Há muitos anos atrás, quando eu ainda trabalhava no setor eletroeletrônico, era muito comum ser destacado para acompanhar executivos estrangeiros em reuniões por várias cidades do Brasil. Uma coisa que sempre me chamava a atenção em estrangeiros que chegavam no Aeroporto Internacional de Cumbica pela primeira vez era um certo espanto com o tamanho das instalações, talvez um tanto grande para um “aeroporto de selva”.
Outra coisa que saltava aos olhos desses “gringos” era o tamanho da cidade de São Paulo – de Cumbica até a sede da empresa na Vila Olímpia, rodávamos mais de 30 km, em grandes avenidas cercadas por arranha-céus. Eu sempre fiquei com a impressão que estes estrangeiros estavam esperando encontrar aqui um aeroporto com pista de terra e um punhado de cabanas com teto de palha, com onças e animais selvagens correndo soltos pelas ruas.
Certa vez, enquanto fazia esse trajeto com um escocês, fui surpreendido como uma pergunta:
– Aquela mata ali é a Floresta Amazônica? – perguntou em inglês apontando para a Serra da Cantareira, uma grande formação vegetal de Mata Atlântica que domina a paisagem da Zona Norte da cidade de São Paulo.
Um dos casos mais interessantes sobre o desconhecimento desses estrangeiros em relação aos nossos ecossistemas se deu com uma executiva mexicana, que eu teria de acompanhar em reuniões em Belo Horizonte e depois no Rio de Janeiro. O espanto da mulher começou ainda no Aeroporto de Congonhas, quando embarcamos num jato fabricado pela Embraer – a mexicana ficou espantada ao saber que os “indígenas brasileiros”, ou seja – nós todos, tínhamos capacidade tecnológica e intelectual para fabricar um avião de passageiros com aquele nível de sofisticação.
Logo após a decolagem, a mexicana viu um grande corpo d’água e olhando para mim perguntou se “aquele era o rio Amazonas”. Para quem não conhece, o Aeroporto de Congonhas fica na Zona Sul da cidade de São Paulo – conforme o sentido da decolagem, o avião vai sobrevoar em poucos minutos a Represa Billings, o maior corpo d’água da Região Metropolitana de São Paulo. Em resposta à “gringa”, expliquei que aquela era apenas uma represa do sistema de abastecimento da cidade e que o rio Amazonas ficava a mais de 4 mil km de distância. Tive de me segurar para não falar que a Floresta Amazônica estava mais perto do México do que de São Paulo.
Essa rápida passagem por lembranças antigas ilustra bem a situação que estamos vivendo nesses últimos dias – de um dia para o outro surgiram ambientalistas e especialistas em Floresta Amazônica por todos os cantos do mundo, cada um falando mais besteira que o outro sobre as queimadas que, tragicamente, cresceram muito do ano passado para cá, e que estão “transformando a Floresta Amazônica em cinzas”. Vamos usar as próximas postagens para contar um pouco sobre o que é essa tão falada Floresta e tentar mostrar o que realmente está acontecendo por lá.
A Bacia Amazônica ocupa uma área com mais de 7 milhões de km², onde se encontram mais 1.000 afluentes – alguns destes afluentes, como o Negro e o Madeira, entram na lista dos 10 maiores rios do mundo. O maior desses rios, o Amazonas, é o segundo maior rio do mundo em extensão (algumas fontes afirmam que é o maior), com quase 7 mil km das nascentes até a foz, e é, de longe, o rio com maior fluxo de água do Planeta – calcula-se que um volume entre 12% e 20% de toda a água doce do mundo flua através dos rios e ares (os chamados “rios voadores”) da Bacia Amazônica e, mais cedo ou mais tarde, essa água irá atingir a calha do rio Amazonas.
