UMA PEQUENA HISTÓRIA DOS DESMATAMENTOS NO ESPÍRITO SANTO, OU AINDA FALANDO DAS FORTES CHUVAS DE JANEIRO

Cafezais no Espírito Santo

As chuvas desse mês de janeiro também deixaram um enorme rastro de destruição e de mortes no Espírito Santo – mais de 12 mil pessoas foram diretamente atingidas em 27 municípios do Estado desde o último dia 17. De acordo com as informações oficiais são 10.573 desalojados e 1.898 desabrigados – 10 pessoas morreram, incluindo 2 crianças. A região mais fortemente atingida foi o Sul do Estado

Assim como aconteceu no Estado de Minas Gerais, o Espírito Santo também passou por um intenso processo de desmatamento. De acordo com informações do Atlas dos Ecossistemas do Espírito Santo, edição de 2008, quando a Vila do Espírito Santo, atual cidade de Vila Velha, foi fundada em 1535, cerca de 87% do território capixaba era coberto por florestas de Mata Atlântica. Nos dias atuais, as estimativas falam de uma cobertura vegetal remanescente de apenas 8%. Conforme comentamos na postagem anterior, os desmatamentos são uma das principais causas das enchentes e de todas as tragédias associadas. 

Diferente do que aconteceu em outros Estados da faixa costeira do Brasil, o Espírito Santo teve uma história bastante singular e uma ocupação territorial bastante tardia. Uma das razões para isso foi a presença dos perigosos índios aimorés, mais conhecidos como botocudos, numa faixa de terras entre o Sul da Bahia e o Norte do Espírito Santo. Outro fator que merece destaque foi a política de “Areas Prohibidas” da Coroa Portuguesa, que tinha o objetivo de dificultar o acesso de aventureiros ao território das Minas Gerais durante o Ciclo do Ouro. Vamos entender essas histórias: 

A colonização do Brasil teve início na década de 1530, quando foi iniciado o processo de povoamento da costa e implantação das grandes plantações de cana-de-açúcar e dos engenhos para a produção do valioso açúcar, instalações que sempre eram complementadas com uma casa-grande para o usineiro e sua família e uma ou várias senzalas para os escravos. Os principais pólos de produção do açúcar há época se concentravam na faixa litorânea do Nordeste, entre a Bahia e a Paraíba, no Norte fluminense e no litoral de São Paulo

No sul da Bahia e no Espírito Santo foram criadas 3 Capitanias Hereditárias com o objetivo de desenvolver atividades açucareiras. Eram elas as Capitanias de Ilhéus, Porto Seguro e Espírito Santo. Esses empreendimentos não vingaram devido aos constantes ataques dos índios botocudos, que além de muito ferozes, eram antropófagos. Esses índios eram nômades e eram estimados em 30 mil indivíduos há época. 

Pero de Magalhães Gândavo, historiador e cronista português que preparou em 1576 um dos primeiros relatórios oficiais sobre nosso país – Tratado da terra do Brasil: História da Província de Santa Cruz, a que vulgarmente chamamos de Brasil, descreveu assim os aimorés: 

“Chamam-se Aymorés, a língua deles é diferente dos outros índios, ninguém os entende, são eles tão altos e tão largos de corpo que quase parecem gigantes; são muito altos, não parecem com outros índios da Terra.” 

Existem inúmeros relatos, principalmente de religiosos, descrevendo os ataques dos índios aymorés a vilas e engenhos, onde matavam a maioria dos colonizadores e destruíam todas as construções. Incapazes de conter a fúria dos aymorés, as Autoridades Coloniais optaram por deixar um grande “vazio” no mapa do litoral entre a região de Ilhéus, na Bahia, e a Vila do Espírito Santo.  

Em 1693, quando foram feitas as primeiras descobertas de ouro na região das Minas Geraes por bandeirantes paulistas, a notícia se espalhou por toda a colônia rapidamente. Milhares de aventureiros abandonaram seus trabalhos na indústria açucareira e se embrenharam nos sertões em busca do ouro. O rio Doce, que nasce na Serra da Mantiqueira e tem afluentes com nascentes próximas à região de Ouro Preto, um dos principais centros auríferos do período, e foz no litoral capixaba nas proximidades da cidade de Linhares, tinha grande potencial para se transformar numa das mais importantes vias de penetração ao interior do território e escoamento da produção de ouro – não o foi por causa da maciça presença de índios aymorés nas suas margens. O rio São Francisco e a Estrada Real, também chamada de Caminho do Ouro, que vai de Minas Gerais até o Estado do Rio de Janeiro, se tornaram as únicas opções viáveis. 

Apesar da presença dos aymorés no Espírito Santo funcionar como um inibidor para a entrada de aventureiros nas áreas de mineração das Minas Geraes, a Coroa Portuguesa foi além e publicou um decreto limitando o povoamento, as construções e as expedições a uma faixa de 3 léguas (15 km) do litoral. Essa combinação de índios ferozes e acesso controlado ao território, garantiu a perfeita conservação das florestas capixabas até meados do século XIX. 

Por volta de 1850, as primeiras mudas de café chegaram ao Espírito Santo vindas de terras fluminenses. Diferentemente de outros produtos agrícolas, o café é uma planta que apresenta uma série de restrições físicas para o seu cultivo, bastante diferente da cana-de-açúcar ou do algodão, produtos de grande destaque na época. Os limites de temperatura ideais para o cultivo da planta oscilam entre 5 e 33º C. É uma planta muito sensível tanto a geadas quanto ao excesso de calor e insolação. Requer ainda chuvas regulares e bem distribuídas e é muito exigente em relação à qualidade do solo. É uma planta de cultivo permanente, cujo início da produção exige um período entre 4 e 5 anos a partir do plantio das mudas. 

Com o início da produção em larga escala do café para atender à crescente demanda na Europa e Estados Unidos, as matas capixabas começaram a ser derrubadas e grande parte do território foi transformado num imenso cafezal (vide foto). Grandes quantidades de imigrantes, principalmente alemães e italianos, começaram a desembarcar no Estado, iniciando um lento e gradual processo de ocupação de todo o Espírito Santo. Para que todos tenham ideia da lentidão desse processo, estima-se que em 1880, apenas 15% do território capixaba era habitado

Com o avanço dos cafezais e das fazendas, os temidos aymorés, que ainda resistiam ao largo do rio Doce, foram perdendo, não sem muita luta, seus territórios. Além de fazendeiros e colonos fortemente armados, outras tribos indígenas mais “amigáveis” com os brancos também participaram dessa luta. Também precisamos destacar a figura dos bugreiros, caçadores profissionais de índios que ganhavam por “cabeça” abatida e eram contratados por autoridades da Província e por grandes fazendeiros. 

A expansão da cultura do café durou até 1929, época em que teve início a Grande Depressão nos Estados Unidos. Milhões de sacas de café produzidas no Brasil. repentinamente perderam mercado, levando inúmeros produtores e exportadores à falência. A economia do Espírito Santo foi fortemente abalada nessa ocasião. Só em décadas bem recentes é que a cafeicultura se recuperou no Estado, que atualmente é o maior produtor de café conilon do Brasil. Com a crise do café, as matas remanescentes no Estado puderam “respirar” aliviadas por cerca de duas décadas. 

Com a construção da cidade de Brasília, a nova Capital Federal, a partir de 1956, o Espírito Santo se tornou o maior fornecedor de madeira de construção para as suas obras. Para se ter uma ideia do grau de devastação florestal no período, apenas no Norte do Estado existiam perto de 1.500 serrarias em operação. No trecho entre Vitória e Linhares existiam cerca de 120 serrarias produzindo pranchões de madeira e dormentes para ferrovias nessa mesma época. Dados oficias indicam que, em 1959, cerca de 25% da mão de obra capixaba trabalhava na indústria madeireira. O que ainda existia de floresta em pé, foi derrubado nessa época

O resultado de toda essa destruição da cobertura vegetal no Espírito Santo é o que estamos vendo nos noticiários: grandes alagamentos e inundações, desmoronamentos de encostas e gente morrendo. 

OS DESMATAMENTOS EM MINAS GERAIS E AS ENCHENTES

Meninos carvoeiros

As fortes chuvas de verão continuam castigando o Estado de Minas Gerais. De acordo com a última atualização da Defesa Civil, já são 55 mortes diretamente relacionadas com as chuvas, enchentes e desmoronamentos de encostas (dados de 21/01/2020). Conforme meu comentário na última postagem, existem várias razões para as chuvas produzirem consequências tão trágicas: impermeabilização dos solos das cidades, ocupação de áreas de várzeas e de encostas de morros, obstrução dos canais naturais de drenagem por obras mal projetadas e, principalmente, os desmatamentos. Não por acaso, o Estado de Minas Gerais é um campeão nessa modalidade. 

De acordo com dados divulgados no Atlas da Mata Atlântica, publicação da Fundação SOS Mata Atlântica, divulgado no final de maio de 2019. Minas Gerais apareceu pela sexta vez como o Estado que mais desmata o bioma. Foram destruídos 3.379 hectares da vegetação de Mata Atlântica entre os anos de 2017 e 2018. Em edições anteriores do Atlas, o Estado liderou esse ranking por cinco anos seguidos

A SEMAD – Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, respondeu em nota que “Minas é o estado com a maior área de Mata Atlântica do país e que a taxa de desmatamento ficou quase a mesma, passando de 3,1 mil hectares para 3,3 mil”. A Secretaria também informou que “tem tomado medidas para coibir os desmatamentos ligados à produção de carvão para uso na siderurgia, afirmando ainda que 99% do carvão vegetal usado para essa finalidade vem de florestas plantadas”. 

