OS VIOLENTOS INCÊNDIOS FLORESTAIS NA AUSTRÁLIA E AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Incêndios Florestais na Austrália

Na última postagem comentamos sobre o mais recente relatório sobre os desmatamentos na Floresta Amazônica. De acordo com dados do INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, a Amazônia perdeu 9.762 km² de sua vegetação nativa, o que representa uma perda de 0,22% da sua área total. Esses desmatamentos são uma consequência do aumento das atividades econômicas na Região e, para desespero de muita gente, vão continuar a acontecer ao longo dos próximos anos. 

A demanda por alimentos, produtos e matérias-primas de origem agropecuária vai se manter em alta ainda por muito tempo, pressionando a expansão das fronteiras agrícolas do país na direção da Amazônia. Grupos empresariais da China estão fazendo pesados investimentos em infraestrutura e na compra de terras por todo o continente africano e, dentro de poucos anos, a África vai se transformar em uma grande potência agrícola com foco no abastecimento da China. Na minha modesta opinião, somente quando isso se consolidar daqui uns 15 ou 20 anos, é que vamos sentir a pressão sobre os recursos naturais da Amazônia diminuir. 

Infelizmente, não é só a Floresta Amazônica que vem sofrendo fortes agressões ambientais – nesse exato momento, grandes extensões de florestas na Austrália estão ardendo em grandes incêndios. Desde o mês de setembro, grandes incêndios vêm devastando grandes áreas de florestas nos Estados de New South Wales e Queensland, com uma ferocidade jamais vista no país. Segundo as estimativas oficiais, cerca de 1,6 milhão de hectares já foram atingidos pelo fogo

A Austrália, chamada por muitos de ilha-continente, é pouca coisa menor do que o Brasil – o país ocupa uma área de 7,7 milhões de km², exatamente 10% a menos do que o nosso território. Apesar da localização do país ocupar praticamente as mesmas latitudes das regiões Central e Sul do Brasil, o clima australiano é bem diferente do nosso – aliás, podemos afirmar que é praticamente o inverso. No Brasil, o clima Semiárido é encontrado em uma área relativamente pequena do interior da região Nordeste e no Norte do Estado de Minas Gerais – a maior parte do país tem clima Equatorial e Tropical; na região Sul, o clima é subtropical.  

Na Austrália, a maior parte do território tem climas Semiárido e Desértico; uma estreita faixa ao longo das costas do Sul e uma grande área no Sudeste do país têm um clima Mediterrâneo, que nada mais é do que um clima temperado. Pequenas faixas ao Sudoeste e Leste do continente tem um clima Subtropical e uma faixa no extremo Norte apresenta características Tropicais (clima quente com uma forte temporada de chuvas de Monção).  As áreas do país cobertas por florestas se concentram justamente nessas zonas de climas Mediterrâneo, Subtropical e Tropicais. 

De todos os continentes habitados do mundo, a Austrália é o mais seco. Para efeito de comparação, o Brasil possui 12% das reservas de água doce do mundo (lembrando que a maior parte dessas águas se encontram na Bacia Amazônica), com chuvas regulares na maior parte do território. A Austrália, ao contrário, detém apenas 1% das reservas mundiais de água doce. Grande parte do território australiano sofre com a falta de chuvas, que além de ocorrerem somente numa temporada específica, caem em volumes muito pequenos.

Como se não bastassem todos esses problemas, o país enfrentou uma fortíssima estiagem generalizada entre os anos 2000 e 2009. Neste ano de 2019, a temporada de chuvas ficou bem abaixo da média histórica e as altas temperaturas vêm batendo sucessivos recordes. Esse verdadeiro “caldeirão australiano” tem favorecido os incêndios florestais. 

Incêndios florestais são comuns na Austrália durante o verão, assim como o são no Cerrado brasileiro e nas Savanas africanas. Em alguns anos, entretanto, a intensidade desses incêndios é muito maior, como está sendo o caso desse ano, Além da falta de chuvas e das altas temperaturas, neste ano os ventos estão mais fortes na Austrália, o que vem agravando a propagação das chamas. Seis pessoas já morreram e cerca de 450 casas já foram destruídas. Existem, pelo menos, 140 focos de incêndio no país. 

As maiores e principais cidades do país estão tomadas por uma forte cortina de fumaça, o que vem causando diversos problemas respiratórios. O volume e a intensidade da fumaça dos incêndios na Austrália estão tão intensos que estão sendo percebidos aqui na América do Sul, a mais de 12 mil km de distância. Segundo dados do SMN – Serviço Meteorológico Nacional da Argentina, desde o último dia 14 de novembro, traços dessa fumaça estão sendo detectados no país. 

Além dos graves prejuízos às populações humanas das áreas rurais e urbanas, principalmente do Nordeste, Sul e Sudeste da Austrália, esses grandes incêndios florestais estão sendo devastadores para várias espécies animais, particularmente para os coalas, animal só encontrado nas florestas do país. Os coalas são marsupiais que parecem pequenos ursos de pelúcia e estão seriamente ameaçados de extinção. A dieta desse animal é constituída basicamente de folhas de eucalipto, espécie de árvore nativa da Austrália e que há várias décadas vem tendo suas florestas nativas derrubadas para a abertura de campos agrícolas – o país é um grande produtor de trigo e de cana-de-açúcar, além de abrigar importantes rebanhos de bovinos e ovinos. 

Centenas de coalas já morreram nos incêndios e outros tantos estão internados em hospitais veterinários com queimaduras graves e problemas respiratórios. Uma cena que correu o mundo nesses últimos dias mostra uma mulher salvando um coala que estava preso em meio as chamas (vide foto abaixo). A mulher correu para o meio do fogo, tirou a própria camisa e enrolou no animal assustado, que já apresentava diversas queimaduras no corpo. O animal está em recuperação em um hospital universitário. 

Coalas

Os serviços de meteorologia do país esperam a chegada de duas frentes frias entre os últimos dias desse mês de novembro e primeiros dias de dezembro, o que pode trazer algumas chuvas e um pouco de alívio para as regiões afetadas pelos incêndios florestais. Entretanto, como a temporada dos incêndios no país costuma ocorrer entre os meses de outubro e março, as autoridades da Austrália estão bastante pessimistas – o pior dos incêndios ainda pode estar por vir. 

Desde meados do século XIX, quando as observações meteorológicas passaram a ser rigorosamente anotadas e estudadas, o padrão climático da Austrália vem se mantendo constante, com a temporada das chuvas ocorrendo com bastante regularidade – a colonização e a ocupação do país foram baseadas nessa regularidade dos padrões climáticos. Nessas últimas três décadas, entretanto, vem ficando cada vez mais evidente que o clima do país vem mudando, o que muitos cientistas estão associando às mudanças climáticas globais. Entre os anos 2000 e 2009, a Austrália enfrentou uma fortíssima seca, chamada de Seca do Milênio, a temporada anual de chuvas tem ficado irregular e os incêndios florestais estão ficando mais intensos a cada ano que passa, problemas que vêm preocupando muito os dirigentes do país. 

Um país-continente que já é considerado o mais seco do mundo e que poderá ficar ainda mais seco – isso tem tirado o sono de muita gente. 

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