UM BALANÇO INICIAL DOS ESTRAGOS CAUSADOS PELA “NEVASCA DO SÉCULO” NOS ESTADOS UNIDOS 

A forte tempestade de inverno que atingiu grande parte dos Estados Unidos e do Canadá nos últimos dias deixou um enorme rastro de destruição, prejuízos e mortes. De acordo com informações da AFP – Agência France Press, e da CNN, o número de mortos atingiu a marca de 62 neste último dia 28 de dezembro. 

O jornal Washington Post publicou um balanço inicial dos estragos causados pelo ciclone-bomba, nevascas, fortes ventos e chuva. Os números são impressionantes: 

  1. 200 milhões de norte-americanos ou 2/3 da população dos Estados Unidos foi colocada em estado de alerta de frio intenso entre os dias 21 e 24 de dezembro; 
  1. 1,5 milhão de residências ficaram sem o fornecimento de energia elétrica; 
  1. 16 mil voos foram cancelados entre os dias 22 e 28 de dezembro; 
  1. Mais de 600 motoristas ficaram presos em seus veículos por causa das nevascas e precisaram ser resgatados por equipes da Guarda Nacional, policiais, bombeiros e socorristas; 
  1. 10 Estados norte-americanos foram colocados sob alerta de nevascas e outros 12 em estado de risco de nevascas. Essa lista inclui Montana, Dakota do Sul, Dakota do Norte, Minnesota, Iowa, Indiana, Michigan, Nebraska, Wisconsin e Nova York; 
  1. Em vários Estados das regiões Norte e Sudeste foram batidos recordes de baixas temperaturas; 
  1. Também foi batido o recorde de precipitação de neve entre os Estados da Flórida e Nova York – foram 2.235 minutos ininterruptos. Na cidade de Buffalo, no Norte do Estado de Nova York, foram 37 horas de nevasca contínua, com um acúmulo médio de neve nas ruas de mais de 2 metros; 
  1. As rajadas de vento atingiram a marca de 114 km/h no Norte do Estado de Nova York e superaram os 100 km/h em diversas regiões do país. 

Mais impressionante que os números só as imagens da tragédia, que mais parecem cenas tiradas de filmes de ficção científica como “O dia depois de amanhã”… 

PS: As famosas Cataratas de Niagara (vide foto abaixo), que ficam próximas à cidade de Buffalo, congelaram devido ao frio intenso.

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A “NEVASCA DO SÉCULO” NOS ESTADOS UNIDOS 

Uma postagem rápida: 

Desde o último dia 21, os Estados Unidos e parte do Canadá estão sofrendo com fortes nevascas e ventos polares de rara intensidade, especialmente na região dos Grandes Lagos, na fronteira entre os dois países. Segundo as últimas atualizações, foram confirmadas 57 mortes, sendo 47 em 9 Estados norte-americanos e as demais no Canadá. 

No dia de Natal foram registradas temperaturas abaixo de zero grau em 48 dos 50 Estados do país, inclusive no Texas e outros Estados junto à fronteira com o México, região que costuma apresentar um clima mais ameno nessa época do ano. Dezenas de milhões de norte-americanos foram obrigados a comemorar as festas natalinas a luz de velas devido aos cortes na energia elétrica.  

De acordo com os meteorologistas, o país foi atingido por um ciclone-bomba, fenômeno climático que resultou nas maiores nevascas em mais de 30 anos. Um dos últimos eventos dessa magnitude foi uma grande tempestade de neve que atingiu a cidade de Buffalo, no Norte do Estado de Nova York em 1977, e que deixou cerca de 30 mortos. 

Em um comunicado ao público, divulgado nessa segunda-feira dia 26, autoridades dos Estados Unidos se referiram ao evento climático como a “nevasca do século” no país. O comunicado pediu cuidado redobrado à população, alertando que o evento ainda não terminou e que são esperadas novas quedas de neve. De acordo com Kathy Hochul, Governadora do Estado de Nova York, “ainda é perigoso estar fora de casa“. 

De acordo com informações oficiais, mais de 15 mil voos em todo o território dos Estados Unidos já foram cancelados – perto de 4 mil desses cancelamentos ocorreram na segunda-feira, dia 26. Centenas de pessoas que acabaram presas em carros durante nevascas ou que ficaram isoladas em suas casas precisaram ser resgatadas por membros da Guarda Nacional, policiais, bombeiros e socorristas. 

De acordo com o NWS – National Weather Service, ou Serviço Nacional de Meteorologia dos Estados Unidos, as condições do tempo deverão melhorar gradativamente nos próximos dias. Entretanto, o órgão recomenda muita cautela, especialmente para quem pretende viajar. 

Como diz o ditado, “cautela e canja de galinha não fazem mal a ninguém”… 

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E O VERÃO, COMO SEMPRE, CHEGOU, CHEGANDO… 

A faixa Leste do Estado de Santa Catarina está sofrendo com fortes chuvas. Muitas cidades do Estado estão com trechos alagados, estradas foram interditadas, encostas de morros ameaçam desmoronar e, muito pior, o desmoronamento de uma outra encosta ceifou a vida de duas adolescentes. 

Essa é uma pequena amostra dos problemas que vamos viver nos próximos meses com a chegada da temporada de chuvas. 

Como já virou uma espécie de mantra aqui no blog: sai verão, entra verão e os problemas continuam os mesmos. Alagamentos, enchentes, deslizamentos de encostas, mortes e inúmeros prejuízos econômicos. As esperadas chuvas, que cidades e campos tanto dependem, sempre chegam envoltas num misto de esperança e medo. 

O confuso ano de 2022 está chegando ao fim, mas parece que não quer acabar. Vivemos um processo eleitoral complicado aqui no Brasil, com muita gente não querendo reconhecer o resultado e com muitas incertezas sobre o futuro.  

No resto do mundo percebemos um ambiente estranho, com enormes problemas criados pelo conflito entre a Rússia e a Ucrânia, uma grande crise energética e a pandemia da Covid-19 mostrando que ainda não acabou. Isso sem falar em todos os problemas ambientais que estão sendo desencadeados pelas mudanças climáticas. 

