéria viva das plantas através da fotossíntese. 

Uma área de floresta com 1 hectare, o equivalente a 10 mil m2, absorve cerca de 3,1 toneladas de carbono da atmosfera a cada ano. Durante o processo da fotosíntese, as plantas retêm as moléculas de carbono e liberam o oxigênio na atmosfera. Uma árvore adulta de médio porte, citando um exemplo, libera um volume de 120 kg de oxigênio a cada ano, o que nos dá uma ideia da importância de manter as florestas em pé. 

Nas plantas, o carbono passa a fazer parte das células das folhas, dos frutos e da estrutura da planta – galhos, troncos e raízes. Animais herbívoros se alimentam dessas partes da planta e abosrvem o carbono – predados por animais carnívoros, esse carbono passa a fazer parte do corpo do animal predador. 

O ciclo biológico do carbono se encerra com a morte das plantas e dos animais, momento em que o elemento volta para o meio ambiente e reinicia seu ciclo. De uma forma bastante resumida, essa é a “vida e a obra do carbono”. 

Como fica bem fácil de observar, uma floresta é, basicamente, um grande reservatório de carbono, especialmente quando observamos os troncos das grandes árvores – são toneladas de carbono armazenados no tronco de cada uma das árvores. 

No processo de formação do carvão vegetal, que tratamos em uma postagem anterior, grandes extensões de florestas foram soterradas num passado remoto e seus troncos passaram por transformações químicas, acumulando mais carbono e nitrogênio. 

Para especularmos sobre as formas como isso aconteceu, vamos imaginar que um grande terremoto atingiu uma extensa área de floresta e derrubou milhares de árvore num passado bastante remoto. Os troncos caídos no chão da floresta foram gradualmente sendo soterrados por sedimentos arrastados por sucessivas enchentes. 

Novas árvores nasceram nessa floresta com o passar dos séculos e diferentes eventos como outros terremotos, vendavais, temporais ou mesmo incêndios florestais se encarregaram de derrubar mais árvores, cujos troncos também foram soterrados por sucessivas enchentes. 

Passados dezenas e mais dezenas de milhões de anos, toda essa grande massa de matéria vegetal soterrada se transformou em uma grande jazida de carvão mineral. O grande reservatório de carbono que estava armazenado nas árvores agora se apresenta na forma de carvão. 

Com o petróleo a história não é muito diferente – restos de plantas e de animais mortos foram arrastados pelas chuvas para bacias sedimentares, onde foram encobertos por sedimentos. Esse é um processo que foi sendo repetido inúmeras vezes com o passar dos séculos e resultou na formação de jazidas com um óleo denso e rico em hidrocarbonetos. 

E o que acontece quando queimamos carvão mineral ou petróleo e seus derivados? 

Todo esse carbono acumulado ao longo de dezenas de milhões de anos acaba sendo liberado na atmosfera na forma de dióxido de carbono. Aqui existe um agravante – como a humanidade vem devastando as florestas ao longo da história, existem cada vez menos árvores para absorver esse carbono e os seus níveis na atmosfera não param de crescer. 

Uma das consequências disso é o aumento do efeito estufa, um mecanismo natural da atmosfera que permite a retenção de uma parte do calor gerado pelo sol. Esse calor retido vem mantendo as temperaturas do planeta confortáveis, evitando grandes variações entre o dia e a noite e mantendo as temperaturas em níveis adequados a existência da vida há milhões de anos. 

Um exemplo bastante didático – a lua, o satélite natural de nosso planeta não possui uma atmosfera e, consequentemente, não possui o efeito estufa. Durante o dia, a maior parte da superfície da lua apresenta temperaturas que chegam aos 214° C – durante a noite, as temperaturas caem a valores de até -96° C.

O aumento da concentração de gases de efeito estufa, como o carbono, na atmosfera da Terra está provocando uma elevação das temperaturas globais. Desde o início da Revolução Industrial em meados do século XVIII, as temperaturas médias de nosso planeta subiram cerca de 1,1° C e continuam aumentando.

Moral da história – é esse “tal” de carbono presente nos combustíveis de origem fóssil que é um dos grandes vilões da crise climática global vivida pelo nosso planeta. É por isso que está acontecendo uma verdadeira corrida entre a maioria dos países na busca de fontes energéticas sustentáveis e livres de carbono. 

De uma forma bastante simplificada tentamos mostrar o quão danosos são os combustíveis fósseis, que muita gente ainda imagina que são combustíveis sustentáveis.

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O PROBLEMÁTICO TRANSPORTE DO PETRÓLEO E SEUS DERIVADOS PELOS MARES E OCEANOS

O petróleo é um óleo denso de origem fóssil com ampla utilização em todo o mundo. Rico em hidrocarbonetos, moléculas formadas pela associação de hidrogênio e carbono, o petróleo e toda sua imensa cadeia de combustíveis derivados – óleo diesel, querosene, gasolina, óleo combustível, gás liquefeito de petróleo (GLP), entre muitos outros, liberam grandes quantidades de energia durante a queima. 

Esse potencial energético tornou esses combustíveis amplamente utilizados em todo o mundo, alimentando motores de carros, caminhões, motocicletas, aviões, embarcações, geradores elétricos e locomotivas, entre muitos outros. Junto com o carvão mineral, o petróleo e seus derivados são os combustíveis que movimentam o nosso mundo.

Os gases resultantes da queima dos combustíveis derivados de petróleo e do carvão são ricos em carbono, mais especificamente o dióxido de carbono (CO2), um dos gases que mais contribuem para o aumento do efeito estufa na atmosfera e, consequentemente, com o aumento das temperaturas globais. 

Os problemas associados ao petróleo e seus derivados começam muito antes da sua queima nos mais diferentes tipos de motores de combustão interna. Conforme comentamos na postagem anterior, esses problemas começam nos processos de extração e de transporte do óleo para as refinarias. 

Navios petroleiros, que são embarcações construídas especialmente para o transporte de grandes quantidades de petróleo e derivados a longas distâncias, estão entre as maiores máquinas já construídas pela humanidade. Transportar produtos altamente inflamáveis é sempre um grande risco e acidentes com essas embarcações são relativamente frequentes, muitos deles gravíssimos. 

Quem têm mais de quarenta anos deve se lembrar do gravíssimo acidente com o navio petroleiro Exxon Valdez em 1989. Após ser carregado com petróleo e sair do Porto de Valdez, que fica no Sul do Estado americano do Alasca, o navio Exxon Valdez colidiu com rochas subterrâneas na Enseada do Príncipe Guilherme, no Golfo do Alasca. O acidente abriu um grande rasgo no casco da embarcação, através do qual vazaram entre 257 mil e 759 mil barris de petróleo. Uma gigantesca mancha de óleo atingiu as costas da região, provocando o maior desastre ambiental por derramamento de petróleo até então. 

Segundo os relatórios da época, o capitão do navio, Joseph Hazelwood, abandonou o comando da embarcação logo após a saída do porto e foi para a sua cabine preencher “alguns documentos” – as investigações demonstraram que os tais “documentos” eram na verdade uma garrafa de whisky. O comando da embarcação de 330 metros de comprimento foi deixado sob a responsabilidade de um tripulante com pouca experiência.   

A grande mancha de óleo criada pelo acidente foi espalhada pelas fortes correntes oceânicas através de mais de 750 km, afetando aproximadamente 2 mil km da costa irregular do Sul do Alasca. Algumas das praias atingidas ficaram cobertas com uma grossa camada de piche com até 90 cm de espessura.  

