OS PROBLEMAS CRIADOS PELA MINERAÇÃO DO CAULIM NA AMAZÔNIA, OU AINDA FALANDO DE CONTOS DE FADAS

Caulim

A gigantesca Região Amazônica possui algumas das mais ricas províncias minerais do mundo – exemplos dessa riqueza foram mostrados nas postagens sobre Serra Pelada e o Projeto Grande Carajás. A exploração dessas riquezas minerais, aliás como é de praxe na área da mineração, pode resultar em graves danos ao meio ambiente e, em especial, aos corpos d’água, uma das riquezas mais abundantes da Amazônia. 

Um mineral importante e que já vem sendo explorado há várias décadas na Amazônia é o caulim. Esse minério é composto de silicatos hidratados de alumínio, como a caulinita e a haloisita e foi utilizado inicialmente na fabricação de artigos de porcelana pelos chineses. A partir da década de 1920, o caulim passou a ser usado na fabricação do papel e depois na produção da borracha. Em décadas mais recentes, o mineral passou a ser utilizado na fabricação de plásticos, pesticidas, rações, alimentos, fertilizantes, produtos farmacêuticos, entre outras aplicações industriais. A produção de papel responde sozinha por 45% do consumo mundial de caulim, que é usado para dar maior alvura, maior durabilidade, maior brilho e melhor resultado na impressão de todos os tipos de documentos.   

Os maiores produtores mundiais de caulim são Estados Unidos, Rússia, Coréia do Sul, República Tcheca, Brasil e Reino Unido, países que juntos respondem por perto de 62% do total produzido. No Brasil, cerca de 97% das reservas conhecidas se encontram nos Estados do Pará, Amazonas e Amapá. Nesses Estados, a produção e o transporte do caulim geram uma série de problemas ambientais, especialmente nos corpos d’água.  

O caulim nunca é encontrado em estado puro na natureza, mas misturado a impurezas como areia, quartzo, traços de mica, grãos de feldspato, óxidos de ferro e titânio, entre outros materiais. Cerca de metade do mineral bruto extraído dos solos acaba transformado em rejeitos minerais após o beneficiamento, materiais que precisam ser dispostos em aterros. Esses rejeitos minerais contem grandes concentrações de metais como ferro, alumínio, zinco e cádmio.   

Expostos à ação das chuvas, esses depósitos de rejeitos extravasam e efluentes contaminados com esses metais atingem solos, plantas, animais e, principalmente os corpos hídricos. Acidentes com barragens de rejeitos minerais tem potencial para devastar extensas áreas a exemplo do que ocorreu em Mariana e em Brumadinho, cidades do interior de Minas Gerais. Aqui é importante lembrar que a Região Amazônica concentra 70% das reservas superficiais de água do Brasil. Outra característica da produção e do transporte do caulim é a quantidade excessiva quantidade de pó gerado.  

Um grande exemplo dos impactos ambientais e sociais gerados pela contaminação da água com resíduos de caulim é o município de Barcarena, no Pará, um grande produtor e exportador desse mineral. Rios e igarapés do município são frequentemente contaminados por vazamentos de caulim, assunto que já tratamos em postagens anteriores. Em 2007, houve um grande vazamento de caulim numa fábrica da região, que foi classificado como o maior acidente industrial já registrado na Amazônia. A empresa foi multada e teve suas operações temporariamente suspensas.  

O vazamento ocorreu num depósito de rejeitos minerais, que atingiu e contaminou diversos rio e riachos de uma extensa região. Esse “acidente” foi considerado uma espécie de tragédia anunciada – no ano anterior ao vazamento, a empresa havia sido alertada pelas autoridades estaduais sobre a existência de uma trinca em um tanque do depósito de rejeitos. Ao que tudo indica, nenhuma providência foi tomada pela empresa – o vazamento ocorreu justamente nesse tanque problemático.  

De acordo com declarações à imprensa local de dirigentes da empresa responsável pelo vazamento, esse “acidente” não provocou danos significativos ao meio ambiente. Porém, nas análises feitas posteriormente pelo Instituto Evandro Chagas, da cidade de Belém, o vazamento causou severo danos à fauna aquática dos igarapés Curuperé e Dendê, além de atingir o lençol freático que abastece a Vila do Conde. O lançamento de efluentes ácidos originados nos rejeitos minerais nas águas levou o nível do pH (potencial hidrogeniônico) ao valor de 2,5 (alta acidez), nível em que nenhum microrganismo consegue sobreviver.  