Mas vamos deixar tudo isso por conta do tempo – de um jeito ou de outro as coisas vão voltar a se acomodar e a vida vai continuar.  

Meus melhores desejos de um Feliz 2023 a todos, sempre com a esperança de vivermos tempos melhores. 

Abraços! 

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O CHAMPANHE DO REVEILLON DE MUITA GENTE JÁ ESTÁ GARANTIDO 

O champanhe ou champagne, na grafia original francesa, é um vinho espumante originário de uma região com o mesmo nome no centro da França. De acordo com descrições históricas, um tipo de vinho produzido na região apresentava uma efervescência natural, o que acabava provocando o estouro das garrafas e gerava muitas reclamações dos produtores. 

Foi aí que entrou em cena Dom Pèrignon (1638-1715), um religioso que era responsável pelas adegas da Abadia de Hautvillers, da diocese de Rheims. O monge ficou curioso com o processo de fermentação desses vinhos e passou a fazer diversos experimentos. 

Dom Pèrignon observou que o estouro das garrafas era provocado pelo excesso de gás carbônico e passou a utilizar garrafas mais resistentes, além de amarrar as rolhas com arame, entre outros melhoramentos introduzidos na produção da bebida. Graças a seus esforços, a champanhe ganhou o status de bebida dos momentos festivos. Seu nome foi imortalizado como marca de um dos mais famoosos champanhes da França.

Em 1927, o Governo da França atendeu uma antiga reivindicação dos produtores e demarcou a Região de Champagne e a transformou em área exclusiva para a produção dos vinhos espumantes com essa denominação. Ou seja – só pode ser chamado de champanhe os vinhos espumantes produzidos nessa região. Essa região ocupa uma área com um total de 32 mil hectares. 

Nos últimos anos, a Região de Champagne passou a sofrer com ciclos de temperaturas acima da média histórica e com secas, problemas climáticos que passaram a comprometer a qualidade e os volumes de produção da bebida. Esses problemas foram associados às mudanças climáticas globais. 

Outras regiões com grande tradição na produção de vinhos em outros países da Europa como Espanha, Portugal e Itália, entre muitas outras, também passaram a enfrentar problemas semelhantes. Por outro lado, países sem muita tradição na produção vinícola como a Inglaterra e até mesmo a gelada Noruega, passaram a ver os vinhedos se expandirem. 

A colheita da safra de uvas 2022 da Região foi concluída no final do mês de setembro, surpreendendo os produtores com a quantidade e qualidade das frutas, isso apesar da forte seca que assolou as plantações. Os produtores esperam bater o recorde de produção de 2021, ano em que foram produzidas 322 milhões de garrafas de champanhe. 

Além dos problemas climáticos, a Região de Champagne sofreu muito nos últimos 2 anos com a pandemia da Covid-19. Com as restrições para a circulação de pessoas, muitos dos trabalhadores rurais estrangeiros que trabalhavam nos vinhedos voltaram para seus países de origem, especialmente no Leste Europeu. 

Problemas econômicos em todo o mundo derivados das políticas de fechamento de países e de empresas também levaram a uma abrupta redução da demanda da bebida, considerada um artigo de luxo e bastante caro. 

Apesar desse alento, as perspectivas para a Região de Champagne não são as melhores – é provável que as mudanças climáticas acentuem ainda mais os picos de altass temperaturas e os ciclos de seca, o que poderá comprometer, irremediavelmente a produção da bebida num futuro não muito distante. 

A champanhe francesa também vem sofrendo cada vez mais com a produção de vinhos espumantes genéricos, conhecidos simplesmente como “espumantes”. Essas bebidas são produzidas em diversos lugares do mundo e tem como seu mais forte apelo comercial os baixos preços. O Rio Grande do Sul é o grande produtor brasileiros de espumantes. 

Nessa época de festas de fim de ano, quando o consumo de bebidas alcoólicas costuma crescer bastante em todo o mundo, muita gente endinheirada vai ficar bastante feliz com as notícias de uma boa produção de champanhe na França. 

A grande questão é – até quando se conseguirá produzir essa bebida na Região da Champagne

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O ESPINAFRE “ALUCINÓGENO” DA AUSTRÁLIA 

Uma animação bastante antiga e que ainda consegue fazer sucesso é o Marinheiro Popeye. Sempre envolvido em brigas com o grandalhão Brutus por causa da “bela” Olívia Palito, Popeye sempre se vale da energia de uma lata de espinafre. O personagem surgiu primeiro como uma tira publicada em jornais em 1929, passando a aparecer em curtas-metragens a partir de 1933. 

A suposta energia do espinafre teve uma origem bastante curiosa – o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos publicou uma série de tabelas com os nutrientes de diversos alimentos. Devido a um erro na gráfica, o espinafre acabou saindo com os valores de nutrientes dez vezes maiores do que a realidade. Surgiu aí a fama do super alimento. 

Uma notícia bastante curiosa envolvendo a leguminosa circulou nos últimos dias – mais de 200 pessoas relataram que tiveram episódios de fortes alucinações e dores de cabeça após consumir espinafre na Austrália. Mais de 60 pessoas, inclusive uma criança, precisaram buscar atendimento médico. 

A principal suspeita das autoridades é que uma erva daninha com propriedades alucinógenas invadiu algumas plantações e, por ser muito parecida com o espinafre, acabou sendo colhida e embalada junto com a leguminosa. A produtora de alimentos Rivera Farms, localizada no Estado de Vitória, parece ser a fonte do problema. 

A agência reguladora de alimentos do país emitiu um comunicado para que os consumidores joguem fora os produtos ou procurem os supermercados e lojas para pedir um reembolso. O Ministério da Saúde da Austrália abriu um inquérito para investigar o caso. 

De acordo com autoridades médicas do país, os principais sintomas relacionados ao consumo do espinafre “alucinógeno” são delírio ou confusão, alucinações, pupilas dilatadas, batimento cardíaco acelerado, rosto corado, visão turva, boca e pele seca, além de febre.  

