Você já teve a sensação que as chuvas nas grandes cidades brasileiras estão ficando mais fortes a cada ano que passa?
Uma série de fatores vêm provocando um aumento gradativo das enchentes nas grandes cidades e falamos muito sobre eles nas últimas postagens: desmatamentos, impermeabilização dos solos, ocupação de encostas de morros e áreas de várzea, canalização indiscriminada de córregos e riachos, entre outros. A soma de todos esses fatores tem provocado uma redução dos volumes de águas pluviais que são absorvidos pelos solos e num aumento considerável dos volumes de águas superficiais que correm rapidamente na direção dos canais de drenagem. O resultado são as enchentes cada vez maiores.
Existe um outro sério problema que vem ocorrendo nas grandes cidades e que tem provocado um aumento no volume das chuvas nos grandes centros urbanos. São as chamadas Ilhas de Calor Urbanas, também conhecidas pela sigla ICU. Esse fenômeno é provocado pela grande concentração de edificações, especialmente nas áreas centrais das grandes cidades, onde são usados materiais como concreto, asfalto, telhas, tijolos e blocos, que absorvem e retém grandes quantidades de calor.
Um exemplo de Ilha de Calor Urbano é a zona central da cidade de São Paulo. Se você consultar um mapa, verá que o município de São Paulo tem um formato que lembra a cabeça de um cachorro: o focinho é a Zona Leste, as orelhas são a Zona Norte e o pescoço comprido inclui a Zona Oeste e a Zona Sul, a maior de todas as regiões da cidade. O extremo Sul do município é coberto por uma densa vegetação de Mata Atlântica dentro da região da Serra do Mar, distante mais de 50 km do centro da cidade.
O extremo Sul do município de São Paulo apresenta temperaturas até 10° C mais baixas que o centro da cidade. Conforme se segue na direção do Centro, as temperaturas vão aumentando progressivamente. Quando alguém sai do Centro da cidade e vai em direção ao extremo da Zona Norte, onde fica a Serra da Cantareira, percebe nitidamente uma redução da temperatura.
Quando se marca as diferenças de temperaturas nas diferentes regiões de uma grande cidade num mapa usando uma escala de cores entre o azul, para indicar as temperaturas mais baixas, e o vermelho, para indicar as temperaturas mais altas, se encontrará uma sequência de anéis concêntricos, azuis nas bordas e vermelhos no centro. O formato lembrará muito a estrutura de uma ilha oceânica, daí o uso do termo Ilha de Calor.
Em grandes cidades localizadas em regiões Tropicais e Subtropicais, a concentração da radiação solar nas zonas centrais é mais intensa durante o dia, criando um forte desconforto nos moradores devido as elevadas temperaturas e baixa umidade do ar. Já em grandes cidades localizadas em regiões de clima mais frio nas médias e altas latitudes, a incidência do calor é maior durante a noite, melhorando o conforto térmico e reduzindo a necessidade do uso de aquecedores. Ou seja: nas regiões Tropicais e Subtropicais as cidades estão ficando mais quentes, enquanto que nas regiões de média e alta latitude as cidades estão ficando menos frias.
Um outro efeito importante criado pela diferença de temperatura entre as zonas periféricas e a zona central de uma Ilha de Calor Urbano são as correntes de vento que fluem das bordas em direção ao domo térmico no centro da Ilha. Essas correntes de ar carregam grandes quantidades de unidade das áreas periféricas para o Centro, levando à formação de nuvens pesadas e a fortes precipitações nas áreas centrais. O aumento da quantidade de chuvas é maximizado pela intensa impermeabilização dos solos, pela falta de vegetação, por córregos e riachos canalizados, e também pelas grandes quantidades de resíduos sólidos de todos os tipos que são largados pelas ruas e avenidas pela população.
A formação das Ilhas de Calor Urbano pode agravar o fenômeno das ondas de calor ou tempo de canícula, que são os períodos de tempo excessivamente quente e úmido em uma região. Esse calor prolongado pode resultar em problemas de saúde na população, especialmente aqueles ligados a termorregulação corpórea e da percepção da necessidade de hidratação. Pessoas idosas e doentes são as mais susceptíveis a esses problemas, que podem inclusive levar a morte. Em 2003, uma forte onda de calor se abateu sobre grande parte da Europa. A França foi o país mais atingido por uma forte canícula, o que resultou na morte de mais de 1.500 pessoas, principalmente idosas, nas grandes cidades francesas entre os dias 3 e 14 de outubro daquele ano.
As ondas de calor costumam resultar também em consumos explosivos de energia elétrica por causa do uso intenso de ventiladores e sistemas de ar condicionado, o que muitas vezes pode levar o sistema elétrico de parte das cidades ao colapso – os famosos apagões. Esse alto consumo de energia também pode provocar a sobrecarga e danos em subestações de energia elétrica e em transformadores de força, problemas que podem levar vários dias para serem solucionados.
A poluição do ar nas grandes cidades, gerada principalmente pelos gases emitidos por automóveis, caminhões, ônibus e chaminés de indústrias, pode amplificar ainda mais os efeitos nocivos das Ilhas de Calor Urbano. O calor intenso provoca uma série de reações químicas entre os diferentes gases presentes na atmosfera, especialmente “as reações fotoquímicas associadas a química dos sulfatos e nitratos, envolvendo a radiação ultravioleta solar e associada a formação do ozônio, um gás altamente reativo e tóxico.”
O combate à formação das Ilhas de Calor Urbanas será um dos grandes desafios das maiores cidades do mundo neste século. A intensa urbanização vivida nas últimas décadas em todo o mundo levou a formação de grandes aglomerados urbanos. Além de grandes cidades brasileiras que sofrem com enchentes catastróficas como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, podemos citar as problemáticas Mumbai, Nova Déli e Calcutá, na Índia; Bangkok, na Tailândia; Cairo, no Egito; Daca, em Bangladesh; Pequim, Xangai e Guangzhou-Foshan, China; Cidade do México; Nova York e Los Angeles, nos Estados Unidos; Seul, na Coréia; Manila, nas Filipinas; além de Jakarta, na indonésia e Tóquio, no Japão, cidades que já superam a marca dos 35 milhões de habitantes.
Cada uma dessas cidades, à sua própria maneira, já vem enfrentando as consequências da formação das Ilhas de Calor Urbanas, e cada qual deverá buscar suas próprias soluções para resolver o problema, o que não é nada fácil. A arquitetura dos grandes edifícios precisará ser repensada, buscando-se novas técnicas construtivas e materiais que não retenham grandes quantidades de calor. Os solos precisarão ser permeabilizados, principalmente com a criação de grandes áreas verdes no coração das cidades. Córregos e rios já canalizados precisarão ser novamente abertos e ter suas margens renaturalizados. Enfim, as grandes cidades precisarão ser repensadas e adaptadas para uma nova realidade climática.
Um exemplo de cidade que está se reinventando ambientalmente é Seul, a capital da Coreia do Sul, uma cidade com quase 10 milhões de habitantes e encravada no coração de uma Região Metropolitana com cerca de 25 milhões de pessoas. Falaremos dela na próxima postagem.
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[…] Chuvas extremas como a que devastou recentemente a cidade de Petrópolis, na Região Serrana do Rio de Janeiro, estão ficando cada vez mais comuns. Na maioria das cidades, especialmente nas grandes, a causa provável dessas mudanças nos padrões das chuvas a nível local é uma combinação dos efeitos das ações humanas e do crescimento da mancha urbana das cidades, o que forma as chamadas “ilhas urbanas de calor”. […]
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