A empresa Exxon, uma das maiores companhias petrolíferas do mundo e dona da embarcação, foi obrigada a mobilizar um verdadeiro exército para a contenção do vazamento e limpeza ambiental. Foram 11 mil homens, 1.400 embarcações, 85 aviões e milhares de máquinas e equipamentos para uso na sucção do óleo e lavagem de rochas. Os trabalhos se estenderiam até 1992, com um custo total na casa de US$ 2 bilhões. 

Outro gravíssimo acidente com esse tipo de embarcação aconteceu em 1978, ao largo da costa da Bretanha, no Noroeste da França. O Cadiz era um superpetroleiro da classe VLCC – Very Large Crude Carrier, ou Transportador de Óleo Muito Grande, de propriedade da Amoco, uma empresa petrolífera norte-americana. A embarcação tinha um comprimento total de 334 metros e capacidade para transportar cerca de 270 mil toneladas de petróleo bruto. 

Em sua última viagem, o Amoco Cadiz estava transportando uma carga de petróleo iraniano embarcado no Golfo Pérsico e seguia na direção de uma refinaria na Europa. Na manhã do dia 16 de março, enquanto a embarcação enfrentava uma forte tempestade ao largo da costa da França, ela foi atingida por uma onda gigantesca. 

O impacto da onda no casco danificou o sistema do leme, deixando o navio à deriva. Um navio rebocador foi enviado em auxílio ao Amoco Cadiz, porém, devido às más condições do mar, não foi possível realizar qualquer tipo de manobra ou operação. O superpetroleiro encalhou num afloramento rochoso localizado a 3 milhas da costa, próximo do pequeno porto de Portsall.   

O grave acidente acabou transformado numa gigantesca tragédia no dia seguinte – atingindo continuamente por fortes ondas, o casco do Amoco Cadiz foi partido ao meio (vide foto), liberando a maior parte de sua carga de petróleo nas águas do Atlântico Norte. Uma grande mancha de óleo foi espalhada ao longo de 1.300 km, atingindo toda a costa Oeste da França e também praias do Nordeste da Espanha.  

Se qualquer um dos leitores começar a pesquisar na internet encontrará dezenas de outros acidentes menores e menos graves com navios petroleiros. A grande maioria desses acidentes ocorre por falhas na transferência do petróleo e/ou de seus derivados dos navios para os terminais de carga e descarga. Também são frequentes acidentes na transferência do óleo extraído em plataformas marítimas para os navios. 

Eu lembro bem de uma declaração de Jacques-Yves Cousteau, o grande explorador e cinegrafista dos oceanos, onde afirmava que todos os oceanos e mares do mundo estavam cobertos com uma finíssima camada de óleo, resultante de todos esses vazamentos de petróleo. Essa declaração foi dada no final de década de 1970 – muita coisa piorou depois de tantos anos. 

Ao contrário do que afirmam muitos “ecologistas”, artistas e famosos que se dizem defensores de florestas tropicais como a Amazônia, os grandes pulmões de nosso planeta são os oceanos, que respondem por mais da metade de todo o oxigênio produzido e lançado na atmosfera. Dependendo da fonte consultada, essa produção fica entre 50% e 80% de todo o oxigênio existente na atmosfera do planeta. 

Só por esse “pequeno” detalhe, precisamos prestar mais atenção em todos os problemas ligados ao transporte de petróleo por mares e oceanos de todo o mundo. Nós podemos viver sem os combustíveis, porém, sem o oxigênio, a vida fica impossível! 

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OS GRANDES PROBLEMAS AMBIENTAIS CRIADOS PELA EXPLORAÇÃO E TRANSPORTE DO PETRÓLEO 

O petróleo é um óleo denso e extremamente rico em hidrocarbonetos, substâncias formadas por átomos de carbono e hidrogênio, contendo em menores quantidades oxigênio, nitrogênio, sais e metais. É um elemento que foi formado ao longo de dezenas de milhões de anos a partir de restos fósseis de plantas e animais soterrados por diferentes processos geológicos. 

O petróleo é, indubitavelmente, uma das fontes de energia mais importantes da humanidade. Gasolina, óleo diesel, querosene de aviação e óleo combustível movimentam carros, motocicletas, caminhões, aviões, navios, geradores de usinas termelétricas, entre muitos outros equipamentos.  

Subprodutos do refino ou partição do petróleo também estão por todos os lados na forma de plásticos, fios sintéticos de roupas, produtos de limpeza, fertilizantes, defensivos agrícolas, inseticidas caseiros, materiais de construção civil, borrachas e pneus e até mesmo em produtos usados na alimentação humana.  

Mas, se os combustíveis e demais derivados de petróleo são tão importantes para o nosso dia a dia, eles também estão entre as maiores fontes de poluição do planeta: todos os dias, milhões de toneladas de gases liberados pela queima de combustíveis fósseis gerados a partir do petróleo são lançados na atmosfera, causando toda uma série de problemas que vão de doenças respiratórias à mudanças no padrão climático do planeta.  

Além da poluição atmosférica, o petróleo também se faz presente na forma de resíduos como os plásticos dos mais diferentes tipos, que entulham aterros sanitários, rios e mares, em quantidades cada vez maiores. Esse é um tema sobre o qual já falamos em inúmeras postagens aqui do blog

Os problemas da indústria do petróleo começam já na fase de prospecção e perfuração dos poços, quando os mais diferentes tipos de ecossistemas, que vão das areias dos desertos à tundra do Ártico, das florestas tropicais ao fundo do oceano, passam a ficar expostos a vazamentos acidentais de óleo.  

Esses problemas aumentam durante as fases de transporte, quando grandes volumes de óleo cru são levados para as refinarias localizadas nos mais diferentes pontos do planeta. Grandes volumes de óleo são bombeados sob pressão em oleodutos com centenas de quilômetros de extensão, ou ainda armazenados em tanques de navios petroleiros cada vez maiores: basta uma falha na solda de uma tubulação ou um erro nos procedimentos de operação de um navio para que milhares de toneladas de óleo vazem e poluam grande áreas e/ou superfícies de águas.  

O processamento e o refino do petróleo também são problemáticos: grandes volumes de combustíveis precisam ser queimados para gerar a energia necessária aos diferentes processos de refino, liberando grandes quantidades de gases poluentes na atmosfera. Essas plantas industriais também são problemáticas quando se fala em segurança – são gigantescos volumes de líquidos e gases inflamáveis de todos os tipos que, a qualquer falha, podem criar explosões e incêndios catastróficos.   

Um caso dramático e ainda vivo na memória de muita gente foi o incêndio na Vila Socó, em Cubatão, no início de 1984 – mais de 700 mil litros de gasolina vazaram de um duto da Refinaria Arthur Bernardes da Petrobrás, provocando um trágico incêndio numa grande comunidade que ocupou o terreno por onde passavam as tubulações da empresa. De acordo com dados da época, devidamente censurados pelos Governantes Militares que mandavam no país, foram 93 mortos na tragédia. Reaberto em 2014, o caso agora trata do desparecimento de mais de 500 pessoas da comunidade nesse acidente.  

Além dos acidentes nas operações de processamento e refino do petróleo, as instalações das refinarias podem ser tomadas como alvo em conflitos militares e em ataques terroristas. Em setembro de 2019, um ataque terrorista ao complexo petrolífero de Abqaiq, na Arábia Saudita, provocou uma redução de 5% na produção mundial de petróleo e um aumento de 20% no preço do produto.  

