Ao longo de muitos milênios, os sistemas naturais foram se adaptando aos inevitáveis e periódicos ciclos de chuvas: canaletas naturais de escoamento foram escavadas por erosão nas faces de serras e montanhas, leitos de córregos e rios criaram áreas de várzeas para comportar o excedente de águas das cheias dos rios, pedras e gargantas em rios montanhosos foram moldadas para reter e reduzir a velocidade dos excedentes de água, os diferentes tipos de vegetação se adaptaram para armazenar parte da água da chuva e suas raízes se adaptaram para uma forte fixação no solo e evitar o arrastro com a enxurrada. As matas ciliares nas bordas dos rios se especializaram na retenção de galhos, toras e demais particulados, de forma a evitar o entulhamento da calha e futuras enchentes. O próprio solo desenvolveu diferentes tipos de permeabilidade, absorvendo volumes consideráveis de água de chuva (até 50% da água da chuva pode ser absorvida pelo solo) e assim reduzindo os volumes de água que correm desesperadamente a procura das partes baixas dos terrenos – são sistemas em equilíbrio. Na natureza há um alongamento do tempo de drenagem das águas da chuva e as cheias dos corpos d’água são controladas e acontecem sem maiores danos ao ambiente natural local.
Os diferentes tipos de intervenção humana nos meios naturais interferem com esse delicado equilíbrio natural, produzindo distorções na dinâmica das águas pluviais. Na agricultura, a remoção de grandes extensões de cobertura vegetal para a formação das culturas resulta em alterações nos volumes de absorção de água pelo solo e formação de grandes correntes de água: sem a proteção da vegetação que reduz a velocidade da correnteza, grandes volumes de solo agricultável são arrastados para os leitos dos rios, deixando um rastro de erosões e voçorocas pelo caminho. O assoreamento dos rios reduzirá cada vez mais a capacidade da sua calha em receber futuros excedentes de águas de chuva – a água avançará cada vez mais na direção das bordas das margens e produzirá cada vez maiores assoreamentos neste rio. Cria-se uma continuidade de problemas que crescem cada vez mais.
Nas cidades, o crescimento desenfreado das construções interfere cada vez mais na dinâmica das chuvas:
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A ocupação cada vez maior de encostas de morros leva a remoção da cobertura vegetal e ao corte do solo para a construção de habitações. Períodos de chuva mais intensos saturam o solo com água, o que pode provocar sérios desmoronamentos, com alto risco para os moradores;
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A impermeabilização do solo resultante da aplicação de imensas faixas de asfalto nas ruas, concretagem de calçadas e quintais, reduz drasticamente a absorção de água pelo solo e provoca a formação de fortes enxurradas, com enorme potencial de inundações;
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Construções ocupam grandes extensões de solo e concentram nos seus telhados grandes volumes de água que descem velozmente por sistemas de calhas e se somam as volumosas enxurradas do solo;
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Áreas de várzea, que originalmente absorviam os excedentes de águas nos períodos de chuva, foram aterradas para permitir o aumento da área disponível para as construções;
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Margens de rios e córregos foram retificadas e urbanizadas, diminuindo a área de recepção das águas excedentes e, em muitos casos, diminuindo a velocidade da correnteza do curso d’água, e aumentando assim o tempo de drenagem das águas da chuva.
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Restaram nas áreas urbanas poucas áreas verdes e remanescentes florestais com grande capacidade de absorção de água nos seus solos e pela vegetação.
As consequências dessa somatória de interferências humanas no meio ambiente urbano são enchentes cada vez maiores e mais frequentes nas cidades, deslizamentos de encostas de morros, prejuízos econômicos enormes e, tristemente, danos algumas vezes irreparáveis na saúde de populações inteiras, inclusive com situações de invalidez permanente ou morte dos mais desafortunados.
[…] acordo com declarações de autoridades locais, divulgadas pelos meios de comunicação, as fortes chuvas de Verão, como sempre, são as culpadas pelas muitas tragédias. Posso até estar enganado, mas não lembro […]
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[…] e por resíduos descartados de forma irresponsável nas vias públicas das cidades. Basta cair uma chuva mais forte para que todos estes resíduos acabem sendo arrastados pelas enxurradas na direção das […]
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[…] de história, nós brasileiros ainda não conseguimos adaptar nossas cidades para conviver com as chuvas de verão – entra ano e sai ano e as enchentes, alagamentos e desabamentos de encostas se repetem. […]
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[…] meses de chuvas em boa parte do país, a tendência será de aumento nos casos de deslizamentos de morros e de […]
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[…] tamanha previsibilidade desse período de chuvas e, previsivelmente, das consequências e problemas que essas chuvas vão provocar nas áreas […]
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[…] de Minas Gerais) e a parte mais ao Sul da região Centro-Oeste, isso significa muito calor e fortes chuvas; nas outras regiões, também muito calor e […]
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[…] Todo verão apresenta sempre um mesmo roteiro – muito calor, muitas chuvas e, por fim, enchentes, desmoronamentos de morros, gente desabrigada e, desgraçadamente, muitas vítimas fatais. Desde 2016, quando iniciamos as publicações aqui no blog, foram muitos os relatos dessas tragédias anunciadas de verão. […]
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[…] relevante, vamos publicar uma sequência de postagens falando de chuvas, enchentes e todos os problemas que são criados em nossas vidas quando chega o verão (ou o inverno, conforme a região) e sua forte temporada de […]
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[…] em sistemas de drenagem de águas pluviais e em outras obras de prevenção a enchentes. A temporada de chuvas se repete ano após […]
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