Para que todos entendam a situação atual da cobertura vegetal em Minas Gerais, precisamos lembrar rapidamente como foi a história da colonização no Estado e o perfil das atividades econômicas nos últimos três séculos: 

Nos primeiro 200 anos da colonização de nosso país, toda a economia colonial estava baseada no plantio da cana e na produção do açúcar para exportação. Naquela época, o açúcar valia tanto quanto ouro e era vendido em boticas de toda a Europa em pacotinhos com algumas gramas (lembra a forma como algumas drogas são vendidas atualmente). A ingestão do produto era indicado para problemas digestivos e também na forma de colírio paro o tratamento de infecções oculares. Com o tempo, o açúcar assumiu seu papel na culinária e se transformou em um produto de alto luxo. Citando um exemplo: quando mulheres das famílias nobres e ricas dos muitos reinos se casavam, era chique presenteá-las com um pacotinho com açúcar. 

Essa estrutura econômica foi abalada nos últimos anos do século XVII com as notícias de descobrimentos de ouro por bandeirantes paulistas em Minas Gerais em 1693. Para que todos tenham ideia do impacto dessas descobertas, em pouco mais de 60 anos 2/3 da população da colônia abandonou as plantações de cana e os engenhos do litoral açucareiro e migrou para as terras das Minas Gerais para se aventurar no garimpo do ouro

A prospecção começou nos rios, onde os aventureiros buscavam o “ouro de aluvião”. Esgotados esses recursos, os garimpeiros passaram a vasculhar os barrancos dos rios, as várzeas, córregos, riachos e morros. Pode-se afirmar que “nenhuma pedra deixou de ser revirada” nessa busca frenética pelo ouro. Esgotadas todas as possibilidades de mineração superficial, teve início a exploração subterrânea com a escavação das minas. 

Como consequência natural, abriram-se clareiras nas matas para a construção dos primeiros povoados e plantações de culturas rudimentares de milho e mandioca para a subsistência das populações. Num segundo momento, foi a necessidade de produção de carvão para o uso nos fornos de fundição de ouro que levou ao corte sistemático de madeira nas matas. Essa verdadeira ““febre do ouro” só terminou no final do século XVIII, quando se esgotaram as reservas do minério no Estado. 

A partir do século XIX, com a consolidação de Minas Gerais como um dos grandes produtores nacionais de ferro e aço de todos os tipos, o avanço do desmatamento aumentou exponencialmente – na falta de carvão mineral para queima nos altos-fornos das produtoras do ferro-gusa (estágio de produção inicial do ferro e do aço), foi o carvão de origem vegetal produzido nas pequenas carvoarias familiares que dizimou a Zona da Mata mineira. Aqui vale lembrar que o território brasileiro é pobre em reservas de carvão mineral – as poucas reservas que o país dispõe se encontram em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. 

Além da intensa devastação ambiental, essas carvoarias faziam e ainda fazem uso de mão de obra infantil (vide foto), o que só aumenta a gravidade do crime ambiental. Estima-se que 90% da Mata Atlântica no Estado de Minas Gerais desapareceu, grande parte “queimada” nos fornos das carvoarias e altos-fornos das siderúrgicas. Outro tipo de vegetação tipicamente mineira que sofreu forte devastação foram as veredas, cenário de muitos contos do magnífico Guimarães Rosa.

A mineração também é uma atividade que causa enormes estragos ao meio ambiente. Além da retirada da cobertura vegetal para a abertura das cavas das minas, as atividades desse setor geram enormes montanhas de rejeitos minerais. Recentemente, todos acompanharam os desastres provocados pelo rompimento de barragens de contenção desses rejeitos em Mariana e, a exato um ano, em Brumadinho. Um outro problema criado pela mineração é a sedimentação e o açoreamento de rios, o que, entre outras consequências, contribui para as enchentes. 

Em décadas mais recentes, a principal responsável pelos desmatamentos foi a ocupação das áreas do Cerrado mineiro pela agricultura. No início da década de 1970, a EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias, desenvolveu sementes de soja e de milho adaptadas às características dos solos ácidos do Cerrado. Com isso, terras que eram consideradas pouco produtivas passaram a ser ocupadas por grandes plantações e a vegetação típica do Cerrado passou a perder espaço. Apesar de parecerem frágeis, as plantas do bioma são perfeitamente adaptadas ao clima, possuindo raízes profundas e fortes – são essas raízes que permitem a infiltração da água das chuvas para a recarga dos aquíferos

As culturas de grãos, principalmente soja e milho, possuem raízes extremamente curtas, o que dificulta a absorção da água pelo solo. A consequência disso é que as águas das chuvas de verão correm pela superfície, atingindo os rios com grande volume e velocidade. Além de carrear grandes quantidades de sedimentos, essas águas aumentam violentamente os caudais dos rios, provocando muita enchente e destruição por onde passam. 

Além do assoreamento e entulhamento das calhas dos rios com todos os tipos de sedimentos, a destruição das matas também causa uma redução considerável no volume de águas das nascentes, podendo até mesmo provocar o desaparecimento de muitas delas. Ou seja – há um excesso de água nos rios durante o período das chuvas e falta de água na época da seca. 

Não é difícil de perceber que os problemas vividos pelo Estado de Minas Gerais hoje têm raízes históricas. Se nada for feito daqui para frente, a tendência é um aumento progressivo da intensidade das enchentes e também do número de pessoas atingidas e de vítimas fatais. 

 

MAIS UMA VEZ, NOTÍCIAS TRÁGICAS SOBRE AS CHUVAS E AS ENCHENTES DE VERÃO

Enchentes em Minas Gerais

Todo verão apresenta sempre um mesmo roteiro – muito calor, muitas chuvas e, por fim, enchentes, desmoronamentos de morros, gente desabrigada e, desgraçadamente, muitas vítimas fatais. Desde 2016, quando iniciamos as publicações aqui no blog, foram muitos os relatos dessas tragédias anunciadas de verão

Neste mês de janeiro de 2020, as áreas mais fortemente atingidas pelas chuvas estão nos Estados de Minas Gerais e Espírito Santo. De acordo com os números mais recentes divulgados pela Defesa Civil de Minas Gerais, o número de mortes em decorrências das fortes chuvas chegou a 50. Um total de 32.259 pessoas foram diretamente afetadas, onde se incluem 28.043 desalojados, 4.101 desabrigados e 65 feridos. Existem ainda informações sobre 2 pessoas desaparecidas nos municípios de Conselheiro Lafaiete e Luisburgo

No Espírito Santo existem mais de 12 mil pessoas atingidas, sendo 10.573 desabrigadas e 1.898 desalojadas em 27 municípios, a maioria no Sul do Estado. No total, 9 pessoas morreram, incluindo 2 crianças. Um total de 22 cidades foram colocadas em alerta máximo por conta dos riscos de deslizamentos de encostas e alagamentos. Os rios Guandu (esse não é o famoso rio Guandu do Estado do Rio de Janeiro) e Doce estão com seus níveis em elevação

Em todo Estado de Minas Gerais, 101 cidades estão em estado de emergência, medida que vale por 180 dias e agiliza as ações para recuperação dos danos e ajuda à população. No Espírito Santo, os municípios de Iconha, Alfredo Chaves, Vargem Alta e Rio Novo do Sul tiveram seus decretos de estado de calamidade pública reconhecidos pelo Governo Federal. No dia 27, o município de Cachoeiro de Itapemirim decretou o estado de calamidade pública. Na tarde do mesmo dia, o Governo do Espírito Santo decretou estado de calamidade pública em Iúna e Conceição do Castelo. 

O Governo Federal já disponibilizou R$ 90 milhões para liberação imediata aos municípios em situação de emergência. Em entrevista coletiva, o Presidente em Exercício, General Hamilton Mourão informou que esses são valores iniciais e que solicitou estudos junto ao Ministério da Economia para a liberação de novos valores. O General Mourão também informou que as Forças Armadas continuarão dando todo o apoio possível nas operações de resgate e atendimento às vítimas das tragédias. 

Feita essa exposição da situação de emergência nesses dois Estados, vamos aos fatos – entra verão, sai verão e as coisas não mudam. Construções continuam sendo feitas em encostas de morros, que além de escavadas tem sua vegetação suprimida. Os canais de drenagem naturais das águas pluviais – córregos, riachos e rios, continuam recebendo grandes quantidades de sedimentos, entulhos e lixo, despejados pelas populações das cidades. Construções e outras obras mal planejadas estrangulam trechos desses corpos d’água, o que é um verdadeiro convite para a formação de pontos de alagamento na próxima temporada de chuvas. 

Nas áreas urbanas dos municípios, muitas das várzeas desses córregos e riachos são aterradas para a ampliação de espaços para a construção de casas e obras públicas. As várzeas são terrenos baixos, que recebem as águas excedentes dos rios durante o período das chuvas – funcionam como uma espécie de “piscinão”, que retém grandes volumes de água para evitar enchentes em áreas a jusante (correnteza abaixo). Quando se eliminam as várzeas, as enchentes serão inevitáveis. 

As áreas de várzea também são usadas para a construção das famosas “avenidas de fundo de vale”. Com o crescimento das cidades, as Prefeituras costumam se voltar para as áreas “abandonadas” das várzeas como alternativa para a ampliação das suas malhas viárias. Sem reconhecer a importância desses terrenos para o controle das enchentes, as obras viárias destroem a vegetação e impermeabilizam grandes extensões de solo – os motoristas ganham tempo em seus trajetos (pelo menos nos meses secos) e as populações ganharão enchentes nos meses de chuvas. 

