AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS, OS TOMATES E O PREÇO DO KETCHUP 

De acordo com dados da Associação de Pizzarias Unidas do Brasil, nosso país consome aproximadamente 1 milhão de pizzas por dia e o Estado de São Paulo é responsável por consumir mais da metade desse total estimado: 572 mil unidades. Minha cidade, São Paulo, ocupa a segunda posição mundial quando o assunto é o consumo de pizzas, só perdendo para Nova York. 

Além de ingredientes básicos como a farinha de trigo e os queijos, uma boa e suculenta pizza requer uma porção bem generosa de molho “dos tomati” (escrevi do jeito que nós falamos aqui em Sampa), como é o caso dos sabores muçarela e Marguerita (vide foto). 

Apesar da pizza ser uma especialidade italiana popularizada em todo o mundo, os bons e velhos tomates são originários da Cordilheira dos Andes aqui na América do Sul. A planta foi levada para a Europa pelos conquistadores e chegou na Itália ainda no século XVI, onde recebeu melhoramentos botânicos e passou a ser um ingrediente básicos das “salsas” (molhos) italianos. 

Pois bem – essa verdadeira delícia (sou suspeito para falar pois sou neto de italianos) está sendo ameaçada pelo aquecimento global. O aumento das temperaturas e a escassez de água em importantes regiões produtoras já estão se refletindo em uma redução dos volumes produzidos. 

A produção mundial de tomates é calculada em cerca de 180 mil toneladas anuais. A China é, de longe, a maior produtora mundial com um volume de 56 mil toneladas. Índia e Estados Unidos vem na sequência com volumes de produção de 18,4 e 13 mil toneladas, respectivamente. O Brasil é o nono maior produtor mundial com um volume de 4,1 mil toneladas. 

Quando falamos de produtos com tomates processados, a liderança dos Estados Unidos é absoluta, onde o produto chefe é o famoso molho tipo ketchup. Algumas fontes afirmam que um americano médio consome cerca de 10 kg de ketchup por ano acompanhando sanduíches, saladas, massas e até mesmo pizzas (para nós paulistanos isso é uma verdadeira heresia). 

O grande centro de produção de tomates e de indústrias de processamento é a Califórnia, um dos Estados norte-americanos que mais vem sofrendo com as mudanças climáticas e com a seca. De acordo com pesquisas da Universidade da Califórnia, a combinação de altas temperaturas e menor disponibilidade de água está afetando a floração e a produtividade dos tomateiros. 

Além dos problemas nos campos, a produção também está sendo afetada pelos altos custos dos combustíveis e dos fertilizantes. O resultado dessa conjuntura está sendo facilmente observado nas gondolas dos supermercados. De acordo com dados do varejo dos Estados Unidos referentes ao último mês de agosto, os molhos de tomate estão 17% mais caros em relação aos níveis de 2021. Já para os molhos tipo ketchup, o aumento está na casa dos 23%. 

Um dos segredos da alta produtividade em terras californianas é o uso intensivo de irrigação das culturas a exemplo do que é feito no Imperial Valley, uma extensa área do Deserto de Sonora que foi transformada num grande celeiro agrícola graças a irrigação com águas transpostas do rio Colorado. Um exemplo do desperdício de águas nessa região é o Lago Salton.

Esse lago de águas salgadas e saturadas com resíduos de produtos químicos, que foi transformado em uma atração turística no meio do deserto, tem um espelho d’água que chega a cobrir uma área de quase 900 km2. Em períodos de seca, o que acontece quando as autoridades reduzem à força o consumo de água pelos produtores, as areias tóxicas do fundo do lago são espalhadas pelos fortes ventos e causam inúmeros problemas para a saúde das populações que vivem no entorno. 

Com a forte seca que vem assolando toda a região Sudoeste dos Estados Unidos já há vários anos, o rio Colorado já não tem a mesma saúde de tempos de outrora e seus caudais estão muito reduzidos, o que está restringindo, e muito, seu uso para irrigação agrícola. Para complicar a situação dos agricultores, parte do volume de água que era destinado aos produtores do Imperial Valley passaram a ser desviados para o abastecimento de populações das grandes cidades da Califórnia. 

Com a menor disponibilidade de água, toda a produção agrícola dessa extensa região vem sendo afetada, especialmente na Califórnia. A situação é completada pelos altos custos dos insumos, do transporte e também por temperaturas bem acima da média. 

E o que é que a redução da produção de tomates e o aumento dos preços dos molhos do ketchup nos Estados Unidos tem a ver com a sua vida e com o molho da sua pizza aqui no Brasil? 

Vivemos em um mundo cada vez mais integrado e globalizado, com cadeias de produção e de consumo em escala global. Um exemplo fácil é a soja, grão que tem o Brasil como um dos grandes produtores mundiais. Cerca de 79% da soja produzida aqui no Brasil é exportada para a China, um país com um “apetite” insaciável, cuja demanda determina o preço de produtos que contenham soja comprados por você na mercearia da esquina. 

Com a valorização do molho ketchup nos supermercados norte-americanos é bem provável que produtores brasileiros busquem exportar seus próprios produtos para lá, um movimento que vai forçar a redução da oferta de tomate no mercado brasileiro e, é claro, forçar um aumento nos preços. Isso deverá “salgar” o preço da sua pizza do fim de semana. 

Esse singelo exemplo do mercado do ketchup ilustra como os impactos das mudanças climáticas se espalham rapidamente por todo o mundo. O aumento dos preços de um produto largamente consumido num país rico afeta diretamente a dieta de populações pobres do resto do mundo – especialmente as mais miseráveis. 

Mundo louco e complicado esse nosso… 

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IAN, O FURIOSO 

Uma postagem rápida: 

Depois de atingir a ilha de Cuba e deixar um enorme rastro de destruição – inclusive tendo causado duas mortes, o Furacão Ian chegou ao Estado norte-americano da Flórida. Oficialmente, o furacão tocou o solo as 15h05 no horário local, com ventos superiores a 240 km/h. 

De acordo com informações da NOAA = Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos, na sigla em inglês, a situação é de “risco de vida”. Segundo o órgão, devem ser tomadas “todas as medidas necessárias para proteger a vida” e pede que todos sigam as ordens de evacuação. 

Mais de 2,5 milhões de moradores do Estado já receberam ordem de evacuação e estão deixando as suas casas. Ao menos 2 mil voos foram cancelados até o início da tarde. Mais de 330 mil residências estavam sem fornecimento de energia elétrica até o início da tarde, especialmente nos condados de Lee, Fort Myers e Cape Coral

De acordo com avaliação do NHC – Centro Nacional de Furacões, na sigla em inglês, o Furacão Ian ganhou força nas últimas 24 horas, com ventos aumentando a velocidade de 185 para 249 km/h. Dentro de sua avaliação, o NHC está esperando uma “tempestade catastrófica” ao longo de toda a costa Sudoeste da Flórida. 

Existem temores entre os especialistas de que a maré de tempestade supere a do Furacão Michael em 2018, quando um evento classificado como tempestade categoria 5 trouxe ondas entre 2,5 e 4,3 metros em algumas praias do Estado. 

Os especialistas lembram que, diferentemente do senso comum que imagina que os ventos de um furacão são os maiores causadores de danos, são justamente as águas que causaram os maiores problemas – 95% dos estragos vem daí. 

