AS CHUVAS E OS DESLIZAMENTOS EM ENCOSTAS DE MORROS

Niterói

O fim de semana foi de bastante angústia e ansiedade em Niterói, cidade vizinha ao Rio de Janeiro: na madrugada deste último sábado, dia 10 de novembro de 2018, um grande deslizamento de terra no Morro da Boa Esperança, próximo da famosa Praia de Piratininga, derrubou e soterrou diversas casas. Até o encerramento das buscas por vítimas na manhã deste domingo, 14 mortes foram confirmadas e, pelo menos 11 feridos foram levados para unidades médicas da cidade. A causa da tragédia foram as fortes chuvas, que desde de meados da última semana colocaram diversas localidades da Região Metropolitana do Rio de Janeiro em estado de atenção. 

De acordo com as informações disponíveis, uma grande rocha se deslocou por causa do excesso de água no solo e rolou morro abaixo, levando junto muita terra e diversas casas. O prefeito da cidade rapidamente se adiantou e afirmou que a região não apresentava nenhum risco geológico – sua fala, porém, não trouxe justificativas para a presença da comunidade em uma área inadequada para ocupação por residências. Na mesma linha, o Governador eleito do Estado do Rio de Janeiro afirmou que a construção de casas populares e a remoção de comunidades de áreas de encostas serão prioridade absoluta em seu Governo. Que sejam verdadeiras as promessas.

A tragédia, assustadoramente previsível, traz lembranças traumáticas de um outro grande deslizamento de terra em Niterói, ocorrido em 2010. Naquela ocasião, as fortes chuvas provocaram o escorregamento da encosta do Morro do Bumba, no bairro Vistoso Jardim, causando a morte de 46 pessoas. A origem do problema está no crescimento desordenado das cidades e a falta de políticas públicas continuadas de construção de casas populares. Sem maiores condições de acesso a essas moradias, as populações pobres ocupam os morros das cidades com as famosas “comunidades” (o tradicional termo favela não é considerado politicamente correto atualmente). 

A remoção das matas das encostas, o corte dos terrenos para a formação dos taludes e as técnicas construtivas e os materiais inadequados usados na construção das casas completam o quadro – uma temporada de chuvas mais forte pode fazer toda uma face de um morro escorregar, levando junto casas e muitas vidas. 

As fortes chuvas também têm causado fortes estragos na região do Vales do Paraíba, no Leste do Estado de São Paulo. Áreas de encostas às margens da Rodovia dos Tamoios, que liga a região ao Litoral Norte do Estado, não estão resistindo às fortes chuvas. Cerca de 20 deslizamentos de terra, árvores e pedras, especialmente entre os km 69 e 80 provocaram a interdição total da rodovia. Depois de mais de 90 horas de interdição e de trabalhos intensos para a remoção dos escombros, a Rodovia foi liberada na tarde desse domingo. 

Outra estrada na mesma região, a Rodovia Oswaldo Cruz, também acabou interditada pela queda de barreiras e bloqueios das pistas. Nas duas rodovias, os deslizamentos de encostas ocorreram no trecho da Serra do Mar, região propensa a acidentes deste tipo nos períodos de chuva forte. A alternativa para os motoristas durante o período da interdição foi desviar para a rodovia Mogi-Bertioga, que permite acesso ao Litoral Norte de São Paulo, ou acessar a região da Baixada Santista a partir das Rodovias do Sistema Anchieta-Imigrantes e seguir pelo Rodovia Rio-Santos em direção ao Litoral Norte.  

Regiões serranas dos Estados de Minas Gerais e do Rio de Janeiro também estão em estado de alerta. Com a chuvas que vem caindo por toda essa extensa região, os solos estão saturados de água e há riscos de deslizamentos em vários pontos. Esses riscos aumentam significativamente em áreas “urbanizadas” e também nas regiões rurais onde a vegetação nativa foi derrubada para a formação de pastagens e campos agrícolas. 

Infelizmente, nestes meses de chuvas em boa parte do país, a tendência será de aumento nos casos de deslizamentos de morros e de encostas nas cidades e em muitas áreas rurais. Nas cidades, as áreas de morros normalmente são desprezadas e/ou desvalorizadas, o que sempre as tornam alvos de invasões e ocupações por populações de baixa renda. Essa é uma realidade não só das cidades de grandes Regiões Metropolitanas como a de São Paulo e do Rio de Janeiro, mas também das cidades grandes e médias de muitos outros Estados. 

Em áreas interioranas, a natureza cobra seu preço pelos muitos anos de destruição e desmatamentos em áreas de topos de morros, regiões críticas que merecem ter prioridade absoluta na sua conservação e recuperação. Nas rodovias em áreas de serra, grande parte dos problemas se deve a técnicas inadequadas de construção, onde serão necessário grandes investimentos na construção de muros de arrimo e obras para drenagem e escoamento das águas da chuva, o que poderá minimizar muito os riscos de acidentes. 

Como já comentamos inúmeras vezes em nossas postagens, as temporadas de chuvas são absolutamente previsíveis em um país de clima, predominantemente, equatorial e tropical como o Brasil. A menos que fortes alterações climáticas venham a ocorrer no planeta no curto e no médio prazo, precisaremos dotar nossas cidades e rodovias de melhor infraestrutura para o controle das águas pluviais, o que precisa incluir, necessariamente, soluções habitacionais para as populações urbanas de baixa renda e a recuperação ambiental das encostas de morros. 

Sem essas medidas, assistiremos à repetição de tragédias como a do Morro da Boa Esperança em Niterói e das Rodovias paulistas, felizmente sem vítimas dessa vez, a cada nova temporada de chuvas 

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