Nas áreas rurais, são os desmatamentos para a ampliação de campos agrícolas e de pastagens os principais responsáveis pelos violentos caudais dos rios durante as fortes chuvas. Sem a presença da vegetação robusta das matas e florestas, as águas superficiais das chuvas correm com grande velocidade sobre os solos, chegando com muita energia no curso dos rios. Os rios ganham volume e a força dos caudais atingem as cidades que se encontram ao longo do seu curso com extrema violência. A alta repentina do nível dos rios principais bloqueia o fluxo dos pequenos córregos, riachos e tubulações de drenagem de águas pluviais (quando essas existem é claro), que sem escoamento, retornam e provocam enchentes e alagamentos localizados. 

Em regiões onde os rios tem suas matas ciliares em bom estado, a velocidade das águas superficiais das chuvas é bastante reduzida, o que permite que uma parte considerável dessas águas seja absorvida pelos solos. Com a diminuição da velocidade e dos volumes de água de chuva que chegam na calha principal, os rios aumentam lentamente o seu volume, sem causar maiores impactos nas cidades que se encontram ao longo do seu curso. 

É a somatória de todos esses problemas que está por trás das violentas enchentes que estão assolando, em especial, os Estados de Minas Gerais e Espírito. Problemas semelhantes estão ocorrendo em outras cidades e Estados brasileiros, felizmente com um nível de gravidade bem menor. 

Conforme já repetimos, literalmente, dezenas de vezes em nossas postagens, vivemos em um país com climas predominantemente tropical e equatorial, onde existe uma forte temporada de chuvas a cada ano. De ano para ano, a intensidade dessas chuvas pode variar, sendo mais fracas em um ano e mais fortes em outro, porém, a chegada desse período anual de chuva é inevitável. Prefeitos e Governadores sabem disso e deveriam tomar medidas preventivas no período da seca. 

A desculpa que mais se ouve desses mandatários é que faltam recursos para a realização de grandes obras de infraestrutura e de controle de águas pluviais. É claro muitas obras são importantes e costumam fazer falta nas grandes chuvas. Porém, existem inúmeras medidas de baixo custo que podem amenizar, e muito, os problemas das chuvas: 

  • Fiscalização e controle de construções em áreas de encostas, várzeas e outras regiões com riscos de alagamento; 
  • Criação e ampliação das áreas verdes da cidade: praças, parques, hortos florestais, canteiros em ruas e avenidas; 
  • Coibir o despejos de resíduos sólidos, entulhos e restos de materiais de construção em ruas, terrenos baldios e margens de cursos d’água;
  • Aumentar ao máximo as áreas permeáveis dos solos, eliminando áreas com cobertura de concret 
  • Fiscalização das margens de rios e propriedades rurais, exigindo-se o respeito ao Código Florestal no que tange a manutenção das matas ciliares 
  • Coibir a realização de obras que provoquem o estrangulamento do curso dos rios: muros de arrimo, passarelas, pontes e outras construções; 
  • Estimular a criação de RPPNs – Reservas Particulares do Patrimônio Natural. Quanto mais árvores na região, menores serão os riscos de grandes enchentes; 
  • Realização de projetos de educação e conscientização ambiental: os rios não são nossas lixeiras e precisam ser preservados. 

Essas medidas simples, entre muitas outras, podem ser implantadas com poucos recursos financeiros e podem ter profundos impactos no controle das enchentes e alagamentos de uma cidade. O que não dá para fazer é ficar de braços cruzados esperando a chegada das chuvas e de suas muitas “tragédias anunciadas”. 

VOCÊ FAZ IDEIA DO QUE É A TAIGA?

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Na última postagem falamos rapidamente da proposta de criação do Conselho da Amazônia, cuja finalidade principal será a coordenação das ações e políticas dos diferentes Ministérios do Governo Federal para a região. Também falamos do Fórum Econômico Mundial em Davos na Suíça, onde o Brasil foi, literalmente, “metralhado” por causa das agressões ambientais na Amazônia. Todos devem se lembrar dos supostos grandes incêndios florestais que estariam “transformando a Amazônia em cinzas” poucos meses atrás. 

Em um comentário que fiz sobre a hipocrisia atual das questões ambientais no mundo, citei a questão dos grandes incêndios florestais que destruíram perto de 100 mil km² de vegetação nas florestas da taiga na Sibéria, uma longínqua região da Rússia. Essa área devastada é 10 vezes maior do que aquela que foi destruída pelos incêndios na Floresta Amazônica. A repercussão nos meios de comunicação desses incêndios ficou muito aquém de tudo o que se falou e se mostrou na Amazônia. 

Uma explicação importante para ajudar todos a entenderam exatamente do que estamos falando – quem afinal é essa tal de taiga? 

A taiga (vide foto), também conhecida como Floresta Boreal ou Floresta de Coníferas, é a maior floresta do planeta Terra. É isso mesmo! Você provavelmente passou toda a sua vida escolar ouvindo dos seus professores que a maior floresta do mundo é a Amazônia. A Floresta Amazônica é muito grande, ocupando uma área total com mais de 5 milhões de km² – já a desconhecida taiga ocupa uma área 3 vezes maior, ou algo como 15 milhões de km². Precisamos ressaltar que essa confusão se deve a um detalhe – a Amazônia é a maior floresta equatorial do mundo

A taiga circunda toda uma faixa de terras do planeta no Hemisfério Norte entre os paralelos 40 e 70 graus. A floresta engloba terras na Escócia, Noruega, Suécia, Finlândia, Rússia, Cazaquistão, Coreia e Norte do Japão. A taiga prossegue do outro lado do Estreito de Bering no Alasca, região que pertence aos Estados Unidos, no Canadá e chega até na Groenlândia, ilha autônoma que pertence à Dinamarca. As principais espécies dessa floresta são pinheiros, piceas, bétulas e lariços.  

Ocupando terras remotas e pouco habitadas do “Norte gelado”, a taiga permaneceu praticamente intocada por vários séculos. As grandes agressões ao bioma começaram após a formação da União Soviética, quando a exploração da madeira passou a atender cotas da burocracia soviética. Frentes de trabalhadores, muitos deles presos políticos do regime, eram enviadas para as regiões onde o bioma predominava. Outra frente importante de pressão, essa no lado ocidental, começou no Canadá, país que se transformou em importante produtor de madeira, celulose e papel. 

Devido ao clima extremo das regiões boreais, com longos invernos congelantes, as árvores da taiga têm um ritmo de crescimento muito mais lento do que vemos nas áreas tropicais e equatoriais. Enquanto as árvores da Floresta Amazônica recebem uma forte radiação solar durante praticamente todos os dias do ano, a vegetação da taiga conta com insolação adequada entre 3 e 5 meses ao logo do ano – quanto mais ao Norte, menos dias de forte insolação.  

Essa lenta taxa de crescimento das árvores da taiga resulta numa menor absorção de carbono da atmosfera em relação às florestas tropicais e equatoriais. Entretanto, como a área total ocupada pela Floresta Boreal é muito grande, sua importância para o clima global não pode ser subestimada. Infelizmente, grande parte dessas florestas estão expostas à uma superexploração, como no caso da Rússia, país que concentra perto de 60% das florestas da taiga. Grandes extensões de floresta no país foram concedidas a empresas da iniciativa privada, que derrubam ferozmente as árvores sem maiores preocupações ecológicas ou sociais – o que lhes interessa é apenas o lucro. De acordo com informações da organização não-governamental Clube Florestal Russo, as áreas protegidas da taiga na Rússia correspondem a valores entre 2 e 3%.

Além dos grandes desmatamentos, a vegetação da taiga está sofrendo cada vez mais com os grandes incêndios florestais. Assim como ocorre em outros diferentes biomas, o fogo faz parte da ecologia da taiga há milhares de anos. Incêndios iniciados naturalmente consomem restos de galhos e de árvores mortas, ajudando a revitalizar as florestas. Com o aumento das temperaturas globais nas últimas décadas, os cientistas passaram a observar um aumento no volume e na intensidade dos incêndios florestais no bioma. Somente na Sibéria, conforme já comentamos, foram perto de 100 mil km² de vegetação carbonizada , apenas em 2019. 

Além dos desmatamentos e dos incêndios florestais, as áreas de taiga estão sofrendo também com o descongelamento do permafrost – os solos congelados do extremo Norte, que sempre subsistiram aos verões mais quentes. Esses solos duros possuem uma grossa camada de água congelada que, entre outras características, atua como uma barreira para retenção de grandes volumes de gás metano armazenado nos solos, acumulados ao longo de milhares de anos. Sem o permafrost, grandes volumes desse metano estão sendo liberados na atmosfera, o que vem contribuir ainda mais para o aquecimento global. 

Em áreas onde a taiga continua preservada, os cientistas observaram que as emissões de gás metano a partir do descongelamento dos solos é menor do que em áreas onde a floresta foi derrubada. De acordo com afirmações do Greenpeace, uma grande organização ambiental internacional, a devastação das florestas da taiga é uma “bomba-relógio climática”. 

Um outro problema grave que vem sendo observado em toda a região ocupada pela taiga é o aumento da ocorrência de pragas de insetos destruidores da madeira e das folhas das árvores. Nas regiões de Yukon, no Canadá, e no Estado norte-americano do Alaska, os riscos são representados pelo besouro-do-mato (Dentroctonus rufipennis). Na Colúmbia Britânica, no Canadá, a ameaça é o besouro-do-pinheiro-da-montanha (Dendroctonus ponderosae). Em outras áreas do bioma as ameaças atendem por nomes como mosquito-do-lariço, lagarta-dos-pinheiros (Choristoneura fumiferana), entre muitos outros. O ataque dessas pragas pode levar as árvores a uma morte precoce. 