As próximas horas serão críticas. Precisamos aguardar os acontecimentos e torcer pela segurança das populações, especialmente aquelas famílias que não puderam abandonar suas casas. 

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MUDANÇAS CLIMÁTICAS ESTÃO ALTERANDO A COR DOS LAGOS 

Uma imagem ancestral que vem acompanhando o subconsciente da humanidade há dezenas de milhares de anos está mudando – parte dos lagos de nosso mundo não apresentam hoje águas tão azuis quanto no passado cor azul. E, novamente, a responsável por isso são as mudanças climáticas, que estão transformando lagos de águas azuis em lagos com águas verdes ou em tons marrons. 

Uma pesquisa publicada pela Geophysical Research Letters, feita de forma colaborativa por diversas universidades dos Estados Unidos, realizou um inventário global da cor de milhares de lagos ao redor do mundo e enumerou os fatores que podem provocar alterações na tonalidade de suas águas. 

O estudo utilizou cerca de 5,14 milhões de fotografias tiradas por satélites entre os anos de 2013 e 2020, com imagens de 85.360 lagos de todo o mundo. Entre as conclusões dessa pesquisa foi constatado que 1/3 dos lagos do mundo possuem águas azuis. Esses lagos costumam ser mais profundos e ficam localizados em regiões frias e de grande altitude (vide foto). 

Os lagos com águas em tons marrom, que representam cerca de 69% do total pesquisado, costumam ser encontrados em regiões mais secas do interior das áreas continentais e também em regiões próximas da costa. 

A cor da água dos lagos, normalmente, é determinada pela presença de algas e sedimentos em suspensão. A pesquisa, entretanto, revelou que outros fatores como a temperatura do ar, a precipitação, a profundidade e a altitude em que o lago se encontra interferem na cor das águas. 

É justamente aqui que entram em cena as mudanças climáticas ligadas ao aquecimento global. A elevação da temperatura de uma determinada região, notícia que vem se tornando cada vez mais frequente, vai se refletir na redução da quantidade de águas azuis dos lagos locais. 

Temperaturas mais quentes nas águas estimulam a floração de colônias de algas, o que vai refletir em uma mudança da cor da água para tons verdes ou marrons, ou até mesmo para tons azuis ou vermelhos dependendo da espécie de alga dominante nas águas do lago. 

Além dos aspectos puramente estéticos, essa proliferação de algas poderá afetar toda a cadeia biológica das águas. As algas consomem o oxigênio dissolvido na água, gás essencial para a respiração de peixes, crustáceos e vermes, além de afetar colônias de bactérias aeróbicas. Em muitos casos, essa proliferação excessiva de algas pode resultar em mortandade de peixes e outros animais da fauna aquática. 

Um outro aspecto importante destacado no estudo é o comprometimento da qualidade da água para fins de consumo. Quanto mais azul é a água de um reservatório ou de um lago, mais fácil é o tratamento final para abastecimento humano. Um lago com águas verdes, ao contrário, precisará de grandes volumes de produtos químicos para que a água se torne potável. 

Existe também o aspecto cultural das populações. Todos nós, desde a nossa mais tenra infância, aprendemos que a água é azul. Basta olhar um desenho pintado por uma criança para confirmar isso. Um lago com águas verdes ou marrons provavelmente seria considerado feio pela maior parte das pessoas, o que teria um profundo impacto, por exemplo, no apelo turístico de uma região. 

Vamos imaginar, por exemplo, importantes destinos turísticos lacustres como o Lago di Como, na Itália, ou o Lago Genebra, na Suíça, com águas totalmente tomadas por grandes colônias de algas verdes ou marrons. É muito provável que os turistas que vieram de longe para conhecer esses lugares se sintam muito decepcionados e inconformados com o cenário que encontraram. 

Infelizmente, essa é uma perspectiva que parece estar se tornando cada vez mais próxima da realidade. Nas postagens que publicamos aqui no blog estamos falando com uma frequência cada vez maior da elevação das temperaturas em todo o mundo, de ondas de calor e de seca ou ainda de rios com níveis cada vez mais baixos. 

Um exemplo muito citado nas postagens é a diminuição do tamanho das geleiras em cadeias montanhosas de todo o mundo, a exemplo do que está acontecendo nos Alpes da Europa. Nascentes de importantes rios do continente como o Reno e o Danúbio estão ameaçadas pela diminuição da massa de gelo nas montanhas – em alguns casos, geleiras alpinas já foram consideradas “mortas”

As montanhas alpinas concentram uma quantidade enorme de lagos de altitude e com águas azuis, lagos esses que também estão sofrendo com a elevação das temperaturas. Se essa tendência de aumento das temperaturas prosseguir, muitos desses lagos passarão a apresentar águas cada vez mais verdes ou em tons marrons. 

Além do risco da mudança da cor das águas, existe um outro risco muito mais perigoso e iminente – o do desaparecimento dos próprios lagos. As águas que formam grande parte desses lagos têm sua origem no derretimento da neve do inverno a partir do início da primavera. Com o aumento das temperaturas, a precipitação de neve está diminuindo e, consequentemente, os aportes de água na primavera também. 

A maior parte dos lagos são corpos fechados, onde a água fica acumulada em uma depressão no solo ou uma fenda entre duas montanhas. Esses corpos costumam perder água por evaporação nos meses mais quentes, volumes que costumam ser compensados em períodos de chuva ou no degelo após o inverno. Com aportes de água cada vez menores e com temperaturas mais altas, a sobrevivência desses lagos fica incerta. 

Um exemplo que sempre costumo citar é o do Lago Titicaca, na divisa da Bolívia e do Peru, e considerado como o lago navegável mais alto do mundo – o Titicada está a cerca de 3.820 metros acima do nível do mar. Esse lago é alimentado pelas águas do degelo de dezenas de glaciares localizados na Cordilheira dos Andes. 

Conforme comentamos na postagem anterior, as geleiras das montanhas dos Andes no Peru já perderam metade de sua superfície nas últimas décadas em função do aumento das temperaturas globais. Com isso, o volume de água de degelo que chega ao Lago Titicaca vem diminuindo ano após ano – alguns especialistas afirmam que o nível do lago está diminuindo cerca de 1 metro a cada ano. 

Resumindo – corremos o risco de conviver cada vez mais com lagos de águas verdes ou em tons de marrom, isso enquanto existirem os lagos. A coisa está ficando cada vez mais complicada para todos nós! 

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UMA MÁ NOTÍCIA: SURGIRAM 3 MIL NOVAS LAGOAS NO PERU

O MINAM – Ministério do Meio Ambiente do Peru, divulgou uma notícia preocupante – surgiram cerca de 3 mil novas lagoas dentro do território do país, todas formadas a partir do derretimento e acúmulo de água de geleiras no alto das montanhas dos Andes. 

Segundo o relato da Vice-ministra do órgão, Yamina Silva, muitas dessas lagoas podem se transformar em uma ameaça para as populações que vivem em terras baixas do país. Segunda a Vice-ministra, “cerca de 500 representam um possível perigo de transbordamento por causa das mudanças climáticas“. 