Considerada a maior instalação do tipo no mundo, Abqaiq foi atingida por um grande ataque de mísseis e drones, o que destruiu parte das suas instalações e levou a uma paralização total de suas atividades. A tensão geopolítica da região, onde ficam alguns dos mais importantes centros de produção e exportação de petróleo, subiu a níveis muito mais altos que o normal.  

Aqui na América do Sul, a disputa pelo petróleo também é um grande causador de problemas. No início de 1995, o Peru e o Equador entraram em guerra por causa da disputa pelo controle da Região de El Condor, famosa por suas grandes reservas de petróleo. A nossa problemática vizinha Venezuela é outra espécie de “refém” da exploração do óleo. Dona das maiores reservas petrolíferas confirmadas do mundo, a Venezuela construiu toda a sua economia com base na exploração, produção e exportações da indústria petrolífera.   

Durante várias décadas, o país foi um exemplo de riqueza e alto padrão de vida para os seus pobres vizinhos sul-americanos. Com a ascensão do Bolivarianismo ao poder, uma espécie de socialismo latino-americano piorado, na década de 1990, o país começou a retroceder econômica e socialmente ao estilo “ladeira abaixo”.  

A incompetência generalizada na gestão das atividades petrolíferas do país, associadas à corrupção e aos desmandos de uma ditadura “eleita democraticamente”, levaram ao desmantelamento e sucateamento das atividades petrolíferas na Venezuela. Em outubro de 2019, manchas de óleo passaram a ser encontradas em praias de todo o Nordeste (vide foto)– testes de laboratório identificaram que esse óleo era de origem venezuelana.  

Sofrendo com um forte embargo econômico imposto pelos Estados Unidos por causa do processo eleitoral considerado fraudulento e da intensa repressão aos opositores do regime, a Venezuela tem se valido de inúmeros descaminhos para vender seu petróleo no “mercado negro”. De acordo com as últimas descobertas feitas pelos investigadores brasileiros, a origem do derramamento de óleo foi um navio petroleiro de bandeira grega, que foi abastecido com uma grande quantidade de petróleo ilegal na Venezuela e que, supostamente, estava se dirigindo para o extremo oriente.  

Ao que tudo indica, esse navio fez o transbordo do petróleo para outro navio em alto mar (o que é chamado nos meios navais de operações ship-to-ship), quando houve uma falha na operação e um grande volume de óleo foi lançado nas águas. Imagens recuperadas de satélites do final de julho mostram uma grande mancha de petróleo com cerca de 200 km de extensão sobre o Oceano Atlântico, a uma distância de 700 km da costa do Nordeste. As correntes marítimas que correm em direção ao litoral brasileiro se encarregaram de espalhar todo esse óleo ao longo de 2 mil km do nosso litoral.  

Foram essas imagens que permitiram às autoridades brasileiras identificar o navio responsável pelo acidente. Até o final do mês de outubro daquele, haviam sido identificadas manchas de petróleo em 94 municípios, afetando um total de 264 localidades. Passados mais de três anos desde a descoberta das primeiras manchas de óleo, ninguém ainda foi formalmente acusado e processado na justiça. 

Continuaremos na próxima postagem. 

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O PETRÓLEO E SUAS MIL E UMA UTILIDADES, OU AINDA FALANDO DOS COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS

O petróleo e seus derivados ocupam as primeiras posições entre os combustíveis fósseis mais utilizados do mundo. Essa popularidade está ligada diretamente ao uso de gasolina e óleo diesel em veículos automotores como carros, caminhões, motocicletas e locomotivas, de óleo combustível em navios, além do querosene usado em aviões. São esses veículos que movimentam, literalmente, o mundo. 

Além do uso como matéria prima para combustíveis, o petróleo também produz uma infinidade de derivados usados na produção de plásticos, produtos de limpeza, lubrificantes, pneus e borrachas, tintas, fios sintéticos para tecelagem, fertilizantes, produtos químicos, produtos para a construção civil, entre inúmeros outros produtos e aplicações. Também é preciso falar do importante GLP – Gás Liquefeito de Petróleo. 

O petróleo se formou a partir do acúmulo de restos de matéria orgânica em bacias sedimentares. Esse material sofreu soterramento por diferentes processos geológicos e, ao longo de dezenas de milhões de anos, se transformou em um óleo denso e rico em hidrocarbonetos, um composto rico em carbono e hidrogênio, além de pequenas quantidades de oxigênio, nitrogênio, sais e metais. 

Há quem afirme que o petróleo tem mil e uma utilidades – é bem provável que essas utilidades sejam bem maiores que isso atualmente. Como todo combustível fóssil, o petróleo e todos os seus derivados são altamente poluentes para o meio ambiente – destaque especial para a poluição atmosférica. Também é um recurso natural finito. 

Há registros do uso de petróleo desde a mais remota antiguidade. Um dos usos mais comuns era o do betume, um impermeabilizante usado em cesto, embarcações e telhados de residências. O óleo também era usado como combustível em lamparinas e tochas. Em muitas campanhas militares, grandes tochas incandescentes a base de petróleo eram lançadas por catapultas contra as tropas inimigas. 

A grande explosão no consumo de derivados de petróleo ocorreu em meados do século XIX, quando foram desenvolvidos os primeiros processos para o fracionamento do petróleo. Um dos primeiros derivados de petróleo a entrar no mercado foi o querosene, produto que começou a ser produzido em escala industrial nos Estados Unidos em 1859. 

Essa produção pioneira foi uma consequência direta da descoberta de petróleo em Tutsville, no Estado da Pensilvânia por Edwin Drake. Após a descoberta, Drake construiu uma pequena refinaria onde passou a produzir querosene. O produto era usado para iluminação de residências, comércios e vias públicas e conquistou rapidamente o gosto popular. 

O segundo grande salto no uso de derivados ocorreu no início do século XX com a popularização cada vez maior dos automóveis e outros veículos que utilizavam motores a combustão interna. Outros derivados de petróleo como o óleo diesel e o óleo combustível passaram a substituir o uso de carvão mineral em locomotivas e navios. 

A indústria automobilística também acabou criando uma forte demanda por produtos de borracha sintética, especialmente na forma de pneus e mangueiras. Até o início da Primeira Guerra Mundial, esses produtos eram produzidos a partir do látex extraído das seringueiras, primeiro na Floresta Amazônica e depois em plantios comerciais no Sudeste Asiático

O fim monopólio do látex para a produção da borracha começou em 1909, quando o químico alemão Fritz Hofmann criou uma borracha sintética formada a partir de derivados de petróleo que imitava o produto natural. Esse processo de produção foi grandemente aperfeiçoado ao longo da década de 1920. 

Outra grande demanda para o uso dos derivados de petróleo surgiu com a produção dos diferentes tipos de plásticos. Os primeiros experimentos datam da década de 1860, quando o inventor inglês Alexander Parkes iniciou seus estudos com o nitrato de celulosa, um material sólido bastante flexível, resistente a água, de cor opaca e com boa aderência para a pintura com tinta – esse material ganhou o nome de parquesine e é considerada a primeira matéria plástica a ser criada. 