De acordo com o relato de um médico do Centro de Informações Sobre Venenos de New South Wales, Dr. Darren Roberts, as vítimas sofrearam “alucinações assustadoras, nada que seja divertido”. Também ficaram incapazes de ver direito e muito confusas. 

Entre as espécies de ervas invasoras suspeitas de causaram essa contaminação estão plantas da família Solanaceae, que incluem a beladona, a erva-do-mato e a raíz de mandrágora.  Ao que tudo indica, essa é uma situação inédita no país. 

É bastante cedo para qualquer tipo de conclusão, mas problemas ambientais podem estar por trás dessa “invasão” de ervas venenosas. A Austrália, conforme já tratamos em inúmeras postagens aqui do blog, é um dos países do mundo que mais sofre com problemas de devastação ambiental e de invasão do meio ambiente por espécies invasoras

A maior parte do território australiano é formado por terrenos áridos e semiáridos. As áreas cobertas com florestas se concentram próximas do litoral, especialmente nas faixas Leste e Sudeste do país. Essas regiões sofrem com o avanço das frentes agrícolas, que gradativamente estão transformando antigas áreas de floresta em campos. 

É justamente aqui onde pode estar a origem do problema – plantas que nasciam e cresciam confinadas dentro de áreas florestais passaram a ocupar áreas de campos agrícolas, ficando sujeitas a uma dispersão de sementes mais facilitada pela força dos ventos. Essas sementes podem ter sido arrastadas por centenas de quilômetros até chegar nas plantações de espinafre. 

Outra hipótese que não pode ser descartada é que a dispersão das sementes possa ter sido feita por alguma espécie de animal, talvez até uma espécie invasora. As sementes das plantas podem ter sido consumidas por alguma espécie de ave, que as eliminou junto com as fezes dentro de uma fazenda. As sementes também podem ter grudado no pelo de um animal, que as carregou por dezenas de quilômetros.   

Também não é nada improvável se tratar de espécies exóticas que foram introduzidas – acidentalmente ou de propósito no país. A Austrália vem sendo invadida por espécies animais e vegetais desde o final do século XVIII. Histórias curiosas muitas vezes estão por trás de espécies de plantas invasoras.

Um exemplo brasileiro é a braquiária, uma planta forrageira de origem africana que se transformou em uma verdadeira praga em importantes biomas brasileiros como o Cerrado. De acordo com alguns pesquisadores, sementes da braquiária podem ter chegado ao Brasil presas nas roupas de escravos trazidos da África durante o Período Colonial. Essas sementes brotaram em áreas litorâneas próximas dos portos de desembarque dos navios negreiros e as plantas foram sendo espalhadas por todo o país. 

Outro exemplo que vem a calhar é o da Ambrosia artemisiifolia, uma planta que invadiu diversos países da Europa e que vem provocando verdadeiras epidemias de alergia. A planta é conhecida como ambrósia, absinto americano e absinto romano, entre muitos outros 

A espécie é nativa da América do Norte, onde é considerada uma erva-daninha, e “chegou” na Europa em algum momento entre o final do século XIX e início do século XX. Atualmente a planta tem ampla distribuição por todo o Norte da Itália e Sudoeste da Franca, possuindo um enorme potencial para aumentar sua presença por grande parte da Europa. 

As flores da Ambrosia artimisiifolia são produtoras maciças de pólen, pólen esse que desencadeia inúmeras reações alérgicas em seres humanos. Essas alergias costumam ser chamadas genericamente de “febre do feno” (o feno é uma planta forrageira muito utilizada na alimentação de animais, que produz muito pólen e causa grandes problemas de alergia – por isso sua associação com essas doenças) e se caracterizam por coceira nos olhos, espirros e respiração ofegante, entre outros sintomas.  

Qualquer que seja a origem da erva “alucinógena” que contaminou as plantações de espinafre da Austrália, é certo que ainda ouviremos falar muito dela e de seus efeitos na saúde da população. 

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VEM AÍ O VERÃO E AS SUAS FORTES CHUVAS

Na próxima quarta-feira, dia 21 de dezembro, às 18h48 começa oficialmente o verão no Brasil. A estação mais quente e chuvosa do ano tem início no momento em que ocorre o solstício de verão, evento astronômico que marca o momento em que a inclinação da Terra no Hemisfério Sul atinge a marca de 23,5º na direção do sol, fazendo com que essa parte do planeta receba mais raios solares. 

Na Região Centro Sul do país, que engloba parte do Centro-Oeste, a maior parte da Região Sudeste e toda a Região Sul, o verão é o período onde ocorrem as mais fortes chuvas do ano. A temporada de chuvas se estenderá até o mês de março e, como sempre costumamos lembrar aqui em nossas postagens, esse é um período de enchentes e problemas em muitas cidades. 

De acordo com as previsões do INMET – Instituto Nacional de Meteorologia, o verão 2022/2023 deverá ter chuvas dentro ou um pouco acima da média nas regiões Norte, Sudeste e Centro-Oeste do país. Na região Sul e em algumas regiões do Centro Sul as chuvas deverão ficar abaixo da média. 

Dentro das previsões do INMET, oito estados brasileiros serão mais fortemente afetados pelas chuvas deste verão: Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Sergipe, Santa Catarina e São Paulo. As temperaturas deverão ficar dentro da média em todo o país. 

O verão está começando sob influência do fenômeno climático La Niña. Quando esse fenômeno é observado no Oceano Pacífico, as águas superficiais de uma extensa região apresentam uma redução média entre 2 e 3° C na sua temperatura, uma mudança que altera o clima em diferentes partes do mundo. 

Aqui no Brasil, La Niña costuma provocar um aumento das chuvas entre os meses de dezembro e fevereiro na Região Nordeste e temperaturas abaixo da média na Região Sudeste. O fenômeno também provoca um aumento do frio na costa Oeste dos Estados Unidos e no Japão, além de aumento das chuvas na costa Oeste da Ásia.   

Entre os meses de junho e agosto, a presença de La Niña costuma produzir um inverno mais seco nas regiões Sul e Sudeste do Brasil. Também pode interferir na temperatura da costa Oeste da América do Sul, reduzindo as temperaturas. Na região do Caribe, La Niña provoca uma redução na temperatura e uma aumento das chuvas. No Leste da Ásia se observa um aumento das temperaturas.  