De acordo com informações da ANA – Autoridade Nacional de Águas, o Peru tem 2.679 geleiras de altitude, que cobrem uma área total de 2 mil km2. Ao longo dos últimos 50 anos, essas geleiras sofreram uma perda de 51% da sua superfície, especialmente devido ao aumento das temperaturas em decorrência do aquecimento global

Um exemplo dessa situação é a montanha nevada Pastouri, uma importante atração turística do Parque Nacional Huascarán, no Norte do Peru. As geleiras dessa montanha, que tem cerca de 6.768 metros de altitude, já perderam metade de sua superfície. 

O Peru possui a maior cadeia montanhosa dentro da zona tropical, concentrando 71% de todas as geleiras dessa região climática do mundo. São no total 18 cadeias de montanhas nevadas onde existiam cerca de 8 mil lagoas e lagos como Titicaca. Como efeito das mudanças climáticas, o número de lagoas aumentou em quase 30%. 

Com um território com 1,28 milhão de km2 e com uma população de 33 milhões de habitantes, o Peru faz fronteira com os Estados brasileiros do Acre e do Amazonas. O país pode ser dividido de forma simplificada em três áreas distintas: uma estreita planície costeira árida a Oeste, a Cordilheira dos Andes na faixa central e a Floresta Amazônica a Leste. 

A Cordilheira dos Andes é uma das mais extensas cadeias montanhosas do mundo, se estendendo por quase 8 mil km desde a Terra do Fogo, no extremo Sul do continente, até o Norte da Colômbia, acompanhando toda a costa ocidental da América do Sul. A altitude média das montanhas é de 3.500 metros acima do nível do mar, com alguns picos chegando próximo dos 7 mil metros, como no caso do Aconcágua, na Argentina, que tem uma altitude de 6.962 metros. A largura média da Cordilheira é de 240 km, com alguns pontos na Bolívia e no Peru com largura de 600 km. 

Essa impressionante cadeia de montanhas se formou há cerca de 40 milhões devido ao choque de enormes placas tectônicas. Conforme a Placa Sul-americana foi sendo empurrada para o Leste pelas forças geológicas que a separaram da África, o grande bloco continental foi de encontro às placas tectônicas que estão do outro lado – a Placa de Nazca e a Placa do Pacífico. Esse choque levou ao soerguimento das montanhas andinas, um processo que se desenrolou em “apenas” 4 milhões de anos. 

Antes do “nascimento” da Cordilheira dos Andes, toda a região norte da América do Sul era uma extensa planície. Em alguns trechos, as águas do Oceano Atlântico (que era bem menor do que nos dias atuais) invadiam as terras e avançavam pelo continente. Os rios que haviam se formado até então corriam no sentido Oeste. Conforme os terrenos da região onde encontramos atualmente a Cordilheira dos Andes começaram a ser soerguidos, ou seja, foram sendo elevados pelo choque entre as Placas tectônicas, houve primeiro uma interrupção no fluxo das águas para o Oeste e um lento e gradual refluxo no sentido Leste.  

O choque das Placas Tectônicas, além de elevar os terrenos, também acabou provocando uma intensa atividade vulcânica ao longo de toda a costa Oeste da América do Sul, região que até hoje se encontra dentro do chamado Círculo de Fogo do Oceano Pacífico. A erupção contínua dos vulcões e a liberação sistemática de lava, rochas e materiais piroclásticos, contribuiu fortemente para a formação das grandes montanhas Andinas – muitos desses vulcões estão ativos até os nossos dias.  

A Cordilheira dos Andes também produziu importantes mudanças no clima da Região – grandes massas de nuvens formadas no Oceano Atlântico passaram a encontrar um grande obstáculo nessas montanhas e passaram a retornar na direção da Amazônia, criando uma forte temporada de chuvas e permitindo a formação de uma grande floresta equatorial. Parte dessas massas de nuvens passou a produzir precipitações de neve e chuva no alto das montanhas, criando assim grandes glaciares ou geleiras de altitude. 

Muitos dos rios da bacia Amazônica têm suas nascentes formadas pelo degelo das neves e geleiras das montanhas andinas – o rio Amazonas é um deles. Estima-se que esse rio, ou curso original daquele que seria este rio, se formou há aproximadamente 16 milhões de anos. Esse rio corria inicialmente na direção de um grande lago que se formou numa depressão no centro da região onde encontramos a Floresta Amazônica. 

As águas de degelo das montanhas andinas também são fundamentais para a faixa costeira do Peru, especialmente para a região de serras, formações de relevo com altitudes mais baixas que a Cordilheira dos Andes. Essa região concentra grande parte da agricultura e da população do país. A imensa maioria dos rios e riachos que atravessam essa região dependem do degelo dos glaciares. 

A perda gradual de massa das geleiras Andinas e de outras cadeias de montanhas em todo é uma enorme ameaça para o abastecimento de bilhões de pessoas em todo o mundo. Vou citar um único exemplo – o rio Ganges, no Sul da Ásia. Esse rio nasce nas montanhas da Cordilheira do Himalaia e atravessa todo o Norte da Índia e Bangladesh. Cerca de 400 milhões de pessoas dependem diretamente das suas águas. 

Com o aumento das temperaturas em todo o mundo por causa dos efeitos do aquecimento global, geleiras de altitude estão perdendo grande parte de suas massas, um fenômeno que ameaça diretamente as nascentes de grande e importantes rios. O que está se passando no Peru é apenas um prelúdio do que vai acontecer com outras grandes e importantes geleiras de montanhas em todo o mundo. 

Num primeiro momento, haverá um aumento dos caudais dos rios e de lagos devido ao aumento do degelo, o que está acontecendo hoje no Peru. Num segundo momento, com o esgotamento das reservas de água congelada nas montanhas, os caudais dos rios e o nível dos lagos vai começar a diminuir. Por fim, muita gente vai perder as suas fontes de abastecimento de água. 

Entre esses dois extremos, falamos de um intervalo de 50 anos ou de duas gerações. Ou seja – nossos filhos e netos herdarão um mundo bem diferente daquele que nós conhecemos hoje… 

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OS PROBLEMAS AMBIENTAIS CRIADOS PELA EXPLORAÇÃO DO LÍTIO

Até algumas décadas atrás, nos tempos de nossos país e avós, a disponibilidade de aparelhos elétricos e eletrônicos nas casas era bem menor do que a que temos hoje. Aliás, boa parte das famílias brasileiras sequer dispunha de acesso à rede elétrica. Quem podia se dar a esse luxo dispunha em casa de alguns “bicos de luz”, um ferro elétrico e um rádio, entre outros raros eletrodomésticos. 

Eu lembro bem das férias de fim de ano no sítio dos meus avós em Lutécia, cidadezinha minúscula aqui do interior de São Paulo. Isso foi lá pelos idos da década de 1970. A iluminação noturna era feita com candeeiros a querosene e velas, banhos quentes só esquentando água no fogão a lenha e a única opção de lazer era um grande rádio alimentado a pilhas. Se ouvia a programação por uma ou duas horas ao dia, isso para não se gastar muito dinheiro comprando pilhas. 

Essa realidade mudou drasticamente em nossos dias. A maior parte da população do país já está conectada à rede elétrica nacional e o número de eletrodomésticos e de equipamentos eletrônicos aumentou exponencialmente. Destaco aqui os chamados eletro portáteis como celulares, laptops e tablets, aparelhos que são alimentados por baterias e que são recarregados através da rede elétricas das casas. 

