INCÊNDIOS FLORESTAIS NO CANADÁ JÁ LIBERARAM QUASE 160 MEGATONELADAS MÉTRICAS DE CARBONO NA ATMOSFERA 

Os incêndios que, desde maio, estão destruindo grandes áreas florestais no Canadá já liberaram cerca de 160 megatoneladas métricas de carbono na atmosfera do planeta. Essas é uma das conclusões de um relatório do Copernicus, o componente de observação da Terra do programa espacial da União Europeia. 

Para efeito de comparação, esse volume corresponde a 88% das emissões anuais do Canadá em 2021, o que mostra a gravidade da situação. Segundo algumas fontes, já foram queimados cerca de 40 mil km² de matas, uma área 4 vezes maior do que tudo foi “destruído” na Floresta Amazônica em 2022. 

Esses incêndios tiveram início no mês de maio nas províncias da Colúmbia Britânica, Alberta, Saskatchewan e os Territórios do Noroeste., todos no Oeste do Canadá. Depois, as chamas atingiram áreas em Ontário, Quebec e Nova Escócia no Leste do país. 

Nos últimos dias, a nuvem de fumaça chegou em Portugal, país no Extremo Oeste da Europa e a cerca de 5 mil km do Canadá. Essa fumaça está sendo carregada na direção da Europa por conta das fortes correntes de ventos que cruzam o Oceano Atlântico. 

As altas temperaturas e o ar seco em grande parte das regiões afetadas está facilitando a propagação das chamas. Mudanças climáticas são apontadas como a causa principal dessa situação “anormal” no país. 

Em nossa última postagem falamos de uma forte onda de calor que está castigando os Estados Unidos, o que sinaliza que a situação no “grande irmão do Norte”, expressão que os norte-americanos usam para se referir ao Canadá, não deverá melhorar tão cedo. 

Incêndios florestais sempre fizeram “parte das paisagens” do Canadá. Entretanto, a umidade natural dessas florestas ajudava a controlar a extensão e o tamanho dos estragos causados pelo fogo. Com as altas temperaturas e a baixa umidade do ar, a vegetação está mais seca e susceptível a arder com as chamas. 

Infelizmente, essa é uma situação que tenderá a se tornar cada vez mais comuns em áreas florestais de todo o mundo devido ao Aquecimento Global 

FORTE ONDA DE CALOR NOS ESTADOS UNIDOS, OU HOUSTON 43 GRAUS 

Uma forte onda de calor está castigando vários Estados do Sul dos Estados Unidos e afetando mais de 62 milhões de pessoas com temperaturas acima de 40º C. Os Estados mais afetados são o Arizona, a Flórida e, especialmente, o Texas, onde a cidade de Houston viu os termômetros atingirem a marca de 43º C. 

As autoridades texanas tiveram de aumentar a produção e a distribuição de água potável para a população, além de solicitar o trabalho de voluntários para ajudar na distribuição de garrafas de água. Entre outras preocupações, as autoridades estaduais estão se esforçando para retirar milhares de sem-teto das ruas das cidades do Texas. 

Além dos inúmeros problemas de saúde associados ao calor extremo, foram relatados 5 casos de malária contraídos dentro do país, um fato que não ocorria há mais de 20 anos nos Estados Unidos. Foram 4 casos na Flórida e 1 no Texas. 

Apesar de ser uma doença muito comum em áreas tropicais infestadas por mosquitos, a malária já foi endêmica em grande parte da Europa e dos Estados Unidos. Hipócrates (460 a.C.-370 a.C.), sábio grego considerado o pai da medicina, foi o primeiro a fazer uma conexão entre água parada e a ocorrência de febres na população.  

Esse conhecimento foi passado aos romanos, que foram os pioneiros na drenagem de pântanos como forma de controlar as sucessivas epidemias na península itálica – aliás, a palavra malária deriva da expressão em italiano antigo mal aria ou ar ruim. Há relatos de grandes epidemias de malária na França, Espanha, Inglaterra, Holanda e Alemanha, entre outros países europeus – onde existisse pântanos e mosquitos havia possibilidade de grandes epidemias de malária.  

A doença foi erradicada gradualmente a partir de melhorias na infraestrutura de saneamento e drenagem de áreas pantanosas. A Itália, para citar um exemplo, só conseguiu erradicar totalmente a malária em 1970. 

A malária chegou aos Estados Unidos junto com os primeiros colonos, muitos dos quais estavam infectados com os agentes Plasmodium vivax e Plasmodium malariae, comuns na Inglaterra. Posteriormente, com a importação dos primeiros escravos vindos do continente africano a partir de 1620, foi introduzido no país o agente Plasmodium falciparum

As epidemias eram recorrentes nas antigas Colônias Anglo Americanas – em 1723 um colono escrevia para sua família na Escócia: “Estou sempre com febres e calafrios… este lugar só é bom para médicos e padres”. Com o avanço dos colonizadores rumo ao interior do país, a malária foi se disseminando e se tornando endêmica nas regiões Sul e Oeste.  

Consta que as epidemias de malária eram tão frequentes e custosas na antiga colônia francesa da Louisiane, que este foi um dos motivos que levou Napoleão Bonaparte a vender o território para os americanos em 1803, atualmente chamado de Estado da Louisiana.  