Na década de 1870, após sucessivos aperfeiçoamentos, surgiu a celuloide, a primeira versão comercial do plástico, utilizado inicialmente pelos dentistas na fabricação de próteses dentárias e pelos fabricantes de bolas de bilhar, que buscavam uma alternativa ao caro marfim animal. O celuloide ganhou fama mundial com o surgimento do cinema, quando os rolos dos filmes eram fabricados com esse material. 

Em 1909 surgiu a baquelite, o primeiro polímero sintético com alto grau de dureza, resistência ao calor e ótimo isolamento elétrico, com larga aplicação na confecção de produtos elétricos e de telefonia, discos, e mais tarde na fabricação das caixas dos rádios, popularizados a partir da década de 1920. 

Na década de 1930 surgiu a poliamida, conhecida comercialmente como nylon, usada intensamente durante a II Guerra Mundial (1939-1945) na fabricação de paraquedas, equipamento novo e decisivo em muitas batalhas. O esforço industrial mundial durante esse conflito levou à criação de toda uma gama de polímeros como o drácon, o isopor, o vinil, o polietileno e o poliestireno.  

Após o término da Guerra em 1945, os diferentes tipos de plásticos passaram a fazer parte do cotidiano do homem moderno, utilizado na fabricação de todos os tipos de produtos, utensílios e embalagens. Foi a partir desse momento que plásticos ganharam os mercados e os aterros sanitários de todo o mundo. 

Como fica bastante fácil de observar no texto, o petróleo e toda a sua grande gama de derivados foi ganhando um espaço cada vez maior no nosso cotidiano, chegando a um ponto em que é difícil pensar como seriam as nossas vidas sem os combustíveis e os demais produtos fabricados a partir do petróleo. 

Apesar de sua inquestionável importância, a imensa maioria dos produtos derivados de petróleo são problemáticos para o meio – mais dia, menos dia, precisaremos encontrar outras fontes de matérias primas que permitam o abandono gradual desse combustível fóssil. 

Biocombustíveis como o nosso bom e velho etanol são um ótimo exemplo de como substituir de forma sustentável alguns dos combustíveis derivados de petróleo. Será um caminho bastante longo e árduo até que se consiga eliminar totalmente a nossa dependência do petróleo. 

Essa busca por alternativas tem duas razões básicas – em poucas décadas as reservas de petróleo do mundo vão estar esgotadas e também precisamos acabar com a poluição criada pela queima dos combustíveis fósseis derivados do petróleo. 

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POR QUE O BRASIL NÃO QUEIMA TANTO CARVÃO MINERAL QUANTO OUTROS PAÍSES?

Nas duas últimas postagens aqui do blog falamos sobre os famigerados e poluentes combustíveis de origem fóssil. Esses combustíveis incluem os derivados de petróleo, o carvão mineral e o gás natural, fontes de energia fundamentais para muitos países. 

Um dos combustíveis fósseis mais abundantes e mais consumidos em todo o mundo é o carvão mineral. Em alguns países, citando como exemplo a Índia e a China, parte considerável da geração de energia elétrica vem dessa fonte. Apesar de toda a sua importância, a queima do carvão mineral é uma das maiores fontes de poluição da atmosfera do planeta

Uma pergunta que muitos dos leitores já deve ter feito para alguém – se o carvão mineral é um combustível tão importante assim, por que é que não vemos um uso tão grande dele aqui no Brasil? 

A resposta é bem simples – o nosso país possui poucas reservas de carvão mineral e o tipo desse carvão encontrado por aqui é de baixa qualidade. Vamos entender isso. 

O carvão mineral se formou a partir de grandes áreas de florestas que foram soterradas por diferentes processos naturais há muitos milhões de anos atrás. A madeira das árvores sofreu mudanças na sua composição química, agregando grandes quantidades de carbono em sua composição. Essa mudança química deu ao carvão um grande potencial para gerar muito calor durante a queima. 

Para entendermos isso de uma forma bem resumida, precisamos voltar aos tempos do antigo supercontinente de Gondwana. Essa grande massa de terra era formada pelos atuais territórios da América do Sul, África, Antártida, ilha de Madagascar, Índia, Austrália, Nova Zelândia e outras ilhas menores. Há cerca de 160 milhões de anos, Gondwana começou a se fragmentar e os seus “pedaços” foram espalhados por todos os lados do mundo por forças tectônicas. 

Antes do início desse grande colapso, a maior parte do território de Gondwana era coberto por um grande deserto, que se estendia por grande parte do que é o atual território brasileiro. Como desertos são, essencialmente, terras onde existe muita pouca vegetação, não houve um grande volume de “matéria prima” que pudesse ser transformada em carvão mineral aqui em nossas terras. Para completar, as condições geológicas do nosso território também não favoreceram a formação de grandes reservas de carvão de boa qualidade.

A única região do Brasil onde encontramos reservas de carvão com boa viabilidade econômica para exploração é no Sul do país, mais precisamente em algumas áreas de Santa Catarina, do Rio Grande do Sul e do Paraná. Se qualquer um dos leitores fizer uma rápida pesquisa, verá que um dos grandes centros produtores desse combustível é a região de Tubarão, no Leste catarinense

A falta de carvão mineral sempre foi um problema para o Brasil. Um exemplo rápido que podemos citar foram as primeiras tentativas de se produzir eletricidade em centrais termelétricas a carvão na cidade do Rio de Janeiro ainda no final do século XIX. As empresas donas dos empreendimentos acabaram falindo pouco tempo depois da inauguração devido aos altos custos do carvão, produto que naquela época era 100% importado. 

Um outro exemplo interessante é o caso de Minas Gerais, Estado onde abundam jazidas de minérios como o ferro. Durante o século XVIII, Minas Gerais foi um grande produtor de ouro. Alguns historiadores afirmam que perto de 1 milhão de toneladas de ouro foram extraídas das Minas Gerais e levadas para Portugal naqueles tempos. 

Qualquer tipo de processamento ou beneficiamento de metais requer uma fonte poderosa de calor – falamos aqui de fornos e altos-fornos. Sem dispor de carvão mineral para queimar, nossos ancestrais foram obrigados a improvisar e se valeram de carvão de origem vegetal, o mesmo que é usado para fazer o churrasco do fim de semana. 

Para que todos tenham uma ideia do impacto do uso do carvão vegetal em Minas Gerais: aos tempos da chegada da expedição descobridora de Pedro Álvares Cabral em 1500, o território onde se encontra hoje o Estado de Minas Gerais tinha perto de 47% de sua superfície coberta com vegetação de Mata Atlântica, o equivale a mais de 282 mil km² de matas do bioma. 

Em pouco mais de três séculos e depois de vários ciclos econômicos, a Mata Atlântica hoje está restrita a 10,2% da superfície do território mineiro, ocupando pouco mais de 50 mil km². Os outros 230 mil km² foram, em grande parte, transformados em carvão vegetal para uso nas atividades ligadas à metalurgia. 

O lado positivo dessa falta de carvão mineral em nossas terras é que fomos obrigados a nos voltar para os recursos hídricos disponíveis para a geração de energia elétrica. Como consequência direta dessa escolha forçada, a maior parte da energia elétrica usada atualmente no Brasil vem de centrais hidrelétricas. 

E não existem centrais termelétricas a carvão aqui no Brasil? 