A modernidade e a busca pela sustentabilidade ambiental também passaram a criar grandes espaços para veículos elétricos como uma alternativa aos veículos com motores a combustão interna. Falo aqui de carros, ônibus, caminhões, motocicletas e até de bicicletas elétricas. 

Além de ter resultado num grande aumento do consumo por energia elétrica per capita, essa grande profusão de aparelhos e equipamentos eletroeletrônicos também levou a uma gigantesca demanda por pilhas e baterias, o que, por sua vez, fez aumentar drasticamente o consumo de metais especiais como é o caso do lítio. 

O lítio é o metal mais leve que existe na natureza, possuindo uma densidade de cerca de 0,5 grama por centímetro cúbico. Graças a essa característica e a sua boa condutividade elétrica, o lítio passou a ser uma excelente opção para a fabricação de baterias.  

Para efeito de comparação: o chumbo, metal pesado muito utilizado na fabricação de baterias de automóveis, tem uma densidade de 11 gramas por centímetro cúbico. Além de ter um peso muito menor, uma bateria de lítio pode armazenar três vezes mais energia do que uma bateria fabricada com chumbo. 

Um exemplo prático: um carro da marca Tesla, um dos maiores fabricantes mundiais de veículos elétricos, utiliza um conjunto de baterias de lítio com cerca de 200 kg de peso. Se o mesmo veículo tivesse de usar baterias fabricadas com placas de chumbo, esse peso certamente passaria para algo entre 1,5 e 2 toneladas, algo que tornaria o veículo pesado demais e inviável tecnicamente. 

A produção de baterias de lítio ganhou força no início da década de 1990 e a demanda mundial anual pelo metal é da ordem de 450 mil toneladas. Segundo projeções da IEA – Agência Internacional de Energia, na sigla em inglês, o consumo de lítio deverá aumentar em mais de 40 vezes até o ano de 2040. 

As maiores reservas conhecidas do metal ficam na Bolívia, Chile e Argentina, numa região que ficou conhecida como o “triângulo do lítio”. Esse lítio é encontrado em uma salmoura rica em minerais que fica cerca de dez metros de profundidade sob os lagos salgados e salinas de altitude – os conhecidos “salares”. 

A extração é feita a partir de poços abertos na crosta de sal, de onde a salmoura é bombeada e depositada em tanques de decantação e de secagem natural, um processo que leva entre 15 e 18 meses. Ao final da secagem, os tanques apresentam uma lama salgada rica em manganês, potássio, bórax e sais de lítio. 

Essa produção é cheia de problemas, a começar pelo alto consumo de água – são necessários cerca de 2 milhões de litros de água para produzir uma tonelada de lítio. Nos salares do Deserto de Atacama no Norte do Chile, citando um exemplo, onde a precipitação anual é de apenas 15 milímetros, essa mineração consome 65% da água disponível na região. 

Outro grave problema é a poluição criada pelo uso de produtos químicos tóxicos para a separação do lítio de outros minerais. Um desses produtos é o ácido clorídrico, que além de poluir o ar pode contaminar as fontes de abastecimento de água. Também existe a geração de enormes volumes de rejeitos minerais.

O maior produtor mundial de lítio é a Austrália, onde o metal é encontrado impregnado em rochas chamadas pegmatitos. Esse tipo de rocha é similar ao granito, sendo formada basicamente por quartzo, feldspato alcalino, plagioclásio e minerais raros. As rochas são moídas e depois tratadas com produtos químicos para separar o lítio dos outros minerais. As reservas de lítio existentes aqui no Brasil são deste tipo. 

A China é, de longe, a maior consumidora mundial de lítio. Transformado em “fábrica do mundo” nas últimas décadas, o país produz a maior parte das pilhas e baterias que são usadas em equipamentos eletrônicos e veículos de todo o mundo. Cada uma dessas pilhas ou baterias fabricada deixou um enorme rastro de rejeitos minerais, resíduos químicos e de danos ambientais pelo caminho, além de muitos problemas sociais. 

Aqui temos uma profunda contradição: fontes geradores de energias renováveis como a eólica e a fotovoltaica dependem muito do uso de baterias para o armazenamento da eletricidade. Essas fontes, conforme já tratamos em postagens anteriores, são intermitentes: a força dos ventos varia muito ao longo de um dia e também ao longo das diferentes estações do ano. A luz solar só está disponível durante o dia. 

Muito da sustentabilidade ambiental que defendemos e da modernidade e comodidade criada pelos nossos aparelhos eletro portáteis depende da mineração suja e poluente do lítio usado na fabricação das baterias. Ou seja – é uma conta que não fecha dentro de contabilidade ambiental. 

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TIGRE E EUFRATES: A AGONIA DE DOIS RIOS NO BERÇO DA CIVILIZAÇÃO

Dentro da nossa tradição religiosa judaico-cristã, Deus fez um “paraíso na terra” logo depois de criar o homem e a mulher. Esse lugar foi chamado de Jardim do Éden, onde o Criador proveria moradia e todas as necessidades materiais para a nascente humanidade. 

A descrição dos livros sagrados dessas religiões – a bíblia cristã por exemplo, deixa muito clara a localização desse paraíso: uma terra entre as águas dos rios Tigre e Eufrates, dentro do atual território do Iraque. Nos séculos seguintes, essa região passou a ser conhecida no Ocidente com o nome de Mesopotâmia, palavra composta de origem grega que significa, literalmente, “terra entre rios“.  

Segundo inúmeras evidências arqueológicas, essa região foi ocupada por volta do 7° milênio a.C. pelos primeiros agrupamentos humanos civilizados. As linhas de pesquisa apontam que a agricultura em larga escala começou a ser desenvolvida nas terras férteis do Sul a partir do 5° milênio a.C., inclusive com o uso de sistemas de irrigação.  

Com a fartura de águas oferecidas pelos rios Tigre e Eufrates, a Mesopotâmia rapidamente se transformou num dos celeiros do mundo antigo, recebendo, em conjunto com o Vale do rio Nilo, o nome de Crescente Fértil.  

Sucessivas civilizações floresceram nessas terras: sumérios, acadianos, caldeus, babilônicos e assírios. Grandes impérios como o dos medos, dos persas e os antigos gregos, entre outros, não pouparam esforços para conquistar a região. A Mesopotâmia sempre foi uma região rica, disputada e instável. 

Nos dias atuais, a outrora rica Mesopotâmia é apenas uma sombra do que foi no passado. Depois de décadas de uma ditadura sanguinária e de uma sucessão de conflitos, primeiro com potências estrangeiras e atualmente entre diferentes grupos em busca do poder, o atual Iraque é o mais completo símbolo da decadência. Na vizinha Síria, a população está convivendo há mais de dez anos com uma sangrenta guerra civil.

Uma das maiores expressões dessa decadência pode ser vista na degradação dos históricos rios Tigre e Eufrates, que compõem uma única bacia hidrográfica e que apresentam águas cada vez mais poluídas e com caudais cada vez mais reduzidos. Além de sofrer com os efeitos do forte calor e de uma grave seca regional, esses rios tem suas águas cada vez mais disputadas pelos países que formam a sua grande bacia hidrográfica: Turquia, Síria e Iraque. 

