MAIS DE 4 MILHÕES DE HECTARES DE FLORESTAS JÁ FORAM DESTRUÍDOS POR INCENDIOS FLORESTAIS NA RÚSSIA EM 2021

De acordo com dados do MAAP – Projeto de Monitorização da Amazônia Andina, na sigla em inglês, divulgados no mês de abril deste ano, a Floresta Amazônica perdeu 2,3 milhões de hectares de vegetação em 2020, cerca de 17% a mais que em 2019. Esse projeto é uma iniciativa da Amazon Conservation, uma organização não governamental que monitora a situação da floresta na Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana Francesa, Guiana, Suriname e Venezuela.  

Em sucessivas postagens aqui no blog tratamos dessa lamentável destruição da cobertura florestal da maior e melhor conservada floresta tropical do mundo e também falamos de alternativas para o desenvolvimento sustentável da região. Entretanto, sempre afirmamos que a Amazônia não está sozinha nesse “processo” de destruição – outros importantes sistemas florestais em todo o mundo estão sofrendo agressões ainda maiores, porém sem a mesma repercussão que é dada a Amazônia. 

Um dos casos mais preocupantes é o da taiga, especialmente no território da Rússia. A taiga, também chamada de Floresta Boreal ou Floresta de Coníferas, é a maior floresta do planeta Terra, ocupando uma área total de 15 milhões de km². Isso é praticamente 3 vezes o tamanho da Floresta Amazônica

A taiga circunda toda uma faixa de terras do planeta no Hemisfério Norte entre os paralelos 40 e 70 graus. A floresta engloba terras na Escócia, Noruega, Suécia, Finlândia, Rússia, Cazaquistão, Coreia e Norte do Japão. A taiga prossegue do outro lado do Estreito de Bering no Alasca, região que pertence aos Estados Unidos, no Canadá e chega até na Groenlândia, ilha autônoma que pertence à Dinamarca e que possui alguns bosques pequenos dessa vegetação. As principais espécies dessa floresta são pinheiros, piceas, bétulas e lariços.   

Vamos aos fatos: de acordo com informações divulgadas pela agencia federal de vigilância de florestas da Rússia no último dia 10 de agosto, os incêndios florestais já destruíram cerca de 4 milhões de hectares de vegetação no país em 2021. As maiores extensões de áreas queimadas ficam na República de Sakha, no Extremo Leste da Rússia. Observem que estamos falando de uma área devastada por incêndios florestais 75% maior do que tudo o que foi destruído na Floresta Amazônica em 2020. 

Diferentemente do que acontece com a suposta devastação ou “queima” da Floresta Amazônica, líderes mundiais, ambientalistas, artistas e outras celebridades internacionais não estão se descabelando em protestos pela devastação da taiga. Citando como exemplo o Presidente da França, Emmanuel Macron, que em 2019 chegou a ameaçar o Brasil com ataques nucleares em defesa da Amazônia, dessa vez sequer ousou elevar o tom de voz com Vladimir Putin, o todo poderoso líder russo. 

Na região de Sakha, as chamas já consumiram 3,9 milhões de hectares em 2021 – entretanto, os trabalhos de combate aos incêndios se estenderam a apenas 1,44 milhões de hectares. Essa aparente incoerência dos russos se deve a questões legais – de acordo com a legislação local, quando não existem riscos a moradores e também a infraestruturas econômicas, ou ainda quando os custos de combate ao fogo superam os prejuízos econômicos, essas atividades podem ser suspensas. Ou seja, é mais barato para a Rússia deixar as florestas arderem descontroladamente (e o aquecimento global que se dane). 

A situação das florestas na Rússia é tão crítica que imagens de um satélite da NASA – Administração de Aeronáutica e Espaço dos Estados Unidos, na sigla em inglês, captaram fumaça das queimadas no Polo Norte no dia 7 de agosto. Essa foi a primeira vez na história que um evento desse tipo foi registrado. 

De acordo com especialistas em meteorologia e ambientalistas do país, grande parte da responsabilidade pela ocorrência desses incêndios pode ser creditada ao aquecimento global. Conforme comentamos em postagens anteriores, as temperaturas no Ártico russo vêm aumentando muito ao longo dos últimos anos. Um exemplo foi o que aconteceu na cidade de Verkhoyansk, na Sibéria, em junho de 2020 – os termômetros chegaram a marcar uma temperatura de 38º C. 

Com temperaturas mais altas, os solos de permafrost (um neologismo para solos permanentemente congelados em inglês) estão passando por um processo de derretimento da água congelada, um elemento que tornava esses solos extremamente duros. As raízes das árvores da taiga, que ao longo de seu processo evolutivo desenvolveram sistemas de raízes curtas, perdem a estabilidade e milhares de árvores caem todos os anos. Os troncos dessas árvores mortas formam um poderoso combustível a ser queimado nos grandes incêndios florestais.  

Um lado pouco comentado do aumento das temperaturas em grande parte do território russo é a iminente ampliação das terras agricultáveis no país. Durante séculos, o clima extremo e os solos duros do permafrost funcionaram como inibidores aos avanços das frentes agrícolas rumo ao Norte. Um exemplo desse provável avanço foi a colheita de 1,1 milhão de toneladas de soja numa área Central da Rússia em 2019. Pesquisadores de dois institutos de agronomia do país desenvolveram uma variedade do grão adaptada as condições climáticas e aos solos onde o permafrost descongelou. 

É provável que uma parte desses incêndios florestais na Rússia tenha origem em ações criminosas, onde os responsáveis já estejam planejando reivindicar no futuro novas áreas para a formação de campos agrícolas, algo muito parecido com o que alguns agricultores da região Amazônica costumam fazer aqui em nossas terras. 

Existe muita gente pelo mundo a fora que está de olho em nossa Amazônia, mas que sempre “olham para o outro lado” quando outras florestas como a taiga ardem em violentos incêndios florestais.

Deixe um comentário