Nos estados do Sul dos Estados Unidos, aliás, a combinação do clima subtropical (o mesmo clima do Sul do Brasil a partir do Sul do Estado de São Paulo), da grande quantidade de áreas pantanosas e do sensível empobrecimento da região após a derrota dos Estados Confederados na Guerra Civil Americana (1861-1865), tornou a região propícia à presença de grandes populações de mosquitos e de uma alta incidência de epidemias de malária.  

Estudos indicam que até a década de 1930, um terço da população dos estados do Sul norte-americano sofria de malária crônica. O controle e a reversão das epidemias de malária nos Estados Unidos só foram possíveis a partir da massificação da infraestrutura de saneamento básico, da aplicação de inseticidas para o controle das populações de mosquitos, da drenagem de áreas pantanosas e, principalmente, da obrigatoriedade da instalação de telas nas janelas e portas das residências.  

O governo americano também investiu pesadamente em campanhas educativas, mostrando à população quais eram os hábitos e os horários de maior incidência dos ataques dos mosquitos. Por volta do ano de 1950, a malária foi considerada erradicada dos Estados Unidos, restrita a alguns poucos casos anuais em regiões isoladas e densamente florestadas onde os mosquitos são e sempre farão “parte da paisagem”. É importante ressaltar que não existem vacinas homologadas contra a malária e que as medidas preventivas são as melhores alternativas para o controle da doença. 

O aumento das temperaturas em diversas regiões do mundo, conforme tratamos na postagem anterior, está criando as condições ambientais para a colonização dessas regiões por mosquitos como o Aedes aegypti e o Aedes albopictus. A reboque, essas regiões, como é o caso da Europa, estão sujeitas a conviver com doenças transmitidas por esses mosquitos como a dengue, a febre Chikungunya, a Zika, a síndrome de Guillain Barré, a febre do Nilo Ocidental, entre outras. 

Esses casos de malária nos Estados Unidos podem ser um sinal de alerta da colonização de grandes áreas por mosquitos que migraram para o Norte a partir de regiões da América Central e do Caribe.  

Com todo esse calor, os mosquitos devem estar se sentindo “em casa”. 

DENGUE E CHIKUNGUNYA, DOENÇAS BEM CONHECIDAS DOS BRASILEIROS, PODERÃO SE TORNAR COMUNS NA EUROPA 

O mosquito Aedes Aegypti é originário do continente africano, onde aprendeu a viver próximo dos assentamentos humanos desde milhares de anos atrás. Foi durante o período das grandes navegações europeias que esse mosquito “pegou carona” nas embarcações mercantis, especialmente nos chamados navios negreiros, e chegou ao continente americano, se fixando nas áreas tropicais e subtropicais, do Norte da Argentina até o estado da Flórida, nos Estados Unidos da América. 

Já o mosquito Aedes albopictus, conhecido popularmente como mosquito-tigre-asiático, é originário do Sudeste Asiático. Também embarcando como clandestino em navios mercantis, esse mosquito se espalhou por áreas tropicais e subtropicais de todo o mundo em décadas recentes. 

Em comum, o Aedes aegypti e o Aedes albopictus são grandes vetores de transmissão de vírus de doenças como a dengue, a febre Chikungunya, a Zika, a síndrome de Guillain Barré, a febre do Nilo Ocidental, entre outras. Todos os anos, essas doenças fazem milhares de vítimas aqui o Brasil e em outros “países pobres” pelo mundo a fora. 

Com as mudanças climáticas e com o aumento das temperaturas em diversas regiões do mundo, esses mosquitos estão gradualmente expandindo os seus territórios. Uma das últimas conquistas da dupla foi o Norte e o Oeste da Europa. 

Encontrando um ambiente “familiar”, com ondas de calor e enchentes, esses mosquitos poderão criar grandes epidemias de dengue e Chikungunya, entre outras doenças, em terras europeias, fato que está preocupando as autoridades locais e o ECDC – Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças. 

De acordo com um relatório do ECDC, que tem sede em Estocolmo, na Suécia, o mosquito Aedes Albopictus já está consolidado no Norte e Oeste da Europa, englobando 13 países e 337 regiões em 2023. Já o mosquito Aedes Aegypti está consolidado na ilha de Chipre desde 2022, podendo se espalhar por outros países do continente com muita facilidade. 

Autoridades locais estão fazendo diversas campanhas para a prevenção das doenças. Entre as medidas recomendadas, que já são bastante conhecidas por nós brasileiros, pede-se para eliminar focos de água parada, tampar reservatórios como caixas d’água, barris e tanques, instalação de telas mosquiteiras em portas e janelas, uso de repelente, entre outras medidas. 

Até bem pouco tempo atrás, essas medidas eram recomendadas para os turistas que saíam da Europa rumo a destinos exóticos em países tropicais. Agora, essas recomendações valem para o “uso doméstico”. 

Coisas do aquecimento global…  

SEGUNDO A NASA, O NÍVEL DO MAR AUMENTOU 10 CM NOS ÚLTIMOS 30 ANOS 

A NASA – Administração de Aeronáutica e Espaço dos Estados Unidos, na sigla em inglês, divulgou um vídeo criado pela sua divisão Scientific Visualization Studio que mostra de forma bastante didática a situação do nível dos oceanos em escala global. 