Sim, mas são muito poucas. A imensa maioria dessas unidades geradoras foi construída para funcionar em momentos de falta de água nos reservatórios de usinas hidrelétricas. De acordo com informações do SIN – Sistema Interligado Nacional, existem apenas 8 centrais termelétricas a carvão em operação no Brasil

Mais de 80% de toda a energia elétrica gerada aqui no Brasil vem de fontes renováveis. Perto de 60% dessa energia é gerada em fontes hidráulicas, 11% em fontes eólicas e cerca de 8% em plantas fotovoltaicas. Para efeito de comparação, 60% da energia elétrica utilizada na Índia vem de termelétricas a carvão. 

E tudo isso se deu graças a falta de carvão mineral em nosso território. Meio que “na marra” fomos forçados a criar uma das estruturas de geração de energia elétrica mais sustentáveis do planeta. 

Entretanto, com nada é perfeito nesse mundo, ainda precisamos queimar grandes volumes de carvão mineral em nossas siderúrgicas. Parte desse carvão vem das minas do Sul do país e parte é importada. 

Enquanto não inventarem uma nova fonte de energia sustentável e não poluente que gere altas temperaturas para uso nesses fornos, vamos precisar continuar queimando a nossa cota de carvão, o que perto do que queimam outros países é bem pouco. 

Como eu sempre digo para os meus amigos, nada mal para um país que tem fama de devastar e queimar florestas… 

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AS “VANTAGENS” DO USO DO CARVÃO MINERAL

Em setembro de 2015, durante um evento na ONU – Organização das Nações Unidas, a então Presidente do Brasil – Dilma Roussef, fez mais um dos seus discursos “sem pé nem cabeça”. Dessa vez, sua Excelência falou sobre a possibilidade de “estocar vento” como forma de compensar a intermitência desse recurso. 

Como a maioria dos leitores deve saber, a intensidade dos ventos varia ao longo do dia e também ao longo das estações do ano. Eu imagino que a ex-Presidente tentava falar justamente sobre isso em seu discurso – o resultado não foi o esperado, mas o meme ganhou o mundo. 

Comecei a postagem de hoje citando essa verdadeira pérola da política brasileira para falar de um dos maiores problemas da geração de energia em algumas fontes consideradas sustentáveis – a intermitência, ou seja, a incapacidade de se garantir a disponibilidade desse recurso ao longo do tempo. Vamos falar rapidamente de três fontes de energia renovável – hidráulica, eólica e solar. 

A energia hidráulica, como o nome diz, é gerada pela força da água. Um dos melhores exemplos do uso dessa energia é a geração de energia elétrica em centrais hidrelétricas como é o caso da Usina de Itaipu. Apesar de ser considerada uma fonte energética renovável, basta um período de seca mais forte para que todo esse sistema gerador deixe de funcionar. 

No caso da energia solar, o problema é a periocidade – o sol brilha cerca de metade da duração do dia, o que permite o uso dessa energia somente de forma planejada. Os ventos, conforme citamos no começo do texto, são extremamente inconstantes e não podem ser “armazenados” para um uso futuro. 

É aqui que o famigerado carvão mineral apresenta uma séria de vantagens como uma forma de energia disponível para o uso a qualquer hora do dia e em qualquer época do ano. 

Conforme comentamos em uma postagem anterior, o carvão mineral é o combustível fóssil mais abundante do mundo. Ele surgiu a partir do soterramento de antigas grandes áreas florestais em épocas extremamente remotas. A madeira soterrada passou por diversas transformações químicas, tendo absorvido grandes quantidades de carbono. 

Desde tempos imemoriais que populações humanas vem se valendo do poder calorífico do carvão mineral, indo desde a queima para o aquecimento de abrigos nos rigorosos meses de inverno, em fogões para a preparação de alimentos ou ainda em fornos para o derretimento e produção de metais. 

Em meados do século XVIII, o então já importante carvão ganhou uma nova importância – gerar vapor em caldeiras para o impulsionamento de todos os tipos de máquinas a vapor usadas então nas fábricas, o que marcou início da chamada Revolução Industrial. 

O carvão era extraído em minas a céu aberto ou subterrâneas em grande parte do ano e era transportado para terrenos próximos das grandes fábricas. Essa energia ficava estocada e pronta para o uso a qualquer momento. Caso a gerência da fábrica precisasse aumentar o ritmo de produção de uma determinada linha, bastava mandar uma ordem para que os funcionários das caldeiras colocassem mais carvão para queimar. 

Aqui é preciso citar também a importância do uso do próprio carvão no transporte de grandes cargas desse combustível para os grandes centros consumidores. Locomotivas com motores a vapor também passaram a se valer do grande poder calorífico do carvão e passaram a correr por complexas redes de trilhos, criando assim um caminho rápido e de baixo custo para abastecer as grandes cidades com essa fonte de energia. 

No final do século XIX, o mundo passou por uma nova revolução, com o carvão mostrando mais uma vez toda a sua versatilidade como forma de energia estocável. Com a popularização da energia elétrica, grandes cidades começaram a construir centrais termelétricas movidas a partir da queima de carvão mineral. Assim como já acontecia com as fábricas com máquinas a vapor, essas centrais mantinham grandes montanhas de carvão em áreas próximas – bastava simplesmente jogar o carvão nas fornalhas para se gerar grandes quantidades de eletricidade. 

A simplicidade do uso do carvão e a sua disponibilidade em grande parte do mundo colocou essa fonte de energia em grande destaque até os dias de hoje. Estimativas indicam que a queima do carvão significa perto de 40% de toda a energia consumida no mundo atualmente

A queima desse combustível responde por um volume entre 30 e 35% das emissões mundiais de gás carbônico (CO2), um dos principais gases responsáveis pelo Efeito Estufa. O consumo mundial atual de carvão mineral é da ordem de 5,5 bilhões de toneladas por ano.

Em décadas mais recentes, um outro combustível de origem fóssil bem menos poluente passou a roubar parte dos espaços tradicionais do carvão mineral – falo aqui do gás natural. Em países da Europa, principalmente, o gás natural passou a ser usado como uma alternativa ao poluente carvão mineral para a geração de energia elétrica. A Rússia era o principal fornecedor de gás natural para o continente europeu. 

Conforme já tratamos em inúmeras postagens anteriores, essa fonte de energia mais limpa acabou secando e muito países foram obrigados a se voltar para o bom e velho carvão. Em outras partes do mundo, em países como a Índia e a China, o carvão mineral sempre manteve o ‘status” de fonte de energia bastante acessível e prática. 

Recentemente, na COP27, representantes do Governo da Índia falaram em uma espécie de “moratória” para poder aumentar ainda mais o consumo de carvão pelo país. Na Índia, a maior parte da energia elétrica é gerada em centrais termelétricas a carvão, um insumo que o país necessita para manter seu forte ritmo de crescimento industrial. 

E esse é, resumidamente, um dos grandes dilemas energéticos de nosso mundo: apesar de ser reconhecidamente uma das formas de geração de energia mais poluentes do mundo, o carvão até agora vem se mostrando como insubstituível em muitos países e em muitas atividades, como é o caso da siderurgia. 

Enquanto não inventarem novas formas de energia facilmente estocáveis e baratas como o carvão mineral, esse combustível continuará sendo queimado pelos quatro cantos do mundo e poluindo ainda mais a nossa já combalida atmosfera. 

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FALANDO UM POUCO SOBRE COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS

Há poucos dias atrás falamos de uma pesquisa internacional feita pela Climate Action Against Disinformation ou Ação Contra Desinformação Climática, numa tradução livre, que teve como objetivo mensurar o impacto das notícias falsas, as chamadas fake news, na percepção dos cidadãos sobre o meio ambiente. Os resultados foram entregues aos organizadores da COP27. 