A ocorrência do fenômeno La Niña varia muito. Sua frequência ocorre em intervalos de 2 a 7 anos, com uma duração de 9 a 12 meses – em alguns casos, pode ter uma duração de até 2 anos. Esse será o terceiro ano consecutivo de La Niña, sinal que as mudanças climáticas globais estão interferindo na ocorrência desse fenômeno. 

Entretanto, com ou sem La Niña, a chegada da temporada das chuvas de verão deve acender todas as luzes de alerta. Nossas cidades não estão preparadas para lidar com grandes volumes de chuvas e grandes enchentes, desmoronamentos de encostas, bloqueios de rodovias, entre muitos outros problemas, que são mais do que esperados. 

Salvo condições climáticas bastante anormais como a passagem de um furacão, cidades não costumam enfrentar grandes enchentes de uma hora para outra – elas costumam ocorrer depois de um longo processo de degradação das condições ambientais locais. 

Vou citar como exemplo a minha cidade – São Paulo, que é uma espécie de “capital” das grandes enchentes do Brasil. A cidade foi fundada em 1554 e só sofreria a sua primeira grande enchente em 1929. Foram necessários mais de três séculos de história e de muita degradação para criar todas as condições necessárias para a ocorrência dessa grande enchente. 

Até a década de 1860, São Paulo não passava de uma cidadezinha perdida no alto da Serra do Mar. Somados todos os muitos núcleos urbanos da cidade há época, a população total mal superava a marca dos 30 mil habitantes. A história da cidade mudaria radicalmente após o início do Ciclo do Café, momento em que a pequena cidade se transformou num importante entreposto comercial. 

Na virada do século XX, São Paulo já tinha cerca de 240 mil habitantes e chegaria aos 900 mil habitantes em 1930. Para acomodar tanta gente, a cidade precisou passar por uma série de intervenções urbanísticas e ambientais – áreas de matas foram derrubadas, várzeas de rios foram aterradas e ocupadas por construções, rios e córregos foram canalizados e transformados em grandes avenidas, entre outras mudanças. 

A primeira fatura “acumulada” de mais de três séculos de história da cidade veio em fevereiro de 1929, ano em que São Paulo viveu a maior enchente de todos os tempos. Segundo reportagens da época, o nível do rio Tietê subiu cerca de 3,45 metros, deixando toda a parte central da cidade debaixo d’água. 

Além do Centro, os bairros mais atingidos foram a Casa Verde, Canindé, Ponte Pequena, Barra Funda, Lapa, Villa Maria e Vila Anastácio. Na Freguesia do Ó e no Bairro do Limão, segundo crônicas publicadas nos jornais, os moradores precisaram se valer de barcos para se locomover, uma vez que grande parte das ruas ficaram submersas ao longo de vários dias (vide foto). 

Muitas outras grandes enchentes voltariam a se abater sobre São Paulo ao longo dos anos seguintes, mas, felizmente, uma tragédia dessa magnitude nunca mais voltaria a acontecer. E, lamentavelmente, a cidade não aprendeu a lição e continuou repetindo os mesmos erros que criaram as condições para a ocorrência dessas tragédias. 

São Paulo não está sozinha nessa sina – outras grandes e médias cidades, sem contar com uma infinidade de cidades pequenas, também criaram todas as condições necessárias para a ocorrência de enchentes e outras tragédias provocadas pelas fortes chuvas, especialmente no período do verão. 

Notícias sobre essas enchentes, desgraçadamente, serão tema de postagens aqui do blog nos próximos meses. 

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OS GRANDES PREJUÍZOS CAUSADOS PELAS CHUVAS EM CAMPINAS NOS ÚLTIMOS DIAS

Na nossa última postagem falamos da chegada oficial do verão e das inevitáveis e problemáticas chuvas de verão, que entra ano e sai ano continuam causando imensos problemas para muita gente. 

Grande parte dos transtornos decorrentes dessas fortes chuvas estão ligados diretamente ao crescimento desordenado das cidades. Áreas de matas foram derrubadas para a criação de bairros; córregos foram retificados e/ou canalizados para a construção de avenidas de fundo de vale. Sistemas básicos para o controle de águas pluviais foram deixados em um segundo plano.

Por outro lado, populações mais pobres, que não conseguem ter acesso a programas de financiamento de moradias populares, tomaram terrenos em áreas de várzea e de encostas de morros para construírem ali suas precárias moradias. Em resumo, essa é a receita para a ocorrência de todos os tipos de tragédias na época das fortes chuvas. 

Para ser mais didático, gostaria de citar o exemplo de Campinas, a terceira maior cidade do Estado de São Paulo e a maior cidade do interior paulista. Eu tenho uma ligação bastante forte com essa cidade – em meu primeiro emprego como office boy entre os anos de 1978 e 1979, precisava ir até Campinas quase que toda semana para realizar trabalhos em bancos e cartórios por lá. 

Já naqueles tempos, Campinas era uma cidade já bem grande – eram pouco mais de 400 mil habitantes na área urbana, que engloba a cidade e vários distritos, e talvez uns 100 mil habitantes na área rural. Haviam poucos edifícios e a imensa maioria dos bairros da cidade era formada por casas térreas e sobrados, distribuídos em ruas e avenidas bem arborizadas. 

Passaram-se pouco mais de 40 anos e a cidade hoje conta com uma população de 1,2 milhão de habitantes. Assim como aconteceu com a minha cidade, São Paulo, a maior parte desse crescimento se deu nas áreas periféricas da cidade, onde surgiram bairros “do dia para a noite”. São os chamados loteamentos populares (muitos ilegais, inclusive). 

Esses loteamentos não costumam seguir as melhores práticas de urbanismo ou de respeito ao relevo – o que vale é conseguir demarcar a maior quantidade possível de lotes. Como resultado, esses empreendimentos já nascem com graves problemas para o escoamento das águas pluviais, além de não contarem com sistemas de abastecimento de água ou redes coletoras de esgotos – quase tudo é feito no improviso. 