Aqui é preciso fazer uma observação importante: todos estamos acostumados a ver a imagem de grandes e caudalosos rios correndo pela grande Bacia Amazônica. Essas águas, porém, carreiam grandes quantidades de sedimentos e sem um complexo e eficiente tratamento, não podem ser consumidas pela população. A população ribeirinha depende da água limpa e clara dos igarapés para o seu abastecimento. Os igarapés são afloramentos das águas subterrâneas dos lençóis freáticos e aquíferos, e são contados aos milhares em toda a Amazônia. Quando a população pobre da Amazônia não dispõe de um igarapé nas proximidades de suas casas, é preciso recorrer a um poço próximo ou então navegar grandes distâncias até encontrar uma fonte de água potável.   

Dezenas de milhares de ribeirinhos de Barcarena perderam as suas fontes de abastecimento de água, igarapés e poços, de uma hora para outra por causa desse vazamento de rejeitos. Para conseguir água limpa, os ribeirinhos passaram a depender de longas viagens de barco até regiões distantes, onde as nascentes de água ainda estavam livres da poluição. E esse, apesar das suas grandes proporções, não foi um caso isolado – os vazamentos de resíduos de caulim nos corpos d’água da região tem sido bastante frequentes e, como dissemos no início da postagem, essas notícias ficam restritas aos telejornais locais e as autoridades não conseguem solucionar o problema.  

Barcarena, conforme definimos em uma postagem aqui do blog, é uma espécie de “casa da mãe Joana”, onde as grandes empresas fazem o que querem e nenhuma autoridade do Estado parece se importar muito. Um outro caso recente, que teve repercussão mundial (menos na Noruega, país sede da empresa) foi o vazamento de rejeitos minerais de uma barragem da Norsk Hydro, a maior processadora de alumina do mundo. Em fevereiro de 2018, devido às fortes chuvas que caíram na região, uma barragem de rejeitos transbordou e rios da região foram contaminados com grandes volumes de metais pesados.  

Investigações posteriores, realizadas por autoridades ambientais, descobriram que o problema era muito mais sério do que aparentava inicialmente – foram encontradas duas tubulações clandestinas que lançavam efluentes contaminados diretamente nas águas dos rios, águas essas já fortemente contaminadas por resíduos de caulim. É aqui que saímos da realidade e entramos no mundo dos contos de fadas – os povos escandinavos, onde se incluem os noruegueses, vivem uma realidade que está muito distante da nossa “vidinha a base de arroz e feijão”.

Esses povos estão no topo da lista do IDH – Índice de Desenvolvimento Humano, onde além dos altos rendimentos familiares, contam com uma excelente rede de proteção social com um ótimo sistema educacional, de saúde pública e de segurança. Esses países  também se orgulham do alto grau de conservação e de cuidado com seu meio ambiente – a Escandinávia é fértil na produção de ambientalistas internacionais. A mais recente cria desses movimentos é a jovem sueca Greta Thunberg, que em seus dircursos inflamados cita um mundo fantástico dos seus sonhos.

Agora, quando se trata das terras de outros povos, esse cuidado com o meio ambiente é bem mais ou menos. Em uma postagem anterior falamos dos impactos da criação de salmão em cativeiro no Sul do Chile por uma grande empresa norueguesa, a Marine Harvest. Aqui na Nossa Amazônia, a Norsk Hydro também faz o quer e não aparecem ambientalistas escandinavos para apontar o dedo e falar que uma de suas empresas está destruindo a Floresta Amazônica, o dito “pulmão do mundo”. 

As receitas geradas pela mineração do caulim e de outros minerais são importantes fontes de recursos para os Estados da região Norte, que precisam de dinheiro para investir em saúde, educação, segurança, infraestrutura e em todas as suas demais obrigações. Entretanto, é preciso um maior rigor nas atividades dessas empresas – a água dessa região, apesar de muito abundante, também é finita. Também é preciso acabar com a hipocrisia desses estrangeiros – destruir a Amazônia dos outros para eles é refresco! 

Para saber mais:

A NOSSA AMAZÔNIA

 

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