
As mudanças climáticas estão criando graves problemas para as populações de diferentes regiões do mundo. Em nossas últimas postagens falamos da forte onda de calor que está assolando a América do Norte e a Europa, onde destacamos que a Itália está sofrendo tanto com o calor quanto com a maior seca dos últimos 70 anos.
Uma notícia que tem circulado na internet e que ilustra bem as consequências do aumento das temperaturas no planeta diz respeito ao Monte Everest, a mais alta montanha do mundo e que está localizada na Cordilheira do Himalaia na fronteira entre o Nepal e o Tibete, Região Autônoma da China.
As autoridades do Nepal, país que concentra a maior parte dos acampamentos-base utilizados pelos alpinistas que vão tentar escalar a montanha, anunciaram que vão mudar a localização de um desses acampamentos por razões de segurança. O aumento das temperaturas nessa região está provocando o derretimento e a desestabilização de massas de gelo na montanha, o que pode resultar em perigosas avalanches.
A principal massa de gelo da região é a Geleira do Khumbu, localizada entre os Montes Everest e Lhotse-Nuptse. Essa é considerada a geleira mais alta do mundo, se estendendo entre altitudes de 7.600 e 4.900 metros. É classificada também como uma das geleiras mais longas do planeta. A geleira se encontra com o trecho final da trilha do acampamento-base que fica entre Lukla e Namche.
Avalanches já mataram muitos aventureiros na região do Monte Everest. Em 2015, lembrando um dos casos, um terremoto com magnitude 7,8 graus na escala Richter atingiu o Nepal, matando 3,7 mil pessoas no país. O forte tremor de terra foi sentido na região do Monte Everest, onde provocou uma grande avalanche – ao menos 18 alpinistas e membros das equipes de apoio morreram soterrados pelo gelo.
Exatamente um ano antes dessa tragédia uma outra avalanche havia matado 16 guias nepaleses na mesma região. A região é isolada e bastante perigosa, o que faz com que o Ministério do Turismo do país tente limitar ao máximo o número de alpinistas que tentam escalar o Monte Everest a cada ano – em média, apenas mil pessoas, entre alpinistas e equipes de apoio, são autorizadas a entrar na região.
O Everest é a montanha mais alta do mundo com 8.849 metros acima do nível do mar. Sua escalada é também uma das mais difíceis. Os primeiros a realizaram a façanha foram Edmund Hillary, um alpinista da Nova Zelândia, e Tenzing Norgay, um guia sherpa do Tibete, em 1953. Desde então, cerca de 6 mil pessoas conseguiram repetir a façanha – pelo menos 311 pessoas morreram tentando chegar ao pico.
De acordo com o comunicado do Governo nepalês, um novo acampamento-base será construído entre 200 e 400 metros abaixo da altitude do acampamento atual, numa posição melhor protegida das avalanches. Além de proteger melhor os alpinistas estrangeiros, essa medida também visa a segurança dos guias sherpas, uma etnia que vive nas altas montanhas do Nepal e do Tibete e que é muito empregada como guias e carregadores pelos esportistas.
Escalar o Monte Everest não é uma tarefa das mais fáceis. A região é bastante isolada e o acesso só pode ser feito através de trilhas pelas montanhas. A porta de acesso às montanhas começa por Lukla, uma minúscula cidade no Nordeste do Nepal que fica a cerca de 30 minutos de voo de Katmandu, a capital do país.
Lukla fica a cerca de 40 km do Monte Everest, um percurso onde existem diversos acampamentos-base para o pernoite dos aventureiros. Além de carregar todos os equipamentos necessários a escalada – cordas, ganchos, botas, entre outros itens, as equipes precisam carregar alimentos, bebidas, sacos de dormir, material médico, radiocomunicadores, entre muitos outros equipamentos e produtos essenciais, o que abre oportunidade de trabalho para os sherpas.
O acampamento-base número 4 é o último ponto de parada para quem vai tentar a escalada do Everest. Essa subida final pode ser feita entre 6 e 10 horas, o que vai depender muito das condições climáticas e também do preparo físico dos alpinistas. Muitas vezes os aventureiros precisam abortar a escalada por causa de mudanças bruscas nas condições climáticas – aliás, a maioria desses alpinistas não conseguem atingir o cume do Monte Everest.
Além de perigosa, a escalada do Monte Everest é uma brincadeira cara. De acordo com informações de algumas agências de turismo especializadas no assunto, o interessado terá de desembolsar valores entre US$ 45 mil e US$ 160 mil para tentar realizar a façanha. Esses valores se referem ao lado nepalês da montanha.
Pelo lado tibetano, a aventura é um pouco mais barata – o pacote padrão custa cerca de US$ 15 mil e existe uma opção de luxo ao custo de US$ 18 mil. Desde 2019, a Associação Chinesa de Montanhismo estabeleceu uma taxa de segurança no valor de US$ 5 mil. Essa taxa é reembolsada ao final da escalada caso não tenha acontecido nenhum acidente ou problema ambiental.
O derretimento de geleiras nas Montanhas Himalaias é um problema com consequências muito mais graves que os riscos a esses alpinistas. Considerada a cadeia com as montanhas mais altas do mundo, as Himalaias abrigam as nascentes de alguns dos maiores e mais importantes rios da Ásia. De memória eu cito o Ganges, Indo e Bramaputra – todos no Subcontinente Indiano; o Mekong, maior e mais importante rio do Sudeste Asiático.
Na China temos os rios Yangtzé e o Huang He ou Huang Ho. Não podemos nos esquecer do Amu Daria e do Syr Daria, os mais importantes rios da Ásia Central e principais formadores do Mar de Aral. Todos esses rios são formados a partir das águas resultantes do derretimento de geleiras ou glaciares existentes no alto das Montanhas Himalaias.
O aquecimento global está ameaçando todas essas geleiras, o que representa um risco para mais de 2 bilhões de pessoas que dependem desses rios para o abastecimento, agricultura, pecuária, geração de energia elétrica e transportes. Um exemplo que sempre cito é o rio Ganges – cerca de 500 milhões de pessoas na Índia e em Bangladesh dependem diretamente das águas desse rio.
A geleira Gaumukh, antiga palavra em sânscrito que significa “boca da vaca”, onde se forma a principal nascente do rio Ganges nas Himalaias, está desparecendo a olhos vistos. Desde a década de 1940, essa geleira já recuou cerca de 3 km e perdeu 1 km da sua espessura – alguns especialistas temem que a Gaumukh despareça ao longo da década de 2030.
São tempos complicados esses de aquecimento global…
[…] situação da Europa não é um caso isolado – na América do Norte e em partes da Ásia o clima também não tem dado trégua. Mesmo aqui no Brasil estamos assistindo a importantes […]
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