A histeria criada nos meios de comunicação mundo a fora em meses recentes, quando os incêndios florestais ameaçavam “transformar a Amazônia em cinzas”, voltaram a levantar as discussões sobre os grandes impactos ambientais da criação de bois e vacas para a produção de carne e leite para consumo humano. Muitos grupos ambientalistas e de defesa dos animais passaram a veicular “notícias” dos mais diferentes tipos, dando conta que esses incêndios visavam a criação de pastagens para a criação de gado na região Amazônica, o que, em parte, não deixa de ser uma verdade.
Esse tipo de notícia veio se somar ao crescimento do consumo de carne bovina em muitos países como a China, a África do Sul e até mesmo na “vegetariana” Índia. O desenvolvimento econômico nesses e em muitos outros países têm permitido que parcelas maiores das suas populações tenham acesso a uma alimentação mais diversificada, onde se inclui um consumo maior de carne bovina.
Se qualquer um de vocês fizer uma rápida pesquisa na internet, com certeza encontrará dezenas de “artigos científicos” falando dos grandes impactos da criação de bois e vacas ao meio ambiente – da destruição de florestas para a abertura de novas pastagens, como foram os casos de notícias associadas aos incêndios na Amazônia, o consumo excessivo de água pelos animais e a liberação de grandes volumes de gases de efeito estufa. Isso tem sim um fundo de verdade e já tratamos do tema em diversas postagens aqui no blog, falando principalmente das boiadas na Caatinga Nordestina e nos Pampas Gaúchos.
Agora, uma informação que vai surpreender muita gente – os animais que causam os maiores impactos ao meio ambiente não são os bovinos, que têm rebanhos estimados em 2 bilhões de animais em todo o mundo. O grande vilão invasor do mundo animal e causador de gravíssimos problemas à fauna silvestre são os fofos e simpáticos gatos domésticos, que costumamos chamar carinhosamente de bichanos.
Os gatos ocupam o segundo lugar entre os bichos de estimação mais populares entre os humanos (em alguns países já estão na primeira posição) e, em virtude da urbanização cada vez maior, eles vêm ocupando cada vez mais o espaço dos cachorros. A domesticação dos gatos começou há cerca de 10 mil anos, mesmo período em que teve início a agricultura e a formação das primeiras cidades. As estimativas falam de mais de 600 milhões de gatos domésticos em todo o mundo nos dias atuais.
Na semana passada foram divulgadas notícias preocupantes falando dos grandes impactos ambientais criados pelos gatos na Austrália – como os incêndios florestais estão começando a ser debelados, inclusive com a chegada das chuvas em algumas regiões do país, milhares de animais que conseguiram sobreviver ao fogo e à falta de água agora estão sendo perseguidos e mortos por gatos “selvagens”. Esses gatos, que abandonaram seus ambientes domésticos e passaram a viver nas matas, estão atacando e matando animais debilitados que sobreviveram à destruição de seus habitats. São aves, pequenos mamíferos, répteis e anfíbios.
Assim como diversas outras espécies animais, os gatos não são nativos da Austrália. Juntamente com ovelhas, vacas, cavalos, lebres, cachorros e uma infinidade de outras espécies, os gatos chegaram ao continente australiano na “bagagem” dos primeiros colonizadores. E como aconteceu em outras partes do mundo, muitos desses gatos abandonaram o ambiente doméstico e passaram a se aventurar nas florestas australianas. Encontrando fartura de alimentos, esses gatos se reproduziram sem controle e se transformaram em uma verdadeira praga ambiental.
Especialistas afirmam que esses animais ocupam apenas 0,2% do território do país, mas já são contados aos milhões. Desde de 2015, a Austrália trabalha com uma meta para eliminar, pelo menos, 2 milhões de gatos “selvagens”. Os pesquisadores observaram que bandos de gatos chegam a percorrer até 30 quilômetros em busca de áreas recém destruídas pelo fogo e onde podem “caçar” centenas de animais debilitados. Além gatos, a Austrália sofre com diversas outras espécies invasoras como os dromedários, as lebres, os sapos-cururu, entre muitas outras.