Para o abastecimento de água é comum a escavação de poços semiartesianos ou caipiras, como se costuma chamar no interior paulista. Para os esgotos são duas as opções – ou se jogam diretamente nas ruas ou, na melhor das hipóteses, se escava uma fossa dentro do quintal. Os compradores desses lotes sempre acreditam que a Prefeitura fará todas as obras de infraestrutura geral – instalação de guias e sarjetas, redes de água e esgotos, asfaltamento de ruas, etc, dentro de pouco tempo. 

Além dos problemas locais dessa cidade, existem problemas similares nas cidades vizinhas, que hoje estão reunidas na Região Metropolitana de Campinas. Aqui também ocorre um problema bastante conhecido no entorno da cidade de São Paulo – a conurbação, ou seja, as cidades crescem e se encontram, formando uma única massa urbana cheia de problemas comuns. 

A Região Metropolitana de Campinas reúne hoje 21 municípios, onde vive uma população total de 3,3 milhões de habitantes. Além da cidade de Campinas destacam-se Paulínia, Hortolândia, Sumaré, Valinhos, Indaiatuba e Americana. A região abriga um importante polo industrial, comercial e de serviços. 

Falando especificamente de Campinas, foram registradas 307 ocorrências de danos associados às chuvas apenas na primeira quinzena de dezembro. Nesta conta se incluem 45 quedas de árvores e galhos, 49 alagamentos de imóveis, 15 deslizamentos de encostas e 34 imóveis colocados em risco. Isso sem contar em inúmeros alagamentos de ruas e avenidas. Aliás, a Prefeitura está instalando placas de alerta em ruas e avenidas que alagam frequentemente. 

Durante os quinze primeiros dias do mês de dezembro a cidade esteve em estado de atenção em seis, o que mostra como é crítica a questão das chuvas na cidade. Vale a pena lembrar que o período de chuvas está apenas começando e muitos outros dias em estado de atenção ainda serão declarados na cidade. 

Quando falamos em problemas de drenagem de águas pluviais, ou seja, como escoar com rapidez e eficiência as águas das chuvas, sobram muito poucas opções além da execução de obras de construção de diferentes dispositivos de drenagem. Aqui começamos com sistemas de guias e sarjetas bem feitos até a instalação de grandes tubulações para o escoamento dessas águas. 

Além desses dispositivos principais, existem uma infinidade de outros que ajudam a diminuir a velocidade do escoamento das águas, dando tempo ao sistema para escoar os maiores volumes possíveis de água. Entre outros podemos citar as áreas verdes, calçamentos permeáveis, bacias de detenção abertas, jardins de chuva, piscinões, entre outros. 

É aqui que começam os problemas – todos esses dispositivos dependem de grandes volumes de dinheiro para saírem do papel e virarem realidade. Além dos investimentos em obras civis, são necessários enormes volumes financeiros para a desapropriação dos terrenos e realocação dos moradores. Muito mais do isso – é preciso muita vontade e força política para tocar esse tipo de obras. 

Eu trabalhei por vários em obras desse tipo, mais especificamente na construção de sistemas de coleta e tratamento de esgotos. Confesso que nunca senti muita empolgação dos políticos na realização desse tipo de obra. Na minha opinião, que é compartilhada por muita gente, políticos não gostam de “enterrar dinheiro”. 

Obras de esgotos e de drenagem de águas pluviais são, em sua grande maioria, subterrâneas. Diferente de uma ponte, viaduto ou uma escola (falo da estrutura física), onde é possível fazer uma cerimônia de inauguração e descerrar uma placa com um nome (normalmente um parente do Prefeito ou alguma outra autoridade local), sistemas de tubulações subterrâneas permanecerão anônimos sob o solo. 

Se essas obras não aparecem e não “servem” para angariar votos numa próxima eleição, para que é que Prefeitos vão gastar verdadeiras fortunas nelas? 

Enquanto isso, a temporada das chuvas sempre vai acabar chegando e causando todo o tipo de tragédias. Quando um deslizamento grande soterra um monte de casas e faz algumas vítimas fatais, a desculpa esfarrapada de sempre é que foi “um acidente ou uma catástrofe natural”…. 

Lamentável! 

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OS JARDINS DE CHUVA DA CIDADE DE SÃO PAULO 

Estamos a poucos dias do início oficial do verão na Região Centro Sul do Brasil. No imaginário popular verão é tempo de férias, praia, muita cerveja gelada e um bocado de ócio. Por outro lado, esse é o período do ano em que mais chove em uma grande parte do país. 

A temporada das chuvas, desgraçadamente, é também sinônimo de enchentes, alagamentos e deslizamentos de encostas, especialmente nas regiões urbanas. Conforme já comentamos em inúmeras postagens, vivemos em um país de climas predominantemente equatorial e tropical, sujeitos a fortes temporadas chuvas, porém, com cidades que não estão preparadas para fortes precipitações. 

Ao longo dos últimos anos, as postagens que publicamos aqui no blog nesses períodos costumam estar repletas de notícias falando de tragédias provocadas por fortes chuvas, desmoronamentos de casas, bloqueios de rodovias, entre outros problemas. 

Fico feliz em dizer que, pelo menos aqui na minha cidade, alguns projetos simples e baratos para o controle das águas pluviais estão saindo do papel. Ainda são bastante tímidos para revolver uma série de problemas que vem se acumulando há vários séculos aqui no Planalto de Piratininga, mas já nos dão alguma esperança de um futuro melhor. 

Um dos projetos mais interessantes é o que foi batizado de jardins de chuva, uma ideia bastante simples e funcional. Trata-se da criação de áreas bastante permeáveis em pequenas praças, baixios de viadutos, sarjetas ou até mesmo em trechos das ruas destinados ao estacionamento de veículos. A foto que ilustra essa postagem mostra bem um desses casos. 

A técnica de construção é ridiculamente simples – o terreno é escavado e transformado em um fosso profundo. Esse fosso é preenchido com pedras do tipo rachão, mesmo tipo utilizado para fazer a sub base de rodovias. Essas pedras são grandes e bastante irregulares, criando assim grandes espaços vazios entre elas. 