As medições foram feitas através do Altímetro de Dados Oceânicos Integrado Multimissão para Pesquisas Climáticas, um sistema baseado em satélites de imagens. Os dados se referem ao período entre 1993 e 2022 e mostram que os oceanos sofreram um aumento de 10 cm no seu nível no período. 

As causas desse aumento no nível do mar são bem conhecidas de todos nós – o aumento das temperaturas globais, mais conhecido como aquecimento global. O aumento gradual das temperaturas está provocando o derretimento das calotas polares e de glaciares ou geleiras de montanhas, lançando milhões de litros de água nos oceanos a cada dia. 

Conforme já tratamos em inúmeras postagens aqui do blog, as principais causas do aquecimento global são as atividades humanas, especialmente as emissões de GEE – Gases de Efeito Estufa, e os desmatamentos. Causas naturais não podem ser descartadas, uma vez que existem inúmeros estudos em andamento. 

Esse aumento no nível dos oceanos pode até parecer pouca coisa, mas, os dados coletados indicam que a taxa de aumento vem crescendo ao longo dos anos, o que torna a questão extremamente preocupante. 

Em postagens já publicadas aqui no blog já mostramos alguns casos aqui no Brasil onde esse pequeno aumento no nível do oceano já está causando problemas consideráveis. Um desses casos é o da Praia da Macumba, na região do Recreio dos Bandeirantes no Sul da Cidade do Rio de Janeiro. 

Um caso muito parecido é o do calçadão da orla da cidade de Peruíbe, no litoral Sul do Estado de São Paulo. A cada ano que passa a força das ondas está aumentando e destruindo sistematicamente grandes trechos desse calçadão. Na Ponta da Praia em Santos, também no litoral paulista, o avanço da maré causa enormes enchentes na região. 

Casos mais graves são o de nações-ilha dos Oceanos Pacífico e Índico que correm o risco de desaparecer dentro de poucos anos. Um dos casos é o das Ilhas Maldivas, um arquipélago do Oceano Índico formado por 1.196 pequenas ilhas, agrupadas em 26 atóis. A população total das ilhas é de 330 mil habitantes, que vivem basicamente da pesca e do turismo. 

O ponto mais alto da Ilhas Maldivas fica a exatos 2,3 metros acima do nível do mar – aliás, a altitude média do território é de 1,5 metros. A maior parte da população vive em áreas com altitude de 1 metro acima do nível do mar. A capital do país, Malé, onde vivem 100 mil pessoas fica a desesperadores 0,9 metros em relação ao nível do mar! 

Outro caso crítico é o de Kiribati, um arquipélago localizado próximo da linha do Equador no centro do Oceano Pacífico. É composto por 33 ilhas e possui uma área total de 811 km², o que corresponde a duas vezes o tamanho da cidade de Curitiba. Apenas 20 das ilhas são habitadas, abrigando uma população de mais de 110 mil habitantes.  

As ilhas que formam o arquipélago de Kiribati são na sua maioria atóis, formações que surgiram a partir de recifes de coral. Esse tipo de relevo é caracterizado por baixas altitudes em relação ao nível do mar – normalmente, essas altitudes variam entre 1 e 3 metros, por isso a extrema fragilidade das ilhas diante do aumento do nível das águas do oceano.   

Clique neste link para assistir à animação da NASA. 

Além desses casos, existem inúmeras áreas continentais de baixíssimas altitudes, onde o aumento do nível do oceano poderá ser catastrófico. Um desses casos é Bangladesh, país do Sul da Ásia que tem grande parte do seu território ocupado pela Delta do rio Ganges. Nessas áreas a altitude média é apenas 5 metros acima do nível do mar. 

Bangladesh é um dos países mais pobres do mundo e possui uma população de mais de 170 milhões de habitantes, vivendo em um território do tamanho do Estado do Ceará. Imaginem os impactos econômicos e sociais do avanço do mar nessa região… 

FALANDO UM POUCO SOBRE OS ESTOQUES DE CARBONO ARMAZENADO NOS SOLOS 

Em tempos de aquecimento global, com notícias alarmantes sobre ondas de calor e derretimento de geleiras, é cada vez mais urgente o controle das emissões dos GEE – Gases de Efeito Estufa. Conforme já tratamos em inúmeras postagens, esses gases amplificam o efeito estufa, um fenômeno natural da atmosfera, provocando uma elevação gradual das temperaturas globais. 

Um desses gases é o carbono, liberado em grande parte na atmosfera na forma do dióxido de carbono (CO2). Esse carbono faz parte do ciclo natural da vida no planeta, sendo absorvido por plantas e entrando na cadeia alimentar dos seres vivos. 

Além da atmosfera, o carbono é encontrado nos oceanos, na vegetação dos biomas e nos seres vivos, além de ser estocado nos solos e nas formações geológicas na forma do carbono mineral. De acordo com algumas estimativas, o total de carbono na Terra é da ordem de 416 Gigatoneladas, sendo que apenas 0,05% está presente nos compostos orgânicos.  

Os solos terrestres armazenam um volume equivalente a 2.500 Gigatoneladas de carbono. Esse volume corresponde a aproximadamente quatro vezes o que é armazenado pela biomassa florestal e a mais de três vezes o volume de carbono na atmosfera. Preservar esses solos passa a ser uma questão vital dentro dos esforços de combate às mudanças climáticas.

