Quem acompanha as postagens aqui do blog, com certeza deve ter estranhado toda uma sequência de postagens falando da história da soja no Brasil. A partir da postagem de hoje, você vai poder entender claramente onde nós queríamos chegar – o avanço da soja nas regiões do Cerrado brasileiro está causando sérios impactos no regime das águas das mais importantes bacias hidrográficas do Brasil. Para que todos entendam a dimensão deste problema, vamos dar uma visão geral da importância hidrológica do Cerrado – a região é o verdadeiro berço das águas do Brasil.
Ocupando uma área equivalente a um quarto do território brasileiro, o Cerrado possui um clima com uma marcante estação de chuvas, além de solos altamente porosos e adequados para o armazenamento de grandes volumes de águas em seus aquíferos. A combinação de todas estas características resulta nas fecundas nascentes de águas de importantes rios que formam 8 grandes bacias hidrográficas brasileiras: Paraguai, Paraná, Parnaíba, São Francisco, Tocantins/Araguaia, Atlântico Leste, Atlântico Nordeste Ocidental e Amazônica.
Para que você consiga visualizar o que tudo isso significa, segue uma descrição resumida de cada uma destas bacias hidrográficas, com a indicação das áreas totais de drenagem e das regiões onde estão localizadas, que se espalham por todos os cantos do Brasil:
A bacia hidrográfica do rio Paraguai tem uma área total de 1,1 milhão de km² e abrange áreas dos estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, incluindo também áreas em territórios da Argentina, do Paraguai e da Bolívia. O Paraguai é o principal rio da bacia hidrográfica.
A bacia hidrográfica do rio Paraná abrange uma área de 879 mil km², distribuídos pelos Estados de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Paraná e Santa Catarina, além do Distrito Federal. O Rio Paraná é o principal rio da bacia hidrográfica, que conta ainda com importantes rios como o Grande, Paranaíba, Tietê, Paranapanema e Iguaçu. As bacias hidrográficas do Paraguai e do Paraná se juntam, formando a bacia hidrográfica do Rio da Prata, a segunda mais importante da América do Sul.
A bacia hidrográfica Araguaia-Tocantins é formada pela junção das águas dos rios Tocantins e Araguaia, se estendendo pelos Estados de Goiás, Tocantins, Mato Grosso, Pará e Maranhão, além do Distrito Federal. É a maior bacia hidrográfica totalmente brasileira. Esta bacia ocupa uma área de aproximadamente 767 mil km², equivalente a 7,5% do território brasileiro.
A bacia hidrográfica do Atlântico Leste ocupa uma área de 388 mil km², se estendendo desde o Nordeste do Estado de Minas Gerais, Norte do Espírito Santo, Leste da Bahia, além do Estado de Sergipe. Os principais rios formadores desta bacia hidrográfica são o Paraguaçu, das Contas, Salinas, Pardo, Jequitinhonha, Mucuri e Itapicuru.
A bacia hidrográfica do rio Parnaíba abrange quase totalmente o Estado do Piauí e partes do Maranhão e do Ceará, com uma área total de 344 mil km². O Parnaíba é o principal rio da bacia hidrográfica, com aproximadamente 1.400 km de extensão e com nascentes no Sul do Piauí.
A bacia hidrográfica do Atlântico Nordeste Ocidental possui uma área de 254 mil km², que engloba grande partes dos Estados do Maranhão e do Pará. Tem como principais formadores os rios locais: Gurupi, Turiaçu, Pericumã, Mearim, Itapecuru, Kabrelindzom e Murim;
Rios com nascentes no Cerrado também são tributários da maior bacia hidrográfica do mundo – a do Rio Amazonas, que ocupa uma área de quase 7 milhões de km². Os principais tributários com nascentes em áreas da região do Cerrado no Estado de Mato Grosso são o rio Xingu e os rios Teles Pires, Arinos e Juruena, formadores da bacia hidrográfica do rio Tapajós. Também se inclui nesta lista o rio Guaporé, afluente da bacia hidrográfica do Rio Madeira, com nascente no Estado do Mato Grosso, entre outros rios.
E não menos importante, a bacia hidrográfica do Rio São Francisco, que drena uma superfície com uma área total de 639 mil km² e se estende naturalmente pelos Estados de Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe, e através do Sistema de Transposição já atinge o Estado da Paraíba e, em breve, chegará também aos Estados do Ceará e Rio Grande do Norte.
Apesar de fornecer água para a maioria das bacias hidrográficas do Brasil, existe uma grande diferença no volume destas contribuições: enquanto as águas de rios com nascentes na região do Cerrado contribuem com apenas 4% das águas da gigantesca bacia Amazônica, na bacia hidrográfica do Rio São Francisco essa contribuição corresponde a 94%. Isto significa que a eventual destruição das fontes de água da região do Cerrado seria quase irrelevante para a região da bacia Amazônia e catastrófica para a região do Semiárido.
Infelizmente, o avanço das fronteiras agrícolas em áreas do Cerrado, especialmente com a cultura da soja, já apresenta como resultados uma visível redução nos caudais destas bacias hidrográficas – no caso do Rio São Francisco, que é altamente dependente dessas águas, essa redução é muito mais do que visível: é alarmante!
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[…] dos últimos anos, os persistentes baixos níveis no Lago de Furnas podem também ser resultado do avanço da agricultura sobre as áreas do Cerrado, bioma predominante na […]
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