Para finalizar, as pedras são cobertas com uma manta de drenagem, sobre a qual é colocada uma camada de solo fértil onde será feito o plantio de arbustos, flores e até mesmo de árvores. Qualquer um dos leitores que goste de jardinagem já percebeu que o processo é idêntico ao usado na preparação de vasos para plantas. 

Agora vamos ao ovo de colombo – os jardins de chuva, estão conectados às sarjetas e outras áreas de drenagem através de canaletas, de modo que as águas das chuvas possam correr na sua direção e serem absorvidas rapidamente pelo solo poroso. 

De acordo com informações da Subprefeitura da Sé, região central da Cidade de São Paulo onde o projeto foi iniciado, essas estruturas de drenagem permitem captar as águas dos primeiros 15 minutos da chuva, o chamado fisrt flush. Essa é uma água suja, repleta de sedimentos e resíduos de poluição. Somente depois que a área do jardim de chuva fica saturada de água é que o fluxo pluvial passa a escoar para as galerias de drenagem e outros sistemas de controle de águas pluviais

O princípio básico de funcionamento dos jardins de chuva é o mesmo dos grandes piscinões já implantados na cidade. A diferença está na capacidade de armazenamento de água e, principalmente no custo, infinitamente menor. Com a simplicidade de construção e o baixo custo, a ideia da Prefeitura de São Paulo é encher a cidade com centenas desses jardins. 

De acordo com informações da Prefeitura, a cidade de São Paulo já conta com mais de 230 jardins de chuva entre outros dispositivos de retenção como calçadas e escadarias verdes, sarjetas permeáveis, bosques de conservação urbana, vagas verdes, entre outros. A meta é atingir a marca de 400 jardins de chuva até o ano de 2024. O projeto foi iniciado em 2019. 

O projeto paulistano vem colecionando prêmios, com destaque para o Certificado de Mérito no World Green City Awards, uma premiação bianual que reconhece iniciativas que recorrem a um maior uso de plantas e da natureza para ambientes urbanos. Segundo os organizadores da premiação, o projeto se destaca pela inovação e pelo potencial para ser replicado em outras grandes cidades do mundo. 

São Paulo e outras grandes e médias cidades sofreram de um mal comum – um crescimento desordenado que resultou na destruição de áreas verdes e de uma intensa impermeabilização dos solos. Sempre que chega a temporada das chuvas, as populações dessas cidades passam a conviver com alagamentos de ruas e avenidas, além de sofrer com o risco do desmoronamento de encostas. 

No caso de São Paulo, um dos maiores crimes ambientais cometidos foi um avanço desmedido contra as importantes áreas de várzea dos grandes rios da cidade como o Tietê, Pinheiros e Tamanduateí. Essas áreas alagáveis acomodavam com folga todos os excedentes de água das chuvas, se transformando em ambientes muitos parecidos com os chamados pantanais. 

Com o rápido crescimento que a cidade experimentou a partir da década de 1860 com o Ciclo do Café, importantes áreas de várzea na região central da cidade passaram a ser aterradas e transformadas em lotes para a expansão imobiliária. Um desses casos foi o da Várzea do Carmo, que margeava o rio Tamanduateí e que despareceu para abrir espaços para a construção de trechos dos bairros do Cambuci, do Brás e do Parque Dom Pedro. 

Nas primeiras décadas do século XX foi a vez de se transformar muitas dessas várzeas em “avenidas de fundo de vale”. Muitas das grandes avenidas de São Paulo foram construídas sobre córregos canalizados e/ou ao largo de suas margens. Exemplos são a Avenida do Estado, dos Bandeirantes, 23 de Maio, Tiradentes, Pacaembu, Anhaia Melo, as Marginais Tietê e Pinheiros, entre muitas outras. 

E não foram só os grandes rios e córregos que sofreram com esse avanço – pequenos córregos por toda a cidade foram canalizados e depois aterrados, sumindo para sempre sob casas, galpões e edifícios. De vez em quando, durante alguma reforma ou construção de novos imóveis, trechos desses antigos cursos d’água são redescobertos.  

Outro caso que precisamos citar foi a construção da Represa Billings a partir do final da década de 1920. Para alimentar a represa com as águas da bacia hidrográfica do rio Tietê, o rio Pinheiros passou por um intenso processo de retificação do seu curso, que antes era extremamente sinuoso e passou a ser retilíneo. O rio recebeu duas estações de traição ou de bombeamento, que passaram a desviar parte das águas da calha do rio Tietê para a Represa Billings. 

A retificação do leito do rio Pinheiros “secou” grandes áreas de várzea, que depois foram transformadas em bairros. Esses são casos dos elegantes bairros do Alto de Pinheiros e do Jardim Paulistano, dois dos endereços mais caros de São Paulo. 

O somatório de todos esses avanços da cidade sobre seus rios e córregos está na origem das sucessivas mega enchentes que, ano após ano, tomam conta da cidade nos meses de verão. A ideia dos jardins de chuva e de outros sistemas de drenagem localizados vão ajudar a minimizar esses impactos. 

É claro que ainda é muito pouco para uma cidade gigantesca como São Paulo, mas é um bom caminho a ser seguido. 

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A EXPLORAÇÃO DE PETRÓLEO E GÁS PELO MÉTODO HYDRAULIC FRACKING 

Nas nossas últimas postagens fizemos um rápido apanhado sobre os grandes problemas ambientais criados pela exploração e uso de combustíveis fósseis derivados do petróleo e também do carvão. Esses são os mais importantes combustíveis usados em todo o planeta, não sendo exagero afirmar que são eles que movimentam o mundo. 

Tanto o petróleo quanto o carvão são ricos em hidrocarbonetos, compostos formados a partir da combinação de átomos de hidrogênio e de carbono, além de quantidades menores de oxigênio, nitrogênio e compostos metálicos. A queima desses combustíveis libera grandes quantidades de carbono (na forma de CO2 – dióxido de carbono), um dos principais gases de efeito estufa. 