Um dado surpreendente dessa pesquisa foi a desinformação dos cidadãos comuns em relação ao que são e quais são os danos causados ao meio ambiente pelos combustíveis fósseis. Para 40% dos brasileiros, segundo a pesquisa, esses combustíveis são energias limpas. A mesma opinião é compartilhada por 57% dos indianos, 39% dos norte-americanos, 34% dos australianos, 25% dos alemães e por 14% dos britânicos. 

Se algo tão absurdo assim está ocorrendo é por que educadores ambientais, como esse que vos escreve, e demais produtores de conteúdo para sites e blogs da área do meio ambiente não estão fazendo o “dever de casa” do jeito certo. Dito isso, vamos falar um pouco desses tais de combustíveis fósseis. 

São classificados como combustíveis fósseis o petróleo e seus derivados – gasolina, querosene e óleo diesel, entre outros; o carvão mineral, o gás natural e também o GLP – Gás Liquefeito de Petróleo. Em maior ou em menor escala, todos esses combustíveis fazem parte do dia a dia de todos nós. 

Em comum, todos esses combustíveis surgiram a partir da decomposição de matéria orgânica, ou seja, a partir de restos de plantas e de animais. Toda essa matéria orgânica foi soterrada ao longo de diferentes eras geológicas, envolvendo também fatores como pressão e temperatura, num processo que se desenrolou ao longo de dezenas de milhões de anos. 

Vamos começar falando do carvão mineral, o combustível fóssil mais abundante de nosso planeta. Esse mineral foi formado a partir da decomposição de florestas no Período Carbonífero, o que corresponde aproximadamente ao período de tempo entre 360 e 280 milhões de anos atrás. 

Nesse período, grandes extensões de áreas de florestas foram encobertas por espessos mantos de gelo, por deslizamentos de terra devido ao soerguimento de montanhas ou ainda foram encobertas pela invasão de águas dos mares. A madeira das árvores soterradas teve a celulose transformada pela perda de íons de hidrogênio e oxigênio, além de sofrer um enriquecimento por carbono, se transformando assim em carvão mineral. 

A concentração de carbono determina o tipo do carvão mineral – o antracito possui um teor de carbono de 90%, sendo o carvão mineral de formação mais antiga e de maior poder energético. No caso da hulha, a concentração de carbono fica entre 75 e 90%. A seguir vem o linhito e a turfa, com teores de carbono de 70% e 50%, respectivamente, ambos sendo bem menos eficientes na produção de energia. 

O carvão mineral vem sendo usado pela humanidade desde tempos imemoriais para queima em sistemas de aquecimento, em fornos para a produção de metais, em fogões de cozinhas, entre outros usos cotidianos. O carvão mineral ganhou uma enorme importância após a invenção da máquina a vapor em meados do século XVIII, importância que foi renovada nas últimas décadas do século XIX com a popularização do uso da eletricidade, energia que passou a ser gerada em centrais termelétricas a carvão. 

A formação do petróleo é bastante similar à do carvão mineral, porém, esse óleo é o resultado da decomposição de restos de matéria vegetal e de animais em diferentes eras. Trata-se de um líquido inflamável, oleoso e de cor negra. Sua composição básica são hidrocarbonetos, compostos químicos formados por carbono e hidrogênio. 

Uma das principais características do petróleo é a possibilidade do seu fracionamento em diferentes produtos. Esse processo é feito em grandes refinarias, onde o petróleo é fracionado em gasolina, óleo diesel, querosene, querosene de aviação, óleo combustível, entre outros produtos. Um desses produtos é o GLP, o gás engarrafado que é utilizado em fogões e fornos domésticos. 

Outro combustível fóssil bastante importante e que ganhou um enorme destaque nos últimos meses é o gás natural. Esse gás também foi formado a partir da decomposição de matéria orgânica, porém, nem sempre ele está associado às reservas subterrâneas de petróleo. 

A Rússia é um dos grandes produtores mundiais de gás natural e se destacava como o maior fornecedor desse combustível para os países da Europa. Após o início do conflito com a Ucrânia e em resposta a uma série de sanções econômicas impostas pelos países europeus, os russos, simplesmente, fecharam as válvulas dos seus gasodutos, deixando esses países na mão. 

Os países da Europa vinham, há várias décadas, substituindo a queima de carvão mineral em centrais termelétricas pelo gás natural. Apesar de ser um combustível de origem fóssil, o gás natural polui muito menos que o carvão – em tempos de aquecimento global, qualquer redução nas fontes emissoras de gases de efeito estufa é sempre bem-vinda. 

Todos esses combustíveis tem algumas características em comum. Em primeiro lugar são todos de origem fóssil, ou seja, são o resultado de processos de formação que se desenrolaram ao longo de dezenas de milhões de anos. Essa característica torna esses recursos finitos – uma vez esgotadas as suas reservas, serão necessários muitos milhões de anos para repor os “estoques”. 

Outro ponto a ser destacado é a poluição que é gerada pela queima desses combustíveis – destaco aqui a liberação do carbono na atmosfera, que na forma do gás dióxido de carbono (CO2), é um dos principais responsáveis pelo aquecimento global. 

Por fim, respondendo a uma dúvida de grande parte da população, os combustíveis fósseis estão muito longe de ser uma fonte de energia limpa e renovável – a bem da verdade, trata-se de uma energia muito suja e nem um pouco renovável. 

Um dos maiores desafios da humanidade em nossos dias é justamente encontrar fontes energéticas alternativas aos combustíveis fósseis. Entre as mais promissoras destacamos a energia fotovoltaica ou solar, a eólica ou energia dos ventos e os biocombustíveis como o nosso etanol, que polui bem menos que os combustíveis fósseis e ainda pode ser produzido a partir da cana-de-açúcar. 

Daqui para a frente não erre mais – combustível fóssil é sinônimo de poluição do ar, aquecimento global e insustentabilidade ambiental. 

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AS VÍTIMAS E OS ”VILÕES” DO CLIMA MUNDIAL NA COP27 

Entre os dias 6 e 18 de novembro, líderes políticos e empresariais, dirigentes de organizações ambientalistas, jornalistas e público em geral estiveram reunidos na cidade egípcia de Sharm el-Sheikh, para as reuniões de trabalho da COP27 – Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas.   

Como é de praxe, esse tipo de encontro costuma reunir os “mocinhos”, os “vilões” e as “vítimas” dos problemas ambientais do mundo. Eu costumo chamar de “mocinhos” países como a França, a Alemanha e os Estados Unidos que, durante séculos, foram os maiores emissores de gases de efeito estufa do planeta – subitamente, essas nações “resolveram” mudar sua postura e se transformaram nas grandes defensoras do clima. 

No papel de “vilão” o Brasil é um dos grandes destaques da atualidade. Segundo a narrativa dos “mocinhos”, as queimadas e os incêndios na Amazônia são uma das grandes ameaças ao clima mundial. Eles só não conseguem explicar é que, mesmo após anos contínuos de queimadas “maciças”, perto de 85% da Floresta Amazônica continua tão viva e verde como nos tempos do descobrimento do Brasil em 1500. 

