
Na postagem anterior falamos do reconhecimento do Oceano Antártico por parte da National Geografic Society. Até agora, os mares que circundam o continente gelado eram considerados como partes dos Oceanos Atlântico, Índico e Pacífico. Essa mudança conceitual será bastante útil nos processos educacionais. Falamos também de alguns dos problemas enfrentados pela Antártica (ou Antártida), especialmente do derretimento da capa ou manto de gelo por causa do aquecimento global.
Já que falamos desses problemas na Antártica, nada mais justo que falarmos de problemas semelhantes que estão acontecendo no Ártico.
Diferente da Antártica, que é um único grande bloco de terra (estudos recentes indicam que, na realidade, são três grandes ilhas) e gelo, o Ártico envolve partes de diferentes países: grande parte da Groenlândia, Norte do Canadá e do Estado norte-americano do Alasca, parte da Islândia, porção Norte da Noruega, além de uma extensa faixa do Norte da Rússia.
A palavra Ártico tem sua origem no grego árktikós, que significa “relativo a urso”. Já adianto que nada tem a ver com os ursos-polares, mas é uma referência as constelações da Ursa Maior e da Ursa Menor, sendo que nesta última encontramos a Estrela Polar ou Polaris.
Quanto à delimitação geográfica, existem critérios diferentes. Um deles é a chamada linha das árvores, área onde ocorre a transição entre a vegetação arbórea e a rasteira, típica da tundra. Outro critério usado é a separação feita pela linha do Círculo Polar Ártico. Esses dois critérios não coincidem na prática e pode haver divergências de até 100 km.
O derretimento e a perda da cobertura de gelo do Ártico é, de longe, o problema mais visível e está diretamente ligado ao aquecimento global, sendo mais evidente na massa de gelo flutuante ou banquisa do Oceano Ártico, que diminui ano após ano. Um exemplo do aumento das temperaturas na região foi o ocorrido na cidade de Verkhoyansk na Rússia em junho de 2020 – os termômetros dessa cidade na Sibéria atingiram a inédita marca de 38° C. Altas temperaturas como essa vêm sendo registradas em diferentes locais do Ártico.
Com níveis de temperaturas tão altos, grandes volumes de gelo derretem durante todo o verão, formando rios caudalosos que correm na direção do Oceano Ártico. Quando o inverno chega, os volumes de gelo nunca voltam aos volumes que existiam anteriormente.
Além da perda massiva de gelo, esse processo de aquecimento local expõe turfeiras ricas em carbono e que estavam aprisionadas sob o gelo há milhares de anos. Essas turfeiras liberam gases como o metano (CH4) na atmosfera, um gás de efeito estufa que é pelo menos 25 vezes mais prejudicial ao meio ambiente que o dióxido de carbono (CO2).
Um exemplo dramático do derretimento do manto de gelo no Ártico é a Groenlândia, ilha autônoma pertencente á Dinamarca. Segundo um estudo publicado na prestigiada revista científica Nature no final de 2020, as três maiores geleiras do país: Jacobshavn Isbrae, Kangerlussuq e Helheim, estão apresentando um rápido derretimento.
De acordo com as estimativas dos pesquisadores, a Jacobshavn Isbrae perdeu 1,5 trilhão de toneladas de gelo entre 1888 e 2012. Nas geleiras Kangerlussuq e Helheim essa perda de massa, entre os anos de 1900 e 2012, foi estimada em 1,3 trilhão e 3,1 bilhão de toneladas, respectivamente. Entretanto, nem é preciso ser um especialista no assunto para observar o que está acontecendo – existem enormes crateras cheias de água por toda a ilha, um sinal claro do derretimento do manto de gelo. Esse problema se repete por todo o Ártico.
Outro problema muito evidente no Ártico é o derretimento do gelo dos solos de permafrost – algumas projeções indicam que cerca de 5% dos solos de permafrost já enfrentam esse problema. Conforme já tratamos em uma postagem anterior, permafrost é uma abreviação de “permanent frost” ou “solos permanentemente congelados”. O termo foi proposto pela primeira vez pelo geólogo e paleontólogo norte-americano Siemon William Muller em 1943.