A área ocupada pela Floresta Amazônica é de aproximadamente 5,4 milhões de km², ocupando terras na Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Suriname, Guiana e Guiana Francesa – mais de 60% da Floresta se encontra no Brasil. A área total da Floresta Amazônica equivale à mais da metade de todo o território europeu. Calcula-se que mais de 1/3 de todas as espécies do mundo vivam na Amazônia – somente em espécies de peixes, já se conhecem mais de 2.100 espécies diferentes e, a cada dia, se descobrem novas espécies.
Diferente do que muita gente imagina, essa floresta não é um mar sem fim de árvores de grande porte – a Floresta Amazônica é formada por um mosaico de sistemas florestais, onde se encontram florestas densas, áreas de várzea que se alternam entre a seca e as enchentes, campos amazônicos, manguezais, vegetação de restinga, entre muitos outros. Uma outra característica da Amazônia que muita gente desconhece é o número total de estações do ano – são apenas duas: inverno, a época em que o clima é quente e chuvoso, e o verão, quando o tempo é quente e seco. Esse é um ponto importante, que ajuda a explicar a grande quantidade de incêndios florestais dessas últimas semanas.
Nos meses de inverno, as chuvas passam a dominar as paisagens e as águas determinam o ritmo da vida em toda a Floresta. Rios começam a receber grandes volumes de água das chuvas através de toda uma infinidade de pequenos igarapés e os caudais começam a transbordar e a invadir extensas regiões até então secas. Essas águas também se infiltram nos solos e elevam dramaticamente o nível do lençol freático, que praticamente chega à superfície. Na região de Porto Velho, em Rondônia, lembro que o nível do lençol freático chegava a cerca de 10 cm da superfície no pico do inverno. Em um dos cemitérios da cidade, citando um exemplo, os sepultamentos feitos nessa época resultavam em, literalmente, mergulhar os caixões dentro da água.
Quando chega a época da seca, o verão, as águas baixam rapidamente. Na mesma cidade de Porto Velho, isto era facilmente observado no rebaixamento do lençol freático. Apesar de estar localizada dentro da maior bacia hidrográfica do mundo, a população da cidade sofre imensamente com a falta de água no inverno. Pelo menos metade da população depende da água de poços para seu abastecimento, que secam rapidamente ao longo do verão. Eu visitei várias casas onde poços com mais de 20 metros de profundidade estavam secos. Igarapés antes caudalosos se transformam em filetes de água e o grande rio Madeira chega a baixar 18 ou 20 metros em questão de semanas.
Em meio a toda essa seca, basta uma pequena fagulha para iniciar uma grande queimada em uma mata ou num campo agrícola, o que é justamente o que está acontecendo hoje por toda a Amazônia – queimadas estão ocorrendo por todos os lados, o que acabou provocando uma verdadeira histeria em todo o mundo. Queimadas – acidentais ou provocadas intencionalmente, acontecem todos os anos na Amazônia. É claro que, neste período da seca, muita gente se aproveita do clima para fazer queimadas para a abertura de clareiras na mata, onde iniciarão a formação de pastagens para a criação de gado ou formação de campos agrícolas. A grande maioria dessas queimadas é ilegal e, muitas vezes, ocorrem em áreas públicas, terras indígenas ou em reservas ambientais – aqui, o que falta é fiscalização por parte dos poderes públicos: Municipal, Estadual e Federal.
Porém, muito longe do que muitos tem dito, a maior parte da Floresta Amazônica vai muito bem , obrigado, e está verdejante como sempre esteve. Afirmar, como muitos tem afirmado, que a Floresta está virando cinzas, é o mais completo exagero. O que está faltando mesmo é muita fiscalização e punição dos infratores por parte do lado brasileiro e ajuda séria e responsável de todos aqueles países que realmente estão preocupados em proteger e preservar a Amazônia.