Sempre que falamos em biomassa vegetal é quase que impossível não falarmos da Floresta Amazônica e sua fabulosa área de mais de 5,5 milhões de km². Das 37 Gigatoneladas de carbono armazenadas nos solos do Brasil, cerca de 19,8 Gigatoneladas estão armazenadas nos solos amazônicos

A lista é seguida pelo Cerrado, com 8,1 Gigatoneladas de carbono armazenado, e pela Mata Atlântica, com um volume de 5,5 Gigatoneladas. Em valores médios, cada hectare de solo no Brasil armazena 45 toneladas de carbono. 

Apesar dos solos da Amazônia serem, disparados, os grandes armazenadores de carbono em números absolutos, estudos recentes indicam que a Mata Atlântica e os Pampas ganham em densidade – na Mata Atlântica são 50 toneladas de carbono por hectare e nos Pampas são 49 toneladas por hectare. Nesse quesito, a Amazônia fica em terceiro lugar com 48 toneladas por hectare. 

A manutenção dos estoques de carbono armazenados nos solos passa a ser um novo argumento para a conservação da cobertura vegetal. Os principais processos de perda de carbono nos solos são a lixiviação, a erosão, a volatilização e a decomposição (aeróbia e anaeróbia). 

A ação erosiva da água das chuvas está por trás da maior parte desses processos. Sem a proteção da cobertura vegetal, os solos ficam expostos à força das águas, que provocam o desprendimento e o arrastro de partículas primárias dos solos. A água também infiltra com facilidade nos solos, dissolvendo e removendo materiais solúveis. 

De acordo com informações do MapBiomas, uma rede colaborativa, formada por ONGs, universidades e startups de tecnologia, o Brasil perdeu 3,2 Gigatoneladas de carbono armazenado em seus solos entre 1985 e 2021. Essa perda se deu em áreas de solos degradados de floresta e equivalem a quase todo o estoque armazenado no bioma Caatinga, que correspondia a 2,6 Gigatoneladas em 2021. 

Apesar do mundo falar aberta e continuamento da destruição da Floresta Amazônica, a Mata Atlântica e os Pampas são os biomas mais ameaçados do Brasil. De sua área original no início da colonização, a Mata Atlântica já perdeu mais de 80% de sua cobertura. Nos Pampas essa perda já supera os 50%. 

Recuperar o que for possível dessas perdas e evitar que novas áreas florestais sejam destruídas ganham uma importância ainda maior em tempos de aquecimento global. 

DERRETIMENTO DAS GELEIRAS DA CORDILHEIRA DO HIMALAIA AMEAÇA 20% DA HUMANIDADE 

A Cordilheira do Himalaia, também conhecida como as Montanhas Himalaias, forma um arco com cerca de 2.500 km de extensão e largura entre 150 e 400 km no Sul da Ásia. A cordilheira se estende do Afeganistão até a China (incluindo o Tibete ocupado), atravessando o Paquistão, Índia, Nepal e Butão, além de pequenos trechos de Bangladesh e Mianmar.  

Essas montanhas se formaram a partir do choque entre a placa tectônica do Subcontinente Indiano, que formava parte do antigo supercontinente de Gondwana, com a Placa Asiática. A Cordilheira do Himalaia concentra algumas das montanhas mais altas do mundo – mais de 100 de suas montanhas possuem mais de 7 mil metros de altitude, incluindo o Monte Everest com seus 8.848 metros acima do nível do mar. 

As geleiras das Montanhas Himalaias concentram as nascentes dos maiores e mais importantes rios da Ásia. Só o rio Ganges, um dos mais importantes da Índia, atende ao abastecimento de mais de 500 milhões de pessoas. Outros grandes rios alimentados por geleiras dos Himalaias são: Indo, Bramaputra, Irauádi, Yang-Tsé (Rio Azul), Huang-Ho (Rio Amarelo) e o Mekong. Essa lista também inclui os rios Syr Daria e Amu Daria, os mais importantes da Ásia Central. 

Aproximadamente 240 milhões de pessoas vivem em regiões dentro do perímetro das Montanhas Himalaias. Ao longo dos vales dos rios alimentos com as águas de suas geleiras vivem cerca de 1,65 bilhão de pessoas. Ou seja – cerca de 20% da população do nosso planeta depende as águas que fluem das montanhas da Cordilheira do Himalaia. 

Um relatório do ICIMOD – Centro Internacional para o Desenvolvimento Integrado de Montanhas, uma organização intergovernamental que reúne oito países do Leste da Ásia, comprovou o que já se especulava há muito tempo – a perda de gelo nos glaciares dessas montanhas está se acelerando. 

De acordo com os estudos, as geleiras das montanhas dessa região do planeta apresentaram um crescimento na perda do gelo da ordem de 65% entre 2011 e 2020, quando comparado à década anterior. 

O estudo indica que essas geleiras poderão perder até 80% de sua massa de gelo até o final desse século caso as mudanças climáticas globais se mantenham no mesmo ritmo. Caso isso se confirme, grande parte do abastecimento de água das populações dessa extensa região estará seriamente comprometido. 
 

Problemas muito parecidos ameaçam outros rios com nascentes em glaciares de montanhas por todo o mundo como nos Alpes na Europa, nas Montanhas Rochosas na América do Norte ou ainda a Cordilheira dos Andes na América do Sul. Entretanto, nenhuma dessas regiões concentra uma quantidade tão grande de pessoas quanto na área de influência das montanhas da Cordilheira do Himalaia. 