Com aproximadamente 1.900 km de extensão, o rio Tigre tem suas nascentes na região dos Montes Tauro, na Turquia, país que está se aproveitando da guerra civil na Síria e da instabilidade política do Iraque para explorar ao máximo as suas águas. 

Além de autorizar a construção de cerca de 150 pequenas barragens e açudes em pequenos afluentes do rio e de ter planos para a construção de outras 1.700 outras estruturas para o armazenamento das águas, a Turquia inaugurou no final de 2021, a polêmica barragem Ilisu (vide foto). Além de ser o maior reservatório de água do rio Tigre, a hidrelétrica instalada na estrutura deverá responder por cerca de 4% de toda a energia elétrica gerada no país. 

A grandiosa obra forçou o deslocamento de cerca de 100 mil pessoas, principalmente de etnia curda, que viviam em cerca de 200 aldeias e pequenas cidades. O investimento consumiu o equivalente a 750 milhões de Euros e provocou o alagamento de um trecho de 136 km do rio Tigre e a formação de um lago com 313 km2. A hidrelétrica possui uma capacidade de geração de 1,2 GW. 

A situação do rio Eufrates não é muito diferente – a Turquia construiu mais de 20 represas na calha do rio dentro do seu território sem maiores consultas ou preocupações com as necessidades hídricas dos seus vizinhos. O rio Eufrates, que tem um comprimento total de 2.800 km, tem suas nascentes dentro de áreas montanhosas do Leste turco e corre por mais de 1.200 dentro do território do país. 

Como consequência direta desse grande aproveitamento das águas no trecho turco da bacia hidrográfica, apenas 1/3 dos caudais dos rios Tigre e Eufrates estão chegando ao território da Síria e do Iraque quando comparada às vazões históricas. Um exemplo prático dos problemas – o trecho outrora caudaloso do rio Tigre na altura da cidade de Bagdá, capital do Iraque, agora pode ser facilmente atravessado a pé com, no máximo, água até a cintura. 

A baixa vazão também está comprometendo todo o trecho final da bacia hidrográfica. Os rios Tigre e Eufrates se encontram na altura da cidade de Al Qurna, no Sul do Iraque, formando o canal de Xatalárabe, rio que corre por cerca de 200 km até encontrar sua foz no Golfo Pérsico. Com a redução drástica dos caudais, grande parte do trecho final do rio está sendo salinizado por causa da invasão das águas do oceano. 

A disponibilidade de água é agravada pelos grandes desperdícios nos usos na agricultura. Os produtores locais se valem de antigas técnicas de irrigação por alagamento, um dos métodos que mais desperdiçam água devido aos grandes volumes evaporados por causa do forte calor. 

A região onde fica localizada a bacia hidrográfica dos rios Tigre e Eufrates possui um clima temperado de deserto, com temperaturas máximas e mínimas extremas. No pico do inverno os termômetros podem chegar próximo a -20° C nas áreas montanhosas e no verão chegam facilmente aos 50° C nos trechos dos desertos, o que nos dá uma ideia das perdas de água por evaporação. 

Dentro dos climas desértico e semiárido que predominam na região, as águas dos rios Tigre e Eufrates são, de longe, as mais importantes fontes para o abastecimento de populações, dessedentação de rebanhos e insumo para a produção agrícola. O desequilíbrio no uso por parte da Turquia, a poluição das águas, especialmente no Iraque, e a salinização no baixo curso da bacia hidrográfica ameaçam a sobrevivência de mais de 40 milhões de pessoas. 

Todos esses problemas ainda estão sendo agravados pelo aquecimento global. Conforme já tratamos em postagem anterior, estudos feitos pelo Instituto Max Planck de Química e do Centro de Pesquisa do Clima e Atmosfera do Instituto Chipre sugerem que o Oriente Médio, região onde está inserida a bacia hidrográfica dos rios Tigre e Eufrates, e o Mediterrâneo Oriental poderão sofrer um aumento de temperaturas de 5° C ou mais até o final do século.   

Ou seja – nas próximas décadas assistiremos uma redução gradativa dos volumes de chuvas e de precipitação de neve nas cadeias montanhosas de toda a região da bacia hidrográfica, o que resultará em caudais ainda menores nas calhas dos rios e disputas cada vez mais ferrenhas pelos direitos de uso da água, inclusive com o uso de forças militares.  

E a histórica e ancestral Mesopotâmia, um dos mais antigos berços da civilização humana, poderá ficar inabitável num futuro muito próximo. Quanta ironia!

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ESTUDO MOSTRA AS MUDANÇAS NO CARREAMENTO DE SEDIMENTOS PELOS RIOS AO LONGO DE 40 ANOS 

Sedimentos são partículas sólidas que através de um processo físico ou químico desprendem-se das rochas. Essas partículas podem ficar acumuladas no solo ou podem ser transportadas a longas distâncias pelos ventos e, especialmente pelas águas. Dependendo do diâmetro, essas partículas são chamadas de argila, silte e areia. 

Pelas suas características dinâmicas, os rios são importantes produtores de sedimentos, que são formados por processos de erosão das rochas, e são também ótimos carreadores desses sedimentos. Os rios também recebem grandes volumes de sedimentos que são carreados pelas águas das chuvas que caem dentro de sua bacia hidrográfica.  

Além de partículas minerais, as águas das chuvas também arrastam grandes volumes de matéria orgânica, nutrientes que alimentam plantas e outras espécies da fauna aquática e que formam também a base da cadeia alimentar dos rios. Nos períodos das cheias, tanto os sedimentos minerais quanto a matéria orgânica são espalhados ao longo das margens dos rios e áreas de várzea, criando importantes áreas de terras altamente férteis. Um grande exemplo são as áreas deltaicas como são os casos do delta do rio Ganges, que se estende entre a Índia e Bangladesh, e o delta do rio Mekong no Vietnã.

Um ótimo exemplo histórico que mostra a importância das cheias dos rios e do carreamento de sedimentos férteis é o rio Nilo, berço da civilização egípcia. Com uma extensão de mais de 6.600 km, o Nilo disputa com o Amazonas o título de rio mais longo do mundo – no quesito volume total de água, o rio Amazonas é campeão incontestável. 

As nascentes do rio Nilo ficam dentro de áreas cobertas por floresta tropical no Centro-Oeste da África, região servida por uma temporada de abundantes chuvas. Grande parte da bacia hidrográfica do rio Nilo, entretanto, é formada pelos grandes desertos do Sudão e do Egito. 

A temporada das chuvas na região das nascentes do rio Nilo cria todos os anos um importante período de cheia no rio, com impactos em toda a bacia hidrográfica. Essas cheias carreiam grandes volumes de sedimentos minerais e nutrientes orgânicos. Quando as águas retrocedem, as margens do rio ficam cobertas com uma grossa camada de solo nutritivo, o que foi a chave do sucesso da agricultura no antigo Egito durante milhares de anos. 

Essa verdadeira dádiva da natureza perdurou até meados da década de 1960, época em que o Governo do Egito iniciou as obras da Represa de Assuã, estrutura destinado ao controle das cheias do rio e também para a geração de energia numa usina hidrelétrica. Com a interrupção do fluxo natural do rio Nilo, o volume de sedimentos diminui drasticamente – a atual agricultura do país se tornou altamente dependente do uso de fertilizantes químicos desde então. 

