O ano de 2020 será lembrado para sempre como um dos mais problemáticos da hitsória humana. Uma das razões para isso foi a pandemia da Covid-19, que afetou a vida e a saúde de bilhões de pessoas em todo o mundo. Na área ambiental, um dos marcos foram os grandes incêndios no Pantanal Mato-Grossense. De acordo com informações da EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias, o volume de chuvas na região do Pantanal entre outubro de 2019 e março de 2020 foi 40% abaixo dos níveis médios. Essa forte seca levou a uma alta incidência de incêndios e resultou na destruição de mais de 4 milhões de hectares de matas.
Felizmente, o período das chuvas chegou com precipitações acima da média. Somente nos sete primeiros dias de 2021, choveu o equivalente à média de um mês no Pantanal Mato-Grossense. Segundo informações do CEMTEC – Centro de Monitoramento do Clima, é o fenômeno climático La Niña quem está forçando o deslocamento de grandes frentes frias para a região e provocando fortes chuvas. E a previsão é de mais chuvas pelo menos até o início de fevereiro.
O Pantanal Mato-Grossense é uma das maiores planícies alagáveis do mundo – em anos de cheias excepcionais, a área alagada se aproxima dos 250 mil km², o que equivale a 3% do território brasileiro ou a uma área equivalente ao Estado de São Paulo. Esse imenso “território das águas” se estende pelo Sudoeste do Estado de Mato Grosso e Oeste do Mato Grosso do Sul, englobando também áreas no Paraguai e na Bolívia – nesses países é conhecido como El Chaco.
Pela sua importância ecológica, a região foi promovida a Patrimônio Natural Mundial e Reserva da Biosfera pela UNESCO – Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura. Já foram catalogadas mais de 650 espécies de aves, 80 espécies de mamíferos, 50 espécies de répteis e mais de 260 tipos diferentes de peixes. A vegetação combina espécies da Floresta Amazônica, do Cerrado e da Mata Atlântica, além de uma infinidade de espécies endêmicas, adaptadas para a vida nesta grande área alagável.
Ao contrário do que muitos imaginam, as paisagens pantaneiras apresentam brutais oscilações, alternando períodos de grandes cheias, cheias normais, vazantes e secas. A Marinha do Brasil, através do Serviço de Sinalização Náutica d’Oeste, com sede em Ladário – Mato Grosso do Sul, monitora os dados hidrométricos da região a partir de uma régua de medição desde 1900. Entre 1964 e 1973, citando um exemplo, a região enfrentou um longo período de seca. Em 1970, o nível do rio Paraguai, o principal da região, chegou a apenas 19 cm.
Os registros da Marinha também mostram as grandes enchentes do Pantanal: em 1905, a cheia atingiu a marca de 6,62 metros na régua de Ladário. Em 1913 – 6,39 metros; em 1955 – 6,56 metros; 5,46 metros em 1974 e em 1982 atingiu a marca de 6,52 metros. A maior cheia já registrada foi a de 1988, quando se atingiu a marca de 6,64 metros, causando uma grande mortandade nos rebanhos bovinos e enormes transtornos para as comunidades pantaneiras.
Nos últimos anos, as maiores cheias foram as de 2011 e de 2018, quando as águas atingiram, respectivamente, as marcas de 5,62 e 5,35 metros. A primeira inundou praticamente ¼ da planície pantaneira e a segunda provocou um prejuízo de R$ 230 milhões aos pecuaristas. Para efeito de comparação, no grande período de seca entre 1964 e 1973, a maior cheia registrada foi de 2,74 metros. Como se nota, a região vive, literalmente, períodos de altos e baixos.
O relevo particular da planície pantaneira é o principal responsável por essas enormes variações no nível das águas. O Pantanal Mato-grossense tem altitudes médias da ordem de 100 metros, com uma baixíssima declividade, uma alta pluviosidade e centenas de rios e lagos. Todo esse grande volume de águas corre muito lentamente em direção ao Sul, onde existe um verdadeiro afunilamento, conhecido como Fecho dos Morros do Sul.
