Antes de se iniciar o projeto de uma Rede de Esgotos em uma cidade, é necessário que se faça um levantamento topográfico detalhado, ou seja, a determinação das variações de nível de cada rua, avenida, praça e demais logradouros. Como já havia comentado, as Redes Coletoras de Esgotos funcionam utilizando a força da gravidade – os esgotos fluem sempre de um ponto mais alto do terreno na direção do ponto mais baixo – é justamente o levantamento topográfico que vai permitir o determinar o “caminho” a ser seguido pelos efluentes. Com esses dados em mãos, os projetistas da Rede de Esgotos dividirão a cidade em bacias e sub-bacias hidrográficas. De uma forma bem simplificada, você pode imaginar a bacia hidrográfica como um grande telhado de uma casa – por força da gravidade, a água da chuva corre do ponto mais alto, a cumeeira, para o ponto mais baixo do telhado, os beirais; as sub-bacias são as subdivisões de um bacia hidrográfica.
No caso de uma região geográfica, os pontos mais altos são os topos dos morros ou os bairros mais altos da cidade e os pontos mais baixos são os vales onde ficam os córregos e rios. O “desenho” ou a topografia do solo foi criado pela erosão feita pelas chuvas, pelas águas dos córregos e rios, além da força dos ventos e os desgastes dos movimentos de geleiras (extensas áreas do território do Brasil já foram cobertas por espessas camadas de gelo em antigas eras geológicas), num trabalho que levou alguns milhões de anos para ser concluído. Quando o traçado da sua rua, do seu bairro ou da sua cidade foi planejado, essas diferenças de níveis ou altitudes do terreno foram cuidadosamente estudas e avaliadas por uma questão bem elementar – planejar o futuro escoamento das águas pluviais ou de chuva (a famosa drenagem das águas pluviais), disciplina das mais elementares do urbanismo. O projeto das Redes de Esgotos segue pela mesma linha – é preciso estudar as bacias e sub-bacias hidrográficas da região onde a cidade está inserida para determinar o melhor caminho para o escoamento dos efluentes, ou seja, para desenvolver o projeto desta Rede.
Como a topografia de um terreno nunca é totalmente regular, são necessários ajustes nas direções que as Redes de Esgotos seguirão e também na profundidade de instalação das tubulações, de forma a potencializar o uso da força da gravidade. Para permitir que os esgotos fluam adequadamente, as tubulações da Rede necessitam de uma declividade mínima de 2% – isso significa que para cada 1 metro que a tubulação avança, a profundidade deve variar o equivalente a 2 cm, religiosamente; para que você entenda isso melhor, imagine um trecho de Rede com 100 metros de comprimento – se no início da escavação a profundidade da tubulação estava em 1 metro, o final do trecho deverá ter 3 metros de profundidade – essa diferença de 2 metros na profundidade corresponde exatamente a 2%. É essa declividade que faz com que os esgotos fluam naturalmente.
Durante as obras de escavação das ruas e avenidas para implantação das tubulações, os trabalhadores precisam medir constantemente a profundidade das valas e conferir a todo o momento a declividade das tubulações; caso haja algum erro nessas medições, o trabalho terá de ser refeito. É por isto que a execução de um trecho de apenas 100 metros de uma rede de esgotos levará vários dias para ser concluído, enquanto que a implantação de um trecho de uma rede pressurizada de abastecimento de água do mesmo tamanho será feito em poucas horas. Redes de Esgotos são muito mais caras, complexas e demoradas, além de raras, se comparadas com as Redes de Abastecimento de água, por causa destas particularidades, apesar de serem similares em importância.
Continuamos no próximo post.