Essa, com toda a certeza, será uma das maiores tragédias humanas das próximas décadas. 

AS TEMPERATURAS RECORDES NA PENÍNSULA IBÉRICA 

Na última postagem falamos das preocupações com o rápido aumento das temperaturas na Europa – estudos indicam que o continente está se aquecendo duas vezes mais rápido que a média mundial. 

Um estudo publicado no último mês de maio vem de encontro a essas preocupações. Um relatório do Programa de Observação da Terra da União Europeia, o Copernicus, confirmou que a Península Ibérica registrou o quarto mês de abril mais quente da história quando comparado ao período entre 1991 e 2020.  

Massas de ar quente mantiveram as temperaturas próximas dos 40º C em várias regiões em pleno início da primavera no Hemisfério Norte. É sempre importante lembrar que o auge do verão europeu ocorre entre os meses de julho e agosto. 

Temperaturas muito mais quentes que a média também foram encontradas em partes da África, ao redor do Mar Cáspio e no Sudeste Asiático, além do Norte do Japão. 

Na média, as temperaturas da Península Ibérica durante o mês de abril ficaram 3º C mais quentes quando comparadas às temperaturas médias observadas entre os anos de 1991 e 2020, de acordo com informações da AEMET – Agência Meteorológica Espanhola. 

De acordo com os cientistas e meteorologistas, esse calor extremo na região do Mar Mediterrâneo seria praticamente impossível sem os impactos do aquecimento global. Conforme já comentamos em diversas postagens anteriores aqui do blog, as grandes emissões de gases de efeito estufa já levaram a um aumento das temperaturas globais em cerca de 1,2º C em relação aos tempos da era pré-industrial. 

Ainda segundo a EMET, o último mês de abril foi o mais seco na Espanha desde que começaram a ser feitos os registros em 1961. A seca também foi forte na região do Sul dos Alpes, na costa mediterrânea da França, no Noroeste da Escandinávia, nos países bálticos e em grande parte do Oeste da Rússia. 

Com a confirmação da ocorrência do fenômeno climático El Nino neste ano, os meteorologistas esperam que as temperaturas médias na Península Ibérica e em outras partes do mundo permaneçam acima dos valores “normais” ou históricos. 

Os problemas com a “máquina climática global” não param por aí – Alasca, Mongólia, Península Arábica, Índia e Austrália apresentaram temperaturas mais baixas que a média durante o mesmo mês de abril. No Sudestes dos Estados Unidos, em partes da Ásia, no Noroeste da Austrália e na Tanzânia o clima ficou mais úmido no período. 

Aqui no Brasil e na América do Sul também tivemos uma série de anormalidades climáticas no mesmo período – em toda a região da Pampa, bioma que se estende pelo Sul do Brasil, Uruguai e Centro-Norte da Argentina, se manteve uma forte seca. Em muitas regiões do Brasil, como no Pantanal, as chuvas caíram acima da média

Com a chegada do El Niño, vamos testemunhar uma série de problemas climáticos em toda a nossa região, com expectativa de seca nas regiões Norte e Nordeste e chuvas acima da média na Região Sul e também na Argentina e no Uruguai. 

As mudanças climáticas estão criando uma verdadeira montanha russa no clima global e todos nós vamos precisaremos nos adaptarmos ao sobe e desce das temperaturas e também às mudanças nos ciclos da chuva. 

Como cantou um artista: “nada mais será como já foi um dia…” 

TEMPERATURAS NA EUROPA ESTÃO AUMENTANDO DUAS VEZES MAIS RÁPIDO DO QUE NO RESTO DO MUNDO 

Autoridades dos países da União Europeia estão preocupadas com as ilhas de calor que estão se tornando frequentes nas cidades do continente. De acordo com um estudo da AEA – Agência Europeia do Ambiente, cerca de 46% dos hospitais e 43% das cidades do continente estão localizados em “ilhas de calor”, onde as temperaturas podem ficar mais de 2º C acima da média regional.  

Essa preocupação acaba de ser corroborada por um relatório da OMM – Organização Meteorológica Mundial e de cientistas ligados ao Copernicus, o Programa de Observação da Terra da União Europeia. De acordo com esse estudo, a Europa teve a sua temperatura média aumentada em 2,3º C em relação ao período pré-industrial (1850-1900). 

De acordo com o professor Petteri Taalas, secretário-geral da OMM, as demais regiões climáticas do planeta apresentaram um aumento de 1,2º C no mesmo período. Isso significa que a faixa de terras ocupada pelo continente europeu do Estreito de Gibraltar, no Sul da Espanha, até os Montes Urais, na Rússia, apresentou um ritmo de aquecimento duas vezes maior que a média mundial. 

Conforme comentamos em inúmeras postagens aqui do blog, o aquecimento global é um dos maiores problemas ambientais da humanidade. Até onde os cientistas já conseguiram entender, as ações humanas são as maiores responsáveis por essa verdadeira tragédia ambiental. Fenômenos naturais também podem estar dando as suas contribuições. 