Agora, o que eu acho inaceitável é a conversa de muito estrangeiro falando da “nossa” Amazônia e tentando propor a criação de uma área internacional na região com o objetivo de “proteger a floresta”, algo que atinge em cheio a soberania de todos os países Amazônicos. Nós brasileiros e vizinhos sul americanos temos maturidade suficiente para cuidar de nosso “quintal”, sem depender das boas intenções de antigas metrópoles coloniais, que expropriaram povos e países por todo o mundo.
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[…] A Floresta Amazônica costuma ocupar, frequentemente, as manchetes dos noticiários de todo o mundo quando o assunto em pauta é a destruição das florestas tropicais. Em 2019, celebridades e políticos oportunistas de todo o mundo chegaram a afirmar que a Amazônia estava sendo “transformada em cinzas” pelas queimadas. O Presidente da França, Emmanuel Macron, chegou inclusive a ameaçar o Brasil com um eventual uso de forças militares para conter o avanço dos desmatamentos na “Nossa Amazônia“. […]
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[…] da China e da Índia. Entre os principais assuntos buscados pelos “gringos” estão a Amazônia e também os grandes rios […]
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[…] floresta tropical que se formou nas terras mais baixas é uma espécie de extensão da Floresta Amazônica, que com o passar do tempo desenvolveu novas espécies vegetais e criou habitats para uma […]
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[…] da história – existem grandes queimadas que estão devastando áreas importantes dos biomas Amazônia, Cerrado e Pantanal, entre muitas outras áreas em todo o mundo. Todos os dias, imagens desses […]
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[…] história constantemente repetida sobre as queimadas e a destruição da Floresta Amazônica está ligada a isso – muita gente no exterior acredita que o vigoroso salto da nossa produção […]
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[…] Precisamos estimular cada vez mais as pesquisas nessa área, buscando sempre o equilíbrio entre o meio ambiente, a economia e o desenvolvimento social das populações da nossa Amazônia. […]
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[…] sendo alimentado há algum tempo e que felizmente parece ter sido deixado de lado dizia que as queimadas da Amazônia eram as grandes responsáveis pela emissão de gases de efeito estufa e, consequentemente, eram as […]
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[…] um pouco dessa verdadeira cruzada ambiental a que foi elevada a questão da Amazônia, gostaria de mudar um pouco a perspectiva – a […]
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[…] falando apenas das queimadas da Amazônia não vai ajudar […]
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[…] dentro desse contexto que a conservação da Floresta Amazônica é fundamental para o planeta. A Amazônia é uma das últimas grandes florestas do mundo que ainda […]
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[…] Eu não me recordo de ter visto imagens de Greta Thunberg munida de um cartaz na porta da sede da H&M em Estocolmo e protestando contra a destruição do rio Citarum por fornecedores de matérias primas da grande empresa sueca. Em outros países que sediam grandes marcas do segmento da moda como França, Alemanha e Espanha, nós até assistimos vez ou outra grupos protestando contra essas empresas. Porém, esses protestos são extremamente tímidos quando comparados àqueles feitos em defesa da preservação da Floresta Amazônica. […]
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[…] Entre as décadas de 1960 e 1980, milhões de brasileiros de outras regiões do país foram estimulados a migrar para a Região Norte através de políticas oficiais do Governo Federal. Foram tempos de grandes desmatamentos na Floresta Amazônica. Há cerca de dois anos atrás preparamos uma longa série de postagens contando essa história. Clique neste link para consultar. […]
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[…] A repercussão do noticiário nacional rapidamente ganhou o todo o mundo e, líderes políticos, artistas, famosos e outros opositores ao recém empossado Presidente de “extrema direita” do Brasil, passaram a fazer suas postagens nas mídias sociais denunciando a destruição da Floresta Amazônica. […]
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[…] Brasil é um dos grandes destaques da atualidade. Segundo a narrativa dos “mocinhos”, as queimadas e os incêndios na Amazônia são uma das grandes ameaças ao clima mundial. Eles só não conseguem explicar é que, mesmo […]
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