Existem, felizmente, bons exemplos de utilização racional dos recursos florestais da taiga, onde a maior e melhor referência é a Finlândia, país do Norte da Europa com a maior cobertura florestal de todo o continente. Cerca de 76% do território da Finlândia é coberto por florestas, na sua grande maioria formadas pela taiga. 

A Finlândia é uma grande processadora e exportadora de produtos de origem florestal, especialmente madeiras, papel e celulose. A indústria florestal responde por 8% do PIB – Produto Interno Bruto, e por cerca de 30% das exportações do país. Desde o final da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a Finlândia passou a adotar uma silvicultura sustentável com o claro objetivo de garantir o futuro das novas gerações. A razão para esse posicionamento é muito simples – nenhum outro país do mundo depende tanto de suas florestas quanto a Finlândia. 

A seleção das áreas onde serão realizados os cortes de árvores é feita utilizando rigorosos critérios climáticos e geográficos, além de se levar em conta aspectos ecológicos e sociais. O corte de árvores é feito de forma altamente seletiva, onde o principal objetivo é o de se minimizar os impactos globais nas florestas. Uma das consequências diretas desse extremo cuidado com a exploração das florestas é o aumento das taxas anuais de crescimento das árvores, que estão entre 20 e 30% acima dos cortes de árvores, ou seja, a exploração de madeira é sustentável no longo prazo. 

Apesar deste e de outros bons exemplos de uso sustentável dos recursos florestais da taiga, a maior parte do bioma segue sofrendo com grandes impactos ambientais. E, diferentemente do que acontece na Floresta Amazônica, as notícias sobre os grandes problemas enfrentados pela taiga seguem escondidos da grande maioria da população. 

A CRIAÇÃO DO CONSELHO DA AMAZÔNIA, O FÓRUM ECONÔMICO MUNDIAL EM DAVOS E AS “BRAVATAS” DE GEORGE SOROS

George Soros

No último dia 21 de janeiro, o Presidente Jair Bolsonaro anunciou em sua rede social a criação do Conselho da Amazônia. De acordo com o comunicado, este Conselho deverá coordenar as ações e políticas dos diferentes Ministérios do Governo Federal para a região, garantindo assim a “proteção, defesa e desenvolvimento sustentável da Amazônia”. O Vice-Presidente da República, General Hamilton Mourão, será o coordenador deste conselho. Aqui vale lembrar que o General Mourão é filho de amazonenses e descendente de indígenas da Amazônia, tendo atuado em grande parte da sua carreira militar na Floresta Amazônica – conhecimento sobre o assunto é o que não lhe falta. 

Também foi anunciada a criação de uma Força Nacional Ambiental, nos mesmos moldes da Força Nacional de Segurança, porém voltada à proteção do meio ambiente da Amazônia. Entre as poucas informações concretas já divulgadas, existe a notícia de que parte dos recursos financeiros recuperados pela Operação Lava Jato poderão ser usados na criação dessa força de segurança ambiental. 

Muitos setores da nossa imprensa passaram a criticar a ideia, mesmo sem conhecer os detalhes da iniciativa. Eu confesso que não sou um dos maiores fãs do Presidente Jair Bolsonaro, mas sou obrigado a admitir que seu Governo tem conseguido avançar em muitas áreas importantes como economia, agricultura e infraestrutura – qualquer iniciativa que nos leve a melhorar e evoluir na áea do meio ambiente deve, na minha opinião, ser elogiada e apoiada. Caso as iniciativas nesse campo se mostrem ineficientes ou incorretas, aí sim teremos razões para sentar a “lenha” no Governo. O meio ambiente não é de esquerda nem de direita – ele é tudo e todos.

Qualquer leitor um pouco mais sensato perceberá que a divulgação dessa notícia às vésperas da abertura dos trabalhos do Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, fez parte de uma estratégia de propaganda do país, com o objetivo de amenizar a péssima imagem do Brasil na área ambiental. Conforme tratamos em uma longa sequência de postagens, nosso país foi acusado de estar transformando a “Amazônia em cinzas”, de estar “destruindo o pulmão do mundo” e mais um monte de acusações que, em grande parte, não tinham fundamento.  

Como todos nós sabemos, as queimadas de verão na Amazônia vêm acontecendo há várias décadas e decorrem, fundamentalmente, das políticas governamentais de ocupação territorial da Regiões Centro-Oeste e Amazônica em curso desde a década de 1940. Durante muito tempo, a implementação dessas políticas fez muito sentido – a população brasileira estava, até meados do século XX, concentrada na faixa litorânea do país; o interior era um verdadeiro “deserto de gentes”.  

Com a abertura de muitas rodovias, algumas ferrovias e graças a diversas iniciativas de estímulo à migração interna, extensas áreas do Oeste Paulista, de Mato Grosso (Estado que mais tarde foi dividido em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul), Goiás (que depois foi dividido em Goiás e Tocantins), Rondônia, Acre e Pará foram ocupadas. O que no passado foi sinal de povoamento e progresso, atualmente é visto como devastação ambiental – é hora de acionar o freio e rever toda essa estrutura de ocupação fundiária. Nossos melhores votos a esse Conselho e nossa esperança de dias melhores para a grande Floresta Amazônica. 

No Fórum Econômico Mundial em Davos, como seria de se esperar, a questão ambiental ocupou grande parte das discussões e o Brasil, é claro, foi a vidraça da vez. Alegando questões de segurança e outros compromissos, o Presidente Jair Bolsonaro não compareceu ao evento, jogando a “batata quente” nas mãos do Ministro da Economia, Paulo Guedes. 

Um detalhe curioso das discussões, o qual demonstra a visão dominante no mundo atual, é que os grandes incêndios florestais que estão devastando a Austrália desde o último mês de setembro foram tratados como “acidentais” e país colocado na posição de vítima. Conforme mostramos nas últimas postagens, a Austrália é um dos países do mundo que mais tem devastado o meio ambiente nas últimas décadas. As grandes florestas de eucalipto, que já ocuparam perto de 20% do território australiano, vêm sendo derrubadas sistematicamente para a abertura de campos agrícolas e para a criação de pastagens para bois e ovelhas

A fragmentação das florestas de eucalipto, além de causar grandes impactos para a fauna local, tem tornado a vegetação remanescente mais seca e, portanto, mais susceptível a incêndios florestais mais violentos. Assim como ocorre no Cerrado Brasileiro, as matas australianas evoluíram ao longo de milhares de anos convivendo com queimadas naturais. Com o atual grau de devastação do meio ambiente, dizem os especialistas, a intensidade dos incêndios ultrapassou a capacidade de resiliência das florestas – o fogo está conseguindo destruir as matas. 

De acordo com os mais recentes levantamentos, os incêndios na Austrália já consumiram uma área 6 vezes maior do que os incêndios da Amazônia em 2019. Essa área devastada, que por si só já é uma tragédia dantesca, ganha novas dimensões quando se analisa a Austrália como um todo – cerca de 80% do território da Austrália é formado por terrenos desérticos e semiáridos e o país é considerado como o continente habitado mais seco do mundo. Esses incêndios só pioraram a situação geral do país

Para completar o espetáculo “circense” em Davos, o polêmico bilionário George Soros (vide foto) anunciou a criação de um fundo de US$ 1 bilhão para a formação de uma “rede acadêmica”, que terá como objetivo a luta contra “ditadores de agora e em gestão” e também as mudanças climáticas. De acordo com nota divulgada pela Open Society Foundation, entidade criada por Soros, essa rede acadêmica terá o objetivo de interligar instituições de ensino superior de todo o mundo, oferecendo cursos e programas de graduação. 

Em seu discurso no Fórum Econômico, George Soroscriticou o Presidente Jair Bolsonaro por sua atuação na área ambiental, afirmando que o mandatário brasileiro abriu a Amazônia para a criação de gado”. Soros também classificou os Governos da Rússia, China e da Índia como “autoritários” e ainda chamou o presidente dos Estados Unidos de “vigarista e narcisista”. Observem que, pelo andar da carruagem, não podemos esperar grandes coisas vindas dessa nova rede acadêmica de George Soros

A percepção que eu tenho e que procuro deixar bem clara em minhas postagens, é que muitos desses Governos estrangeiros, especialmente da Europa, estão mesmo é preocupados com as grandes riquezas minerais, hídricas e florestais da Amazônia, e estão buscando formas legais dentro do Direito Internacional para legitimar ações que permitam uma intervenção estrangeira na Floresta. Esse discurso – a Hileia Amazônica, existe desde o final da década de 1940 e nunca foi completamente esquecido por essa gente. O histórico de destruição social e ambiental que muitas dessas nações deixaram em suas antigas colônias na África e na Ásia mostram claramente as suas formas de agir. 

Discursos em favor da proteção da Floresta Amazônica, dos rios, dos povos indígenas e até essa conversa de “pulmão do mundo”, é cantiga para boi “gringo” dormir. Grandes incêndios em 2019 consumiram extensas áreas florestais do mundo – além da Austrália, tivemos grandes incêndios no Alasca e na Califórnia (Estados Unidos), no Canadá, na Sibéria (Rússia), em diversas áreas da África e na Indonésia.

Os incêndios na Sibéria, citando um único exemplo, destruíram uma área total de 100 mil km² de florestas da Taiga (fonte: Agência Florestal Federal da Rússia), o que equivale a dez vezes o que foi queimado na Floresta Amazônica (esse número não inclui a chamada Amazônia Legal). Algum desses “valentes” tem peito de encarar o Presidente russo – Vladimir Putin, e seu gigantesco arsenal nuclear?

