
Desde 2020, o mundo inteiro vem convivendo e sofrendo com a epidemia da Covid-19. De acordo com as informações disponíveis, cerca de 420 milhões de pessoas em todo o mundo foram acometidas da doença, sendo que mais de 6 milhões acabaram morrendo. Havia muito tempo que a humanidade não enfrentava nada parecido.
Felizmente, as coisas parecem caminhar para uma relativa normalidade. As autoridades de muitos países estão reclassificando a doença e a pandemia está sendo reclassificada com epidemia. Muitas das regras higiênicas, como o uso obrigatório de máscaras, começam a ser flexibilizados. Todos começam a respirar um pouco mais aliviados.
Um problema que começa a ficar cada vez mais evidente é o fato das preocupações com a Covid-19 terem jogado para um segundo plano os cuidados com outras doenças importantes. Problemas cardíacos, por exemplo, que afetam milhões de pessoas e que requerem uma grande atenção, tiveram expressivos aumentos nos números de vítimas devido ao excesso de atenção que passou a ser dado para a pandemia.
Muitos desses problemas aconteceram aqui no Brasil. Um dos casos que vem chamando a atenção das autoridades de saúde do país são os casos de dengue. Segundo dados do Ministério da Saúde, o Brasil assistiu a um aumento dos casos de dengue da ordem de 43,9% apenas nos primeiros meses de 2022, quando comparado ao ano de 2021. São números preocupantes.
No período entre 2 de janeiro e 12 de março, que compreende um total de apenas 10 semanas, foram registrados 161.605 casos prováveis de dengue. Essa probabilidade ocorre por que a confirmação dos casos depende de exames laboratoriais, o que nem sempre é possível em muitas regiões do país. A taxa de incidência é de 75,8 casos para cada 100 mil habitantes.
A dengue, entre outras arboviroses com a Zika, a febre Chikungunya e a febre amarela urbana, são doenças transmitidas por Arbovírus. Esses são vírus que circulam e são transmitidos para hospedeiros vertebrados por artrópodes vetores da doença. O mais conhecido desses vetores é o mosquito Aedes Aegypti.
O mosquito Aedes Aegypti é originário do continente africano, onde aprendeu a viver próximo dos assentamentos humanos desde milhares de anos atrás. Foi durante o período das grandes navegações europeias que esse mosquito “pegou carona” nas embarcações mercantis, especialmente nos chamados navios negreiros, e chegou ao continente americano, se fixando nas áreas tropicais e subtropicais, do Norte da Argentina até o estado da Flórida, nos Estados Unidos da América.
O ciclo de vida dos mosquitos apresenta quatro fases distintas – ovo, larva, pupa e inseto adulto, destacando que os três primeiros estágios dependem da presença de água parada, o que nunca faltou nos assentamentos humanos e foi peça chave na predileção do inseto pela nossa companhia. A adaptação do mosquito Aedes aegypti ao convívio com os seres humanos foi tão grande que, de acordo com estudos especializados recentes, o inseto passou também a se reproduzir em águas paradas com altos índices de poluição como nos esgotos, o que explica os grandes níveis de infestações nas cidades brasileiras.
O ciclo da reprodução dos mosquitos depende da presença de água parada, onde as fêmeas depositam seus ovos. Esses ovos primeiro se transformam em larvas, um ciclo que leva de dois a três dias, e depois em pupas. Nessa última fase surge o mosquito propriamente dito, que eclode em cerca de 48 horas. Um mosquito Aedes aegypti costuma “colonizar” uma área com raio de 200 metros a partir do local do seu nascimento, ou seja, o recipiente com a água parada.
Entulhos da construção civil caixas d`água destampadas, resíduos sólidos descartados incorretamente (o famoso lixo jogado em terrenos baldios), construções abandonadas, entre muitos outros locais, formam pontos de acúmulo de água e se transformam em verdadeiras maternidades para a procriação dos mosquitos, o que resultar em grandes ondas de contaminação pela dengue.
Uma das medidas mais eficientes para a prevenção dessa e de muitas outras Arboviroses é combater os focos de proliferação dos mosquitos: as poças de água de água parada nos quintais e terrenos baldios, além das caixas d’água e outros reservatórios destampados.
Com a preocupações que todos tivemos com a pandemia da Covid-19, muitos dos cuidados e medidas de prevenção acabaram sendo esquecidos e estamos vendo agora um crescimento perigoso da dengue em muitas regiões do país. As chuvas de verão ainda devem persistir por algumas semanas em boa parte do país e os riscos de empoçamento de água ainda são muito grandes.
É preciso uma atenção maior das autoridades no combate a esse problema. Todos precisamos fazer uma varredura em nossas casas e vizinhas em busca de pontos de acúmulo de água. Esses locais podem estar tanto no meio de grandes montes de entulho num quintal vizinho, quanto em um inocente pratinho colocado sobre um vasinho de plantas. Uns milímetros de água parada são suficientes para a procriação de dezenas de mosquitos – basta a picada de apenas um deles para transmitir a doença para uma pessoa.
Que todos os cuidados na prevenção contra a Covid-19 continuem, mas reservando algum espaço para a prevenção de doenças como a dengue.
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