No meio desses dois grupos existe um que é realmente o mais importante e que merece toda a nossa atenção – as vítimas reais do aquecimento global. Essas são as populações e os países que estão convivendo com os efeitos das secas, dos excessos de chuva, com a elevação do nível do mar ou ainda com o derretimento de geleiras, suas fontes principais de água potável. 

Uma dessas nações “vítimas”, que marcou presença na COP27 foi Tuvalu, um pequeno país insular localizado no Sul do Oceano Pacífico. O arquipélago é formado por cerca de 30 ilhas e possui uma área total de apenas 26 km², contando com uma população de aproximadamente 12 mil habitantes. 

O drama de Tuvalu é bem fácil de entender – o ponto mais alto das ilhas fica a apenas 4,6 metros acima do nível do mar. Qualquer elevação no nível do oceano, por menor que seja, provoca uma perda de território. De acordo com as projeções dos especialistas, o nível dos oceanos deverá subir mais de 1 metro até o ano de 2100, um fato que, literalmente, vai riscar a maior parte das ilhas Tuvalu do mapa. 

Tuvalu não está sozinha nesta triste sina – cerca de 52 nações insulares, conhecidas como SIDS – Small Island Developing States ou Pequenos Estados-Ilha em Desenvolvimento, numa tradução livre, poderão desaparecer nos próximos 50 anos devido ao aumento do nível dos oceanos. Esses pequenos países abrigam 1% da população do planeta, além de uma rica biodiversidade. 

De acordo com um estudo feito pelo Instituto para o Meio Ambiente e Segurança Humana, da Universidade das Nações Unidas, cerca de 15% da população de Tuvalu já foi forçada a emigrar para outros países, 12% já migrou internamente e 8% quer migrar, mas não teve condições. Essas migrações deverão aumentar em 70% até 2055. 

Diante de um quadro tão avassalador, Tuvalu poderá simplesmente desaparecer como uma nação organizada em apenas 20 ou 30 anos. Como não poderia ser diferente, Tuvalu foi o primeiro país integrante da UNFCCC – Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, na sigla em inglês, a assinar o Tratado de Não-Proliferação de Combustíveis Fósseis. 

Já que falamos de uma das “vítimas”, precisamos abrir espaço para um dos “vilões” do clima mundial, que também marcou presença na COP27. Falo aqui da Índia, país que ocupa a nada honrosa 3ª posição entre os maiores emissores mundiais de gases de efeito estufa. 

Os representantes da Índia na COP27 foram muito claros ao defender o posicionamento do seu país – os países mais ricos e desenvolvidos do mundo devem se esforçar para reduzir as suas emissões de gases de efeito estufa, porém, países pobres e em desenvolvimento como a Índia devem ter a liberdade de aumentar suas emissões em nome do desenvolvimento econômico. 

Por maiores que sejam as “náuseas” que esse tipo de posicionamento provoque em alguns líderes mundiais – gosto sempre de citar Emmanuel Macron da França, a situação da Índia exige isso. Com uma população de mais de 1,3 bilhão de habitantes – onde pelo menos a metade vive na mais profunda miséria, o país não pode prescindir de um forte crescimento econômico. 

Um exemplo altamente didático dos problemas indianos – o país precisa gerar cerca de 1 milhão de empregos a cada mês somente para absorver a mão de obra dos jovens que estão chegando ao mercado de trabalho. Se tal geração de empregos fosse possível aqui no Brasil, resolveríamos nosso problema de desemprego em cerca de oito meses. 

A matriz energética da Índia é o que costuma se chamar de suja – 40% de toda a energia consumida no país vem da queima do carvão mineral, cerca de 16% do petróleo e seus derivados e 24% da queima de lenha e outros resíduos. Neste último item entra a lenha usada por 70% das famílias do país para cozinhar. Geração de eletricidade em fontes hidrelétricas e nucleares respondem por uma pequena fatia da matriz energética da Índia. 

Segundo as projeções do Governo indiano, o país precisará aumentar em 40% a queima de carvão ao longo dos próximos dez anos apenas para conseguir manter o forte ritmo de crescimento de sua economia. Segundo dados do FMI – Fundo Monetário Internacional, a Índia cresceu 9,5% em 2021, com estimativas de crescimento de 8,5% em 2022 e 6,6% em 2023. 

Esse forte crescimento econômico significa mais emprego e renda, melhores condições de vida, educação e saúde para centenas de milhões de pobres e miseráveis do país. Na opinião do Governo indiano, todos esses aspectos positivos justificam uma espécie de “licença especial para poluir o planeta”. 

O posicionamento claro da Índia, por mais que incomode ambientalistas dos países ricos e de bolsões de gente refinada como os Jardins em São Paulo e Leblon e Copacabana no Rio de Janeiro, tem o apoio de dezenas de outros países pobres e em desenvolvimento que tem perfis socioeconômicos parecidos com a Índia. 

Como fica bastante fácil de perceber, questões envolvendo os problemas decorrentes das mudanças climáticas não são uma unanimidade mundial como muitos querem nos fazer crer. Resolver esse tipo de impasse não é tarefa fácil. 

Nos filmes, mocinhos e vilões costumam acertar suas diferenças num duelo ao pôr do sol. Na vida real, as coisas são bem mais complicadas…

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SEGUNDO PESQUISA, 40% DOS BRASILEIROS ACREDITAM QUE COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS SÃO ENERGIA LIMPA 

Foi divulgada há alguns dias atrás uma pesquisa internacional feita pela Climate Action Against Disinformation ou Ação Contra Desinformação Climática, numa tradução livre, que teve como objetivo mensurar o impacto das notícias falsas, as chamadas fake news, na percepção dos cidadãos sobre o meio ambiente. Os resultados foram entregues aos organizadores da COP27

Uma das informações mais surpreendentes e importantes dessa pesquisa é que, para 40% dos brasileiros, combustíveis fósseis como a gasolina e o óleo diesel são considerados como energias limpas. Muito pior – pessoas de outros países, onde a mesma pesquisa foi feita, tem uma percepção semelhante. 

Na Índia, 57% da população tem essa mesma percepção. Nos Estados Unidos são 39% e na Austrália 34%. Na Alemanha e no Reino Unido os índiceS são um pouco mais baixos – 25% e 14%, respectivamente. 

Para quem está habituado a acompanhar notícias sérias sobre os problemas ligados às mudanças climáticas e ao aquecimento global, como é o caso dos leitores desse blog, essa percepção beira o absurdo. Mas as notícias não param por aí: 

  • 44% dos brasileiros não acreditam que ações humanas sejam as causas das mudanças climáticas; 
  • 29% acreditam que “um número grande de cientistas não se entende sobre as causas das mudanças climáticas”; 
  • Para outros 24%, os dados sobre as temperaturas globais ou não são confiáveis ou são manipulados e 
  • 15% não acreditam que a produção de combustíveis fósseis cause problemas de saúde nas pessoas. 

Na opinião dos pesquisadores envolvidos, “esses resultados da pesquisa refletem como as crenças predominantes de desinformação climática estão em todo o mundo. Há uma grande lacuna entre a percepção do público e da ciência em questões básicas, como a responsabilidade humana pela mudança climática.” 

Um estudo recente feito pelo Greenpeace dos Estados Unidos em parceria com as organizações Avaaz e Friends of the Earth mostrou que parte substancial dessa percepção errônea da população tem como origem erros e informações falsas espalhadas pelas redes sociais. 