A grande vilã do aquecimento global são as emissões de GEE – Gases de Efeito Estufa. Entre esses gases destacamos o dióxido de carbono (CO2), o Metano (CH4), o Óxido Nitroso (N2O) e o Hexafluoreto de Enxofre (SF6). Esses gases intensificam o efeito estufa, um fenômeno natural da atmosfera do nosso planeta, e produzem um aumento das temperaturas na superfície da terra.   

Os gases de efeito estufa são liberados pelas mais diferentes fontes, indo desde a decomposição de material orgânica, passando pela digestão de animais herbívoros como ovelhas e bois, chegando até as queimadas naturais em áreas de savanas e de florestas. A queima de combustíveis fósseis como os derivados de petróleo e o carvão mineral são, de longe, as maiores fontes desses gases. 

Em um comunicado divulgado em novembro do ano passado, a OMM já alertava que a Europa apresentava um ritmo de aquecimento de 0,5º C por década. De acordo com os cientistas isso acontece em função da localização do continente ser muito próxima do Ártico, a região de aquecimento mais rápido do planeta. 

Esse aumento das temperaturas vem amplificando ondas de calor, secas, incêndios florestais e problemas de saúde nas populações. De acordo com a base de dados da OMM, fenômenos meteorológicos, hidrológicos e climáticos afetaram diretamente 156 mil pessoas de provocaram 16.365 mortes na Europa em 2022. Desse total de mortes, 99,6% foram provocadas por ondas de calor. 

Quase 2/3 dos problemas foram provocados por tempestades e enchentes, eventos ligados diretamente as altas temperaturas. Somente em prejuízos econômicos, esses eventos causaram perdas de US$ 2,13 bilhões em 2022. 

O verão de 2022, foi considerado o mais quente da história da Europa, afetando principalmente países como Alemanha, Bélgica, Espanha, França, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Portugal, Reino Unido e Suíça. 

Ondas de calor marinhas severas e extremas foram relatadas em diversas regiões dos mares Mediterrâneo, Negro e Báltico em 2022. As temperaturas médias das águas superficiais do Atlântico Norte também foram as mais quentes já registradas. Geleiras de cadeias montanhosas como os Alpes e Pirineus apresentaram os maiores níveis de derretimento da história. 

Segundo a OMM, as geleiras da Europa perderam um volume equivalente a 880 km³ de gelo desde 1997. Esse problema vem sendo agravado pela redução da precipitação de neve em muitas cadeias de montanha. 

Episódios de secas também são cada vez mais intensos. A Península Ibérica está enfrentando o quarto ano consecutivo de secas e regiões montanhosas dos Alpes e dos Pirineus estão entrando no terceiro ano com esse problema. 

A França, em 2022, enfrentou a sua pior seca desde 1976, entre os meses de janeiro e setembro. No caso do Reino Unido, esse período de secura grave se estendeu entre os meses de janeiro e agosto. Massas de ar muito quentes vindas do Deserto do Saara são as responsáveis por essas secas. 

Um dos únicos pontos positivos apresentados nesse relatório foi o aumento da produção de energia elétrica a partir de fontes renováveis, que atingiu a marca de 22,3%, contra uma participação de 20% das usinas termelétricas a gás. Essa foi a primeira vez que as fontes renováveis conseguiram essa façanha. 

Muitos “euroambientalistas” vão querer jogar a responsabilidade dessa imensa catástrofe ambiental na “conta” das queimadas e na destruição da Floresta Amazônica. Infelizmente, os países europeus figuram entre os maiores responsáveis por esse desastre, especialmente por causa da queima de grandes volumes de carvão mineral, o que cresceu muito a partir da Revolução Industrial iniciada em meados do século XVIII. 

Nós, os “vilões” brasileiros, produzimos mais de 80% da energia elétrica que consumimos a partir de fontes renováveis e começamos a “queimar” a Amazônia a menos de 50 anos. Nossa responsabilidade dentro desse cenário catastrófico é bem pequena… 

CALOR EXCESSIVO NO VERÃO PODE REPRESENTAR RISCOS PARA ESCOLAS E HOSPITAIS NA EUROPA 

Nos últimos dias uma massa de ar seco e frio entrou no Brasil e derrubou as temperaturas nas regiões Sul e Sudeste. Em algumas cidades do Rio Grande do Sul os termômetros têm registrado temperaturas abaixo de 0º C durante as madrugadas. No Estado de São Paulo, que fica na Região Sudeste, os termômetros marcam nesse momento 10º C. 

Enquanto vamos nos ambientando por aqui com as temperaturas deste início de inverno na Região Centro-Sul do Brasil (nas regiões Norte e Nordeste do país o clima é bem mais quente nesta época do ano), populações da Europa já estão se preocupando com as ondas de calor intenso que deverão se formar no verão do Hemisfério Norte. 

Só para recordar, a rotação e a translação são os mais importantes movimentos do nosso planeta e são responsáveis por uma série de fenômenos meteorológicos e pela mudança das estações do ano. As mudanças na inclinação do eixo do planeta fazem com que as estações climáticas sejam invertidas nos Hemisférios Norte e Sul – quando é inverno aqui no Sul, o pessoal do Norte enfrenta o verão. 

Um alerta recente da AEA – Agência Europeia do Ambiente, informou que cerca de 46% dos hospitais e 43% das cidades do continente estão localizados em “ilhas de calor”, onde as temperaturas podem ficar mais de 2º C acima da média regional. Essa característica torna esses locais especialmente vulneráveis às ondas de calor, cada vez mais frequentes na Europa. 

