O Rio Grande do Sul está enfrentando uma temporada de fortíssimas chuvas e enchentes generalizadas em grandes áreas do Estado. De acordo com o Governo do Estado, esta é a maior tragédia climática a atingir o Rio Grande do Sul em todos os tempos. Uma das áreas em situação crítica hoje é a região hidrográfica do Guaíba, especialmente a cidade de Porto Alegre.
Conforme mostramos na postagem anterior, grandes bacias hidrográficas das faixas Sul, Central e Leste do Rio Grande do Sul desaguam diretamente na Lagoa do Guaíba, região que até pouco tempo atrás era chamada simplesmente de rio Guaíba. Destaco aqui os rios Jacuí, dos Sinos, Caí e Gravataí.
Em momentos de forte chuva, o aumento do volume de água nesses rios, fatalmente, atingirá o Lago Guaíba e vai provocar inúmeros problemas na região metropolitana de Porto Alegre. Grandes enchentes nessas cidades, especialmente na capital gaúcha, já são uma espécie de “tradição”.
A maior enchente que já havia sido registrada em Porto Alegre data de 1941, quando o nível do Guaíba atingiu a cota de 4,76 metros – em condições normais essa cota é de 1 metro. A enchente que hoje está assolando a cidade superou essa marca e chegou os 5,76 metros.
Registros históricos mostram que a cidade enfrentou inúmeros outros eventos de forte enchente. Em 1873, citando um exemplo, a cota atingiu 3,5 metros. Em 1928 foram 3,3 metros; 3,22 metros em 1936 e 3,46 metros em 2023.
Entre os meses de abril e maio de 1941, o Rio Grande do Sul enfrentou uma sequência de 22 dias de fortes chuvas. De acordo com os registros meteorológicos, o volume de chuvas acumuladas no período chegou aos 791 mm. A contínua drenagem de toda essa água gradualmente provocou o aumento do nível do Guaíba e as águas rapidamente passaram a tomar conta das áreas centrais de Porto Alegre.
Mesmo com o fim das chuvas, os fortes ventos de sudeste que varriam a Lagoa dos Patos mantiveram as águas represadas e dificultaram o escoamento da enchente. Isso provocou uma angustiante demora para o fim dos alagamentos na cidade.
Segundo os relatos da época, a população passou a se valer de barcos para circular no centro da cidade. Entre os locais mais afetados foram destaque o Mercado Público, a Prefeitura e a rua da Praia. Também há relatos de enchentes nos bairros Navegantes, Passo d’Areia, Menino Deus e Azenha.
As estatísticas da época afirmam que 70 mil pessoas ficaram desabrigadas nesse evento. Aqui é importante citar que Porto Alegre tinha uma população de 272 mil habitantes no início da década de 1940. Da mesma forma que ocorre hoje, grande parte da população ficou sem os serviços de abastecimento de água e de energia elétrica.
Essa rápida apresentação de uma tragédia que aconteceu há mais de 80 anos atrás e que guarda uma enorme semelhança com a tragédia que hoje está assolando grande parte do Rio Grande do Sul, mostra que eventos climáticos extremos vêm acontecendo há muito tempo e teimam em se repetir ao longo do tempo.
Um forte El Niño, um fenômeno climático que cria uma série de problemas climáticos em todo o mundo, talvez esteja na origem das fortes chuvas que castigaram o Rio Grande do Sul no longínquo ano de 1941. Infelizmente, os meteorologistas só conseguiram comprovar a existência do El Niño há poucas décadas e nunca saberemos ao certo.
A ocorrência de uma enchente no passado com magnitude muito próxima da tragédia atual também coloca em xeque o discurso de muitos ambientalistas que afirmam que a causa das fortes chuvas no Sul do Brasil são uma consequência do aquecimento global e das mudanças climáticas.
Como sempre comentamos em nossas postagens, o clima está mesmo passando por mudanças em todo o mundo. Entretanto, jogar a culpa de tudo o que está acontecendo com o clima mundial nas costas do aquecimento global é um tanto precipitado e simplista. Os problemas existem – resta estabelecer cientificamente quais são os impactos.
Por fim, afirmar que Fulano ou Beltrano são os responsáveis pela tragédia (lembrando aqui da fala da Ministra do Meio Ambiente que acusou literalmente o ex-Presidente da República de ser o responsável pelas chuvas no Sul) é puramente demagogia política.
Nesse momento de tragédia, precisamos concentrar todos os nossos esforços e energias na ajuda as vítimas das enchentes. Isso é urgente. Procurar respostas ou supostos culpados pela tragédia poderá ser feito com calma no futuro.