Encerrando, deixo uma pergunta a Mr. Soros: com tantos incêndios florestais por todo o mundo, por que apenas os incêndios da Amazônia são os responsáveis pelas mudanças climáticas, pelo aquecimento global e pela destruição do “pulmão” do mundo?

FOGO, AGRICULTURA, PECUÁRIA, INTRODUÇÃO DE ESPÉCIES INVASORAS E MINERAÇÃO: AS MUITAS FACES DA QUESTÃO AMBIENTAL NA AUSTRÁLIA

Coala

O continente australiano vem sofrendo, há mais de 250 anos, com a introdução maciça de espécies animais e vegetais em suas terras. Isolada do resto do mundo por dezenas de milhões de anos, a Austrália desenvolveu uma flora e fauna absolutamente exclusiva e diferente daquela de outras partes do mundo. Essa exclusividade, entretanto, se transformou numa espécie de “calcanhar de Aquiles” da vida natural do país. Com a chegada de animais e plantas exóticas, as espécies nativas começaram a perder espaço, com algumas espécies, inclusive, entrando em extinção ou sofrendo expressivas diminuições em suas populações. 

A introdução de espécies invasoras não é o único problema enfrentado pela Austrália – assim como ocorre há vários séculos em países de colonização relativamente recente como é o caso do Brasil, o continente australiano também sofre com a derrubada de florestas para a criação de campos agricultáveis e criação de gado, além de abrigar grandes projetos de mineração. 

Cerca de 80% do território da Austrália é formado por terrenos semiáridos e desérticos, onde as opções de produção agrícola e pecuária são bastante limitadas. Com solos pobres, clima extremamente árido e com baixa disponibilidade de água, essas extensas regiões possuem uma densidade populacional das mais baixas do país. As áreas cobertas por florestas se concentram numa pequena faixa no Norte do país e, principalmente, numa longa faixa de terras que abrange as regiões Sul, Sudeste e Leste do continente. Com clima ameno e boa disponibilidade de água, essa região meridional da Austrália concentra a grande maioria da população e as principais atividades econômicas do país: a agricultura, a pecuária e, mais recentemente, a indústria. 

Notícias sobre uma grande terra localizada nos mares do Sul circulavam na Europa desde o início da Era Cristã. Os primeiros navegadores europeus que atingiram o mítico continente no século XVII foram portugueses e holandeses, que aportaram nas costas áridas do Noroeste australiano, sem demonstrar maiores interesses pelas novas terras. Em 1770, James Cook desembarcou nas verdejantes costas do Leste da Austrália, batizadas com o nome de Nova Gales do Sul, reivindicando as terras em nome da Coroa da Inglaterra. A primeira leva de colonos ingleses chegou a Austrália em 1788, naquela que entrou para a história com o nome de First Fleet (Primeira Frota). Esses colonos desembarcam em Botany Bay, nas proximidades da atual cidade de Sydney

Desde aqueles primeiros anos da colonização, as densas florestas de eucaliptos do Leste e Sul da Austrália vem cedendo espaços para a criação de campos para a agricultura e pastagens para a criação de gado bovino e ovelhas. O país é atualmente o 6º maior produtor de carne bovina e o maior produtor mundial de lã. A Austrália produz cerca de 100 milhões de toneladas de alimentos a cada ano, principalmente, trigo, aveia, cevada, cana-de-açúcar, bananas e frutas cítricas. O país também é um grande produtor de algodão e tabaco

Esses são números impressionantes para um país que dispõe de apenas 2% de terras próprias para agropecuária em seu território. É justamente aqui onde “mora o perigo” – existe uma enorme pressão para expansão de campos agrícolas e pastagens, o que tem levado a uma intensa derrubada de matas nativas. 

De acordo com informações do WWF – World Wide Fund for Nature, uma das maiores organizações ambientalistas do mundo, cerca de 395 mil hectares de matas nativas do Estado de Queensland foram devastadas entre 2015 e 2018 com o objetivo de ampliar a produção agrícola e pecuária. De acordo com a organização, cerca de 45 milhões de animais que viviam nessas matas morreram, incluindo-se na lista coalas, répteis, mamíferos e pássaros

Os coalas, mamíferos marsupiais exclusivos da Austrália, acabaram transformados em uma espécie de símbolo da devastação ambiental no país. Esses animais vivem nas matas de eucalipto e se alimentam exclusivamente das folhas dessas árvores (vide foto). Nos incêndios que vêm devastando as matas australianas nesses últimos meses, a imagem do salvamento de coalas das chamas tem comovido pessoas no mundo inteiro. A devastação crescente dessas florestas tem resultado num declínio gradual das populações de coalas – de acordo com projeções da WWF, se nada for feito, os coalas estarão “funcionalmente extintos” em menos de 50 anos. 

Um estudo do grupo de defesa ambiental TWS – The Wilderness Society, publicado em agosto de 2019, fez uma verdadeira radiografia das causas do desmatamento na Austrália. Analisando relatórios dos desmatamentos no país entre 2013 e 2018, período em que a Austrália perdeu 1,6 milhão de hectares de florestas, o grupo descobriu que 73% dessa perda florestal teve como objetivo o aumento das áreas de pastagens para a criação de gado. Na faixa Leste do país, onde se localiza a Grande Barreira de Coral, o maior sistema de corais do mundo, essa perda foi ainda maior – 94% dos desmatamentos foram relacionados com o aumento das áreas de pastagens para a criação de bovinos e ovelhas

À toda essa perda recente de cobertura vegetal precisam ser somados os mais de 6 milhões de hectares de florestas que já foram destruídos pelos incêndios que vem assolando grandes regiões do país desde o último mês de setembro. Serão necessários vários meses, quiçá anos, para se ter uma noção exata dos impactos de todas essas perdas na biodiversidade do país e, especialmente, no abastecimento de água de grandes cidades

Outro setor da economia que produz importantes impactos ao meio ambiente e que não podemos deixar de citar é a mineração. A Austrália é uma grande produtora de minério de ferro, carvão, bauxita, chumbo, prata, níquel, cobre, urânio e ouro. Recentemente, a Suprema Corte da Austrália suspendeu a implantação de um grande projeto de mineração no Estado de Queensland. O projeto, batizado de Mina Carmichael, previa a produção de 60 milhões de toneladas de carvão térmico por ano, a construção de uma ferrovia com 189 km, além da ampliação de um porto de carvão em Abbot Point.

Em um país sem grandes rios e dependente da energia elétrica gerada em centrais térmicas movidas a carvão, essa produção do insumo seria de grande importância estratégica e econômica. Havia também a expectativa de criação de 10 mil empregos diretos e indiretos. Apesar desses números vistosos, esse projeto de mineração ficaria localizado as margens de importantes rios com foz no litoral Leste do país e implicava em graves riscos ambientais para a Grande Barreira de Coral, motivo mais que suficiente para que a Justiça proibisse a sua implantação. 

Segundo a opinião de muitos especialistas em meio ambiente, clima e em florestas da Austrália, a grande intensidade dos incêndios florestais nesta última temporada está diretamente associada aos desmatamentos no país. Com o corte acentuado de árvores e a fragmentação cada vez maior das florestas, a vegetação está ficando mais seca e, portanto, mais susceptível a incêndios mais intensos. Incêndios florestais naturais fazem parte da ecologia australiana há milhares de anos e plantas e animais estão adaptados a esses eventos, algo muito parecido com o que ocorre no Cerrado brasileiro. O que vem se observando, entretanto, é que a capacidade das plantas em resistir ao fogo intenso está diminuindo, o que resulta na destruição completa de muitos habitats. 

Notícias sobre a destruição e queimadas na Amazônia ocupam importantes espaços nos jornais e redes sociais de todo o mundo, colocando o Brasil na lista dos grandes “vilões” da ecologia mundial. Já a Austrália, um país considerado desenvolvido, membro do Commonwealth (comunidade dos países britânicos) e nação bastante amiga das grandes potências mundiais, raramente é lembrada quando se fala em graves agressões ao meio ambiente, que infelizmente são muitas no país. 

Alguma coisa está muito errada, não acham? 

A INTRODUÇÃO DE ESPÉCIES EXÓTICAS NA AUSTRÁLIA E SUAS GRAVES CONSEQUÊNCIAS AMBIENTAIS

Dromedários da Austrália

Nos primeiros anos do século XX, a cidade do Rio de Janeiro vivia uma perigosa epidemia de febre amarela. Para ajudar no controle dos focos do mosquito Aedes Aegypti, o principal vetor do vírus, o então Prefeito da cidade, Francisco Franco Pereira Passos, resolveu acatar a sugestão de alguns acadêmicos – introduzir pardais, uma ave nativa do continente europeu, nas matas da cidade. De acordo com os especialistas, os pardais eram vorazes predadores de mosquitos e, dentro de pouco tempo, controlariam os muitos focos de Aedes Aegypti

Em 1903, foram importados cerca de 200 pardais (Passer domesticus) de Portugal e as aves foram soltas em uma cerimônia oficial no Campo de Santana, com muita pompa e circunstância. A ousada estratégia, é claro, não deu certo – os mosquitos continuaram infernizando a vida dos cariocas até que medidas drásticas de saneamento básico passaram a ser implantadas pelo médico Oswaldo Cruz anos mais tarde. Já os robustos pardais, esses passaram a ocupar os espaços ecológicos de aves nativas como sabiás, tico-ticos e sanhaços, se espalhando depois pelos quatro cantos do país. 

