
Há exatamente um mês atrás o Goldman Sachs, um dos maiores grupos financeiros do mundo, publicou um relatório afirmando que o aumento nos preços dos grãos vai elevar a inflação global dos alimentos ao longo dos próximos anos. Naquele momento, o conflito entre a Ucrânia e a Rússia ainda era uma possibilidade, o que nos leva a crer que as coisas ainda vão piorar muito.
De acordo com o estudo do Goldman Sachs, a produção de grãos vem sofrendo nos últimos anos com secas, problemas na cadeia de suprimentos como fertilizantes e pesticidas, com a escassez de mão de obra (como visto com a epidemia da Covid-19 na Europa), além do aumento da demanda. Os preços dos grãos aumentaram cerca de 25% no último ano e estão próximos do recorde histórico de 2011.
A Ucrânia é um grande produtor de grãos, com uma produção de 84 milhões de toneladas em 2021. As exportações do país atingiram a marca de 42,5 milhões de toneladas, onde se destacam o trigo, com cerca de 18 milhões de toneladas, a cevada, com 5,5 milhões de toneladas, e o milho, com cerca de 18,6 milhões de toneladas. Outro produto de destaque no país são as sementes de girassol (vide foto), usadas na produção de óleo comestível.
O conflito com a Rússia poderá afetar drasticamente essa produção e diminuir ainda mais a oferta de grãos no mercado internacional, o que vai significar preços mais altos em todo o mundo. Convém destacar que a Rússia também é uma grande produtora e exportadora de grãos – embargos comerciais internacionais poderão impedir a venda desses alimentos no mercado internacional.
O território da Ucrânia tem cerca de 600 mil km2, pouca coisa a mais que o Estado de Minas Gerais, e uma população de 44 milhões de habitantes. O país é rico em solos de “terra negra”, ideais para a agricultura. Além de grãos, o país é um grande produtor de frutas, vegetais, legumes e tubérculos como batatas e beterrabas. Aliás, a Ucrânia é famosa pela sua grande produção de açúcar de beterraba.
Outro produto agrícola importante do país são os vinhos. Existem registros históricos e sítios arqueológicos na Crimeia (região que foi invadido e anexada pela Rússia em 2014, e que está na raiz do atual conflito) que indicam que a produção vinícola vem ocorrendo na região desde o século IV a.C.
Russos e ucranianos tem um “DNA” comum – o povo russo se formou no território da Ucrânia a partir da fusão de diversas tribos nômades das estepes asiáticas. De lá, esse povo passou a se expandir rumo ao Norte e ao Leste, conquistando sucessivos territórios até chegar a atual configuração da Rússia.
Kiev, a capital da Ucrânia foi fundada no século V de nossa era, e foi a sede do governo russo durante vários séculos. Na literatura russa, Kiev é frequentemente chamada de a “mãe de todas as cidades russas”. Apesar de toda essa fraternidade histórica entre russos e ucranianos, a relação entre os dois povos já passou por momentos verdadeiramente dramáticos como o Holodomor.
Após a chamada Revolução Russa de 1917 e a subsequente formação da URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, a Ucrânia assumiria o papel de “celeiro” do grande bloco socialistas. A República Socialista produzia farinha de trigo, pão, produtos lácteos, frutas e vegetais frescos, que eram distribuídos para todo o bloco dos países soviéticos. Essa abundancia de alimentos provocava inveja em muitos povos de Repúblicas localizadas em regiões subárticas e semiáridas, onde a produção de alimentos era bem pequena.
Entre os anos de 1932 e 1933, período em que problemas climáticos afetaram imensamente a produção agrícola na Ucrânia, milhões de pessoas (as estimativas ficam entre 2 milhões e 7 milhões) morreram de fome no país. Devido a disputas políticas entre grupos, Josef Stálin, o grande chefe do Governo Central da URSS, confiscou toda a produção de alimentos da Ucrânia como uma forma de represália. Essa tragédia entrou para a história com o nome de Holodomor (em ucraniano – “holod“, de fome, e “mor“, de praga ou morte), o holocausto dos ucranianos.
A animosidade entre russos e ucranianos tem outras razões – uma das principais foi a intensa colonização de seu território por russos durante a era da URSS. O Governo Central em Moscou criou uma política de “russialização” de todas as Repúblicas Soviéticas. Milhares de famílias de russos étnicos eram forçadas a mudar para os territórios das demais Repúblicas. Essa política era uma forma de forçar o uso da língua russa e de incorporar costumes típicos do país entre os demais povos soviéticos.
Em algumas províncias da Ucrânia, como são os casos de Donetsk e Lugansk no Leste do país, os russos étnicos formam a maioria da população. Grupos separatistas pró-Rússia vem lutando contra o Governo de Kiev e, recentemente, essas províncias obtiveram o reconhecimento da independência por parte de Moscou.
O verdadeiro “balaio de gatos” em que se transformou a Ucrânia tem um outro complicador – já há vários anos o país vem se aproximando da OTAN – Organização do Tratado do Atlântico Norte, uma aliança criada logo após a Segunda Guerra Mundial justamente para se contrapor a URSS. O Governo da Rússia, que não aceita essa aproximação em nenhuma hipótese, está usando toda essa série de questões, que segundo o discurso oficial “ameaçam a segurança da Rússia”, como justificativa para a invasão do país.
Essa breve e pouca profunda exposição da situação da Ucrânia mostra como as questões entre o país e a Rússia são complexas e complicadas, indicando que o caos atual poderá se estender por muito tempo. E dentro desse cenário é bastante difícil imaginar que a outrora grande produção de alimentos no país venha a se repetir no curto prazo.
Além da crise na produção de alimentos, conforme comentamos na postagem anterior, existe a questão do fornecimento de gás da Rússia para a Europa. Muitos países como a Alemanha e a Áustria importam metade do gás usado na geração de energia elétrica, em indústrias e no aquecimento de residências da Rússia. Muitos dos sistemas de transporte do produto – os gasodutos, atravessam o território ucraniano.
Essa cruel dependência, que em muito foi criada pela pressa desses países em descarbonizar suas economias em prol do meio ambiente, está forçando muitos Governos a assumir uma postura de fraqueza diante do grave avanço da Rússia contra uma nação independente. Observem nos noticiários como as críticas da Alemanha à Rússia, citando um exemplo, estão vários tons abaixo do que se esperaria para a situação grave que estamos vivendo.
Finalizando o raciocínio – o Brasil, que nos últimos anos vem assumindo uma posição de destaque como um dos grandes celeiros do mundo, é um dos poucos países que tem condições de expandir suas frentes agrícolas para aumentar a produção de grãos. Isso por um lado poderá representar um grande alívio para o mercado mundial de alimentos, mas traz em seu bojo enormes riscos ao meio ambiente – a abertura de novas frentes agrícolas poderá resultar em grandes derrubadas de matas nativas, especialmente na região do Cerrado.
Vejam o tamanho do estrago que a atitude de um único Governo pode provocar na economia mundial.
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[…] de girassol. Para se ter uma ideia do tamanho do problema – os dois países respondem juntos por 30% da produção mundial de trigo. A commodity subiu muito nos últimos meses e há sérios riscos de desabastecimento no mercado […]
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[…] e ucranianos também acertou em cheio a segurança alimentar de muita gente. Ambos os países são grandes produtores de alimentos – falando apenas do trigo, Rússia e Ucrânia respondem por 1/3 da produção mundial. Essa é […]
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[…] representa uma ameaça para o abastecimento de trigo nos países europeus. Conforme já citamos em outras postagens, Rússia e Ucrânia respondem por 1/3 da produção mundial de […]
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