Além dos sistemas de extração tradicionais em terra e em mar, as empresas petrolíferas passaram a investir em anos mais recentes na técnica de extração por fratura hidráulica, mais conhecida pelo nome em inglês – hydraulic fracking. Apesar dos ótimos resultados econômicos, essa é uma técnica bastante polêmica devido aos enormes riscos de contaminação das reservas subterrâneas e superficiais de água. As áreas mais propensas a esse tipo de exploração são os solos ricos em xisto. 

Xisto é um nome genérico que se dá a vários tipos de rochas metamórficas fortemente laminadas. Essas rochas têm uma enorme importância econômica por serem uma fonte de combustíveis fósseis. Quando rochas como o xisto betuminoso são submetidas a altas pressões elas liberam o chamado petróleo de xisto, um óleo mineral semelhante ao petróleo convencional. Utilizando-se diversos tipos de processos de beneficiamento, o petróleo de xisto produz nafta, óleo combustível, gás liquefeito de petróleo (GLP), óleo diesel e gasolina. As maiores reservas mundiais de xisto estão nos Estados Unidos, Brasil, China e na Argentina.  

A técnica de exploração pelo sistema de fracking consiste na injeção sob alta pressão de uma mistura de água, propante (areia ou outro material similar) e solventes químicos nos substratos rochosos. Essa mistura pressurizada provoca um aumento controlado das fraturas e fissuras nas rochas, locais onde o petróleo de xisto e o gás natural estão encerrados, trazendo-os na direção da superfície. De acordo com estimativas feitas no ano de 2010, cerca de 60% dos poços em atividade no mundo usavam essa técnica de extração.  

O uso intensivo da técnica do fraturamento hidráulico por empresas de petróleo e gás nos Estados Unidos vêm produzindo efeitos econômicos impressionantes nos últimos anos: a produção de gás aumentou perto de 50% e a de petróleo em 11%. O aumento de produção desses “óleos não convencionais” e do gás criou cerca de 3,3 milhões de empregos e injetou cerca de US$ 468 bilhões na economia dos Estados Unidos até 2020. Um dos pontos mais comemorados dessa nova fase da exploração dos combustíveis fósseis no país foi a redução na dependência da importação de petróleo, um problema que sempre foi classificado como o “calcanhar de Aquiles” dos Estados Unidos.  

Deixando de lado toda a euforia e os ganhos econômicos e políticos do “Tio Sam”, é preciso mostrar toda uma série de problemas e de riscos ambientais criados pelo fraturamento hidráulico, a começar pela poluição dos grandes volumes de água utilizados no processo. A água é injetada sob alta pressão nos substratos rochosos e fica rapidamente saturada com o petróleo e o gás de xisto, que por serem mais leves que a água, rapidamente são transportados para a superfície e são separados mecanicamente.   

A água usada no processo fica completamente poluída com resíduos de hidrocarbonetos, metais presentes nas rochas e também com os resíduos dos produtos químicos usados como solventes. Caso haja um erro na operação e essa água altamente poluída vaze para o meio ambiente, há sérios riscos de uma forte contaminação das fontes superficiais de água na região – algo parecido com os acidentes do rio Doce, em Mariana, e no rio Paraopeba, em Brumadinho.  

Vazamentos dessas águas residuárias são apontados como a causa da poluição de diversos rios no Estado do Kentucky próximos das áreas de exploração do xisto, locais onde foram observadas mortes de diversas espécies animais e vegetais aquáticos. Estudos realizados pelo Serviço Geológico dos Estados Unidos e pelo Serviço de Pesca e de Vida Silvestre comprovaram que os poluentes presentes nessas águas residuárias causam lesões nas guelras, no fígado e no baço dos peixes. 

Um outro problema, este muito mais sério, é a contaminação direta dos depósitos subterrâneos de água. Caso os solos ao redor da área onde a exploração do xisto está sendo feita sejam constituídos de rochas permeáveis como os arenitos, é possível que parte dessa água pressurizada e dos gases liberados pelo processo se propaguem através das rochas (processo de percolação) e contaminem as reservas de água do subsolo da região.  

Estudos realizados pela Universidade Duke, na Carolina do Sul, comprovaram a ocorrência desse problema de contaminação das águas subterrâneas na Bacia de Gás de Xisto de Marcellus, situada entre o Nordeste da Pensilvânia e o Sul do Estado de Nova York. Os pesquisadores encontraram altos níveis de metano e etano em mais de 100 poços de abastecimento de água espalhados por toda a região.  

As medições mostraram que a concentração de metano dissolvido na água “potável” de poços situados a menos de 1 km dos locais de perfuração eram, em média, 6 vezes maiores do que em poços mais distantes. No caso do etano, essas concentrações eram 23 vezes maiores. O metano, caso seja inalado, é altamente prejudicial à saúde humana e o etano é um gás altamente inflamável.  

A injeção de água pressurizada nos poços de xisto também pode estar relacionada com o aumento de pequenos terremotos nas regiões Central e Leste dos Estados Unidos, conforme estudos do Serviço Geológico do país. Entre os anos de 2010 e 2012, foram registrados mais de 300 terremotos com magnitude acima de 3,0 graus na Escala Richter. Entre os anos de 1967 e 2000, a média de eventos dessa magnitude era de apenas 21 ocorrências por ano.  

Estudos realizados pelo Earth Observatory da Universidade de Columbia, em Nova York, indicaram que cerca de metade dos terremotos com magnitude superior a 4,5 graus na Escala Richter observados no interior dos Estados Unidos na última década ocorreram em regiões de exploração por fraturamento hidráulico.  

Outro problema sério dessa técnica de exploração são as grandes quantidades de gás metano que são liberadas na atmosfera. O metano, só para relembrar, é 20 vezes mais potente que o CO2 (dióxido de carbono) na formação do Efeito Estufa, o grande vilão do aquecimento global. 

Os ganhos econômicos de curto prazo com a produção de petróleo e gás de xisto estão fazendo a alegria de muitas empresas e Governos; já a conta com os prejuízos ambientais que virão a longo prazo, como sempre, será paga por toda a população do mundo. 