Conhecidas internacionalmente pela sigla ICU, as Ilhas de Calor Urbanas são provocadas pela grande concentração de edificações, especialmente nas áreas centrais das grandes cidades, onde são usados materiais como concreto, asfalto, telhas, tijolos e blocos, que absorvem e retém grandes quantidades de calor.  Além das altas temperaturas, essas áreas sofrem com chuvas violentas. É um fenômeno climático que começou a ser observado em décadas recentes nas grandes cidades do mundo 

Um exemplo de Ilha de Calor Urbano é a zona central da cidade de São Paulo. Se você consultar um mapa, verá que o município de São Paulo tem um formato que lembra a cabeça de um cachorro: o focinho é a Zona Leste, as orelhas são a Zona Norte e o pescoço comprido inclui a Zona Oeste e a Zona Sul, a maior de todas as regiões da cidade. O extremo Sul do município é coberto por uma densa vegetação de Mata Atlântica dentro da região da Serra do Mar, distante mais de 50 km do centro da cidade. 

O extremo Sul do município de São Paulo chega a apresentar temperaturas até 10° C mais baixas que o centro da cidade. Conforme se segue na direção do Centro, as temperaturas vão aumentando progressivamente. Quando alguém sai do Centro da cidade e vai em direção ao extremo da Zona Norte, onde fica a área florestada da Serra da Cantareira, percebe nitidamente uma redução da temperatura. 

Esse fenômeno ficou bem aparente na cidade de São Paulo entre as décadas de 1970 e de 1980, período em que a cidade viveu um enorme crescimento populacional e da sua mancha urbana, o que alterou, inclusive, o clima regional. Um exemplo que sempre citamos foi o fim da famosa garoa paulistana, uma chuva com gotas finíssimas que caia sempre no final da tarde sobre a cidade e que desapareceu no final da década de 1970. 

As mudanças climáticas globais estão elevando as temperaturas em várias regiões do planeta e tornando esse fenômeno cada vez mais evidente. E na Europa, que é um dos continentes com as populações mais urbanizadas do mundo, esse é um problema que deverá aumentar cada vez mais ao longo dos próximos anos. 

A formação das Ilhas de Calor Urbano pode agravar o fenômeno das ondas de calor ou tempo de canícula, que são os períodos de tempo excessivamente quente e úmido em uma região. Esse calor prolongado pode resultar em problemas de saúde na população, especialmente aqueles ligados a termorregulação corpórea e da percepção da necessidade de hidratação.  

Pessoas idosas e doentes são as mais susceptíveis a esses problemas, que podem inclusive levar a morte. Aqui é importante destacar que a população da Europa está envelhecendo, o que aumenta o tamanho do grupo de risco. Crianças também podem ser fortemente afetadas, o que foi demonstrado pelas preocupações das autoridades com as escolas. 

Como sempre comentamos em nossas postagens, as mudanças climáticas são inevitáveis e as ilhas de calor de calor urbanas tendem a se tornar cada vez mais relevantes. A forma mais eficiente de combater esse fenômeno é o com o “esverdeamento” das zonas centrais das cidades.  

Os solos precisarão ser permeabilizados, principalmente com a criação de grandes áreas verdes no coração das cidades, o que em muitos casos vai implicar na demolição de edifícios e outras construções – muitas deles históricos. A arquitetura dos grandes edifícios precisará ser repensada, buscando-se novas técnicas construtivas e materiais que não retenham grandes quantidades de calor. Córregos e rios já canalizados precisarão ser novamente abertos e precisarão ter suas margens renaturalizados. 

Um exemplo da complexidade do que estamos falando foi o que a cidade de Seul, capital da Coreia do Sul, fez para revitalizar o Cheonggyecheonum rio localizado no centro da cidade e que foi canalizado na década de 1960. Foram necessários dois anos de trabalho e um investimento de US$ 280 milhões (algumas fontes falam de US$ 380 milhões). A demolição de um viaduto que existia no local, só para exemplificar o tamanho da obra, gerou 600 mil toneladas de entulho. 

O trabalho foi concluído em 2005, e resultou num parque urbano linear com 5.8km de extensão, 400 hectares de área e 80 metros de largura (vide a sequência com as imagens da obra no alto) – 30 mil pessoas visitam o parque a cada fim de semana.  A temperatura nessa área é, em média, 3,6º C mais baixa que no resto da área central de Seul.

Agora tentem imaginar cidades grandes e históricas como Paris, Roma, Lisboa ou Londres demolindo quarteirões inteiros de construções para construir parques parecidos com esse de Seul… 

Sentiu o tamanho do problema? 

PESQUISA REVELA QUE 30% DA ÁGUA CONSUMIDA POR COMUNIDADES RURAIS DE GOIÁS ESTÁ CONTAMINADA 

Na nossa última postagem falamos de estudos meteorológicos que confirmam a chegada do fenômeno climático El Niño. Conforme apresentamos, esse fenômeno se caracteriza por um aquecimento anormal das águas superficiais de uma extensa faixa do Oceano Pacífico, o que vai provocar alterações no clima de todo o mundo. 

