Ao longo de várias postagens consecutivas, apresentamos aspectos gerais da Serra do Espinhaço, uma imponente formação geológica que se estende por mais de 1.000 km, desde de Ouro Branco, no Estado de Minas Gerais, até a grande região de Morro do Chapéu, no interior da Bahia. A formação é dividida em vários trechos, que recebem nomes como Serra de Deus-te-livre ou Serra de Ouro Branco, Serra do Cipó, Serra dos Cristais, Serra Geral ou, simplesmente, Chapada Diamantina. Para muitos especialistas, a formação geológica é na verdade uma cordilheira, a Cordilheira Brasileira.
Para nós da área dos recursos hídricos, a Serra do Espinhaço, de uma ponta até a outra, é uma sucessão de “caixas d’água” – suas rochas de origem sedimentar e seus solos porosos armazenam grandes volumes das águas das chuvas, que afloram em milhares de nascentes e olhos d’água por todos os lados, formando riachos, rios, cachoeiras, corredeiras e piscinas naturais de todos os tipos. Em muitos locais, como no interior da Bahia, essa fartura de água forma verdadeiros oásis verdejantes no meio dos sertões da Caatinga, como no caso das formações da Chapada Diamantina.
Além dos aspectos naturais, a Serra do Espinhaço ainda guarda surpresas ligadas à longa ocupação humana em seus domínios – entre as cidades de Diamantina e Ouro Preto existe um interessante caminho histórico criado ainda nos tempos do domínio Colonial – a Estrada Real dos Diamantes. Com cerca de 290 km de extensão, essa Estrada foi construída com o objetivo de permitir o transporte seguro e controlado dos diamantes e do ouro garimpados no Distrito Diamantino até a antiga cidade de Ouro Preto, um dos mais importantes pólos de mineração no período conhecido como Ciclo do Ouro. Dali, os carregamentos seguiam para Parati, no chamado Caminho Velho, e para a cidade do Rio de Janeiro, no chamado Caminho Novo.
O Distrito Diamantino era tão estratégico para a Coroa Portuguesa na época que acabou sendo transformado em uma área de segurança fechada, com acesso controlado por tropas militares. Às autoridades do Governo Geral da Colônia cabia o direito de cobrar o Quinto, um imposto correspondente a 20% do valor do ouro e dos diamantes, além de garantir o monopólio do transporte, fundição (no caso do ouro) e comercialização. A construção das Estradas Reais era uma estratégia dos Governantes para evitar o “descaminho” desses bens minerais, ou seja, o transporte por trilhas e caminhos alternativos para se fugir do rígido controle da Coroa Portuguesa.
A Estrada Real dos Diamantes, assim como outros desses importantes caminhos, sobreviveu ao tempo e é hoje uma importante atração turística de Minas Gerais, que segue paralela a Serra do Espinhaço por um longo trecho. Grupos de turistas e aventureiros, seguindo a pé, de bicicleta, de motocicleta, em veículos 4 x 4, ou até a cavalo, se embrenham por esse magnífico caminho nos sertões de Minas Gerais em busca de belezas naturais, arquitetura colonial e vestígios arqueológicos, cultura, folclore e boa comida.
Cerca de 2/3 da Estrada Real dos Diamantes é formado por caminhos de terra atravessando áreas pouco habitadas, característica que exige um bom planejamento logístico de qualquer aventureiro – comida, água, kits para emergências médicas, mapas, aparelhos GPS (Posicionamento Global por Satélite), gasolina extra, entre outras providências. Os entendidos no assunto recomendam fazer a travessia somente em grupo e nunca tentar seguir pelas trilhas à noite.
Alguns trechos da antiga Estrada foram incorporados por rodovias asfaltadas que, apesar de oferecer maior conforto devido ao nivelamento do piso, requerem atenção redobrado por causa do tráfego simultâneo de carros e caminhões. No trecho de 11 km da rodovia que separa as cidades de Mariana e Ouro Preto, a cautela precisa ser ainda maior – a pista é estreita, cheia de curvas e muito movimentada.
Existem algumas regiões onde há forte atividade de mineração, com tráfego intenso de caminhões, o que também deve exigir grande cautela ao trafegar. Esses locais permitem que o viajante perceba claramente os danos que as atividades mineradoras causam ao meio ambiente, especialmente em áreas de relevo acidentado das Serras.
O Instituto Estrada Real, uma entidade sem fins lucrativos mantida por parcerias com empresas da iniciativa privada, realizou um importante trabalho de sinalização de todos os trechos da Estrada Real, inclusive no Caminho dos Diamantes. A cada 2 km, um marco de concreto com o símbolo da Estrada Real indica que o viajante está no caminho correto (vide foto). Com um detalhe interessante – se o marco estiver no lado direito da Estrada, o viajante deve manter a direção à direita; se estiver na esquerda, ele deve virar à esquerda. Funcionários do Instituto percorrem frequentemente os trechos dos 1.660 km das Estradas Reais fazendo a manutenção desses marcos.
Para incentivar ainda mais o turismo, o Instituto Estrada Real criou o Passaporte Estrada Real, que é gratuito e individual. O interessado faz um cadastro no site da instituição, recebe um número de registro via email. Esse número deve ser apresentado num dos postos de retirada, momento em que o viajante deve entregar 1 kg de alimento não perecível ou um agasalho, que serão doados para as famílias carentes da região. Com o Passaporte em mãos, o viajante receberá carimbos nos Postos de Carimbo das cidades visitadas e poderá ganhar um certificado digital emitido pelo Instituto Estrada Real. A ideal segue o padrão usado por alguns caminhos religiosos como o de Santiago de Compostela, entre a França e a Espanha.
Fica essa dica cultural para todos – um verdadeiro curso de educação ambiental ao longo da Serra do Espinhaço, com muita aventura, cultura e boa culinária, que poderá lhe render um certificado digital no final.
Vamo bora lá!
[…] o foi por causa da maciça presença de índios aymorés nas suas margens. O rio São Francisco e a Estrada Real, também chamada de Caminho do Ouro, que vai de Minas Gerais até o Estado do Rio de Janeiro, se […]
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