O SEQUESTRO DE CARBONO PELA AGRICULTURA

As emissões de gases de Efeito Estufa estão no topo da lista dos vilões do clima mundial. Conforme comentamos em postagens anteriores, altas concentrações de alguns desses gases na atmosfera, principalmente o dióxido de carbono (CO2), o Metano (CH4), o Óxido Nitroso (N2O) e o Hexafluoreto de Enxofre (SF6), intensificam o Efeito Estufa, um fenômeno natural da atmosfera do planeta, e resultam num aumento das temperaturas na superfície da terra. 

A redução das emissões dos gases de Efeito Estufa pelos países vem sendo uma das principais frentes de luta de governantes, empresários e organizações de defesa do meio ambiente reunidos na COP26 – Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2021. Muitos Governos já assumiram o compromisso de reduzir suas emissões e, inclusive, já estabeleceram uma data limite para zerar as suas emissões. O Brasil está nessa lista de países. 

Infelizmente, são muitas as nações que se recusam a reduzir as suas emissões na velocidade exigida pela maior parte dos países. Nessa lista podemos incluir a China e a Índia, países que estão entre os maiores emissores de gases de Efeito Estufa do mundo. 

Uma outra frente de batalha é a luta pela preservação das áreas florestais. Árvores absorvem grandes volumes de carbono, especialmente durante a fase do crescimento. Fazendo uma analogia – o carbono pode ser comparado aos tijolos usados na construção de uma casa: quanto maior a construção, maior será o número de tijolos que serão necessários. 

É dentro desse contexto que a conservação da Floresta Amazônica é fundamental para o planeta. A Amazônia é uma das últimas grandes florestas do mundo que ainda permanece de pé e, para muita gente, ela é a pedra de salvação do planeta. Ninguém costuma falar de outras grandes florestas do mundo que já desapareceram e de outras tantas que caminham rapidamente para o desaparecimento. Cito de cabeça as florestas do Sul do México, de Madagascar e também da Indonésia e da Malásia.

Estudos recentes estão demonstrando que a agricultura, normalmente muito combatida por grupos ambientalistas, dá uma grande contribuição ao planeta sequestrando grandes quantidades de carbono. Um exemplo são as plantações de soja

Estudos indicam que a planta sequestra 3,66 kg de dióxido de carbono para produzir 1 kg de carbono usado na formação da planta e suas sementes. As moléculas de carbono, juntamente com a água e nutrientes retirados do solo, são usados para a formação da matéria da planta, ou seja, raízes, caule, folhas e sementes. O sol fornece a energia usada nesse processo de construção da planta, a famosa fotossíntese. 

Para cada 3 toneladas de grãos de soja colhidos, são geradas cerca de 2 toneladas de palha – metade desse volume total é formado por carbono sequestrado da atmosfera. A soja será transformado em ração para animais, entrará na composição de diversos alimentos, além de ser usada na produção de óleo. Ou seja – mais cedo ou mais tarde todo esse carbono armazenado acabará voltando para a atmosfera. 

Grande parte do carbono presente na palha, entretanto, acabará sendo absorvido pelo solo e será usado durante o crescimento da próxima safra de grãos. Essa dinâmica de sequestro e liberação de carbono pela agricultura acaba sendo muito maior do que a das florestas já consolidadas e com pouco crescimento das árvores. 

A EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias, tem desenvolvido várias pesquisas para dimensionar os volumes de carbono sequestrados por plantações de grãos. Uma dessas pesquisas está avaliando o sequestro de carbono em plantações de soja, milho e algodão em solos arenosos do Estado da Bahia. 

Os plantios experimentais foram feitos em terras da Fundação Bahia, no município de Luís Eduardo Magalhães no extremo Oeste do Estado, entre os anos de 2012 e 2019. Foram semeadas áreas com soja, milho e algodão usando técnicas de plantio convencional e de plantio direto. 

No plantio convencional, os solos são limpos (toda a vegetação é removida), tendo a terra arada e semeada. Não é incomum a queima dos restos de vegetação como parte da preparação dos solos (a famosa coivara), uma prática que emite grandes volumes de gases de Efeito Estufa. No plantio direto, o solo é preparado durante a colheita, sendo recoberto por matéria orgânica – folhas, palhas, fibras e outros restos orgânicos da última cultura produzida. 

Nos experimentos de plantio direto, a EMBRAPA fez várias rotações de cultura: soja e milho seguidos por braquiária (um tipo de capim de grande porte); algodão e soja seguidos por crotalária (uma leguminosa de rápido crescimento); soja, sorgo na sucessão e algodão. 

Nas medições sistemáticas que foram realizadas numa camada de solo com até 40 cm de profundidade, o estoque de carbono encontrado nas áreas com cultivo direto foi 28% maior que nos solos com plantio convencional e cerca de 33% maior que nos solos cobertos com vegetação nativa do Cerrado. Ao longo dos sete anos da realização desse estudo, os pesquisadores observaram que o sequestro de carbono nos solos com plantio direto foi em média 31% maior que nos solos com plantio convencional

Esse estudo mostra que o sequestro de carbono pela agricultura com plantio direto é maior do que as emissões, contrariando a ideia generalizada que diz que a agricultura é uma grande emissora de gases de Efeito Estufa. Segundo alguns estudos já realizados, as emissões da agricultura entre os anos de 1990 e 2010 aumentaram 8%, representando emissões de 4,98 bilhões de toneladas em 2010, segundo dados da FAO – Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura. 

Com a população mundial se aproximando rapidamente dos 8 bilhões de habitantes, a agricultura está sendo cada vez mais pressionada a aumentar a sua produção de alimentos. Essa pressão tem provocado um avanço cada vez maior sobre remanescentes e áreas florestais. 

Em países pobres e em desenvolvimento, grande parte da produção de alimentos é feita com técnicas agrícolas mais primitivas e com pouca mecanização, onde é muito comum a queima de matéria orgânica – as cinzas de madeiras queimadas ajudam a melhorar a fertilidade dos solos. 

Esses estudos mostram que a modernização das práticas agrícolas, além de melhorar bastante a produtividade das culturas, pode contribuir para a redução da concentração de dióxido carbono na atmosfera, algo que terá reflexos diretos na melhoria das condições ambientais do planeta. 

É fundamental aprofundar ainda mais esses estudos e levar todos esses conhecimentos e práticas para o maior número possível de agricultores em todo o mundo. 

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