
Na postagem anterior falamos dos grandes prejuízos que os municípios brasileiros vêm sofrendo ao longo dos últimos anos com as fortes chuvas e todos os problemas associados. Segundo um estudo da CNM – Confederação Nacional dos Municípios, os prejuízos causados pelas chuvas entre o dia 1° de outubro de 2017 e 17 de janeiro de 2022, já somam um total de R$ 55,5 bilhões.
Quem leu a postagem deve ter percebido que esses prejuízos anuais vêm crescendo ao longo dos anos. Isso se deve ao aumento da intensidade e da frequência das chuvas em muitas regiões em consequência das mudanças climáticas globais. Uma das maiores evidencias dessas mudanças é o aumento da intensidade do El Niño e de La Niña, fenômenos climáticos que influenciam diretamente as chuvas aqui no Brasil.
Se as chuvas estão aumentando em frequência e intensidade, raciocinando de forma lógica, a ocorrência de raios também deve estar aumentando no país. Se você pensou isso – parabéns! Acertou em cheio.
Cientistas do Grupo de Eletricidade Atmosférica do INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, lançaram no último mês de novembro, um livro intitulado “Brasil: campeão mundial de raios”, o mesmo título que usamos nesta postagem. O livro foi o resultado de trinta anos de estudos e coleta de dados atmosféricos em todo o Brasil.
Segundo o estudo liderado pelos cientistas Osmar Pinto Jr e Iara Cardoso, a média anual de descargas elétricas no país deverá atingir a cifra de 100 milhões até o final desse século. Aqui é importante citar que o Brasil já é o país campeão absoluto em raios do mundo com uma média anual de 70 milhões de raios.
Para efeito de comparação, o segundo colocado é o Congo, com média anual de 43,2 milhões de raios. Na sequência vem os Estados Unidos, com 35 milhões de raios por ano, a Austrália com 31,2 milhões, a China com 28 milhões e a Índia com 26,9 milhões de raios.
As projeções dos cientistas indicam que a Amazônia será a região brasileira com o maior aumento da incidência de raios, aumento que deverá atingir a marca dos 50%. A Amazônia já é líder nacional em descargas atmosféricas devido à grande incidência de tempestades em toda a região.
Um exemplo da grande incidência de raios na região é uma área da Floresta Amazônica localizada às margens do rio Negro e a cerca de 100 km da cidade de Manaus. De acordo com a análise de imagens de satélite, essa área de 25 km2 é atingida por raios ao longo de 250 dias a cada ano.
Para as Regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, as projeções indicam um aumento da incidência de raios entre 20% e 40%. Já para a Região Nordeste, que é a mais seca do país e a menos sujeita a fortes tempestades, é esperado um aumento de 10% na incidência de raios.
Os cientistas brasileiros usaram os principais modelos matemáticos de previsão meteorológica disponíveis no mundo para montar as suas projeções. Esses modelos estimam o aumento do calor e, consequentemente, indicam o aumento das tempestades e dos raios.
As projeções indicam um aumento no número de dias de tempestades por grau de elevação na temperatura da ordem de 35% no Hemisfério Sul. Outro fator importante considerado no estudo foi o aumento da temperatura global em 1,18° C desde o final do século XIX, com destaque para os últimos sete anos, considerados os anos mais quentes já registrados na história.
Outra constatação importante do estudo está ligada aos fenômenos climáticos El Niño e La Niña que, conforme já citamos, tem aumentado de intensidade ao longo dos últimos anos. Esses fenômenos podem aumentar a incidência de tempestades e de raios no país. Em 2021, ano de ocorrência de La Niña, o número total de raios no Brasil superou a marca dos 110 milhões.
A queda de raios é responsável por cerca de 70% dos desligamentos das linhas de transmissão de energia elétrica e por aproximadamente 40% dos desligamentos nas redes de distribuição de energia elétrica nas cidades. Além disso, as descargas elétricas provocam danos em um grande número de aparelhos eletroeletrônicos e em eletrodomésticos.
Acidentes com raios também produzem um grande número de vítimas a cada ano. Segundo dados do INPE, o Brasil ocupa a sétima posição mundial em mortes por raios: foram registradas 2.194 vítimas fatais desde o ano 2000, o que dá uma média de 110 casos por ano.
Cerca de 300 pessoas atingidas por raios conseguem sobreviver a cada ano no país, porém com graves sequelas. Além de queimaduras, as vítimas podem apresentar traumas físicos e neurológicos. De acordo com os especialistas, entre 80% e 90% dos acidentes com raios poderiam ser evitados com simples medidas de segurança.
Segundo as estatísticas, a chance de uma pessoa ser atingida por um raio é de uma em um milhão. Porém, se essa pessoa estiver em um local aberto durante uma tempestade, a chance de ser atingida por um raio passa a ser de uma em mil. Ou seja – sair de lugares abertos como campos, praias e piscinas e procurar um local abrigado durante uma tempestade é uma ação de segurança das mais fundamentais.
A Região Sudeste do país responde por 26% dos casos de acidentes com raios. A maioria das mortes em decorrência deste tipo de acidente – 67%, ocorrem no verão e na primavera. Outro dado curioso: 82% das mortes registradas são de homens, enquanto que as mulheres respondem por apenas 18% dos casos fatais.
Para encerrar, um resumo dos locais mais propícios a esses acidentes: 26% das fatalidades ocorrem em atividades ligadas ao agronegócio; 21% dos casos com pessoas que estavam dentro de casa, mas próximas da rede elétrica ou dos canos da rede hidráulica do imóvel; 9% envolvem pessoas em áreas abertas em rios, praias e piscinas; 9% com pessoas abrigadas embaixo de árvores; 8% em áreas descampadas e 7% envolvendo pessoas próximas a veículos ou em veículos abertos em rodovias.
Em tempos de mudanças climáticas e de alterações nos padrões das chuvas em muitas regiões, esse estudo vem como mais um alerta para a nossa segurança pessoal. Precisamos ficar cada vez mais atentos aos sinais dos céus, seja para as chuvas, seja para os raios!
[…] Brasil, para quem não sabe, é o país campeão absoluto em raios do mundo com uma média anual de 70 milhões de raios. De acordo com estudos de cientistas do Grupo de […]
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