Pode-se definir a “eucaliptização” como o processo de plantação massiva de eucaliptos em uma região, substituindo todas as demais atividades produtivas. É um neologismo – uma palavra nova que ainda não existe nos dicionários, mas de incrível precisão para definir a expansão desta cultura em algumas regiões aqui no Brasil e em outros países.
Em tese, a introdução de uma plantação de eucaliptos em uma área já desmatada pela agricultura é benéfica para o meio ambiente: a floresta vai funcionar como um caminho de ligação entre os fragmentos florestais remanescentes, permitindo o transito de animais dispersores de sementes – comunidades de animais e de plantas isolados correm maiores riscos de extinção; florestas em crescimento absorvem grandes quantidades de carbono da atmosfera, ajudando a reduzir a poluição atmosférica e a cobertura vegetal ajuda a proteger o solo da erosão. Esses são alguns dos argumentos usados para justificar a expansão de florestas de eucaliptos em diversos Estados brasileiros. Porém, passados certos limites, essas florestas artificiais assumem o caráter de monocultura, trazendo em sua esteira toda uma série de problemas sociais e ambientais muito conhecidos em nossa história.
Um exemplo dos problemas causados pela expansão descontrolada da cultura do eucalipto pode ser facilmente observado no norte do Estado do Espírito Santo, onde a cultura começou em meados da década de 1960. O governo militar que dirigia o país na época criou diversas políticas para o desenvolvimento florestal, fornecendo vultosos subsídios para que grandes grupos empresariais investissem na produção de papel e celulose. Os Estados também passaram a oferecer uma série de isenções fiscais e a implantar obras de infraestrutura como forma de atrair esses investimentos, com destaque para os Estados do Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia e Pará.
No norte do Espírito Santo surgiram diversos empreendimentos florestais para a implantação de grandes plantações de eucalipto. Agindo com extrema agressividade, grandes grupos empresariais passaram a adquirir grandes extensões de terras, inclusive pequenas propriedades rurais e áreas ocupadas por descendentes de quilombolas e comunidades indígenas – nesses casos, como as propriedades eram ocupadas sem que houvesse a comprovação da posse através de documentação, “surgiam” os verdadeiros proprietários com a documentação em mãos e em condições de vender as terras: os “invasores” eram expulsos das terras com respaldo da justiça. De acordo com relatório do PRD – Processo de Articulação e Diálogo entre Agências de Cooperação Ecumênicas Européias e Parceiros Brasileiros, as terras indígenas desta lista simplesmente desapareceram do norte do Espírito Santo ocupadas pelas plantações de eucaliptos: Amarelo, Olho d’Água, Guaxindiba, Porto da Lancha, Cantagalo, Araribá, Braço Morto, Areal, Sauê, Gimuhuna, Piranema, Potiri, Sahy Pequeno, Batinga, Santa Joana, Morcego, Garoupas, Rio da Minhoca, Morobá, Rio da Prata, Ambu, Lagoa Suruaca, Cavalhinho, Sauaçu, Concheira, Rio Quartel, São Bento, Laginha, Baiacu, Peixe Verde, Jurumim e Destacamento. Expulsos de suas terras ancestrais, esses indígenas e quilombolas se refugiaram em outras comunidades distantes ou simplesmente migraram para as periferias das grandes cidades, passando por um processo de aculturamento forçado.
Comunidades que resistiram inicialmente ao avanço das florestas artificiais, passaram a sofrer os impactos ambientais dessa cultura, especialmente com a redução da oferta de água nos rios e córregos da região – florestas de eucalipto em crescimento consomem grandes volumes de água: inúmeros riachos secaram e a produção agrícola de subsistência simplesmente ficou inviável. Em algumas comunidades, os moradores chegaram a ficar sem acesso a lenha para cozinhar – moradores da região relatam que foram presos e acusados de roubo por seguranças das plantações ao coletarem restos de madeira (galhos caídos) dentro de “propriedades privadas”.
A antiga biodiversidade da Mata Atlântica que existia na região também sofreu fortemente sob o impacto da monocultura – antigos remanescentes florestais e matas ciliares foram substituídos por plantações de eucaliptos, reduzindo e isolando os habitats de inúmeras espécies animais nativos, muitos em eminente risco de extinção.
Esse é um resumo do resumo dos impactos econômicos, sociais e ambientais produzidos pela monocultura do eucalipto para que você pare e reflita sobre os problemas que cercam a produção do papel.
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