
Desde meados da última semana, com a chegada de uma frente fria, as temperaturas da Região Centro-Sul do país começaram a apresentar temperaturas mais amenas, com a ocorrência de chuvas fortes. Esse “refresco” no clima chega para se contrapor a sucessivos recordes de calor nos Estados da Região.
O roteiro das chuvas inclui os Estados de São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, o Sul de Goiás, parte de Minas Gerais e o Norte do Paraná, entre outras regiões que vem sofrendo com o calor e com a seca.
As previsões meteorológicas indicavam que, a partir do dia 29, uma grande área localizada entre os Estados de Mato Grosso do Sul, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais estaria sujeita a “chuva volumosa, com potencial para transtornos”. Na Região Metropolitana de São Paulo e em cidades do interior paulista as expectativas, infelizmente, já se confirmaram.
De acordo com informações do Governo do Estado de São Paulo, as chuvas desse fim de semana já provocaram ao menos 19 mortes, incluindo nessa conta 7 crianças. Ao menos 5 pessoas estão desaparecidas e outras 9 ficaram feridas. Há registro de 500 famílias desabrigadas e/ou desalojadas.
Em Embu das Artes, munícipio limítrofe com São Paulo, um deslizamento de encosta deixou ao menos três vítimas fatais. Um outro acidente similar em Franco da Rocha deixou outros 3 mortos, sendo que as equipes de resgate conseguiram retirar outras 6 vítimas com vida dos escombros. Foram registradas vítimas fatais em Arujá, Francisco Morato e Várzea Paulista, todos municípios da Região Metropolitana de São Paulo, além de Jaú e Ribeirão Preto, no interior do Estado.
Um exemplo da intensidade das chuvas pode ser visto na represa Paiva Castro em Franco da Rocha, que faz parte do Sistema Cantareira. Em postagem recente falamos das preocupações com os baixos níveis das represas desse Sistema e dos riscos ao abastecimento da população da Região Metropolitana de São Paulo.
Com as fortes chuvas, o rio Juqueri e o Ribeirão Eusébio, alguns dos formadores da represa, transbordaram e afetaram trechos das cidades de Caieiras, Franco da Rocha e de Francisco Morato (vide foto). No início da tarde desse domingo, dia 30 de janeiro, o nível da represa Paiva Castro já havia superado o nível de 70% de sua capacidade máxima. Diversas manobras para o bombeamento do excesso de águas tiveram de ser acionadas por questões de segurança.
Em Francisco Morato foram registrados dois deslizamentos de encostas, felizmente sem vítimas. Em Caieiras, município vizinho a Francisco Morato, a Prefeitura informou que os serviços de emergência receberam mais de quinze chamadas referentes a deslizamentos de encostas, também sem vítimas.
Essas duas localidades são classificadas como “cidades dormitórios” da Região Metropolitana de São Paulo. Com uma topografia bastante acidentada, Caieiras e Francisco Morato possuem terrenos com preços excepcionalmente baixos, o que atrai as populações mais pobres. As encostas dos morros são recortadas para a construção de moradias precárias, o que transforma grande parte dessas cidades em áreas de risco – basta uma chuva mais forte para a ocorrência de deslizamentos.
As fortes chuvas também provocaram alagamentos em importantes avenidas das cidades da Região Metropolitana, interrupção de alguns trechos das linhas de trens metropolitanos, além do bloqueio de trechos de rodovias por causa do desmoronamento de encostas. Esses são eventos rotineiros em toda a Região Metropolitana em momentos de fortes chuvas.
No interior do Estado de São Paulo, uma das situações mais críticas envolve as cidades cortadas pelo rio Piracicaba. O rio está no limite de transbordamento e uma de suas represas, a de Americana, já ultrapassou o nível de 95% da sua capacidade máxima. Todas as cidades da região estão em Estado de Alerta.
Toda a faixa Leste da Região Centro-Sul do país vem passando por uma forte seca nos últimos meses e essa frente fria poderá trazer chuvas para boa parte dessa região. A forte onda de calor e a seca já provocaram prejuízos de cerca de R$ 45 bilhões em lavouras dos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Mato Grosso do Sul.
Essa situação foi agravada nas últimas semanas após a chegada de uma fortíssima onda de calor em grande parte da Argentina, além de regiões do Uruguai, do Paraguai e do Sul do Brasil. Nas cidades Gaúchas de Bagé e de Uruguaiana, citando dois exemplos, os termômetros passaram dos 36° C de acordo com informações do Inmet – Instituto Nacional de Meteorologia.
A Região das Missões, no extremo Leste do Rio Grande do Sul, é uma das que mais está sofrendo com a seca. De acordo com Sindicatos Rurais da Região, as lavouras de milho já tiveram perdas entre 80% e 100%; nas lavouras de soja, as perdas são estimadas em 50%. Os produtores gaúchos calculam as perdas com a soja em R$ 14,5 bilhões e em R$ 5,4 bilhões com o milho.
A seca também está afetando fortemente os rebanhos bovinos do Rio Grande do Sul, Estado com forte tradição nesse setor. Os açudes estão secos e as pastagens já estão esgotadas. Os animais estão escavando os solos para comer as raízes da vegetação, uma imagem que costumamos associar às grandes secas do Semiárido Nordestino.
Essa fortíssima estiagem ultrapassa as fronteiras do Brasil e também está afetando grandes áreas da Argentina, do Paraguai e do Uruguai. Segundo a NOAA – Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos, na sigla em inglês, essa seca no Cone Sul já é uma das maiores tragédias climáticas do mundo dos últimos anos e que está resultando em prejuízos bilionários para os países da região.
A chegada dessa frente fria e de chuvas fortes nessa faixa que se estende desde o litoral dos Estados de São Paulo e do Paraná e que vai até o Mato Grosso chega em boa hora e vai ajudar a amenizar uma parte dos grandes problemas criados pela seca. Infelizmente, a chegada de chuvas fortes sempre resulta em tragédias lamentáveis como as que estamos assistindo aqui em São Paulo.
Lamentavelmente, chuvas fortes e tragédias sempre caminham juntas aqui em nosso país, e sempre precisamos nos preparar para os piores cenários. Coisas de um país onde quase tudo na infraestrutura foi feito de improviso ou, simplesmente, malfeito.