Aqui no Brasil, o El Niño costuma provocar uma redução das chuvas nas Regiões Norte e Nordeste, ao mesmo tempo em faz as chuvas aumentarem na Região Sul. Os produtores rurais dessas regiões temem pelos impactos tanto do excesso quanto da falta de chuvas em suas respectivas produções agrícolas e pecuárias. Só lembrando: cerca de 70% da água disponível em uma região é usada pela agricultura e pecuária. 

As preocupações com esses grandes consumidores de água muitas vezes nos fazem esquecer do pequeno consumo diário necessário para a sobrevivência das populações. De acordo com recomendações da OMS – Organização Mundial da Saúde, cada pessoa tem o direito de ter, pelo menos, 100 litros de água à sua disposição a cada dia. 

Essa água se destina a saciar a sede, cozinhar, tomar banho, eliminar os dejetos sanitários, lavar roupa e limpar a habitação. Em regiões bem desenvolvidas e com uma boa infraestrutura, essa meta é atingida com folga – um exemplo é a cidade de São Paulo, onde a população pode consumir 150 litros de água per capita. Em regiões pobres e de clima árido e/ou semiárido, as populações sobrevivem com apenas uma fração disso – algo entre 5 e 20 litros por dia. 

Um exemplo de como muitas vezes esse consumo individual de água acaba sendo desprezado por governantes e autoridades é o que foi constatado por uma pesquisa do IPTSP/UFG – Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública da Universidade Federal de Goiás. Análises feitas em águas subterrâneas e superficiais consumidas por comunidades rurais apresentavam altos índices de contaminação por patógenos. 

Entre os principais contaminantes encontrados estavam os resíduos fecais, ou seja, essas águas receberam lançamentos de esgotos contaminados por fezes humanas ou de animais. Em cerca de 30% das amostras de água contaminada foram encontrados vírus responsáveis pela transmissão de doenças gastrointestinais e diarreias. 

Antes de tudo, é preciso comentar que o foco da equipe de pesquisa eram os patógenos presentes na água. As amostras coletadas, é claro, também apresentaram outros contaminantes como resíduos de feritilizantes e de pesticidas, resíduos de mineração, óleos entre outros. 

Rotavírus, um vírus da família Reoviridae, que é um dos principais agentes causadores de doenças diarreicas agudas e um dos principais causadores de diarreia grave em crianças menores de 5 anos, foi encontrado em 20% dessas amostras. 

Em 9,4% das amostras foram encontrados adenovírus humano, um grupo de vírus que normalmente causam doenças respiratórias, como um resfriado comum, a conjuntivite (uma infecção no olho), crupe, bronquite ou pneumonia. Nas crianças, os adenovírus geralmente causam infecções no trato respiratório e no trato intestinal. 

Em outros 4,4% dessas amostras foram encontrados enterovírus, que são responsáveis por uma grande diversidade de doenças especialmente em crianças – as chamadas viroses. Essas doenças normalmente afetam o trato gastrointestinal, causando sintomas como febre, vômitos e dor de garganta. 

Os pesquisadores coletaram 160 amostras de água em diferentes tipos de fontes: poços rasos escavados (conhecidos como cacimbas em muitas regiões), poços tubulares profundos, nascentes, mananciais superficiais, água de chuva armazenada em cisterna e em caminhões pipa. 

O rotavírus foi encontrado com maior frequência em fontes subterrâneas como os poços rasos. Em amostras coletadas em nascentes, 11,8% apresentaram contaminação por adenovírus humano. Nas amostras coletadas em cisternas foram encontrados adenovírus humano e rotavírus em proporções equivalentes – 15,8%. 

Os pesquisadores ficaram surpresos com a expressiva contaminação de águas em fontes profundas como os poços tubulares. Normalmente, por causa do seu fácil acesso, são as fontes superficiais de água que estão mais susceptíveis à contaminação, especialmente por esgotos. 

Além de todas as preocupações com os mais diferentes tipos de contaminantes encontrados nas fontes de água, que também podem ser bastante prejudiciais à saúde, é extremamente preocupante os riscos diretos desses patógenos para saúde das populações das comunidades rurais de Goiás. A diarreia, por exemplo, é uma doença chamada de “assassina silenciosa de crianças”. 

A diarreia é a segunda maior causa de morte de crianças com menos de 5 anos no mundo – são cerca de 1,5 milhões de mortes a cada ano. No Brasil, morrem em média 3 crianças por dia por causa da doença, sendo que em muitos casos, a doença foi contraída justamente por causa do consumo de água contaminada. 

Uma questão que chama a atenção nesse estudo é o fato do Estado de Goiás estar localizado integralmente dentro dos domínios do Cerrado Brasileiro. Os solos desse bioma são bastante permeáveis, uma característica que facilita a infiltração da água da chuva na direção de aquíferos e lençóis subterrâneos de água

É provável – grifo do blog, que essa permeabilidade esteja facilitando a contaminação das reservas subterrâneas de água por esses vírus. Caso isso se confirme, é provável que em outros Estados inseridos no bioma apresentem problemas bastante semelhantes. 

Normalmente, são as fontes de águas superficiais como riachos, rios, lagos e represas as mais susceptíveis a essas contaminações. Porém, é sempre importante lembrar que todas as fontes de água são importantes – especialmente aquelas que se destinam ao abastecimento de populações humanas. Todo o cuidado com elas é pouco!