Na Austrália, exemplos semelhantes de introdução de espécies exóticas resultaram em verdadeiras tragédias ambientais. Conforme comentamos na postagem anterior, a história geológica do continente criou uma condição de isolamento total de outras terras, condição essa que resultou no surgimento e evolução de formas de vida totalmente diferenciadas de outras áreas do mundo. Com a introdução de espécies animais e vegetais de outras terras no solo australiano, o delicado equilíbrio ambiental de dezenas de milhões de anos foi abruptamente quebrado, o que desencadeou consequências catastróficas. Comecemos falando dos fofos coelhos europeus:

Em 1859, um fazendeiro da cidade de Winchelsea, no Estado de Vitória, chamado Thomas Austin, resolveu importar coelhos selvagens (Oryctolagus cuniculusda Europa, para usá-los na prática da caça esportiva. Um total de 24 coelhos foram trazidos da Inglaterra e soltos na sua grande propriedade. O fazendeiro ficou muito feliz com o resultado de sua empreitada – os coelhos se multiplicaram rapidamente e suas caçadas resultavam em dezenas de animais abatidos. 

O que Thomas Austin não imaginava há época era a velocidade de reprodução dos animais. Para piorar o problema, um dos únicos predadores dos férteis coelhos na Austrália eram o dingos, os cães selvagens locais, que não existiam em grande quantidade no Estado de Vitória. Cerca de 70 anos depois, os 24 coelhos originais já haviam gerado perto de 10 bilhões de descendentes, se transformando numa verdadeira praga no país

Os coelhos são famosos pela sua alta taxa de fertilidade – cada fêmea gera entre 18 e 30 filhotes a cada ninhada, podendo repetir esse feito por até três vezes a cada ano. Os coelhos de Mr. Austin foram se espalhando rapidamente por todo o Estado de Vitória, atingindo depois Nova Gales do Sul e Queensland, entre outras regiões. Os animais esfomeados avançavam contra as plantações e, como uma nuvem de gafanhotos, deixavam os solos completamente desnudos. 

Uma das primeiras tentativas do Governo australiano para conter o avanço dos coelhos pelo país foi ordenar a construção de uma grande cerca metálica. E não estamos falando de uma cerca comum – apelidada pelo povo local de Dingo Fence Dog Fence, essa cerca tinha originalmente cerca de 8,6 mil quilômetros de extensão e foi construída entre 1880 e 1885. Além de tentar controlar o deslocamento dos coelhos, essa cerca também restringia os deslocamentos dos temidos dingos, famosos por atacar os rebanhos de ovelhas. 

A ideia de “jerico” não funcionou a contento contra os coelhos, que conseguiam escavar e passar por baixo da tela de arame. Foi então que, num ato de desespero, as autoridades decidiram introduzir na Austrália o grande predador dos coelhos na Europa – as raposas vermelhas (Vulpes vulpes). Dezenas de raposas foram soltas nas áreas de maior infestação de coelhos. Além de não conseguirem dar conta de tantos coelhos, as raposas criaram um outro problema – os animais passaram a atacar e comer os lentos coalas australianos, muito mais fáceis de caçar do que os rápidos coelhos. 

Os picos de superpopulação de coelhos na Austrália somente puderam ser controlados a partir da década de 1950, quando o Governo passou a usar diversos tipos de vírus transmitidos por meio de mosquitos. Algumas dessas investidas eliminavam até 90% dos coelhos de uma determinada região, porém os resultados não duravam muito tempo – os coelhos desenvolviam imunidade contra os vírus e novas cepas precisavam ser desenvolvidas rapidamente. Atualmente, o problema dos coelhos está controlado, mas não está resolvido. 

Outro grande desastre ambiental em curso no país está sendo provocado por milhões de dromedários (Camelus dromedárius) selvagens. Esses animais foram introduzidos no país a partir da década de 1840, com o objetivo de facilitar o transporte de tropas militares, colonizadores e suprimentos através das grandes áreas desérticas do centro da Austrália. Esses animais são famosos desde a antiguidade por suas grandes habilidades de sobrevivência em regiões desérticas, onde podem viver por várias semanas sem precisar de água e comida. Cerca de 60 mil animais foram trazidos desde a Índia, Afeganistão e países do Oriente Médio até a Austrália. 

A partir dos anos finais do século XIX, ferrovias começaram a ser inauguradas por toda a Austrália, reduzindo a importância dos dromedários no transporte de cargas e de pessoas. Essa importância diminuiu ainda mais com a chegada de automóveis, caminhões e ônibus nas primeiras décadas do século XX. Os dromedários “desempregados” passaram a ser soltos nas áreas áridas e semiáridas do país, voltando a viver como criaturas selvagens (vide foto). Sem predadores naturais e contando com alimentos e algumas fontes de água potável, esses animais passaram a se reproduzir sem controle – no início da década de 2000 eram calculados em 2 milhões de cabeças em toda a região central da Austrália

Em épocas de forte seca, como a que assolou o país entre 2004 e 2009, bandos com milhares de dromedários sedentos passaram a buscar desesperadamente por fontes de água, invadindo reservatórios de cidades e de reservas aborígenes. Na crise atual onde imensas áreas florestais estão sendo devoradas por chamas incontroláveis, esses dromedários tem buscado desesperadamente pelas reservas remanescentes de água das regiões afetadas, gerando enormes embates com as populações humanas. 

Os Governos de vários Estados do país estão se preparando para realizar “operações de controle”, que nada mais são que o abate de dromedários por atiradores em helicópteros. De acordo com as estimativas oficiais, cerca de 10 mil animais serão abatidos numa primeira fase. Grupos ambientalistas e de defesa dos animais, é claro, irão fazer inúmeros protestos contra essa atitude do Governo, porém sem apresentar alternativas melhores. 

Problemas semelhantes acontecem com outros animais como gatos, javalis, sapos-cururu, lebres e peixes-mosquito, além de espécies vegetais como alguns tipos de capins exóticos, introduzidos no país para servir de alimento para o gado bovino, mas que rapidamente fugiram ao controle e passaram a ocupar o espaço de plantas nativas. 

Como fica fácil de perceber, os problemas ambientais na Austrália são bem maiores que os grandes incêndios florestais. 

OS GIGANTESCOS PROBLEMAS AMBIENTAIS DA AUSTRÁLIA

Dingo australiano

Para falarmos dos problemas ambientais que a Austrália vive nos dias atuais, precisamos voltar no tempo para entender a história geológica do continente e conhecer as razões que levaram ao seu isolamento e surgimento de uma flora e fauna únicas. 

Até cerca de 165 milhões de anos atrás, a América do Sul, a África, a Antártica, a Ilha de Madagascar, a Índia (o famoso subcontinente indiano), a Austrália, a Nova Zelândia, a Nova Caledônia e algumas outras ilhas, formavam um único supercontinente conhecido pelo nome de Gondwana. Foi então que teve início uma série de eventos geológicos de grande magnitude, que levaram a fragmentação dessa grande massa continental e a uma lenta e gradual separação desses blocos de terra, formando à configuração de continentes que conhecemos atualmente. 

Um dos grandes testemunhos desse período de intensa atividade vulcânica aqui no Brasil é o chamado Derrame de Trapp. Entre 137 e 127 milhões de anos atrás, centenas de vulcões entraram em erupção contínua, derramando cerca de 650 mil km³ de lava vulcânica, o que cobriu cerca de 1,2 milhões de km² de solos na região da Bacia Hidrográfica do rio Paraná. Esses derrames de lava também ocorreram na Namíbia e em Angola, na África, territórios que até aquele momento estavam unidos com a atual América do Sul. As famosas “terras roxas”, solos de altíssima fertilidade encontrados nessa região, se formaram a partir da degradação desses derrames vulcânicos. 

A separação dos grandes blocos continentais, que é explicado pela Teoria da Deriva Continental ou Tectônica de Placas proposta por Alfred Wegener em 1912, empurrou gradativamente a Austrália rumo ao Leste, mantendo suas plantas e animais completamente isolados do resto do mundo. Esse isolamento favoreceu a evolução e a especialização dos seres vivos locais para uma vida adaptada ao meio, surgindo assim linhagens e espécies com características únicas, não encontradas em qualquer outro lugar do mundo. Exemplos dessa especialização são os mamíferos marsupiais australianos como os coalas e os cangurus, ou ainda os monotremados, ordem de mamíferos que botam ovos e são representados pelos ornitorrincos e pelas equidnas. 

A primeira grande “invasão” estrangeira no continente Australiano ocorreu há aproximadamente 65 mil anos, quando os primeiros Homo sapiens surgidos no continente africano atingiram as terras austrais, finalizando um processo migratório de dezenas de milhares de quilômetros e de milhares de anos através de toda a Ásia. Muitos estudiosos acreditam que esses primeiros grupos de humanos “invasores” chegaram na Austrália acompanhados de cachorros, que com o tempo passaram a viver em estado selvagem e se transformariam nos ancestrais diretos dos dingos (Canis dingo), os cães selvagens australianos (vide foto). Outras fontes afirmam que esses cães chegaram na Austrália há “apenas” 4 mil anos.  

Os dingos se transformariam nos maiores predadores terrestres da Austrália, alterando completamente a cadeia alimentar entre as espécies nativas do continente e impactando diretamente nas populações de espécies locais, levando muitas a extinção. Um desses animais pode ter sido o tilacino (Thylacinus cynocephalus), mais conhecido como tigre-da-Tasmânia ou lobo-da-Tasmania, o grande predador australiano antes da chegada dos dingos. Os tilacinos, que na verdade eram marsupiais que evoluíram até ficar parecidos com um lobo, foram perdendo espaço na área continental da Austrália, ficando restritos a Ilha da Tasmânia. Perseguidos pelos criadores de ovelhas, que os acusavam de caçar seus animais, os tilacinos da Tasmania foram completamente extintos em meados do século XX. 

