
A cidade de São Paulo completou 468 anos nesse dia 25 de janeiro, com direito a feriado prolongado de quatro dias para muita gente. Maior cidade do Brasil, a metrópole caótica concentra uma população de mais de 12 milhões de habitantes e tem enormes problemas em todas as áreas. Mesmo assim, nós paulistanos somos apaixonados por Sampa.
Até o final da década de 1860, São Paulo não passava de uma cidadezinha perdida no meio do Planalto de Piratininga. Naqueles velhos tempos, juntando a população de todos os núcleos habitacionais do município, a população mal chegava aos 30 mil habitantes. Até então, fontes de água potável abundavam por todos os lados.
Com a introdução dos grandes cafezais no interior do Estado e com a construção das estradas de ferro que ligavam os centros de produção ao porto de Santos, a geografia colocou a cidadezinha numa posição estratégica entre o interior e o litoral. Bastaram apenas uns poucos anos para transformar aquele fim de mundo num importante centro comercial e logístico, o que mudaria para sempre os rumos da cidade, que nunca mais parou de crescer.
Ao longo dos primeiros séculos da sua história, os principais mananciais de abastecimento da população de São Paulo eram o rio Tamanduateí e vários dos seus afluentes. Aliás, o local escolhido pelos padres jesuítas para a fundação da cidade em 1554 – o Pátio do Colégio, foi o alto de uma colina ao lado desse rio. Porém, conforme a cidade começou a crescer, o lançamento de esgotos começou a comprometer a qualidade das águas do rio Tamanduateí.
Em 1877 foi criada a Companhia Cantareira de Águas e Esgotos, uma autarquia da cidade de São Paulo que seria a responsável pelo abastecimento e a qualidade das águas servidas para a população. Um dos primeiros trabalhos realizados pela empresa foi o de aumentar o volume de águas que chegavam na Represa do Engordador, que assumiu o papel de principal manancial de abastecimento da cidade na época. Sistemas de adutoras foram instalados a partir de fontes de águas na Serra da Cantareira, permitindo a regularização do fornecimento de água nos chafarizes e bicas públicas ao longo de todo o ano.
Em 1893, objetivando aumentar ainda mais o volume de águas usadas para o abastecimento da cidade de São Paulo, foi construída uma linha férrea destinada ao transporte dos materiais e equipamentos que seriam usados na construção de barragens e adutoras. Esse sistema ficou conhecido como Cantareira Velho e foi o principal sistema produtor de água da cidade por quase um século.
Um detalhe curioso: após a conclusão das obras, a linha férrea passou a ser usada para o transporte de passageiros. Essa foi a origem do famoso Trenzinho da Cantareira, com sua antológica parada no bairro do Jaçanã, imortalizada na música “Trem das Onze” de Adoniran Barbosa e transformada num ícone cultural da cidade de São Paulo.
O crescimento populacional da cidade de São Paulo, entretanto, sempre foi muito maior do que a oferta de água potável. Ao longo da maior parte do século XX, grande parte da população da cidade – em especial as áreas periféricas, sofreram com a falta de água potável. Essas populações precisavam se valer da escavação de poços semiartesianos – chamados também de poços caipira, cacimba e cacimbão. Eu lembro que a minha casa usou água de poço até meados da década de 1970.
No início da década de 1960, a Secretaria de Planejamento do Estado de São Paulo chegou à conclusão que a Região Metropolitana de São Paulo necessitava de um maior volume de água para garantir o abastecimento local e realizou uma série de estudos visando encontrar novas fontes de abastecimento.
Relatos históricos apontam que foram apresentadas duas opções: a do Sistema Cantareira, com produção de 33 m³/s de água a um custo à época de US$ 1 bilhão, e a do Juquiá (Vale do Ribeira), com produção de 70 m³/s de água a um custo de US$ 6 bilhões. A escolha recaiu sobre Sistema Cantareira, pois o projeto do Juquiá, além do alto custo de construção, implicaria em maiores gastos operacionais com sistemas de bombeamento d’água.
O Sistema Cantareira foi construído entre o final da década de 1960 e início da década de 1980. O sistema possui cinco reservatórios: Jaguari, Jacareí, Cachoeira e Atibainha (na Bacia do Rio Piracicaba) e Paiva Castro (na bacia do Alto Tietê), além de uma pequena represa no alto da Serra da Cantareira, a Águas Claras.
O Sistema foi projetado com as represas em altitudes diferentes em função da topografia da região. Graças a essas diferenças de altitude, o Sistema Cantareira utiliza a força da gravidade para conduzir as águas desde as represas de Jaguari e Jacareí, na região de Bragança Paulista, passando para as represas de Cachoeira, Atibainha e Paiva Castro.
Um sistema de túneis conduz a água até Estação Elevatória Santa Inês, que bombeia as águas para a represa de Águas Claras na Serra da Cantareira. De Águas Claras a água é enviada para a Estação de Tratamento do Guaraú, na zona norte da cidade de São Paulo. Após o tratamento, a preciosa água chega aos lares, indústrias, escritórios e comércios de grande parte da Região Metropolitana.
Após a criação do Sistema Cantareira e da realização de inúmeras obras de implantação de redes de distribuição de água potável, o abastecimento de água finalmente foi universalizado entre a população paulistana. Falamos aqui da década de 1990, o que em termos históricos é algo bastante recente.
A sensação de segurança hídrica que a construção desse grande manancial de abastecimento fez com que as autoridades ficassem “relaxadas” demais e diversas obras complementares – especialmente a interligação dos diversos mananciais de abastecimento da Região Metropolitana, fossem deixadas de lado.
Em 2014, devido a maior seca da região em mais de 80 anos, o Sistema Cantareira entrou em crise. As represas começaram a secar, chegando até o chamado “volume morto” (quando o nível das águas fica abaixo dos pontos de captação do sistema). As populações das Regiões Metropolitanas de São Paulo e de Campinas foram obrigadas a entrar num rigoroso sistema de racionamento de água. Essa crise se estendeu até o início de 2016.
Desde então, o acompanhamento dos níveis dos mananciais de abastecimento – em especial do Sistema Cantareira, passou a fazer parte da vida de muita gente. As notícias mais recentes, infelizmente, não são as mais animadoras. Apesar de boa parte do país estar enfrentando chuvas bem acima da média, os mananciais que abastecem São Paulo e sua Região Metropolitana estão recebendo volumes de água abaixo do que seria esperado.
O nível do Sistema Cantareira está em 30,2% de sua capacidade máxima (dados do dia 25/01/2022). Há exato um ano atrás o nível do Sistema estava com 42,2%, uma situação um pouco mais confortável. No total, o volume de água armazenada em todos os reservatórios que abastecem a Região Metropolitana está no nível de 46%. O período chuvoso ainda vai se estender até o final de março, mas uma luz amarela já está acesa.
É complicado saber que regiões de nosso país estão sofrendo com o excesso de chuvas e ver as importantes represas de nossas vizinhanças aqui em São Paulo “capengando” com a seca.
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