AS VÍTIMAS E OS ”VILÕES” DO CLIMA MUNDIAL NA COP27 

Entre os dias 6 e 18 de novembro, líderes políticos e empresariais, dirigentes de organizações ambientalistas, jornalistas e público em geral estiveram reunidos na cidade egípcia de Sharm el-Sheikh, para as reuniões de trabalho da COP27 – Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas.   

Como é de praxe, esse tipo de encontro costuma reunir os “mocinhos”, os “vilões” e as “vítimas” dos problemas ambientais do mundo. Eu costumo chamar de “mocinhos” países como a França, a Alemanha e os Estados Unidos que, durante séculos, foram os maiores emissores de gases de efeito estufa do planeta – subitamente, essas nações “resolveram” mudar sua postura e se transformaram nas grandes defensoras do clima. 

No papel de “vilão” o Brasil é um dos grandes destaques da atualidade. Segundo a narrativa dos “mocinhos”, as queimadas e os incêndios na Amazônia são uma das grandes ameaças ao clima mundial. Eles só não conseguem explicar é que, mesmo após anos contínuos de queimadas “maciças”, perto de 85% da Floresta Amazônica continua tão viva e verde como nos tempos do descobrimento do Brasil em 1500. 

No meio desses dois grupos existe um que é realmente o mais importante e que merece toda a nossa atenção – as vítimas reais do aquecimento global. Essas são as populações e os países que estão convivendo com os efeitos das secas, dos excessos de chuva, com a elevação do nível do mar ou ainda com o derretimento de geleiras, suas fontes principais de água potável. 

Uma dessas nações “vítimas”, que marcou presença na COP27 foi Tuvalu, um pequeno país insular localizado no Sul do Oceano Pacífico. O arquipélago é formado por cerca de 30 ilhas e possui uma área total de apenas 26 km², contando com uma população de aproximadamente 12 mil habitantes. 

O drama de Tuvalu é bem fácil de entender – o ponto mais alto das ilhas fica a apenas 4,6 metros acima do nível do mar. Qualquer elevação no nível do oceano, por menor que seja, provoca uma perda de território. De acordo com as projeções dos especialistas, o nível dos oceanos deverá subir mais de 1 metro até o ano de 2100, um fato que, literalmente, vai riscar a maior parte das ilhas Tuvalu do mapa. 

Tuvalu não está sozinha nesta triste sina – cerca de 52 nações insulares, conhecidas como SIDS – Small Island Developing States ou Pequenos Estados-Ilha em Desenvolvimento, numa tradução livre, poderão desaparecer nos próximos 50 anos devido ao aumento do nível dos oceanos. Esses pequenos países abrigam 1% da população do planeta, além de uma rica biodiversidade. 

De acordo com um estudo feito pelo Instituto para o Meio Ambiente e Segurança Humana, da Universidade das Nações Unidas, cerca de 15% da população de Tuvalu já foi forçada a emigrar para outros países, 12% já migrou internamente e 8% quer migrar, mas não teve condições. Essas migrações deverão aumentar em 70% até 2055. 

Diante de um quadro tão avassalador, Tuvalu poderá simplesmente desaparecer como uma nação organizada em apenas 20 ou 30 anos. Como não poderia ser diferente, Tuvalu foi o primeiro país integrante da UNFCCC – Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, na sigla em inglês, a assinar o Tratado de Não-Proliferação de Combustíveis Fósseis. 

Já que falamos de uma das “vítimas”, precisamos abrir espaço para um dos “vilões” do clima mundial, que também marcou presença na COP27. Falo aqui da Índia, país que ocupa a nada honrosa 3ª posição entre os maiores emissores mundiais de gases de efeito estufa. 

Os representantes da Índia na COP27 foram muito claros ao defender o posicionamento do seu país – os países mais ricos e desenvolvidos do mundo devem se esforçar para reduzir as suas emissões de gases de efeito estufa, porém, países pobres e em desenvolvimento como a Índia devem ter a liberdade de aumentar suas emissões em nome do desenvolvimento econômico. 

Por maiores que sejam as “náuseas” que esse tipo de posicionamento provoque em alguns líderes mundiais – gosto sempre de citar Emmanuel Macron da França, a situação da Índia exige isso. Com uma população de mais de 1,3 bilhão de habitantes – onde pelo menos a metade vive na mais profunda miséria, o país não pode prescindir de um forte crescimento econômico. 

Um exemplo altamente didático dos problemas indianos – o país precisa gerar cerca de 1 milhão de empregos a cada mês somente para absorver a mão de obra dos jovens que estão chegando ao mercado de trabalho. Se tal geração de empregos fosse possível aqui no Brasil, resolveríamos nosso problema de desemprego em cerca de oito meses. 

A matriz energética da Índia é o que costuma se chamar de suja – 40% de toda a energia consumida no país vem da queima do carvão mineral, cerca de 16% do petróleo e seus derivados e 24% da queima de lenha e outros resíduos. Neste último item entra a lenha usada por 70% das famílias do país para cozinhar. Geração de eletricidade em fontes hidrelétricas e nucleares respondem por uma pequena fatia da matriz energética da Índia. 

Segundo as projeções do Governo indiano, o país precisará aumentar em 40% a queima de carvão ao longo dos próximos dez anos apenas para conseguir manter o forte ritmo de crescimento de sua economia. Segundo dados do FMI – Fundo Monetário Internacional, a Índia cresceu 9,5% em 2021, com estimativas de crescimento de 8,5% em 2022 e 6,6% em 2023. 

Esse forte crescimento econômico significa mais emprego e renda, melhores condições de vida, educação e saúde para centenas de milhões de pobres e miseráveis do país. Na opinião do Governo indiano, todos esses aspectos positivos justificam uma espécie de “licença especial para poluir o planeta”. 

O posicionamento claro da Índia, por mais que incomode ambientalistas dos países ricos e de bolsões de gente refinada como os Jardins em São Paulo e Leblon e Copacabana no Rio de Janeiro, tem o apoio de dezenas de outros países pobres e em desenvolvimento que tem perfis socioeconômicos parecidos com a Índia. 

Como fica bastante fácil de perceber, questões envolvendo os problemas decorrentes das mudanças climáticas não são uma unanimidade mundial como muitos querem nos fazer crer. Resolver esse tipo de impasse não é tarefa fácil. 

Nos filmes, mocinhos e vilões costumam acertar suas diferenças num duelo ao pôr do sol. Na vida real, as coisas são bem mais complicadas…

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