O PLÁSTICO BIODEGRADÁVEL DE ORIGEM VEGETAL

canavial

Nos últimos dois meses tive a oportunidade de acompanhar os efeitos de duas fortes ressacas no litoral sul do Estado de São Paulo – para um camarão de água doce acostumado a ver apenas as “ressacas” dos cachaceiros do bairro nas margens da Represa Guarapiranga, foi assustador ver o mar em fúria. Fiquei assustado também com a quantidade de lixo e resíduos que as fortes ondas lançaram sobre a avenida e os calçadões da praia, especialmente a imensidão de tampas plásticas multi coloridas de garrafas PET de refrigerantes e de água, que tomaram a orla tal qual os confetes no carnaval. Como venho apontando em minhas últimas publicações, é muito preocupante o grande volume de resíduos plásticos descartados sem maiores cuidados no meio ambiente e que estão sufocando os corpos d’água doce e chegando aos borbotões nos oceanos de todo o mundo.

Pesquisas com plásticos biodegradáveis vem sendo desenvolvidas ao longo dos últimos anos e poderão, em algum momento no futuro, resolver ou ao menos amenizar esse problema. Infelizmente, esses produtos ainda não conseguiram engrenar nos mercados por alguns problemas de ordem técnica e de custos. As resinas e polímeros convencionais utilizados na confecção dos mais diferentes tipos de produtos plásticos são sub produtos do refino do petróleo – enquanto o mundo utilizar gasolina, óleo diesel e querosene de aviação, as refinarias de petróleo obrigatoriamente abastecerão os complexos petroquímicos com esses sub produtos, que por serem baratos (mais baratos, inclusive, que os plásticos reciclados) serão transformados em plásticos de todo tipo, inundando o mundo com mais resíduos e peças descartáveis.

O amido é um polímero natural que é encontrado nos grãos de diversos cereais como o milho, aveia, arroz, trigo, cevada e centeio, e também pode ser encontrado em raízes como a batata e a mandioca. Com esse polímero natural é possível a produção de um plástico biodegradável que, diferente dos polímeros inorgânicos de origem petroquímica, ao ser descartado no meio ambiente têm suas moléculas (ou grande parte delas) consumidas por toda uma série de micro-organismos, deixando um volume de resíduos muito pequeno no ambiente. Eu tinha uma sacolinha de um supermercado da Alemanha feito com plástico biodegradável de milho guardada junto com alguns materiais impressos – há pouco eu tentei achar essa sacolinha para comparar alguns dados técnicos impressos com fontes de consulta usadas nesse texto, mas encontrei apenas fragmentos bem pequenos e um pó branco: a sacolinha, literalmente, foi desintegrada.

Aqui no Brasil estão sendo dispensados grandes esforços tecnológicos para viabilizar comercialmente um polietileno verde derivado do etanol da nossa cana-de-açúcar. Esse plástico tem as mesmas características técnicas do polietileno comum (plástico muito utilizado na fabricação de potes e utensílios de cozinha), com as vantagens de ser produzido a partir de uma planta cultivada em larga escala em todo o país e de ser biodegradável (os cientistas alertam que não existe ainda nenhum polímero criado a partir de fontes vegetais que seja 100% biodegradável – sempre haverá algum resíduo).

O polietileno verde é produzido a partir de processos químicos que sintetizam uma resina do etanol. O produto poderá ser utilizado na fabricação de embalagens, peças plásticas para veículos, filmes para a fabricação de fraldas descartáveis entre outros produtos. O Brasil é atualmente um dos maiores produtores mundiais de cana-de-açúcar, com uma produção anual de 740 mil toneladas métricas do produto, usada principalmente na produção do açúcar e do etanol utilizado como combustível veicular; representantes do setor afirmam que existem todas as condições para a ampliação da produção da cana-de-açúcar, de forma atender qualquer nova demanda, especialmente de um setor tão importante como o de plásticos biodegradáveis.

Boas intenções, é claro, existem muitas – enquanto os plásticos biodegradáveis não atingirem níveis de preços de mercado altamente competitivos em relação àqueles praticados pela indústria petroquímica e padrões técnicos equivalentes aos diversos tipos de plásticos atualmente em uso, será difícil romper o monopólio secular das grandes empresas petrolíferas.

Enquanto isso não acontecer, todos teremos de viver sufocados por milhões de toneladas de resíduos plásticos descartados em todos os lugares a nossa volta. Oxalá sobrevivamos!

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