A grande invasão moderna da Austrália, porém, teve início a partir do ano de 1770, quando o HMS Endeavour, um navio de pesquisas da Marinha Real Britânica sob o comando de James Cook, atingiu a costa Leste do continente. Seguindo as pegadas dos perplexos tripulantes, maravilhados com a fauna e flora exclusivas desse “novo mundo”, centenas de ratos que se escondiam nos porões do Endeavour também começaram a fazer seu próprio desembarque. 

As principais espécies de ratos “domesticados” pela humanidade – o rato cinza (Rattus rattus), o rato preto (Rattus norvegicus) e o camundongo (Mus musculus), vem acompanhando nossos passos há milhares de anos. Esses animais aprenderam a viver próximos de acampamentos e cidades, onde sabiam que poderiam encontrar alimentos com muita facilidade. Com o início da Era das Navegações a partir do século XIV, ratos clandestinos em navios foram espalhados pelos quatro cantos do mundo. 

Ratos são animais inteligentes, onívoros e facilmente adaptáveis a novos ambientes. Logo após sua chegada ao continente australiano, os ratos descobriram inúmeras espécies de aves indefesas e seus ninhos construídos sobre os solos – filhotes de aves e ovos passaram a constituir a dieta principal dos ratos, enquanto avançavam pelo novo território e passavam a ocupar os grandes nichos ecológicos da “grande ilha”. 

A segunda grande frente invasora dos tempos modernos em terras da Austrália teve início com a chegada das primeiras levas de imigrantes, onde muitos eram presidiários transferidos para as distantes terras do Pacífico Sul. Eram aqueles os difíceis anos do início do século XIX, época em que as grandes cidades do Reino Unido sofriam com a superpopulação. Os novos territórios deste lado do mundo – Austrália, Nova Zelândia, Nova Caledônia e Nova Guiné, entre outros, se apresentavam com uma grande oportunidade para a “desova” desses excedentes populacionais e uso dessa mão de obra barata (para não dizer quase gratuíta”), na formação de colonias produtoras de gêneros exportáveis.

Na bagagem desses colonizadores vieram cavalos, bovinos, carneiros, porcos, galinhas, patos, coelhos, gatos, cachorros, entre outros animais domésticos criados pelos europeus desde os tempos imemoriais. Para se sentirem menos melancólicos nessas terras distantes, muitos colonos de origem nobre se preocuparam em trazer raposas selvagens entre seus itens pessoais, o que lhes permitiria realizar as tradicionais “caçadas” inglesas junto com os novos amigos da Austrália. 

Além de dezenas de espécies de animais domésticos de origem europeia, os ingleses também se “preocuparam” em introduzir algumas espécies de origem asiática e africana, onde são destaques algumas espécies de búfalos, uma fonte alternativa para a produção de carne em regiões pantanosas da Austrália, e os dromedários, uma opção para o transporte de tropas militares através das terras desérticas do centro do continente. 

Além de dezenas de espécies animais, os colonizadores ingleses também introduziram uma infinidade de espécies vegetais nessas “novas terras”, indo das insubstituíveis batatas “inglesas” às árvores frutíferas das mais diferentes espécies, árvores produtoras de madeira de lei como o icônico carvalho inglês e outras simplestemente decorativas para seus famosos jardins. Também se preocuparam em trazer espécies vegetais de grande valor comercial para exportação como o algodão, o tabaco e a cana-de-açúcar. Essas novas espécies passaram a ocupar grandes extensões de terras, especialmente em áreas do Leste, Sul e Sudeste do continente. Grandes áreas “inúteis” de florestas de eucalipto nativas da Austrália passaram a ser derrubadas e queimadas, abrindo espaços para a produção de gêneros de grande valor comercial. 

Toda essa somatória de alterações na flora e fauna da Austrália não tardariam a gerar graves consequências e desequilíbrios no meio ambiente. Trataremos disso na próxima postagem.

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE OS INCÊNDIOS FLORESTAIS NA AUSTRÁLIA

Incêndio-Austrália

A Austrália, chamada por muitos de ilha-continente, é pouca coisa menor do que o Brasil – o país ocupa uma área de 7,7 milhões de km², exatamente 10% a menos do que o nosso território. Apesar da localização do país ocupar praticamente as mesmas latitudes das regiões Central e Sul do Brasil, o clima australiano é bem diferente do nosso – aliás, podemos afirmar que é praticamente o inverso. No Brasil, o clima Semiárido é encontrado em uma área relativamente pequena do interior da região Nordeste e no Norte do Estado de Minas Gerais – a maior parte do país tem clima Equatorial e Tropical; na região Sul, o clima é Subtropical.  

Na Austrália, a maior parte do território tem climas Semiárido e Desértico – uma estreita faixa ao longo das costas do Sul e uma grande área no Sudeste do país tem um clima Mediterrâneo, que nada mais é do que um clima temperado. Pequenas faixas ao Sudoeste e Leste do continente tem um clima Subtropical e uma faixa no extremo Norte apresenta características Tropicais (clima quente com uma forte temporada de chuvas de Monção). De todos os continentes habitados, o australiano é considerado o mais seco do mundo – é justamente esse clima seco que tem favorecido a incidência dos grandes incêndios florestais que desde setembro vem assolando o país. 

Outra forma de avaliar as diferenças drásticas nos climas dos dois países pode ser observado na disponibilidade de água: o Brasil possui 12% das reservas de água doce do mundo (lembrando que a maior parte dessa água se encontra na Bacia Amazônica), com chuvas regulares na maior parte do território. A Austrália, ao contrário, dispõe de cerca de 1% das reservas mundiais de água doce. Grande parte do território australiano sofre com a falta de chuvas, que além de irregulares, caem em volumes muito pequenos. Como se não bastassem todos esses problemas, o país enfrentou uma fortíssima estiagem generalizada entre os anos 2000 e 2009

Essa combinação de clima extremamente seco, pouca disponibilidade de água e de altas temperaturas nesse verão, com máximas superando a marca dos 40° C, transfomaram a Austrália num verdadeiro “inferno” na Terra nesses últimos meses. Incêndios florestais vêm devastando grandes extensões de matas, especialmente no Sul, Sudeste e Leste do continente. O fogo destruiu centenas de casas e já matou cerca de 27 pessoas. Para os animais domésticos e selvagens, a situação é quase apocalíptica – segundo cálculos de especialistas, perto de 500 milhões de animais já morreram vítimas do fogo, da fumaça e da destruição dos seus habitats

Uma das notícias mais surpreendentes, que comentamos na última postagem, fala dos ataques de gatos “selvagens contra animais debilitados nas áreas incendiadas. Várias regiões da Austrália sofrem com a superpopulação de gatos, que trocaram a vida doméstica pelas florestas – esses gatos atacam e matam pássaros, pequenos mamíferos, répteis e anfíbios. Desde 2015, o Governo estuda planos para eliminar, pelo menos, 2 milhões desses gatos selvagens, que se transformaram em uma verdadeira praga ambiental no país. 

Após uma longa sequência de más notícias, informações vindas do país dão conta que as chuvas de verão finalmente começaram a chegar em faixas do Leste e Sul do continente, ajudando a controlar e até mesmo a extinguir alguns focos de incêndios. Em regiões onde as águas ainda não chegaram, milhares de militares e voluntários continuam trabalhando arduamente no combate ao fogo. Curiosamente, a maioria das vozes de ambientalistas, artistas, políticos e famosos que se levantaram na defesa da Amazônia brasileira, que meses atrás também sofreu com inúmeros focos de incêndios, desta vez ficaram calados e nada tem falado sobre a tragédia da Austrália. 

Os números já apurados pelas autoridades ambientais do país sobre as consequências desses incêndios para o meio ambiente são assustadoras – cerca de 327 espécies de plantas e animais protegidos pela legislação foram fortemente afetados pela tragédia. Alguns habitats chegaram a ter impressionantes 80% de suas áreas destruídas pelas chamas

A Austrália é o continente mais isolado do mundo e sua vida animal e vegetal passou por intensas mudanças evolutivas, assumindo características únicas. Desde o século II da era cristã circulavam lendas por toda a Europa falando de uma terra misteriosa na parte Sul do planeta – terra australis incognita, ou, terra desconhecida do Sul. Legiões romanas estacionadas em regiões longínquas da Ásia, muito provavelmente, ouviram relatos sobre essa terra distante de povos locais, que por sua vez, haviam ouvido esses relatos de outros povos.  

As terras austrais do continente só veriam o desembarque de navegadores europeus, portugueses e holandeses, no início do século XVII – esses primeiros exploradores rapidamente descobriram as dificuldades de se encontrar água nessa terra recém descoberta e focaram suas atenções em outras terras mais verdejantes do Sudeste Asiático. Oficialmente, a Austrália foi descoberta e reclamada em nome da Coroa Inglesa pelo capitão James Cook em 1770. Os ingleses ficaram fascinados com os animais absolutamente únicos que encontraram nessas terras, especialmente os cangurus, os ornitorrincos e as équidnas. 

