
O mundo está vivendo uma grave crise enérgica nesses tempos em que a pandemia da Covid-19 parece estar se encaminhando para um sensível declínio. Aqui no Brasil assistimos a aumentos sucessivos nos preços da gasolina, do óleo diesel e do gás de cozinha.
Em países da Europa, na China e no Japão, o que tem tirado o sono dos Governantes são os aumentos explosivos nos preços do gás natural e do carvão, combustíveis essenciais para a produção de energia elétrica. O drama cresce a medida que o inverno do Hemisfério Norte se aproxima, época em que os países enfrentam uma demanda maior de energia para uso no aquecimento das casas.
Na esteira dos problemas energéticos, o mundo poderá viver uma outra crise – a produção de alimentos poderá ficar comprometida devido à falta de fertilizantes. Vamos entender um pouco melhor essa situação.
Fertilizantes são produtos e compostos químicos, de origem orgânica e inorgânica, que são utilizados na agricultura convencional para aumentar artificialmente a quantidade de nutrientes no solo e assim se conseguir uma maior produtividade. Entre os fertilizantes orgânicos podemos citar os estercos de animais, a farinha de osso, o húmus de minhoca, a farinha de mamona, entre outros. Entre os fertilizantes inorgânicos os mais usados são o nitrogênio, o fósforo e o potássio, mais conhecidos pela sigla NPK, entre muitos outros.
Quem tem uma horta no fundo do quintal ou alguns vasos com plantas ornamentais em sua casa normalmente costuma se valer de adubos orgânicos, que garantem uma produção mais natural. Em grandes plantações comerciais, ao contrário, fertilizantes químicos são essenciais para uma alta produção. É justamente aqui onde o “perigo mora”.
Nas últimas décadas, o Brasil se transformou em um dos maiores produtores agrícolas do mundo, notadamente nas culturas de grãos como a soja e o milho. No encalço da agricultura existem as atividades pecuárias, que dependem dos grãos para a produção das rações servidas aos animais. A agropecuária já responde por mais de 20% do PIB – Produto Interno Bruto, do país e alguns analistas acreditam que essa participação chegará a 30% em bem pouco tempo.
De acordo com dados do Governo Federal, um em cada cinco pratos de comida servidos no mundo foi feito usando alimentos produzidos aqui no Brasil. Esse dado demonstra a importância dessas atividades econômicas para o Brasil e também para a segurança alimentar de boa parte da população mundial.
Apesar de toda essa pujança no campo, a agricultura e, de quebra, a pecuária, tem um calcanhar de Aquiles – 85% de todos os elementos químicos usados na produção dos fertilizantes usados em nosso país são importados, especialmente os do grupo NPK. Aumentos nos custos desses insumos ou a falta deles, resultarão em sérios problemas para a agropecuária do Brasil e de muitos outros países pelo mundo afora.
Entre os principais fornecedores de elementos químicos usados na produção de fertilizantes como potássio, enxofre, ureia, amônia anidra, ácido fosfórico, rocha fosfática e o NPK figuram países como Estados Unidos, Rússia, China, Canadá e Alemanha, entre outros. Muitos desses países estão passando por sérios problemas internos, o que tem reflexos diretos na produção e no preço dos insumos.
A China, citando um exemplo, responde por 25% de todas as exportações mundiais de fósforo. Conforme comentamos em uma postagem anterior, o país está passando por uma grande crise de geração de energia elétrica por causa dos fortes aumentos nos preços do gás natural e do carvão. Sem contar com volumes adequados de energia elétrica, que em algumas regiões do país sofreu uma redução na oferta da ordem de 80%, muitas fábricas tem reduzido ou simplesmente parado a produção.
Com o forte aumento na demanda por alimentos e as sucessivas altas nos preços de várias commodities agrícolas, muitos contratos para o fornecimento de fósforo tiveram seus preços duplicados, algo que vem criando um clima de muita especulação nos mercados.
Outro elemento químico essencial para a agricultura é o potássio – o Brasil consome 18% de toda a produção de potássio do mundo. As maiores reservas desse elemento se encontram no Canadá, na Rússia e na Bielorrússia, país que está vivendo uma crise política grave e que poderá resultar em sérias dificuldades no mercado mundial. A Bielorrússia produz 20% do potássio consumido no mundo. O potássio já acumulou uma alta de preço de 200% apenas nesse último ano.
O nitrogênio é outro elemento químico que está apresentando uma grande alta nos seus preços. O responsável aqui é o gás natural, combustível de onde se extrai o nitrogênio. O gás natural subiu muito nos últimos meses – na Inglaterra, o combustível aumentou cerca de 280%; na Alemanha esse aumento foi de 119% e na Franca de 149%.
Além desses problemas específicos existem outros mais difusos – o custo dos transportes marítimos, por exemplo, aumentou muito nos últimos meses, o que tem se refletido em aumento dos preços de outros elementos químicos. Outro fator importante é a especulação de mercado – muitos empresários tem se aproveitado da situação para aumentar suas margens de lucro.
O somatório de todos esses problemas poderá resultar em um aumento generalizado no preço de alimentos e de outras commodities agrícolas – ou seja, vai doer no bolso de todo mundo. Quem frequenta os supermercados com regularidade tem acompanhado com muita apreensão a disparada nos preços de produtos básicos do nosso dia a dia como o arroz, o feijão e as carnes. A simples possibilidade de aumentos de preços ainda maiores assusta muita gente.
Nos últimos dias, o Governo Federal passou a anunciar o desenvolvimento de vários estudos para a ampliação da produção de elementos químicos para uso na produção de fertilizantes aqui no país. O Brasil possui diversas reservas desses minerais já em exploração e muitas outras já prospectadas e com grande potencial de produção.
Aqui eu gostaria de destacar uma preocupação pessoal – foram citadas por algumas autoridades brasileiras a existência de reservas de fosfato na região da foz do rio Madeira e também na Ilha de Marajó, ambas na Amazônia. Atividades mineradoras sempre são problemáticas para o meio ambiente e não seria diferente na Amazônia. A urgência na obtenção desses elementos químicos poderá aumentar, e muito, os danos ambientais desencadeados pela mineração.
Vamos todos torcer para que os males que poderão ser desencadeados por essa crise na produção de alimentos sejam os menores possíveis, uma vez que os estragos serão inevitáveis.
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