Segundo esses grupos, as grandes empresas desse setor falham ao não conseguir coibir a veiculação desse tipo de notícia. Segundo a avaliação desses grupos, o Twiter teve a pior nota – 5 de um total de 27 pontos possíveis. Facebook e Tik Tok tiveram notas 9 e 7, respectivamente, enquanto o Pinterest alcançou uma nota 14. 

Por mais interessantes que sejam essas informações – é preciso acender uma luz de alerta entre os educadores ambientais e produtores de conteúdoS na área, a discussão é bem mais ampla. Quem ou qual entidade passará a ter a responsabilidade de filtrar as informações que circulam nas redes sociais, decidindo o que é ou não verdade. 

Nós brasileiros acabamos de sair de um tumultuado processo eleitoral, onde o combate às chamadas fake news teve papel de protagonismo. Inúmeras peças publicitárias de candidatos a cargos públicos foram consideradas ”fake news” e retiradas do ar. Vários sites e blogs de candidatos tiveram o mesmo fim. 

O direito brasileiro e, acredito eu, grande parte das legislações dos países, não apresenta uma definição clara do que são essas ditas fake news – qualquer decisão judicial a esse respeito acabará sendo subjetiva. 

Outra dificuldade séria será a criação de uma “entidade suprema” com poderes para censurar (a palavra é essa mesmo) toda e qualquer notícia falsa sobre problemas ligados às mudanças climáticas. Quem tem autoridade para fazer isso hoje em dia? 

A internet, e por extensão as redes sociais, é controlada a nível mundial por um pequeno número de empresas – Google, Apple, Microsoft, entre outras, a imensa maioria de origem norte-americana. Qualquer que venha a ser essa “entidade suprema”, é certo que ela tenderá a defender os interesses de empresas e cidadãos dos Estados Unidos – quem não for yanke poderá ter sérios problemas. 

Pessoalmente, como educador ambiental que sou, acho que o melhor caminho para combater a desinformação é a boa informação. Modéstia à parte, é o que tentamos fazer nas postagens diárias aqui do blog – apresentar conteúdos relevantes e bem fundamentados sobre os problemas ambientais; cada leitor que use essas informações da melhor maneira possível. 

De qualquer maneira, foi importante saber que grande parte dos cidadãos tem essa ideia errada sobre os combustíveis fósseis – vamos ter de publicar novas postagens mostrando o que realmente está acontecendo no mundo da energia. 

A vida é sempre um eterno aprendizado – tanto para quem procura ensinar quanto para aqueles que buscam aprender. 

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A COP27 E A “FARRA” DOS JATINHOS PRIVADOS 

Quem acompanha as notícias da área de aviação com certeza já ouviu falar de Alice, um avião experimental para até 9 passageiros que tem um diferencial muito particular – os dois motores da aeronave são alimentados 100% por energia elétrica. 

Aqui no Brasil, os estudos para o desenvolvimento de aeronaves sustentáveis também vão muito bem, obrigado. A fabricante brasileira Embraer está trabalhando em toda uma linha de novos aviões com propulsão elétrica/hidrogênio – a ENERGIA FAMILY

Esses e muitos outros projetos em desenvolvimento em todo o mundo buscam tecnologias aeronáuticas com baixas emissões de carbono, num primeiro momento, passando depois para aviões com emissões zero. Existe aqui um problema de tempo – os projetos mais promissores só deverão estar voando comercialmente a partir de década de 2030. 

Se para os pesquisadores e empresas dos diversos setores da aviação a busca por emissões de gases de efeito estufa cada vez menores é uma questão de sobrevivência – os consumidores estão pressionando muito, para os líderes mundiais “altamente preocupados” com o meio ambiente, as coisas não estão tão mal assim. Falo da farra dos jatinhos executivos, destaque nas redes sociais desses últimos dias.

Desde o último dia 6 de novembro, líderes mundiais, empresários, representantes de ONGs ligadas ao meio ambiente, entre muitos outros convidados, estão reunidos em Sharm el-Sheikh, uma cidade turística localizada entre o deserto da Península do Sinai e o Mar Vermelho no Egito, para as reuniões da COP – 27ª Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas.   

Relembrando, a COP – Conferência das Partes, ou Conference of the Parties em inglês, foi adotada em 1992, logo após a conferência do Rio de Janeiro, como o órgão supremo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima. Os países signatários da Convenção ratificaram o acordo em 1994, e passaram a se reunir anualmente a partir de 1995.   

O que deveria ser um “celeiro” de grandes ideias e boas notícias para todos aqueles que estão preocupados com o futuro do planeta, infelizmente acabou se transformando numa fonte de mau exemplo para o mundo. O aeroporto da cidade egípcia está com seus pátios completamente abarrotados de jatos executivos usados pelos “líderes” do evento. 

De acordo com uma reportagem do jornal New York Post, mais de 400 jatos executivos pousaram no aeroporto local nos últimos dias. A rede de notícias britânica BBC News também comentou sobre esse fato usando dados do FlightRadar24, um aplicativo que mostra, em tempo real, o tráfego aéreo em todo o mundo. 

De acordo com algumas informações preliminares, esse número de jatos privados usados pelos participantes da COP27 já representa o dobro do número desses aviões usados para transportar os participantes da COP26, que foi realizada no final de 2021 em Glasgow, na Escócia. 

A situação está sendo considerada tão surreal que grupos de ativistas ambientais fizerem protestos nas pistas do aeroporto egípcio (vide foto). E a grita desse pessoal faz todo o sentido – jatos executivos poluem de 5 a 14 vezes mais que os aviões comerciais que transportam centenas de pessoas a cada viagem. 

Para que todos tenham uma ideia clara do que estou falando – de acordo com um estudo divulgado em 2020, os jatos executivos ou privados lançaram um volume total de 34 milhões de toneladas métricas de carbono na atmosfera em 2016. Esse volume é maior do que as emissões de muitos países pequenos em um ano. 

Um outro dado interessante – um voo de 4 horas de um jato executivo emite o mesmo volume de gases de efeito estufa que um cidadão europeu médio ao longo de um ano. Fica bastante difícil aceitar que governantes e líderes mundiais, que pedem a você para andar de bicicleta, façam suas viagens às custas de tamanha queima de combustíveis fósseis. 

Um exemplo de jatinho executivo favorito dos ricos e famosos é o Gulfstream IV. Muitos desses aviões podem vistos neste momento em Sharm el-Sheikh. De acordo com um estudo de 2017, do Institute for Policy Studies, uma pequena viagem de um desses aviões emite quase que o dobro de carbono na atmosfera que um americano médio ao longo de um ano. 

Todos sabemos que tempo é dinheiro – governantes e grandes empresários não podem perder seu tempo enfrentando filas em aeroportos para viagens em jatos comerciais de carreira. Porém, a tecnologia atual permite que sejam feitas reuniões virtuais – a recente pandemia da Covid-19 mostrou o quanto essa facilidade foi importante. 

O grande problema é que no virtual não dá para tirar aquela foto em grupo, que sairá na capa de jornais e de sites de notícias em todo o mundo, mostrando para o público o quanto esse pessoal está preocupado com a saúde do planeta e com o seu futuro. 

Enquanto isso, continue andando com a sua bicicleta, em trens e em ônibus (de preferência elétricos ou movidos com biocombustíveis), pois as suas emissões de carbono e de gases de efeito estufa é que são as responsáveis pelo aquecimento global. 

Haja “cara de pau”, como dizemos aqui em casa… 

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