O caso extremo do rio Nilo não é, nem de longe, um caso isolado. Um estudo feito pela Universidade Dartmouth dos Estados Unidos e publicado pela revista Science mostrou que as ações humanas estão causando alterações sem precedentes no transporte de sedimentos dos rios. 

Abrangendo o período entre 1984 e 2020, o estudo utilizou imagens de satélites da NASA – Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço dos Estados Unidos, e também dados do fluxo de 414 grandes rios do mundo. Essa análise permitiu uma avaliação completa dos volumes de sedimentos carreados pelos rios na direção dos oceanos. 

Entre as principais conclusões desse grande estudo destacam-se os grandes impactos que foram criados pela construção de barragens, especialmente em países do Hemisfério Norte. A exemplo do que ocorreu no rio Nilo devido a construção da Represa de Assuã, essas construções reduziram substancialmente o volume de sedimentos carreados pelas águas – essa redução foi de 49% em relação às condições pré-barragens

Em países subdesenvolvidos ou em vias de desenvolvimento, especialmente no Hemisfério Sul, o volume de sedimentos transportados pelos rios aumentou cerca de 36%. A grande perda de áreas florestais por desmatamentos ou queimadas e o uso inadequado dos solos pela agricultura destacam-se como principais fontes do problema. A erosão de solos é um dos maiores males criados pela agricultura. 

De acordo com dados da CNUCD – Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação, calcula-se que as perdas mundiais de solo fértil, especialmente por erosão, são da ordem de 24 bilhões de toneladas a cada ano. Essa perda corresponde a uma área equivalente a 12 milhões de hectares ou três vezes a área da Suíça. Todo esse volume de sedimentos acaba dentro da calha dos rios

Tanto a redução do volume de sedimentos quanto o seu excesso são prejudicais ao meio ambiente. A falta de sedimentos, conforme comentamos no início do texto, prejudica a fauna e a flora aquática, além de prejudicar ou, até mesmo, inviabilizar a produção agrícola nas margens e nas várzeas. 

O excesso de sedimentos provoca o assoreamento dos canais, problema que provoca inundações, interrupção da navegação fluvial, dificuldades para a captação de água por sistemas de abastecimento de populações e/ou de irrigação, prejuízos a flora e a fauna aquática, entre inúmeros outros problemas. 

É importante ressaltar que todos esses problemas nos rios não têm nenhuma relação com as tão faladas mudanças climáticas globais e de seus impactos ao meio ambiente. Falamos aqui da má gestão dos recursos naturais e de erros no planejamento e execução de grandes obras de barragens de represas e de usinas hidrelétricas. 

As mudanças climáticas poderão sim amplificar esses problemas, seja pela redução do volume de chuvas em algumas regiões ou pelo aumento das mesmas em outros lugares.  

Ou seja – o que já está ruim poderá ficar ainda pior… 

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TUFÃO NANMADOL ATINGE O SUDOESTE DO JAPÃO

O olho do tufão Nanmadol atingiu a ilha de Kyoshu, a maior do extremo Sul do arquipélago do Japão, no início da manhã deste domingo, dia 18 de setembro. De acordo com as informações já transmitidas pela imprensa foram registrada chuvas torrenciais e ventos com velocidade acima de 240 km/h. 

Cerca de 20 mil pessoas foram transferidas para abrigos e mais de 7 milhões de habitantes da região receberam orientação para buscar locais mais seguros. Ao menos 340 mil residências estão sem o fornecimento de energia elétrica e outros serviços. Os serviços de emergência já contabilizaram 60 feridos. 

A JMA – Agência Meteorológica do Japão, na sigla em inglês, já vinha emitindo sucessivos alertas de chuvas fortes, ventos recordes e riscos de enchentes há vários dias. Nanmadol é o 14 tufão da atual temporada e está sendo considerado um dos mais fortes. A tempestade deverá atingir a região de Tóquio na terça-feira, dia 20 de setembro. 

O Japão convive há vários séculos com os tufões e possui uma das melhores infraestruturas de emergência para lidar com esse tipo de evento climático. Mesmo assim, as autoridades estão temerosas quanto a intensidade do Nanmadol, cujas chuvas poderão atingir áreas consideradas seguras do país. 

Os meteorologistas esperam chuvas da ordem de 400 mm para o Sul da ilha Kyoshu e de cerca de 300 mm para a região central de Tokai apenas nas primeiras 24 horas. Essas condições meteorológicas são inéditas no país e preocupam os especialistas. 

Todas as atividades não essenciais em indústrias, no comércio e em prestadores de serviços foram suspensas na região. Também foram interrompidos os serviços de transporte nos trens regionais e nas rotas marítimas, além do cancelamento de cerca de 500 voos. 

Tufões são ciclones tropicais que se desenvolvem entre as latitudes 180° e 100° no Hemisfério Norte, região conhecida Bacia do Noroeste do Pacífico. Essa região concentra perto de 1/3 de todos os ciclones tropicais do planeta e é considerada a mais ativa da Terra

Assim como acontece com os furacões, nome que é usado para designar esses eventos climáticos no Oceano Atlântico e em outras regiões do globo, os tufões resultam da combinação de altas temperaturas na superfície do mar, da instabilidade atmosférica, da alta umidade nos níveis mais baixos e intermediários da atmosfera e do efeito Coriolis (criado pela rotação do planeta), entre muitos outros. 

A região do Noroeste do Oceano Pacífico é pródiga em oferecer essas condições meteorológicas e por isso é frequentemente assolada por ciclones tropicais numerosos e intensos. Esses ciclones costumam ser dirigidos para as direções Oeste e Noroeste, atingindo com mais intensidade o Sul da China, Taiwan, Japão e Filipinas. 

Registros históricos de mais de mil anos mostram que o Sul da China foi a região mais impactada pelos tufões mais mortíferos já registrados. Esses mesmos registros mostram que a ilha de Taiwan recebeu o tufão mais chuvoso já registrado na história. 

Diferentemente do que acontece com os furacões que atingem o Oceano Atlântico e que são batizados com nomes de pessoas em ordem alfabética, os tufões do Oceano Pacífico recebem majoritariamente nomes de animais, de flores e de símbolos astrológicos. Esses nomes são sugeridos em listas pelos diferentes países afetados pelas tempestades na região. 

Apesar da convivência milenar com esses fenômenos naturais, o que moldou desde as culturas até a arquitetura de muitos povos da região, existe uma preocupação generalizada quanto a um aumento da frequência e da intensidade dos tufões por causa do aquecimento global. 

Estudos publicados pela revista científica Science correlacionaram o aumento da intensidade dos tufões nas últimas quatro décadas com o aumento das temperaturas do planeta, ou seja, quanto mais altas as temperaturas maiores e mais frequentes são os tufões. 

Estudos realizados por cientistas da Universidade da Califórnia, citando um exemplo, analisaram a intensidade de uma série de tufões a partir de 1951 e comparam com os dados com a elevação das temperaturas da superfície do Oceano Pacífico. 

Entre as décadas de 1950 e de1970, tanto as temperaturas das águas quanto a intensidade dos tufões se mantiveram constantes. Em anos mais recentes, quanto o aumento das temperaturas em todo o planeta por causa das mudanças climáticas ficaram mais evidentes, passou a se observar também um aumento da intensidade dos tufões. 

