
Nas últimas semanas, os noticiários e as redes sociais tiveram dois temas de maior relevância e compartilhamentos: as fortes chuvas que assolaram o Sul da Bahia e depois grande parte do Estado de Minas Gerais, e a variante Ômicron da Covid-19, onde aqui incluo também o debate sobre a vacinação das crianças.
Em meio a tantos problemas, existe uma questão importante que acabou ficando meio de lado nas discussões: os vírus arbóreos transmissores de doenças como a Dengue, a Zika e a febre Chikungunya.
O elo em comum entre essas doenças é um velho conhecido aqui do blog: o mosquito Aedes aegypti, o principal transmissor dos vírus arbóreos causadores dessas doenças. Apesar de ter ficado bastante ofuscado pelo Corona Vírus nesses últimos dois anos, o mosquito e as suas doenças seguem causando grandes problemas para as populações. Nessa época de chuvas, quando os mosquitos aumentam fortemente a sua reprodução, precisamos todos nos cuidar.
Vou começar falando de São Paulo, a minha cidade. Mesmo sem ter ocupado quase nenhum espaço nos noticiários, os casos de Dengue na cidade mais do que triplicaram ao longo de 2021. A Secretaria Municipal de Saúde divulgou um balanço em meados de novembro passado, onde constam 7.203 casos confirmados de Dengue na cidade até aquele momento ante um total de 2.026 casos registrados em todo o ano de 2020.
Aqui é importante ressaltar que em 2020 houve uma redução expressiva do número de casos quando se compara com o ano de 2019, quando a cidade registrou 16.966 casos confirmados da doença com três mortes. É bastante provável que essa queda no número de casos esteja diretamente associada às políticas de restrição à circulação de pessoas em 2020 por causa da epidemia da Covid-19.
Uma outra hipótese, bastante plausível, é que houve uma subnotificação dos casos. Com medo do Corona vírus, muita gente fez questão de se manter o mais longe possível de postos de saúde e hospitais, preferindo tratar a doença com remédios caseiros ou outros tratamentos paliativos.
Esse brusco aumento nos casos de Dengue em 2021, seguindo essas linhas de raciocínio, decorreria de um relaxamento nas medidas de combate aos criadouros do mosquito Aedes aegypti ou ainda da volta da população às unidades médicas em busca de tratamento. A preocupação dos especialistas é o número de casos continuar aumentando ao longo desse novo ano.
Outro exemplo preocupante de aumento de casos de doenças por vírus arbóreos é o Ceará, Estado que nas últimas décadas tem sido um dos campeões brasileiros “nessas modalidades”. De acordo com dados da Secretaria Estadual de Saúde, os casos confirmados de Dengue em 2021, foram 31.185 com 19 mortes ante os 20.550 casos confirmados em 2020.
Além da Dengue, o Ceará registrou 4.756 casos confirmados de febre Chikungunya e 175 casos de Zika. Nenhuma morte por essas doenças foi registrada no Estado. As autoridades médicas do Ceará atribuem esse menor número de casos confirmados em 2020 à subnotificação por causa da epidemia da Covid-19.
Com uma temporada de chuvas bem acima da média em muitas regiões brasileiras, é de se esperar que assistiremos um aumento expressivo no número de casos dessas doenças ao longo dos próximos meses. Aqui há um ponto importante a ser considerado: todas essas doenças, em maior ou menor grau, criam dificuldades respiratórias, o que poderá agravar casos de Covid-19.
O mosquito Aedes aegypti é um importante vetor de transmissão de doenças virais, especialmente os chamados arbovírus, há mais de 100 anos aqui no Brasil. De origem africana, esse mosquito chegou às Américas de carona em embarcações mercantis, principalmente nos famigerados navios negreiros, e se disseminou em áreas de clima tropical e subtropical do Norte da Argentina até o Sul dos Estados Unidos.
Como todo bom mosquito, o Aedes aegypti precisa de um meio aquático para a sua reprodução. E não falamos aqui de grandes corpos d`água como rios, lagoas e represas. Basta uma pequena reserva de água em resíduos plásticos, latas, casca de ovos ou uma caixa d`água destampada para que surja um verdadeiro criadouro desses insetos.
Um dado interessante do mecanismo de reprodução desse mosquito é a resistência dos seus ovos. Quando a fêmea do Aedes aegypti identifica um local apenas com potencial para acumular água, ela faz a postura dos ovos, que podem sobreviver até dois anos aguardando o momento certo para eclodir. Quando esse recipiente enche de água – logo após uma chuva por exemplo, os ovos são reanimados em apenas 15 minutos.
A primeira fase da vida de um mosquito é na forma de uma larva, evoluindo para uma pupa em apenas 5 dias e bastando apenas 2 dias para se transformar num mosquito adulto e com vida independente da água para sobreviver (vide foto). Em média, um ovo precisa de um espaço de tempo entre 7 e 10 dias para gerar um mosquito já voando.
Em um país com climas predominantemente equatorial e tropical como o Brasil, mosquitos como o Aedes aegypti se reproduzem praticamente durante todo o ano. Porém, são nos períodos de chuva quando essa reprodução aumenta exponencialmente. E graças ao nosso tradicional descuido com a gestão resíduos sólidos, nossas cidades se transformam em grandes “maternidades” de mosquitos nessas épocas do ano (as temporadas de chuvas não são iguais em todo o Brasil).
É um tanto desagradável ficar repetindo as mesmas informações ano após ano, mas é importante alertar a todos sobre os cuidados com os resíduos espalhados nos quintais e casas, onde existe qualquer possibilidade para a reprodução dos mosquitos – especialmente o Aedes aegypti.
Façam todos uma boa inspeção em suas casas e, particularmente, em terrenos baldios próximos. Encontrando resíduos e recipientes com água parada, trate imediatamente de esvaziá-los e descartá-los corretamente. Esse simples cuidado protegerá tanto a sua família quanto os seus vizinhos.
Manter-se sempre alerta contra o Corona vírus é importante, especialmente quando uma nova variante com alto poder de contaminação está circulando por todo o mundo. Mas o bom e velho cuidado com as nossas já “tradicionais” arboviroses também é fundamental para que todos tenhamos uma vida saudável!