AMAZÔNIA SUSTENTÁVEL: AS GRANDES POSSIBILIDADES PARA A EXPLORAÇÃO DO TURISMO ECOLÓGICO NA AMAZÔNIA

Uma das atividades econômicas mais prejudicadas nesse último ano pela epidemia da Covid-19 em todo o mundo foi o turismo. Tentando minimizar os riscos de contaminação das populações, Governos passaram a forçar seus cidadãos a “ficar em casa” pelo maior tempo possível. Viagens foram desaconselhadas, o que praticamente levou à interrupção das atividades de empresas de transporte terrestre, aéreo e marítimo. Países também passaram a fechar suas fronteiras para estrangeiros, buscando assim evitar a entrada de pessoas contaminadas com a doença. 

Hotéis em importantes destinos turísticos em todos os cantos do mundo ficaram praticamente às moscas, o que também levou à bancarrota restaurantes, lojas, empresas de turismo e prestadores de serviços locais, entre muitos outros. Milhões de trabalhadores dessas empresas perderam seus empregos e têm um futuro imediato bastante incerto. Enquanto essa epidemia não for controlada, as atividades turísticas não retornarão ao seu ritmo normal. 

Nas últimas semanas, diversos países iniciaram as suas campanhas de vacinação contra a doença. Aqui no Brasil, a ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária, liberou no último dia 17 de janeiro a aplicação de duas vacinas emergenciais e cidadãos de todo o país já estão sendo imunizados. Esse será um processo lento, pois ainda não há disponibilidade de vacinas para todos, mas precisamos acreditar que, mais dia menos dia, essa crise vai passar. 

Mesmo em meio a um cenário tão complicado, precisamos falar da importância do turismo, principalmente as atividades chamadas de turismo ecológico e de aventura, para a região da Floresta Amazônica. Por definição, pessoas que fazem turismo buscam belos cenários, prazer, aventura, emoção, adrenalina, conhecimento, entre outros “sentimentos” mais intangíveis. As viagens se apresentam como uma espécie de “válvula de escape” para a rotina de suas vidas. 

Com cerca 5,5 milhões de km² de área com florestas, grandes rios, indígenas, animais exóticos, culinária diferenciada e muita história, a Amazônia é um prato cheio para os aventureiros de todas as idades. E em tempos quando muitos falam que a “Amazônia está sendo transformada em cinzas”, pode ser uma ótima oportunidade comercial receber o maior número possível de visitantes estrangeiros – quanto mais gente ver in loco que isso não é necessariamente verdadeiro, melhor.

De acordo com dados da Amazonastur – Empresa Estadual de Turismo do Amazonas, o Estado recebeu um total de 600 mil turistas no ano de 2018. Faltam dados mais precisos, mas as estimativas indicam que pouco mais de 1/3 desses visitantes, ou algo na casa dos 200 mil visitantes, eram estrangeiros. No total, o Brasil recebeu 6,6 milhões de turistas estrangeiros em 2018. Esse número de visitantes é pequeno demais para um país tão grande e com biomas e paisagens tão diversificadas como o Brasil.

Para efeito de comparação, a cidade de Paris, capital da França, recebeu sozinha 89 milhões de visitantes no mesmo período. A Espanha recebeu 82,8 milhões de turistas, a Itália 63 milhões, México 43 milhões e os Estados Unidos receberam 77 milhões de visitantes estrangeiros. Apesar dos números mostrarem como a nossa indústria turística já vinha mal mesmo antes da pandemia, precisamos enxergar o fabuloso potencial de crescimento, principalmente na região da Amazônia. 

Eu confesso que não entendo muita coisa da área de turismo, mas, pelo volume de más notícias sobre a Amazônia brasileira que tenho visto circulando por jornais e sites de notícias de todo o mundo, entendo que muitos potenciais turistas acabam sendo induzidos a evitar viagens para o nosso país. Acredito que também não estamos fazendo uma divulgação adequada de nossas riquezas naturais. 