De acordo com os dados apurados, a intensidade dos tufões sofreu um aumento de 30% desde 1971 – as projeções indicam que poderá haver um aumento dessa intensidade de mais 15% até o final deste século. Dada a magnitude e ao rastro de destruição deixados desses eventos, esses são números preocupantes. 

Além de afetar atividades econômicas como a pesca, a agricultura, a indústria e os transportes – especialmente os importantes serviços de transporte marítimo, os tufões são uma ameaça real para as populações. Além das fortíssimas rajadas de ventos, que causam desabamentos de construções e quedas de árvores, os tufões provocam tempestades torrenciais onde existem riscos de grandes inundações e deslizamentos de encostas. 

Um exemplo da fúria destas tempestades foi o rastro deixado pelo Tufão Rai nas Filipinas no final de 2021. Foram mais de 370 mortos, 500 feridos e cerca de 60 pessoas desaparecidas. Milhares de casas foram destruídas e centenas de cidades e vilas ficaram isoladas devido a alagamentos em estradas e desmoronamentos de encostas. Em 2013, o país foi devastado pelo super tufão Haiyan, a maior tragédia já registrada nas Filipinas e que deixou um saldo de 7,3 mil mortos. 

Ao longo das próximas horas vamos receber maiores informações sobre os estragos causados pelo Nanmadol no Japão, sempre torcendo sempre por boas notícias ou, no mínimo, por notícias menos trágicas.

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CHARLES III, O REI ECOLOGISTA

Os cidadãos britânicos e a grande maioria das pessoas “civilizadas” do mundo (faço a ressalva por que muitos socialistas estão comemorando o fato) estão em luto devido a morte da rainha Elizabeth II do Reino Unido, ocorrida no último dia 8 de setembro. Seu reinado de 70 anos foi o mais longo de toda a história da monarquia britânica. 

Com a morte da monarca assume o trono seu filho primogênito, o polêmico e pouco carismático Charles Philip Arthur George, agora oficialmente conhecido como Rei Charles III. Antes de ascender ao trono do Reino Unido, Charles dividia a opinião dos seus súditos – pesquisa feita em 2019 indicou que 46% dos britânicos preferia sua abdicação ao trono em favor do príncipe Willian. 

Problemas políticos e de relacionamentos a parte, gostaria de enfocar num aspecto interessante de Charles III – há mais de 50 anos, o agora rei é um ferrenho ecologista e defensor de causas ligadas ao meio ambiente. Aliás, entre muitos outros cargos honoríficos, ele é presidente da organização ambientalista WWF-UK desde 2011, cargo que foi ocupado por seu pai, príncipe Philip, entre 1981 e 1996. 

Um exemplo das preocupações ambientais do monarca – há mais de 50 anos que ele vem utilizando um carro da tradicional marca inglesa Aston Martin, cujo motor foi modificado para usar um biocombustível elaborado a partir de excedentes de vinho branco e soro de leite da fabricação de queijo. Esse biocombustível é aditivado com 15% de gasolina sem chumbo. 

O primeiro evento público onde o então Príncipe de Gales discursou sobre suas preocupações ambientais foi em 1970, quando fez um “alerta para todos os aspectos do meio ambiente“. A partir de então, seu envolvimento em causas ambientais só fez crescer. 

A imagem de monarca envolvido em questões ambientais foi reforçada ao longo dos anos com a participação do Príncipe de Gales em inúmeros eventos plantando árvores, flores ou ainda exibindo vegetais e frutas orgânicas produzidas em uma das suas muitas propriedades. Charles também fez visitas a muitas áreas de grande importância ecológica como os manguezais das Ilhas São Vicente e Granadinas, no Caribe. 

Na COP26 – Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças no Clima, que foi realizada em novembro de 2021, em Glasgow na Escócia, o Príncipe de Gales fez o discurso de abertura dos trabalhos. Ele pediu aos líderes globais um aumento dos esforços no combate o aquecimento global, afirmando que “o tempo literalmente acabou”. 

Agora, que os tempos do “eterno” Príncipe de Gales ficaram para trás e passamos ao reinado do Rei Charles III, vamos ver quais serão as medidas efetivas que serão tomadas pelo monarca na área ambiental. Aqui é preciso ressaltar que, dentro de estrutura de Governo Monarquista Parlamentarista da Grã Bretanha, os poderes do soberano são bastante limitados. 

Mesmo sem contar com o poder da caneta do Primeiro-ministro britânico, o Rei Charles tem poder moral para fazer muita coisa. Para começar, seria bem interessante que seus esforços começassem pela agricultura do Reino Unido, que atualmente está cheia de problemas. Pode até não aparentar a princípio, mas o soberano tem uma forte ligação com essa área. 

Como herdeiro da Coroa do Reino Unido, Charles é herdeiro do Ducado da Cornualha (soa melhor em inglês – Cornwall), uma enorme extensão de terras que engloba grande parte do Sul e do Sudoeste da Inglaterra. Esse Condado foi criado em 1337 para gerar rendas para o herdeiro real. Todas as propriedades urbanas e rurais dessa região são obrigadas a pagar um imposto anual ao nobre, uma tradição medieval ainda em uso no Reino Unido. 

De acordo com diversas reportagens publicadas nos últimos dias, o Rei Charles recebeu cerca de 21,6 milhões de libras esterlinas geradas por esses impostos no ano de 2021. Convertido em Real, falamos aqui de R$ 117 milhões, sendo que a maior parte desses recursos veio de fazendas e propriedades na área rural. 

Entre outros inúmeros problemas, a agricultura do Reino Unido é famosa por utilizar fartamente a mão de obra de imigrantes estrangeiros (algumas fontes afirmam que 98% desses trabalhadores são estrangeiros), onde parte considerável está em situação ilegal, trabalhando em condições deploráveis e em troca de baixíssimos salários. Essa questão nunca chamou muito a atenção dos britânicos, que em sua imensa maioria vivem nas áreas urbanas.  

Porém, com a chegada do Brexit, a saída do Reino Unido da União Europeia em 2020, a questão começou a se tornar extremamente problemática. Muitos dos estrangeiros que trabalhavam na agricultura dos países que formam o Reino Unido vinham de países do Leste Europeu e se valiam das políticas de livre circulação e de trabalho do bloco. 

Com a saída do Reino Unido da União Europeia todas as facilidades trabalhistas para esses estrangeiros foram encerradas. A situação piorou logo depois com o início da pandemia da Covid-19 e introdução de uma série de medidas que coibiam a circulação de pessoas. Trabalhadores em situação irregular foram obrigados a sair do Reino Unido e a voltar para os seus países de origem. 

Durante os primeiros meses da pandemia, faltaram braços para colher frutas, legumes e verduras nas fazendas locais. A situação foi agravada pela falta de mais de 120 mil motoristas de caminhões em todo o Reino Unido, classe também formada em grande parte por imigrantes (legais e ilegais) de países do Leste Europeu. 

Mesmo não tendo responsabilidade legal direta por toda essa série de problemas de mão de obra na agricultura, o agora Rei Charles III sempre foi bastante beneficiado com a arrecadação dos impostos dos produtores rurais – moralmente, ele tem “alguma culpa no cartório”, como costumamos falar aqui no meu bairro. 