Os solos do tipo permafrost ocorrem nas regiões Polares e em áreas próximas, além de terrenos elevados em áreas montanhosas. São formados por sedimentos, rochas e detritos minerais permeados por água congelada. Cerca de ¼ dos solos do nosso planeta se enquadram nessa categoria, o que nos dá uma ideia dos impactos ambientais que poderão ser desencadeados pelo aquecimento global.
No Hemisfério Norte, os solos do tipo permafrost são encontrados em quase todo o Alasca, em grande parte do Canadá e na Groenlândia. Na Europa são encontrados no Norte dos países escandinavos – Noruega, Suécia e Finlândia, no Norte da Rússia europeia e em altitudes elevadas dos Alpes. Na Ásia, esses solos ocorrem em uma extensa faixa do Norte da Rússia e também são encontrados no Nordeste da China. No Hemisfério Sul, o permafrost só é encontrado em trechos de grande altitude da Cordilheira dos Andes e na Antártida.
O fenômeno do derretimento do permafrost começou a ganhar notoriedade há alguns anos atrás, quando construções no Alasca e no Norte do Canadá primeiro começaram a se inclinar e, depois, ruíram. Foi então que os moradores dessas regiões começaram a observar que os solos duros do passado, que eram extremamente difíceis de serem escavados para a construção das fundações dos imóveis, haviam se transformado solos lamacentos e instáveis. O problema também afeta as áreas florestais – as raízes das árvores perdem a sustentação e começam a inclinar até cair ao chão.
Em algumas regiões, os Governos locais estão vendo o aumento das temperaturas e o derretimento do permafrost no Ártico como uma grande oportunidade para a expansão das áreas agrícolas. Na Rússia, citando um exemplo, o Instituto de Pesquisas Pustovoit de Culturas Oleaginosas e o Instituto de Pesquisa Agrícola Chuvashia criaram variedades de sementes de soja que crescem em ambientes frios e que podem ser plantadas em solos onde o permafrost derreteu. Em 2019, os russos colheram cerca de 1,1 milhão de toneladas de soja em campos experimentais na área central do país.
A redução da banquisa de gelo flutuante no Ártico também é vista como uma grande oportunidade para a navegação marítima. Chineses e russos pretendem passar a usar rotas através do Oceano Ártico para levar cargas de portos no Oceano Pacífico para a Europa num futuro não muito distante. Essa nova rota de navegação marítima evitaria o uso do complicado e caro Canal de Suez, no Egito.
Enquanto alguns conseguem enxergar vantagens no aquecimento global e no aumento das temperaturas no Ártico, espécies locais tem um futuro incerto. Um ícone desses nossos tempos são os ursos-polares, uma espécie que evoluiu e se adaptou para uma vida nas duras condições do Extremo Norte. De acordo com a IUCN – União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais, na sigla em inglês, a espécie está classificada como “vulnerável”, com oito das dezenove subpopulações em declínio.
Um urso-polar (Ursus maritimus) adulto mede entre 2,4 e 3 metros de comprimento e pesa entre 350 e 700 kg, números que o colocam na posição de maior carnívoro terrestre do mundo. Há registros da captura de animais com até 1 tonelada. A espécie é uma excelente nadadora, habilidade usada para a captura de sua presa favorita – as focas. Durante os meses de verão, os ursos-polares vageiam pelas grandes placas da banquisa de gelo flutuante em busca das focas.
É aqui que o aquecimento global está se voltando contra os ursos-polares – com o derretimento da banquisa de gelo flutuante, o território de caça dos animais está ficando cada vez menor. Muitos animais tem sofrido com a fome e não conseguem resistir aos rigores do Ártico.
Nesses novos e cada vez mais quentes tempos em que vivemos, as mudanças climáticas estão, literalmente, redesenhando os ambientes do Ártico e da Antártica, o que é, para dizer o mínimo, uma gigantesca tragédia ambiental.
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