AS CHUVAS TORRENCIAIS EM DUBAI

Desertos são grandes regiões cobertas majoritariamente por dunas de areia, com vegetação praticamente inexistente e com raríssimas fontes de água. 

Essa é provavelmente a primeira imagem que vem à mente da imensa maioria das pessoas quando ouve ou lê um texto onde a palavra deserto é citada. Eu confesso que essa imagem estereotipada me acompanhou por grande parte da vida. 

Eu imagino que essa imagem tenha ficado gravada em minha mente por causa de filmes com histórias de homens da Legião Estrangeira que assisti na infância. Também posso intuir que a descrição de Antoine de Saint-Exupéry perdido no Deserto do Saara nas páginas de O Pequeno Príncipe, o primeiro livro que li de capa a capa na infância, também tenha contribuído para isso. 

Só para esclarecer – muitos desertos apresentam extensas áreas cobertas por dunas de areia. Porém, existem diversos outros tipos de paisagens que vão desde savanas ou campos com vegetação rala até montanhas com picos cobertos de neve. De um modo geral, desertos costumam apresentar níveis de precipitação muitos baixos, o que costuma resultar em raras fontes de água. 

Surpreendemente, imagens estão correndo o mundo nos últimos dias mostrando Dubai, uma grande cidade cercada por áreas desérticas, completamente inundada por causa de chuvas torrenciais. 

Na última terça-feira, dia 16 de abril, Dubai recebeu um volume de chuvas equivalente a 100 mm, ou, trocando em miúdos, esse é o volume de água que costuma cair sobre a cidade ao longo de todo um ano. Na realidade, todo esse aguaceiro caiu em apenas 12 horas, algo trivial em regiões tropicais, mas raríssimo em uma região árida como é a Península Arábica. 

Na cidade de Al-Ain, a pouco mais de 100 km de Dubai, o volume de chuvas foi ainda maior – foram cerca de 256 mm de precipitação registrados em apenas 24 horas. 

Dubai ou Cidade de Dubai, como é normalmente conhecida, fica na costa Sul do Golfo Pérsico e é considerado o mais populoso dos sete Emirados Unidos, com 2,3 milhões de habitantes. A fama de Dubai cresceu muito nas últimas décadas graças à extrema ostentação de riqueza – os gigantescos arranha-céus da cidade, as avenidas largas, os automóveis luxuosos e os “jatinhos” particulares de seus moradores mais ilustres, têm acirrado a inveja e a cobiça pelo mundo afora.  

Ao contrário da imensa maioria das cidades localizadas em regiões desérticas, Dubai dispõe de muita água. Essa água não vem de fontes naturais, mas sim de gigantescas usinas de dessalinização da água do mar. A principal unidade de dessalinização de água do Emirado é a usina Jebel Ali, que produz cerca de 2,1 bilhões de litros de água potável a cada dia, um volume suficiente para abastecer três vezes a sua população. 

Essa inesperada tempestade provocou cenas jamais imaginadas pela maioria dos habitantes locais. Ruas e avenidas alagaram rapidamente forçando motoristas a abandonarem seus carros e a correrem em busca de abrigo em áreas mais altas. Casas, lojas e empresas foram invadidas por verdadeiros rios, uma imagem até então impensável para os locais, que são em grande parte descendentes de povos nômades do deserto. 

De acordo com os serviços de meteorologia essa chuva foi provocada por um poderoso sistema de tempestades que está atravessando o Golfo de Omã e a Península Arábica, e que está atingindo também o Sudeste do Irã. 

Algumas fontes chegaram a afirmar que essa forte tempestade foi produzida artificialmente por técnicas de “semeadura de nuvens”, um processo em que as nuvens são bombardeadas por produtos químicos lançados por aviões com o objetivo de forçar a formação de chuvas.  

O Centro Nacional de Meteorologia dos Emirados Árabes Unidos, instituição que possui toda a infraestrutura e pessoal especializado para realizar esse tipo de operação, entretanto, negou a realização de qualquer “semeadura de nuvens” nos últimos dias

Entre o espanto dos habitantes locais com o caos provocado pelas enchentes e as “teorias da conspiração”, o que ficou muito claro é que a badalada e rica cidade não possui sistemas de drenagem de águas pluviais preparados para suportar um volume de chuvas tão intenso. Nada muito diferente de cidades brasileiras como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. 

Em tempos de mudanças climáticas, quando os padrões de chuva estão mudando em todo o mundo, esse é um seríssimo problema e que vai exigir grandes esforços e pesados investimentos do Governo de Dubai, o que não é necessariamente um problema. 

Já para pobres mortais de cidades do terceiro mundo, como é o caso de nós brasileiros, esse é um problema de difícil resolução…

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