A velocidade de escoamento no Pantanal é tão baixa que as águas de uma chuva, nas cabeceiras do rio Paraguai, poderão levar mais de quatro meses para atravessar toda a planície alagada. A dinâmica das cheias no Pantanal é bastante similar às enchentes que todos conhecemos nas grandes cidades brasileiras: excesso de águas de chuva e carência de sistemas de escoamento pluvial.
Quando a região passa por uma temporada de chuvas abaixo da média, que foi o que aconteceu em 2020, as esperadas grandes cheias não acontecem e a vegetação seca fica sujeita aos incêndios florestais. Basta uma pequena centelha, uma bituca ou guimba de cigarro jogada pela janela de um carro ou uma queimada desastrada para a preparação de um pequeno roçado para desencadear um incêndio de grandes proporções. E em 2020, o Pantanal ardeu como nunca.
Felizmente, diferentemente do que muitas manchetes de jornais e de portais de notícias divulgaram, esse não vai ser o fim do Pantanal Mato-grossense e de suas exuberantes flora e fauna. O ecossistema vem enfrentando esses altos e baixos há alguns milhões de anos e, tanto a sua fauna quanto a flora, estão adaptados para ciclos de destruição e de renascimento. É só uma questão de tempo até vermos a vida retomar todos os seus espaços na grande planície.
A questão realmente preocupante e que aparece pouco nas reportagens sensacionalistas é a derrubada de vegetação de Cerrado para a abertura de campos agrícolas. Mesmo distantes da planície pantaneira, esses desmatamentos provocam impactos nos caudais de muitos rios que nascem no Cerrado e que correm na direção do Pantanal Mato-grossense. Exemplos são os rios Cuiabá, Piquiri, São Lourenço, Taquari, Aquidauana e Miranda, entre muitos outros.
Conforme já tratamos em inúmeras postagens, a vegetação típica do Cerrado tem como principal característica a presença de grandes e profundas raízes. Ao longo de milhões de anos de evolução, essa vegetação foi se adaptando aos ciclos de seca anuais do bioma, permitindo que a plantas captem a águas de lençóis subterrâneos profundos. Na temporada das chuvas, essas grandes raízes facilitam a infiltração da água no solo, garantindo assim a recarga dos lençóis e aquíferos do Cerrado.
Para garantir a conservação de uma área com cobertura de mata nativa nas propriedades rurais, a chamada Reserva Legal, o Código Florestal de 2012 estabeleceu em seu Artigo 12 os percentuais mínimos de vegetação nativa a serem preservados em relação à área total dos imóveis. Nas áreas de Cerrado que ficam dentro da Região da Amazônia Legal, o que abrange a maior parte do Estado de Mato Grosso, no mínimo 35% da vegetação nativa de um imóvel rural precisa ser preservada. Em Mato Grosso do Sul, esse percentual é de 20% nas áreas do Cerrado. O Código Florestal também estabeleceu as regras para a preservação das faixas de mata ciliar nas margens dos rios.
É preciso que os órgãos ambientais fiscalizem com rigor o cumprimento dessas normas, pois a presença de mata nativa é fundamental para a manutenção contínua dos volumes de água para a planície pantaneira. Com o preço das commodities agrícolas nas alturas, como são os casos do milho e da soja, muitos produtores podem até resistir a ideia de perder parte de sua área de produção, mas é preciso conscientizá-los da importância do bioma Pantanal.
Apesar da imensa maioria dos críticos internacionais das políticas ambientais do Brasil falarem praticamente só da Floresta Amazônica, as grandes queimadas que atingiram o Pantanal Mato-grossense nesses últimos tempos ganharam enorme destaque nos meios de comunicação e poderão se transformar em um novo foco de dor de cabeça para todos os brasileiros, prejudicando principalmente os próprios produtores agrícolas – muitos países estudam impor barreiras à importação de produtos agrícolas brasileiros.
Graças ao seu imenso território, ótimas terras, clima quente e grande abundância de recursos hídricos, o Brasil tem uma vocação natural para o agronegócio. Porém, é fundamental que se faça isso com um olho nas plantações e outro na preservação de importantes biomas como o Pantanal Mato-Grossense e a Floresta Amazônica.
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