AS EMISSÕES DE GASES DE EFEITO ESTUFA POR BOIS, PORCOS, OVELHAS E OUTROS ANIMAIS CRIADOS PELA HUMANIDADE

Ovelhas na Nova Zelândia

Na última postagem falei rapidamente do crescimento do consumo de carne, especialmente bovina, nos países em desenvolvimento. A prosperidade econômica vivida por países como a China, Índia e África do Sul tem melhorado as condições de vida de parcelas importantes das populações. Um dos reflexos mais visíveis dessa prosperidade se vê na alimentação das famílias, que cada vez mais estão tendo acesso às proteínas de origem animal. Esse aumento no consumo, é claro, provoca esforços dos criadores para o aumento da produção de animais para o abate, atendendo assim o aumento da demanda. 

Essa boa notícia do lado das populações mais pobres, que estão comendo alimentos melhores e em maior quantidade, causa uma série de preocupações “mundiais” – a pecuária, a ovinocultura, a suinocultura, a avicultura, entre outras atividades ligadas à criação de animais para alimentação humana, produzem gases de efeito estufa, que se acumulam na atmosfera e contribuem para o aquecimento global. Conforme comentado na postagem anterior, existem vários movimentos “ambientalistas” que pregam a redução do consumo de carne como uma forma de se reduzir a emissão desses gases. 

Há um detalhe interessante na emissão de gases de efeito estufa por essas criações – além dos problemas ligados aos desmatamentos de áreas florestais para a formação de pastagens em muitos países, como  é o caso da Amazônia aqui no Brasil, e para o plantio de grãos como o milho e a soja que serão usados para a produção de ração, os próprios animais são fontes desses gases. O processo de digestão dos alimentos destes animais produz grandes quantidades de gases como o metano, que são eliminados através de arrotos e flatulências

De acordo com um estudo patrocinado pela NASA – Agência Espacial Norte-americana na sigla em inglês, e realizado pelo USDA – Serviço de Pesquisas Agrícolas dos Estados Unidos também na sigla em inglês, demonstrou que a flatulência e os arrotos desses animais são mais relevantes do que se imaginava no aquecimento global e são 11% maiores que as estimativas feitas no passado. O estudo foi publicado na revista Carbon Balance and Management

Um exemplo citado no estudo é a criação de bovinos – existem cerca de 1,5 bilhão de bois e vacas no mundo. Cada um desses animais libera entre 110 e 190 litros de gás metano a cada dia através de flatulências e arrotos. O metano é cerca de 30 vezes mais danoso que o dióxido de carbono (CO²). Apesar de existir uma quantidade muito maior de dióxido de carbono acumulada na atmosfera terrestre, os efeitos do metano como gás de efeito estufa são muito mais danosos. 

Além da emissão direta do metano pelos animais, suas fezes também são uma fonte importante desse gás. Quando comparados com informações de estudos anteriores, os novos dados indicam que houve um aumento de 8,4% nas emissões de metano gerado pela digestão do gado bovino (esses animais tem sua digestão associada a um processo conhecido como fermentação entérica) e de 36,7% nas emissões geradas pelo estrume. 

Outra espécie animal que é criada em grande quantidade para o fornecimento de carne são os suínos. Estimativas de 2018 falavam de um total de 781 milhões de suínos em todo o mundo, sendo que mais de 440 milhões viviam em criadouros na China. O segundo maior “rebanho” era encontrado na União Europeia, com um total de 150 milhões de animais. Logo em seguida, os Estados Unidos com perto de 74 milhões de animais. Aqui no Brasil, as estimativas falam de um total de 40 milhões de animais. 

Os gases emitidos pela suinocultura geram muito desconforto aos humanos por possuírem grandes concentrações de gás metano. Há séculos, criadores de porcos e moradores das cidades em todo o mundo se confrontam por causa do mal cheiro e dos dejetos dos animais; porém, os prazeres do consumo da carne suína e dos diversos tipos de frios e embutidos acabou por criar uma relativa tolerância e sempre se encontrou uma forma de convívio relativamente próximo desses animais. Além da emissão de gases, a suinocultura é uma das maiores geradoras de dejetos por unidade de área ocupada, produzindo em média de 5% a 8% em relação ao peso vivo dos animais.  

O Estado de Santa Catarina, maior produtor de suínos do Brasil com 30% do rebanho nacional, tem mais de 4,7 milhões de animais produzindo quase 50 milhões de litros de esgotos por dia. Há alguns anos atrás, várias cidades do Oeste catarinense enfrentaram uma grande crise de abastecimento de água. Essa crise não foi criada pela falta de água, mas sim pela grande quantidade de fezes de porcos que atingiam e poluiam as fontes de abastecimento. Essa crise só foi controlada com mudanças drásticas nos criadouros, onde foram incorporados sistemas para a coleta e o tratamento dos dejetos animais. 

Outro “rebanho” problemático são as ovelhas, que são abundantes em algumas regiões específicas. Na Nova Zelândia (vide foto), por exemplo, existem perto de 46 milhões de ovelhas e apenas 4 milhões de seres humanos. O rebanho bovino no país é estimado em 9 milhões de cabeças. De acordo com estudos de pesquisadores locais, as flatulências e os arrotos desses animais, juntamente com porcos, cabritos e veados, são responsáveis por 90% de todas as emissões de gases de efeito estufa do país. 

O Governo neozelandês vem estudando medidas para reduzir as suas emissões. Uma proposta para arrecadar fundos para as pesquisas desagradou em cheio os criadores locais: o Governo propôs um imposto a ser pago por cada animal criado. O imposto vai custar cerca de US$ 0,05 por ovelha por ano e US$ 0,42 por bovino também por ano. Aves, porcos e veados são isentos. Essa medida, é claro, desagradou muito os produtores rurais, que alegam que toda a população do país se beneficia com os ganhos da produção – a Nova Zelândia é um dos maiores exportadores mundiais de carne de ovinos. As discussões prosseguem. 

A domesticação de animais pelos seres humanos remonta há mais de 12 mil anos, quando teve início a agricultura e as populações passaram a viver de modo sedentário. Além dos animais citados, há uma infinidade de outros como as diversas espécies de aves domesticas, renas, camelos, lhamas, coelhos, búfalos, iaques (ou yak), cavalos, burros entre muitos outros. São centenas de milhões de animais, cada qual a seu próprio modo, produzindo grandes quantidades de gás metano a cada. 

Como fica bastante fácil de perceber, a questão da emissão de gases de efeito estufa e do aquecimento global são muito mais complexas do que muitos imaginam. A humanidade chegou a esse ponto através de uma história de muitos milhares de anos e não resolveremos os problemas somente com discursos de pessoas que se acham “iluminadas”. 

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