Essa fauna e flora únicas da Austrália, que desde o século XVIII vêm sofrendo fortes impactos com a colonização do país e com a introdução de espécies exóticas, desde vez está sofrendo com a destruição em larga escala de habitas pelas chamas. Levantamentos preliminares do Ministério do Meio Ambiente do país colocou em situação de extrema vulnerabilidade 272 espécies de plantas, 16 mamíferos, 14 sapos e 9 aves, além de 4 espécies de peixes, 4 insetos e uma aranha. Todas essas formas de vida são autóctones do Outback australiano e não são encontradas em qualquer outra parte do mundo

Até o momento, os incêndios destruíram cerca de 100 mil km², uma área pouco maior que a do Estado de Pernambuco. Somente no Estado de Nova Gales do Sul, a região mais habitada do país e onde se encontram cidades importantes como Sydney e Camberra, as chamas destruíram cerca de 50 mil km², uma área cerca de cinco vezes maior do que a que foi queimada na Amazônia em 2019. Além dos imensos prejuízos à vida animal e vegetal, as cinzas dos incêndios atingiram diversos reservatórios de água da região, o que prejudicou muito o já complicado abastecimento de água em diversas cidades. 

As gravíssimas consequências desses incêndios florestais, que vão ficar mais claras apenas a médio e longo prazo, vêm se somar a uma verdadeira infinidade de problemas ambientais já vividos pelo país. Apesar de não aparecer com muita ênfase nos noticiários internacionais, a Austrália é um dos países em pior situação de degradação ambiental no mundo. O país sofre imensamente com espécies invasoras, com o avanço dos desmatamentos para a criação de campos agricultáveis, com a mineração em larga escala e, mais recentemente, com os graves problemas criados pelas mudanças climáticas e pelo aquecimento global. 

Falaremos disso na nossa próxima postagem. 

TEM “GATO NA TUBA”, OU UM SURPREENDENTE PROBLEMA AMBIENTAL MUNDIAL

Gato na tuba

A histeria criada nos meios de comunicação mundo a fora em meses recentes, quando os incêndios florestais ameaçavam “transformar a Amazônia em cinzas”, voltaram a levantar as discussões sobre os grandes impactos ambientais da criação de bois e vacas para a produção de carne e leite para consumo humano. Muitos grupos ambientalistas e de defesa dos animais passaram a veicular “notícias” dos mais diferentes tipos, dando conta que esses incêndios visavam a criação de pastagens para a criação de gado na região Amazônica, o que, em parte, não deixa de ser uma verdade. 

Esse tipo de notícia veio se somar ao crescimento do consumo de carne bovina em muitos países como a China, a África do Sul e até mesmo na “vegetariana” Índia. O desenvolvimento econômico nesses e em muitos outros países têm permitido que parcelas maiores das suas populações tenham acesso a uma alimentação mais diversificada, onde se inclui um consumo maior de carne bovina. 

Se qualquer um de vocês fizer uma rápida pesquisa na internet, com certeza encontrará dezenas de “artigos científicos” falando dos grandes impactos da criação de bois e vacas ao meio ambiente – da destruição de florestas para a abertura de novas pastagens, como foram os casos de notícias associadas aos incêndios na Amazônia, o consumo excessivo de água pelos animais e a liberação de grandes volumes de gases de efeito estufa. Isso tem sim um fundo de verdade e já tratamos do tema em diversas postagens aqui no blog, falando principalmente das boiadas na Caatinga Nordestina e nos Pampas Gaúchos

Agora, uma informação que vai surpreender muita gente – os animais que causam os maiores impactos ao meio ambiente não são os bovinos, que têm rebanhos estimados em 2 bilhões de animais em todo o mundo. O grande vilão invasor do mundo animal e causador de gravíssimos problemas à fauna silvestre são os fofos e simpáticos gatos domésticos, que costumamos chamar carinhosamente de bichanos

Os gatos ocupam o segundo lugar entre os bichos de estimação mais populares entre os humanos (em alguns países já estão na primeira posição) e, em virtude da urbanização cada vez maior, eles vêm ocupando cada vez mais o espaço dos cachorros. A domesticação dos gatos começou há cerca de 10 mil anos, mesmo período em que teve início a agricultura e a formação das primeiras cidades. As estimativas falam de mais de 600 milhões de gatos domésticos em todo o mundo nos dias atuais. 

Na semana passada foram divulgadas notícias preocupantes falando dos grandes impactos ambientais criados pelos gatos na Austrália – como os incêndios florestais estão começando a ser debelados, inclusive com a chegada das chuvas em algumas regiões do país, milhares de animais que conseguiram sobreviver ao fogo e à falta de água agora estão sendo perseguidos e mortos por gatos “selvagens”. Esses gatos, que abandonaram seus ambientes domésticos e passaram a viver nas matas, estão atacando e matando animais debilitados que sobreviveram à destruição de seus habitats. São aves, pequenos mamíferos, répteis e anfíbios. 

Assim como diversas outras espécies animais, os gatos não são nativos da Austrália. Juntamente com ovelhas, vacas, cavalos, lebres, cachorros e uma infinidade de outras espécies, os gatos chegaram ao continente australiano na “bagagem” dos primeiros colonizadores. E como aconteceu em outras partes do mundo, muitos desses gatos abandonaram o ambiente doméstico e passaram a se aventurar nas florestas australianas. Encontrando fartura de alimentos, esses gatos se reproduziram sem controle e se transformaram em uma verdadeira praga ambiental. 

Especialistas afirmam que esses animais ocupam apenas 0,2% do território do país, mas já são contados aos milhões. Desde de 2015, a Austrália trabalha com uma meta para eliminar, pelo menos, 2 milhões de gatos “selvagens”. Os pesquisadores observaram que bandos de gatos chegam a percorrer até 30 quilômetros em busca de áreas recém destruídas pelo fogo e onde podem “caçar” centenas de animais debilitados. Além gatos, a Austrália sofre com diversas outras espécies invasoras como os dromedários, as lebres, os sapos-cururu, entre muitas outras.  

Um grupo de cientistas australianos acompanhou um grupo de 13 desses gatos por um período de 50 dias em uma área recém queimada no Sudeste do país. Em 101 eventos de caça observados, esses gatos tiveram uma taxa de sucesso média de mais de 32% – nas áreas abertas das savanas, esses gatos obtiveram as melhores taxa de êxito, onde conseguiram abater as vítimas em 70% dos ataques. Os gatos abateram uma média de 7,2 vítimas a cada 24 horas. Em 25% dos casos documentados, os gatos sequer comeram as presas abatidas.

Em diversas partes do mundo, os bichanos também representam um enorme problema ambiental.  Nos Estados Unidos existem estudos que afirmam que os gatos matam cerca de 3,7 bilhões de aves e 20,7 bilhões de mamíferos a cada ano, sem que se inclua na conta as mortes de répteis e anfíbios. Um estudo feito na Ilha Marion, na África do Sul, na década de 1970, indicou que os gatos matavam cerca de 455 mil aves marinhas a cada ano. Um estudo semelhante, feito na ilha francesa de Kerguelen na mesma época, mostrou que 1,2 milhão de aves marinhas eram mortas a cada ano por gatos

Ambientes insulares, aliás, são os que mais sofrem com os impactos criados por espécies invasoras. Aqui no Brasil um exemplo é Fernando de Noronha, um verdadeiro paraíso tropical pertencente ao Estado de Pernambuco. A população humana no Arquipélago oscila entre 4.500 e 6.000 mil habitantes – já a população de felinos é calculada em mais de 1.300 animais, uma das maiores densidades demográficas de gatos por quilômetro quadrado do mundo. A maior parte desses gatos vive em estado selvagem nas matas das principais ilhas. 

Essa verdadeira “multidão de gatos” se junta a um grupo de outras espécies invasoras – a garça-vaqueira (Bulbucus ibis), o lagarto teiú (Salvator merianae), lagartixas (Hemidactylus mabouia), o sapo-boi (Rhinella jimmi), pererecas (Scinaxsp.), ratos (Rattus rattus e Rattus norvegicus) e camundongos (Mus musculus). Juntos, esses animais exóticos estão ameçando a sobrevivência de inúmeras espécies nativas do Arquipélago

Um dos petiscos prediletos dos gatos noronhenses é a mabuia (Trachelepys atlantica), um pequeno lagarto endêmico de Fernando de Noronha. Também fazem parte do cardápio dos gatos algumas espécies de aves: o sebito (Vireo gracilirostris) e a cocoruta (Elaenia ridleyana), duas espécies endêmicas do Arquipélago. O rabo-de-junco-de-bico-laranja (Phaeton lepturus), o atobá-de-pés-vermelhos (Sula sula) e a noivinha (Gygis alba), espécies de aves marinhas também encontradas em outras ilhas do Oceano Atlântico Sul, entram na lista de presas. Os gatos atacam os ninhos e se esbaldam com os ovos e filhotes.

Diferente de operações de desratização, onde venenos letais são usados para matar os odiados ratos, ações de “desgatização” (essa palavra é um provável neologismo) são polêmicas e complicadas – seres humanos gostam da convivência com os simpáticos gatos e não aceitam facilmente a “eliminação” desses animais em grandes quantidades como “ferramenta” de controle ambiental. Já os rebeldes gatos, que não tem a fidelidade dos cães e que nunca perderam totalmente o seu espírito selvagem, vão continuar abandonado suas casas e redescobrindo os prazeres da vida no meio da natureza. E mesmo quando continuam contando com casa e comida, muitos desses gatos resolvem se aventurar numa mata próxima e, eventualmente, voltam para casa carregando algum animal caçado em parques e outras áreas verdes das cidades (vide foto). 

Ao contrário de muitas espécies animais que correm sérios riscos de extinção, as populações de gatos não param de crescer e, muito pior: dizem que os “gatos têm 7 vidas”…