
Os Pampas ou Campos Sulinos formam o segundo menor bioma do Brasil, só sendo maior que o Pantanal Mato-Grossense. O bioma se concentra no Estado do Rio Grande do Sul e ocupa uma área equivalente a 2% do território brasileiro. Os Pampas se estendem além das nossas fronteiras e ocupam importantes áreas no Uruguai e na Argentina, países onde é conhecido como La Pampa.
Dentro do Brasil, os Pampas ocupam uma área total de pouco mais de 176 mil km². No total, o bioma ocupa uma área total de 750 mil km², ocupando praticamente todo o território do Uruguai e as províncias argentinas de Buenos Aires, La Pampa, Santa Fé, Córdoba, Entre Rios e Corrientes.
De uma forma geral, os Pampas se caracterizam por terras onduladas com cerros, pequenas elevações em forma de tabuleiro. Normalmente, esses terrenos são bem servidos de chuvas, onde crescem gramíneas e arbustos de diferentes espécies intercaladas por pequenos bosques e capões esparsos. Costumam abrigar numerosos riachos e pequenos rios, mais conhecidos como arroios, além de formar pequenas lagoas entre os cerros no período das chuvas.
Em tempos geológicos distantes, toda a região hoje ocupada pela Pampa/Pampas era um grande deserto de areias – esse deserto se entendia por grande parte das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil. Após o início do longo processo de fragmentação do antigo Supercontinente de Gondwana, teve início um período de intensa atividade vulcânica nessa região, conhecido como Derrame de Trapp.
Durante esse evento, enormes volumes de lava vulcânica foram derramados sobre esse solo de areias, formando uma grossa camada de rochas graníticas. Uma das consequências desse processo foi a formação do Aquífero Guarani, um dos maiores reservatórios subterrâneos de água doce do mundo.
Processos erosivos ao longo de milhões de anos cobriram essa camada de rochas graníticas com camadas de solos altamente arenosos e também com uma fina camada de solo fértil. Apesar de muito frágeis e suscetíveis a processos erosivos, os solos desse bioma são extremamente férteis para a produção agrícola e altamente produtivos para a agropecuária.
Na Argentina, em particular, os solos da Pampa ocupam cerca de 25% do território e concentram a maior parte da produção de grãos do país. Foi graças a alta produtividade desse bioma, especialmente do trigo, que o país entrou no século XX como uma das nações mais ricas do mundo, condição que ela manteve até o final de década de 1920.
Todo o bioma está sofrendo com uma intensa estiagem já há três anos. No Rio Grande do Sul já são 334 municípios atingidos pela seca, grande parte deles dentro dos domínios dos Pampas. De acordo com informações da FAMURS – Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul, os impactos econômicos poderão chegar aos R$ 100 bilhões.
Segundo a FAMURS, para cada R$ 1,00 que deixa de ser gerado pela produção agropecuária, R$ 3,00 são perdidos pela economia do Estado do Rio Grande do Sul. Isso nos dá uma ideia dos impactos da estiagem para os gaúchos.
Pela extrema importância da Pampa para a Argentina, a situação econômica por lá é bem mais desesperadora, lembrando aqui que os porteños convivem há vários anos com uma enorme crise econômica e com uma inflação galopante.
A Bolsa de Cerais de Buenos Aires divulgou a poucos dias atrás uma nova projeção da safra agrícola 2022/2023, com números ainda mais desanimadores. A safra foi estimada em 33,5 milhões de toneladas, cerca de 4,5 milhões de toneladas a menos que a estimativa anterior.
A região central da Argentina, considerada o grande celeiro agrícola do país, já perdeu metade da produção de soja nesta safra. A expectativa inicial era a de se atingir uma produção de 19,7 milhões de toneladas de soja, mas as projeções atuais já falam de pouco mais de 10 milhões de toneladas – a situação, entretanto, não para de piorar.
De acordo com a FAA – Federação Agrícola Argentina, esta será a pior safra dos últimos 14 anos, uma péssima notícia para um país que precisa gerar, desesperadamente, recursos em moeda forte. Além das mazelas ligadas diretamente ao clima, os produtores culpam também a falta de políticas governamentais para o setor, a alta tributação, os problemas cambiais e a alta inflação.
No pequeno Uruguai, país que tem menos de 3,5 milhões de habitantes, a situação não é menos desesperadora. As atividades agropecuárias e da agroindústria representam 12% do PIB – Produto Interno Bruto, e respondem por cerca de 70% do total das exportações do país.
Conforme comentamos na postagem anterior, a NOAA – Administração Nacional Oceânica e Atmosférica do Estados Unidos, na sigla em inglês, afirmou que o bioma Pampa é a região do mundo que está sendo mais fortemente afetada pela seca atualmente.
Para o Brasil, onde o bioma corresponde a apenas 2% do território, o problema é facilmente contornável pelo aumento da produção agropecuária nos outros biomas e também por subsídios financeiros aos produtores afetados pela seca.
No caso da Argentina, a situação é muito pior – metade do território do país é formado por desertos e outros ¼ por áreas montanhosas. La Pampa é uma espécie de ilha de fertilidade e de produtividade única. No Uruguai, o bioma representa mais de 90% do território do país.
Além de comprometer a renda de dezenas de milhares de produtores rurais, essa grande estiagem representa uma sensível perda para a produção e a disponibilidade de alimentos num mundo que já está caminhando a passos largos para uma escassez generalizada de vários produtos agropecuários.
A questão é preocupante.