Na última postagem eu fiz uma apresentação geral da cultura da soja no Brasil, grão que se tornou uma das grandes commodities do nosso agronegócio e responsável por boa parte do superávit comercial do país. O “grão dourado” também é responsável por grande parte da devastação florestal que se assistiu no Cerrado brasileiro a partir da década de 1970 e, nos últimos anos, a cultura passou a se expandir rumo ao Norte, se instalando em terras da região Amazônica.
Esse avanço da agricultura e também da pecuária, muito mais do que uma fonte de receitas para a economia do país, faz soar um sinal de alerta – até que ponto é um bom negócio devastar a maior floresta equatorial do mundo em função da produção de soja e carnes?
Vamos começar entendo quais foram os caminhos que o grão de origem asiática percorreu ao longo de mais de um século antes de chegar aos limites da Floresta Amazônica. E foi um longo caminho.
Durante muito tempo, a soja foi considerada uma espécie de “curiosidade” agrícola. As primeiras sementes do grão foram trazidas dos Estados Unidos e chegaram à Escola de Agronomia da Bahia em 1882. Vários agricultores receberam as sementes com instruções para o plantio, que acabou não sendo muito bem-sucedido por causa do clima quente da Bahia – a planta preferia um clima Temperado como o do Meio-Oeste americano. Os agricultores também não conseguiam entender exatamente para que ela servia – o grão, apesar de lembrar um pouco ao feijão, não tinha o mesmo sabor ou textura quando cozido e temperado.
Há notícias de estudos com a soja em 1891 no Instituto Agronômico de Campinas no interior do Estado de São Paulo, que segundo consta, distribuiu sementes da planta para diversos produtores. De acordo com informações da EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias, foram realizados plantios experimentais da planta a partir de 1901 no Estado do Rio Grande do Sul, onde se buscava melhores resultados graças ao clima Subtropical, mais próximo do clima Temperado dos Estados Unidos.
No Estado de São Paulo, após a chegada dos primeiros imigrantes japoneses, o grão passou a ser encontrado no comércio com um pouco mais de facilidade. Fora esses casos isolados, não há notícias do cultivo da soja em maior escala até 1914, quando produtores do Noroeste do Rio Grande do Sul passaram efetivamente a plantar soja com vista à produção de ração para porcos.
Uma das histórias interessantes sobre o começo da cultura da soja no Brasil e que demonstra o quanto a sua produção era considerada “marginal” pelos agricultores pode ser vista na história de Albert Lehenbauer, um missionário luterano americano, que foi o responsável pela popularização do grão entre os seus paroquianos. Segundo os relatos preservados, o pastor Lehenbauer ficou extremamente chocado com o grau de pobreza de algumas vilas rurais da região de Santa Rosa, cidade gaúcha para a qual ele foi enviado como missionário.
Em 1923, voltando de uma viagem de férias aos Estados Unidos, o pastor trouxe algumas garrafas com grãos de soja. Esses grãos foram distribuídos em pequenas latas e punhados entre os membros de sua congregação. O pastor Lehenbauer orientou pessoalmente cada agricultor sobre o plantio da soja, ensinando a cada um sobre o grande potencial energético do grão para a engorda dos animais, especialmente os porcos. Essas comunidades rurais podem ser consideradas as primeiras do Brasil a viverem do plantio da soja.
O cultivo da soja só passou a ganhar destaque a partir da década de 1940, quando as indústrias perceberam o potencial do grão para a produção de óleos e gorduras vegetais. Com o avanço da urbanização, que passou a se acentuar a partir dessa data, as famílias passaram a mudar alguns de seus hábitos alimentares – o tradicional uso da banha de origem animal para a preparação de alimentos passaria a ser substituído pelo uso de óleos e gorduras de origem vegetal.
Além desse uso, a soja passou a encontrar seu espaço como uma nova fonte de proteína para consumo humano, especialmente na forma de farinhas para o enriquecimento de alimentos, e também se consolidou como insumo básico para a fabricação de rações para alimentação animal. E foi assim, lentamente, que o grão de origem asiático passou a fazer parte das paisagens gaúchas, disputando seu espaço com o trigo e o arroz, e também com a pecuária, essas as mais tradicionais atividades dos Campos Sulinos ou Pampas.
Continuamos na próxima postagem.
[…] OS CAMINHOS DA SOJA… em A SOJA, AS MATAS E OS SOL… […]
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[…] soja é um dos grãos mais produzidos no país e o Rio Grande do Sul, conforme apresentamos em postagem anterior, foi o berço da cultura no país e hoje ocupa a terceira posição entre os Estados […]
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[…] relação ao nível do mar, encontramos biomas com características da Mata das Araucárias e dos Campos Sulinos ou Pampas, típicas do clima Subtropical; já nos vales profundos dos canyons, que se situam em […]
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[…] dos últimos anos do século XIX. A soja passou a ser plantada no Brasil em escala comercial no Rio Grande do Sul a partir da década de 1920, quando um pastor luterano norte-americano distribuiu sementes […]
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[…] explicação para isso é muito simples – as raízes de plantas de culturas como a soja e o trigo são muito curtas, o que impede que as águas da chuva infiltrem adequadamente nos solos […]
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[…] volumes de água que conseguem infiltrar nos solos. Citando um exemplo: as raízes de plantas como a soja e o trigo são extremamente curtas quando comparadas às grandes raízes das árvores – essas […]
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[…] ao clima, muito similar ao da China. No Brasil, a soja começou a ser plantada inicialmente no Rio Grande do Sul, Estado localizado na única região brasileira de clima próximo ao […]
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[…] sementes de soja que chegaram ao Brasil vieram diretamente dos Estados Unidos e foram plantadas no Rio Grande do Sul na década de 1920. Como o clima dos Pampas Sulinos guarda semelhanças com o clima temperado, a […]
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[…] marco na agricultura gaúcha foi a implantação da cultura da soja na década de 1920. O clima subtropical do extremo Sul brasileiro é semelhante ao clima temperado […]
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