USINA DE PARNAHYBA – A PRIMEIRA HIDRELÉTRICA COM BARRAGEM DO BRASIL

Usina Edgard de Souza

Na última postagem falamos das importantes relações entre água e geração de energia elétrica aqui no Brasil. A matriz elétrica brasileira é a que mais utiliza fontes renováveis do mundo – cerca de 82% da energia elétrica do país vem dessas fontes. A geração através de usinas hidrelétricas é um dos destaques e corresponde a 65% do total das fontes renováveis. Uma das mais antigas usinas hidrelétricas do Brasil foi a Usina de Parnahyba (a escrita de Parnaíba era assim na época), inaugurada em 1901. Vamos conhecer um pouco da sua história e algumas das mudanças que ela provocou na cidade de São Paulo. 

Nas últimas décadas do século XIX, a cidade de São Paulo passou a sofrer um processo de crescimento nunca visto antes na história do país. Localizada no entroncamento de diversas linhas férreas que ligavam as zonas produtoras de café do interior do Estado ao Porto de Santos, a pequena cidadezinha de 30 mil habitantes na década de 1860, foi transformada num importante entreposto comercial, industrial e financeiro, atingindo a marca de 240 mil habitantes em 1900. 

Todo esse crescimento econômico, criado a partir dos lucros da produção e exportação do café, passou a chamar a atenção de importantes empresas e bancos internacionais, que passaram a se instalar na pulsante cidade de São Paulo. Uma dessas empresas foi a canadense Light and Power Company, uma empresa especializada na geração e distribuição de energia elétrica, além de transportes públicos através de bondes elétricos. A Light obteve a concessão desses serviços junto ao Governo local e se instalou na cidade de São Paulo em 1899. 

Um dos primeiros projetos da empresa no Brasil foi a construção de uma usina hidrelétrica nas cercanias da cidade de São Paulo. O local escolhido foi Santana de Paranaíba, uma cidade localizada a cerca de 60 km do centro da capital paulista e que é cortada pelo importante rio Tietê. No local escolhido para a obra, foi construída uma barragem com mais de 15 metros de altura, a primeira do tipo para uso na geração de energia elétrica no país. Há época da sua inauguração, a Usina de Parnahyba tinha uma capacidade de geração de 2 MW – em 1912, pouco mais de 10 anos depois, a capacidade de geração teria de ser ampliada para 12,8 MW, de forma a atender uma população sedenta por energia elétrica. 

Apesar de ser o maior e mais importante rio da região do Planalto de Piratininga, o Tietê apresenta vazões muito irregulares, alternando grandes cheias nos períodos de chuva e baixíssimas vazões nos períodos de seca. Como a represa da Usina de Parnahyba era muito pequena, essa vazão irregular passou a comprometer a produção de geração de energia elétrica. Para solucionar o problema, a Light decidiu construir uma represa para regularizar a vazão de águas do rio Tietê. O local escolhido foi Santo Amaro, que na época era uma pequena cidade localizada a cerca de 15 km do centro de São Paulo. 

A opção pela região de Santo Amaro deveu-se ao relevo dos acentuados contra fortes da Serra do Mar, com grande precipitação de chuvas e garantia de boa vazão nos rios da região, especialmente nos cursos do Guarapiranga, nome de origem tupi que significa “guará vermelho”, Embu-Guaçu e Embu-Mirim, nomes também de origem tupi que significam “cobra grande” e “cobra pequena”, respectivamente. Santo Amaro era, na época, uma pequena cidade fortemente rural, o que barateou imensamente os custos de desapropriação das chácaras na região de formação da represa. 

A represa foi responsável pelo início das acentuadas transformações que a região de Santo Amaro viria a sofrer nas décadas seguintes. A primeira destas mudanças foi no microclima local – de acordo com relatos orais de famílias que moram na região desde aquela época, foi logo após a construção da Guarapiranga que teve início o famoso fenômeno da garôa paulistana, que foi ampliado para o resto da cidade após a implantação da represa do complexo Billings anos depois. A Represa de Guarapiranga entrou em operação em 1908. Vinte anos depois, devido ao contínuo crescimento da população da cidade de São Paulo e da necessidade de garantir o abastecimento urbano, a Guarapiranga foi promovida a manancial de abastecimento de água e a função de regularização do fluxo do rio Tietê passou a ser cada vez mais restrita.

Em 1949, a Usina de Parnaíba passou a ser chamada de Usina Edgard de Souza e em 1952, essa pequena hidrelétrica do rio Tietê perdeu relevância e deixou de gerar energia elétrica. A usina passou por uma série de transformações e voltou a funcionar anos depois como uma usina elevatória, que tinha a função de inverter o curso das águas do rio Tietê para a direção da Represa Billings, responsável pela alimentação da Usina Hidrelétrica Henry Borden, em Cubatão.  

A Usina Edgard de Souza deixou de operar como usina elevatória em 1982. A barragem recebeu comportas e passou a ser usada no controle do escoamento das águas do rio Tietê (vide foto), ajudando a controlar as famosas enchentes que assolam a cidade de São Paulo nos períodos de verão. 

Para os padrões atuais de nosso parque de geração de energia elétrica, que conta com usinas hidrelétricas gigantescas como Itaipu e Tucuruí, uma usina hidrelétrica com potência instalada de apenas 2 MW, como foi no início a Usina de Parnahyba, teria muito pouca importância no país. Porém, nos primórdios da industrialização de São Paulo, essa pequena hidrelétrica fez toda a diferença e foi decisiva para o início das operações de um sem número de fábricas em toda a Região Metropolitana de São Paulo. 

Com o passar dos anos, a Light passou a construir uma série de pequenas usinas hidrelétricas, aumentando gradativamente a potencia elétrica instalada em São Paulo. Na década de 1920, a empresa decidiu mudar de patamar e começou a planejar um complexo sistema de geração elétrica de grande porte – o Sistema Billings

Na nossa próxima postagem, vamos falar desse importante complexo de geração de energia elétrica, que foi fundamental para a região por mais de meio século e que, entre outros feitos, foi um dos principais responsáveis pela instalação das indústrias automobilísticas na Região do ABC Paulista na década de 1950.

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