Um exemplo: há alguns anos atrás, conversando com um jovem casal de parisienses, descobri que eles tinham acabado de voltar de sua lua de mel na Amazônia, não da brasileira, mas da equatoriana. Os jovens foram atraídos ao país pelas belezas das Ilhas Galápagos, arquipélago que pertence ao Equador, e que ganhou fama mundial após a visita do naturalista Charles Darwin na década de 1830. O estudo da fauna de Galápagos foi fundamental para a formulação da teoria da evolução das espécies proposta por Darwin. A visita a Floresta Amazônica equatoriana foi uma espécie de ‘efeito colateral” da viagem desses jovens.  

Um outro país vizinho que tem atraído muitos visitantes estrangeiros é o Peru. Um dos principais cartões de visita do país é Machu Picchu, a “cidade perdida dos incas”. Essa cidade ganhou notoriedade em todo o mundo após o lançamento de “O segredo dos incas”, filme de 1954, estrelado por Charlton Heston. De acordo com depoimentos de Steven Spielberg, o grande diretor de cinema norte-americano, foi esse filme quem o inspirou a criar o personagem Indiana Jones, o arqueólogo aventureiro da série de quatro filmes (há notícias do lançamento de um 5° filme da franquia). 

Enquanto esses países contam com essas informações e imagens positivas circulando pelo mundo, as notícias sobre a nossa Amazônia são sempre negativas: derrubada de matas, queimadas, assassinato de defensores da floresta como Chico Mendes e Dorothy Stang, chacinas de populações indígenas, avanço de plantações de soja e de rebanhos animais em áreas desmatadas da floresta, entre muitas outras. Nesses últimos dias, as notícias de destaque nos meios de comunicação internacionais mostravam o drama dos manauaras devido à falta de oxigênio nos hospitais. É o que podemos chamar de “concorrência desleal”. 

A péssima imagem internacional do turismo no Brasil teve ainda uma grande ajuda de nossos governantes. Durante décadas a fio, os cartazes e as propagandas oficiais de divulgação do turismo no país mostravam mulheres corpulentas vestidas com trajes, digamos, “sumários”, onde o objetivo era vender a ideia de “país do carnaval’. Infelizmente, esse tipo de comunicação acabou associando o país ao turismo sexual. Em diversas viagens de férias por praias da Região Nordeste, eu encontrei com grupos de estrangeiros, principalmente europeus, que vieram passar uma temporada por essas nossas bandas na companhia de garotas “nativas”. 

Completando a complicada equação, temos um Presidente que, apesar do extremo patriotismo e das melhores intenções, costuma ser bastante destemperado em suas falas. Líderes estrangeiros oportunistas como Emmanuel Macron e Angela Merkel costumam se aproveitar de muitos dos deslizes do Presidente Jair Bolsonaro, usando suas declarações para incendiar as questões ligadas aos desmatamentos na Amazônia, produção e exportação de grãos e carnes, direitos das populações indígenas, entre outras. 

As possibilidades econômicas das atividades de turismo ecológico e de aventura na Amazônia brasileira são ilimitadas, porém, não é muito difícil de se perceber que ainda teremos de enfrentar uma série de obstáculos até a consolidação do setor. Além da necessidade de grandes investimentos em educação e formação de mão de obra, com profissionais fluentes em línguas como inglês e espanhol, precisamos antes melhorar a imagem de nosso país no exterior. 

É necessário mostrar imagens mais positivas da Floresta Amazônica como o encanto de turistas nadando com os botos-cor-de-rosa do rio Negro, dos rios e igarapés de águas límpidas, das enormes extensões de matas intocadas (que representam perto de 85% da cobertura original), de pescadores “brigando” com os grandes peixes amazônicos, das comidas e culturas regionais, entre muitas outras. 

Tudo isso começa com esforços cada vez maiores na prevenção e combate aos desmatamentos clandestinos, queimadas, contrabando de madeiras, ouro e pedras preciosas extraídas ilegalmente da floresta, na proteção e defesa dos povos indígenas, na implementação de atividades econômicas que prezem pela sustentabilidade ambiental, entre muitas outras iniciativas. 

Quando enfim conseguirmos atrair grupos cada vez maiores de turistas estrangeiros para a nossa Amazônia, ganharemos ótimos “porta-vozes” para falar bem de nossa terra para seus amigos e vizinhos em suas terras natais. Aí sim as coisas vão mudar para patamares muitos melhores para todos nós. 

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