Um grupo de cientistas australianos acompanhou um grupo de 13 desses gatos por um período de 50 dias em uma área recém queimada no Sudeste do país. Em 101 eventos de caça observados, esses gatos tiveram uma taxa de sucesso média de mais de 32% – nas áreas abertas das savanas, esses gatos obtiveram as melhores taxa de êxito, onde conseguiram abater as vítimas em 70% dos ataques. Os gatos abateram uma média de 7,2 vítimas a cada 24 horas. Em 25% dos casos documentados, os gatos sequer comeram as presas abatidas.
Em diversas partes do mundo, os bichanos também representam um enorme problema ambiental. Nos Estados Unidos existem estudos que afirmam que os gatos matam cerca de 3,7 bilhões de aves e 20,7 bilhões de mamíferos a cada ano, sem que se inclua na conta as mortes de répteis e anfíbios. Um estudo feito na Ilha Marion, na África do Sul, na década de 1970, indicou que os gatos matavam cerca de 455 mil aves marinhas a cada ano. Um estudo semelhante, feito na ilha francesa de Kerguelen na mesma época, mostrou que 1,2 milhão de aves marinhas eram mortas a cada ano por gatos.
Ambientes insulares, aliás, são os que mais sofrem com os impactos criados por espécies invasoras. Aqui no Brasil um exemplo é Fernando de Noronha, um verdadeiro paraíso tropical pertencente ao Estado de Pernambuco. A população humana no Arquipélago oscila entre 4.500 e 6.000 mil habitantes – já a população de felinos é calculada em mais de 1.300 animais, uma das maiores densidades demográficas de gatos por quilômetro quadrado do mundo. A maior parte desses gatos vive em estado selvagem nas matas das principais ilhas.
Essa verdadeira “multidão de gatos” se junta a um grupo de outras espécies invasoras – a garça-vaqueira (Bulbucus ibis), o lagarto teiú (Salvator merianae), lagartixas (Hemidactylus mabouia), o sapo-boi (Rhinella jimmi), pererecas (Scinaxsp.), ratos (Rattus rattus e Rattus norvegicus) e camundongos (Mus musculus). Juntos, esses animais exóticos estão ameçando a sobrevivência de inúmeras espécies nativas do Arquipélago.
Um dos petiscos prediletos dos gatos noronhenses é a mabuia (Trachelepys atlantica), um pequeno lagarto endêmico de Fernando de Noronha. Também fazem parte do cardápio dos gatos algumas espécies de aves: o sebito (Vireo gracilirostris) e a cocoruta (Elaenia ridleyana), duas espécies endêmicas do Arquipélago. O rabo-de-junco-de-bico-laranja (Phaeton lepturus), o atobá-de-pés-vermelhos (Sula sula) e a noivinha (Gygis alba), espécies de aves marinhas também encontradas em outras ilhas do Oceano Atlântico Sul, entram na lista de presas. Os gatos atacam os ninhos e se esbaldam com os ovos e filhotes.
Diferente de operações de desratização, onde venenos letais são usados para matar os odiados ratos, ações de “desgatização” (essa palavra é um provável neologismo) são polêmicas e complicadas – seres humanos gostam da convivência com os simpáticos gatos e não aceitam facilmente a “eliminação” desses animais em grandes quantidades como “ferramenta” de controle ambiental. Já os rebeldes gatos, que não tem a fidelidade dos cães e que nunca perderam totalmente o seu espírito selvagem, vão continuar abandonado suas casas e redescobrindo os prazeres da vida no meio da natureza. E mesmo quando continuam contando com casa e comida, muitos desses gatos resolvem se aventurar numa mata próxima e, eventualmente, voltam para casa carregando algum animal caçado em parques e outras áreas verdes das cidades (vide foto).
Ao contrário de muitas espécies animais que correm sérios riscos de extinção, as populações de gatos não param de crescer e, muito pior: dizem que os “gatos têm 7 vidas”…
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