As atividades agrícolas também são grandes emissoras de gases de efeito estufa, que são os maiores responsáveis pelo aquecimento global. Muitos países europeus, inclusive, estão tomando uma série de medidas para reduzir essas emissões. Será que o Reino Unido, agora sob “nova direção”, vai seguir o exemplo de países como a Holanda e forçar seus agricultores a reduzir drasticamente as suas emissões? 

Como sempre comentamos nas postagens aqui do blog, é muito fácil para os Governantes e líderes de muitos países da Europa falar das queimadas e da destruição da Floresta Amazônica, jogando a maior parte da responsabilidade do aquecimento global em nossas costas. Já as pesadas emissões feitas por lá desde meados do século XVIII, início da Revolução Industrial, isso sempre é deixado de lado. 

Desejamos vida longa ao novo Rei e esperamos que as suas antigas manifestações espetaculosas e preocupações ambientais agora se transformem em políticas de Estado do Reino Unido. A dupla moral de muitos líderes mundiais já passou dos limites.

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MEDIDA APROVADA NO PARLAMENTO EUROPEU RESTRINGE A COMPRA DE COMMODITIES PRODUZIDAS EM ÁREAS DESMATADAS

Para espanto de ninguém com um mínimo de conhecimento dos problemas ambientais, o Parlamento Europeu acaba de aprovar medidas que restringem a importação de commodities agropecuárias provenientes de regiões desmatadas. Entre outros itens, essa lista inclui grãos como a soja e o milho, proteína animal, óleos vegetais e madeiras. 

Para muitos ambientalistas, artistas e famosos, essa medida tem como endereço certo o Brasil, país que vem sendo acusado, com algum fundo de verdade, de devastar trechos da Floresta Amazônica como forma de ampliar as áreas de produção agrícola e as pastagens para a criação de gado. 

Essa medida foi aprovada no último dia 13 de setembro e afeta todas as importações de produtos que tenham relação com áreas de desmatamento. A partir de agora, os importadores precisão comprovar o local de origem de produtos como a carne bovina, a soja e o óleo de palma

É interessante se observar que a resolução dá uma verdadeira “colher de chá” para os produtores rurais – as áreas de produção não podem ter passado por processos de desmatamento após dezembro de 2021. Muitas áreas de produção que ficam dentro do bioma Amazônico e em outras áreas florestais sensíveis pelo mundo a fora acabarão sendo beneficiadas por essa verdadeira anistia. 

A destruição de florestas tropicais – destaque para a Floresta Amazônica, com fins de ampliação de áreas agrícolas e pecuárias, além da exploração da madeira e atividades de mineração, vem sendo alvo da fúria de parlamentares europeus já há muitos anos. É por isso que a aprovação dessa medida não surpreendeu quase ninguém. 

Na visão da Comissão Europeia essa medida é positiva sob dois aspectos. Em primeiro lugar por que ela reduz os impactos dos consumidores europeus em termos de emissão de gases de efeito estufa. De acordo com estudos da União Europeia, os consumidores europeus são responsáveis, direta e indiretamente, por 10% do desmatamento global. Esse impacto é gerado pelas importações de commodities e produtos de países que desmatam

Em segundo lugar, essa medida ajuda e valoriza os países que protegem as suas florestas, incentivando-os a aumentar cada vez mais seus esforços para a preservação do meio ambiente. Ou seja – a medida visa garantir a sustentabilidade da agricultura e da pecuária no longo prazo. 

Conforme já tratamos em inúmeras postagens anteriores, o Brasil vem sendo acusado sistematicamente de sustentar o crescimento vertiginoso de sua produção agrícola e pecuária pelo desmatamento da Floresta Amazônica. Para grande parte dos consumidores europeus, que não conhecem quase nada da geografia de nosso país, a Amazônia é o bioma predominante em nosso território. 

Essa desinformação é usada com bastante competência pelas associações de produtores rurais de muitos países do bloco europeu, com destaque para a França e a Irlanda, com o objetivo de barrar as importações de produtos agropecuários brasileiros muito mais baratos e de ótima qualidade. 

A agropecuária desses países é fortemente subsidiada tanto por recursos financeiros dos países quanto oriundos da Comissão Europeia. Essa estrutura acaba prejudicando a busca por uma maior eficiência e produtividade por parte dos produtores rurais. 

Um exemplo que sempre me chamou a atenção são os baixíssimos preços dos vinhos em países como a França e a Itália. Em qualquer mercado ou adega nesses países pode-se comprar excelentes vinhos por menos de 10 Euros. Qualquer um que conheça toda a cadeia de produção do vinho sabe que esses valores (onde também se incluem os impostos, os custos de transporte e a margem de lucro dos revendedores) são irreais. 

Outro exemplo que podemos citar é o caso da Irlanda, maior produtor e exportador de carne bovina da Europa. Costuma-se dizer que existem mais bois do que gente no país, onde vivem menos de 5 milhões de pessoas e mais de 7 milhões de bovinos. Como é que a pecuária local poderá fazer frente a um país do tamanho do Brasil, que possui um rebanho com mais de 215 milhões de cabeças e um clima muito mais favorável? 

A resposta não é muito difícil de se encontrar – os produtores de carne do país contam com pesados subsídios governamentais e também com um forte lobby no Parlamento Europeu. Entre outras lutas, os produtores rurais da Irlanda e da França são os que se opõem de forma mais ferrenha a assinatura de um acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia. 

Essa medida, coincidência ou não, chega em um momento de forte escassez de alimentos em todo o mundo. Conforme temos tratado em diversas postagens aqui do blog, importantes produtores agropecuários estão sofrendo bastante com adversidades climáticas. Destaco aqui os países do Hemisfério Norte, em especial os Estados Unidos, a China e países da Europa. Também é preciso citar os impactos do conflito entre a Rússia e a Ucrânia.

Fortes ondas de calor e seca estão ameaçando a produção de importantes commodities como a soja e o milho. Parte desses grãos é usado na produção de ração para animais, o que implica numa redução da oferta de proteínas animais. Em meio a essa escassez, o Brasil vem se destacando cada vez mais como um importante celeiro agrícola e produtor de proteínas animais. 

A situação está chegando a tal ponto que a União Europeia resolveu acelerar as tratativas do acordo comercial com o Mercosul, bloco que inclui Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, todos importantes produtores agropecuários. O avanço dessas negociações estava travado há vários anos por pressão de alguns países como a França e a Irlanda. 

Com a adoção de medidas que impeçam a entrada de commodities agropecuárias originárias de áreas de desmatamento, os parlamentares europeus resolvem os problemas de escassez de produtos ao mesmo tempo em que dão uma satisfação adequada aos seus eleitores/consumidores – a Europa não vai mais aceitar a “importação de desmatamentos”. 

Apesar de muitos produtores brasileiros já estarem reclamando dessa medida, ela será bastante benéfica para quem trabalho sério e respeita a legislação ambiental aqui do Brasil. Só para lembrar – o nosso Código Florestal estabelece a preservação de matas nativas da ordem de 20%, 50% e 80% nas propriedades rurais localizadas, respectivamente, nos biomas Mata Atlântica, Cerrado e Amazônia

Quem estiver seguindo a legislação em vigor, que é uma das mais restritivas do mundo, não terá maiores problemas para exportar a sua produção para a Europa. 

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