OPERAÇÃO GUARDIÕES DO BIOMA DESMATAMENTO 

Entra ano e sai ano, e as coisas se repetem – conforme vai chegando o verão amazônico, período de poucas chuvas e muito calor, começa a temporada das queimadas e das manchetes catastróficas na mídia internacional – a “Amazônia está queimando” ou “a Amazônia está sendo transformada em cinzas”. 

Conforme já apresentamos em inúmeras postagens ao longo da história de quase sete anos aqui do blog, a Floresta Amazônica não possui uma vegetação única – ela é formada por todo um conjunto de subsistemas florestais que formam uma espécie de “colcha de retalhos”. Existem matas secas, matas alagáveis, restingas, manguezais, várzeas, igapós, áreas montanas, campos amazônicos, entre muitos outros. 

Além dos subsistemas florestais tipicamente amazônicos, também existem as chamadas áreas de transição entre biomas. Dentro do território brasileiro, a transição entre os biomas Amazônia e Cerrado é a mais importante. São justamente essas áreas de transição as mais susceptíveis às queimadas

Esse ano a temporada vai começar com uma novidade – os Ministérios da Justiça e do Meio Ambiente organizaram a Operação Guardiões do Bioma Desmatamento, uma força tarefa para combater os desmatamentos e as queimadas ilegais na região. Essa unidade vai reunir cerca de 1.200 agentes das Polícias Federal e Rodoviária Federal, da Força Nacional de Segurança, além de funcionários do IBAMA, ICMBIO e também das forças de segurança pública dos Estados. 

Essa força tarefa irá atuar em toda a Região Amazônica, sendo que as equipes serão divididas em dez bases de operações. O foco das atenções, entretanto, se concentrará numa faixa que engloba o Sul dos Estados do Amazonas e do Pará, região famosa pelo grande número de queimadas e desmatamentos.  

Além da fiscalização no bioma Amazônia, os olhos dessa força tarefa vão dar uma atenção especial a áreas vizinhas do Cerrado e do Pantanal, que também sofrem dos mesmos males. Normalmente, são as queimadas e os desmatamentos que ocorrem nessas regiões vizinhas que entram na “conta” e inflam a “destruição” da Floresta Amazônica, fazendo a “alegria” da mídia internacional. 

Tirando o exercício de relações públicas e de propaganda que o anúncio da formação dessa força tarefa representa para o Governo Federal, esse tipo de operação costuma se caracterizar pela efetiva integração dos diferentes órgãos envolvidos. Com recursos e pessoal escassos para o tamanho do problema, qualquer maximização de forças será sempre bem-vinda. 

É sempre importante lembrar que a chamada Amazônica Legal, onde se incluem o bioma Amazônia e partes do Cerrado, ocupa 5,2 milhões de km2, o que corresponde a 61% do território brasileiro. Se essa força tarefa fosse multiplicada por cem, ou seja, se tivesse 120 mil agentes, ainda não estaria à altura da colossal tarefa. 

As denúncias sobre a temporada das queimadas na Amazônia datam já de várias décadas, porém, a visibilidade da questão cresceu enormemente a partir de 2019. Na tarde de 19 de agosto, os moradores da Região Metropolitana de São Paulo foram surpreendidos com uma chuva com água da cor de chá mate, evento que foi batizado pela imprensa a partir daquele dia de a “chuva negra”. 

Naquele momento diversas áreas do Sul da Amazônia enfrentavam uma forte seca, o que favoreceu as queimadas numa extensa faixa entre o Sul do Estado do Amazonas, Rondônia, Acre e Bolívia. A densa nuvem de fumaça dessas queimadas foi arrastada para a Região Sudeste por fortes correntes de vento e foi a fuligem de toda essa fumaça que “tingiu” a água da chuva. 

A repercussão do noticiário nacional rapidamente ganhou o todo o mundo e, líderes políticos, artistas, famosos e outros opositores ao recém empossado Presidente de “extrema direita” do Brasil, passaram a fazer suas postagens nas mídias sociais denunciando a destruição da Floresta Amazônica

Emmanuel Macron, Presidente da França, usou fotografias de antigas queimadas na região, que inclusive foram tiradas por um fotógrafo que já havia morrido, para ilustrar suas postagens apocalípticas. O jogador português Cristiano Ronaldo foi mais infeliz – sua postagem mostrou a foto de uma queimada nos Pampas Sulinos. Ganhou força nesse momento a garota Greta Thunberg e sua mensagem sobre a destruição do “pulmão do mundo”. 

De todos os cantos do mundo passaram a surgir especialistas em ecologia amazônica, cada um falando mais bobagens que o outro. Essa onda de más notícias e de prognósticos ambientais dos mais terríveis queimaram, literalmente, o filme do Brasil no exterior. Passamos a ostentar o título de “vilões internacionais do meio ambiente”. 

Uma das principais atividades econômicas do Brasil, a agricultura, acabou sendo atingida em cheio pela chuva de más notícias sobre as queimadas. Muitos desses “especialistas” passaram a espalhar falsas notícias sobre as áreas de produção agrícola e também de criação de animais – as queimadas visavam abrir espaços para a ampliação dessas atividades dentro dos domínios da Floresta Amazônica. 

Muitos consumidores estrangeiros, em especial europeus, que mal sabem onde fica o Brasil e que ainda acham que a nossa capital é Buenos Aires, passaram a evitar comprar produtos agropecuários brasileiros, preferindo pagar mais caro por produtos de outras origens. É evidente que muito dessa aversão aos nossos produtos foi estimulada pela mentalidade protecionista aos produtores rurais da Europa. 

Apesar dessa campanha ter perdido um pouco de força desde então, a temporada das queimadas será sempre uma época de empenharmos um cuidado redobrado com a Amazônia. Qualquer boa notícia e esforços que nossas autoridades possam criar e mostrar para a comunidade internacional serão sempre bem-vindos. 

Com o início do recente conflito entre a Rússia e a Ucrânia, um volume considerável da produção mundial de grãos – especialmente o trigo, foram comprometidos, o que poderá ajudar a recuperar parte da reputação dos produtores brasileiros. O Governo alemão, só para citar um exemplo, já está admitindo liberar áreas de preservação ambiental para permitir o aumento da produção de alimentos. 

Precisamos aproveitar o momento para mostrar o quão sustentável é a nossa agricultura (que ocupa apenas 8% do território brasileiro) e que não precisamos devastar a Floresta Amazônica para aumentar a nossa produção. Se essa força tarefa mostrar bons resultados no combate as queimadas e aos desmatamentos, muito melhor será. 

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