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A EXPLORAÇÃO DE PETRÓLEO NA GROENLÂNDIA

Na nossa última postagem falamos das fabulosas reservas de petróleo que já foram identificados no continente gelado da Antártida e do desejo velado de muitos países para explorar toda essa riqueza. Felizmente, essa exploração foi proibida pelo Tratado da Antártida, um pacto internacional assinado em 1959. 

Uma espécie de trailer do que poderá acontecer na Antártida em um futuro distante é o que está ocorrendo atualmente na Groenlândia, a grande ilha autônoma da Dinamarca que fica localizada ao largo da costa Leste do Canadá. Foram descobertas grandes jazidas de petróleo e gás na ilha, com diversas companhias petrolíferas internacionais tentando iniciar a exploração. 

A Groenlândia possui um território com cerca de 2,1 milhões de km², sendo considerada a maior ilha do mundo. De uma forma geral, os mapas apresentam a ilha com um território imenso, maior inclusive que o Brasil. Essa é uma distorção provocada pela técnica usada na confecção desses mapas – a projeção de Mercator. Na realidade, a Groenlândia tem uma área equivalente à da Arábia Saudita.  

Falando bem a “grosso modo”, podemos afirmar que a Groenlândia é uma espécie de Antártida em miniatura. Cerca de 80% do território da Groenlândia é recoberto por um manto de gelo e as condições climáticas são bastante similares. Só que, ao contrário da Antártida, a Groenlândia não é tão isolada do resto do mundo, abrigando populações humanas há milhares de anos, além de possuir uma fauna e uma flora ártica muito mais diversificada. 

Um estudo científico publicado há poucos dias atrás exemplifica bastante isso – cientistas ingleses e dinamarqueses conseguiram extrair e identificar o DNA de um mamute da Era do Gelo a partir de restos de ossos encontrados na Formação København, um depósito de sedimentos de quase 100 metros de espessura, no norte da Groenlândia. O material foi datado em 2 milhões de anos e a espécie de mamute identificada era originária da Sibéria. 

Quanto as populações humanas, os registros arqueológicos afirmam que a ilha começou a ser povoada por seres humanos há cerca de 4.500 anos. Eram caçadores/coletores também originários da Sibéria que chegaram na América do Norte através do Estreito de Bering. 

Assim como aconteceu com a Antártida, o clima da Groenlândia passou por inúmeras mudanças ao longo das eras alternando climas diferentes. Até cerca de 500 mil anos atrás, citando só um exemplo, a ilha era coberta por florestas e tinha um clima bem mais ameno.  

De acordo com dados do United States Geological Survey, a região Nordeste da Groenlândia possui reservas estimadas de petróleo da ordem de 31,4 bilhões de barris, além de outros 17 bilhões de barris sob o leito do mar entre a ilha e o Canadá. As reservas totais podem ser bem maiores. 

Desde 2010, diversas companhias petrolíferas internacionais como Statoil, Royal Dutch Shell e Maersk passaram a mostrar interesse pela exploração dessas reservas de petróleo e muitas dessas empresas conseguiram autorização do Governo para realizar estudos de prospecção. 

Várias dessas empresas já haviam feito tentativas de prospecção de petróleo na Groenlândia décadas atrás, porém, sem conseguir áreas com produção viável economicamente. Com o aumento das temperaturas em todo o Ártico e com a diminuição da capa de gelo nos últimos anos, essa prospecção ficou bem mais fácil e muitas empresas informaram que conseguiram desenvolver poços economicamente viáveis. 

Essa corrida, entretanto, foi encerrada em meados de 2021, quando um novo Governo de viés preservacionista assumiu o comando da ilha e proibiu a prospecção de petróleo (com aval e/ou pressão da Dinamarca, é claro). A Groenlândia pertence à Dinamarca e, desde 1979, passou a gozar de uma relativa autonomia e a eleger um Governo próprio a partir de 2009. A ilha ainda continua dependendo economicamente da Dinamarca. 

Para muitos groenlandeses, o desenvolvimento da indústria petrolífera seria a garantia de uma independência financeira e de um futuro mais promissor para a sua população de mais de 50 mil habitantes. A ilha vive basicamente dos ganhos com a pesca, sendo que a produção de camarões responde por cerca de metade das suas rendas. 

Para grande parte dos locais, entretanto, a preservação do meio ambiente vem em primeiro lugar. A ilha já vem sofrendo em demasia com o aumento das temperaturas sendo uma das regiões do planeta onde perda da capa de gelo está acontecendo de forma mais acelerada. Em uma postagem recente falamos sobre os cães de trenó da ilha que estão ficando desempregados por causa da falta de gelo.  

A trégua das companhias petrolíferas, infelizmente, pode ser temporária. Governos democráticos, como é o caso da Groenlândia, vão e vem, sobrando sempre algum espaço para a volta de grupos políticos apoiados por essas empresas. Os volumes de petróleo e gás natural escondidos sob o sol da ilha são imensos e representam lucros multibilionários para os empreendedores. Dinheiro, como todos sabem, tem força para mover montanhas e governos…

A própria geografia da Groenlândia favorece essa pressão pela exploração – a ilha fica a meio caminho entre a América do Norte e a Europa, dois grandes mercados para o petróleo e o gás. Em tempos de crise energética – especialmente com a falta de gás natural na Europa, é bem possível que muita gente “graúda” olhe para o outro lado e finja que essas atividades de exploração e produção de combustíveis fósseis não criará nenhum problema para a ilha. 

No filme de ficção científica “O dia depois de amanhã”, grande sucesso de bilheteria de 2004 e sobre o qual já fizemos diversas referências em nossas postagens, o derretimento acelerado do manto de gelo da Groenlândia provocou uma grande mudança nas correntes marítimas do Oceano Atlântico Norte, levando o mundo a uma nova e catastrófica Era do Gelo. 

Não sei se a exploração de petróleo e gás na Groenlândia teria potencial para provocar problemas ambientais de tamanha magnitude como na ficção, mas é certo que muitos danos – especialmente para o oceano, sairão daí… 

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