
Apresentamos ao longo das últimas postagens um resumo da situação da Mata das Araucárias nos Estados do Sul do Brasil. Essa floresta, que é típica de regiões de clima mais frio e de relevos mais altos como os planaltos, é um importante subsistema florestal da Mata Atlântica. De acordo com as estimativas mais recentes, a Mata das Araucárias é um dos biomas mais devastados do Brasil e está reduzida a cerca de 3% da sua área original. Os remanescentes florestais estão altamente fragmentados, um problema que coloca as suas espécies animais e vegetais em seríssimo risco de extinção.
A Floresta Ombrófila Mista, nome científico da Mata das Araucárias, tem como espécie vegetal mais representativa a icônica Araucária angustifólia, mais conhecida com pinheiro-do-Paraná. Além dos Estados do Sul do Brasil, essas árvores são encontradas de forma dispersa nas regiões serranas dos Estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, além de matas no Mato Grosso do Sul.
Essa espécie de árvore é tipicamente sul-americana e suas origens remontam a cerca de 200 milhões de anos atrás, época em que o nosso continente ainda formava uma parte do antigo Supercontinente de Gondwana. Uma outra espécie da família é a Araucária araucana, encontrada em países como o Chile e a Argentina. Originalmente, a Mata das Araucárias cobria cerca de 37% do território do Paraná, 31% de Santa Catarina e 25% do Rio Grande do Sul.
As araucárias adultas podem superar uma altura de 50 metros e um diâmetro de mais de 2 metros. A árvore possui uma madeira resistente e sem falhas – o pinho, de grande valor comercial por suas excelentes aplicações na movelaria, na construção civil e também para a produção de celulose. As araucárias começaram a ser exploradas desde os primeiros tempos da colonização do país. O Planalto de Piratininga, uma grande mancha de vegetação de Cerrado cercada por uma Floresta Ombrófila Densa – a Mata Atlântica encontrada ao longo do litoral, e por Matas de Araucárias, é um grande exemplo dessa exploração.
O famoso bairro de Pinheiros, na Zona Oeste da cidade de São Paulo, recebeu esse nome por causa da grande quantidade de araucárias que existiam na região. As madeiras retiradas dessas matas foram fundamentais para o início da construção da grande metrópole, que foi fundada em 1554.
Para se ter uma ideia do grau de exploração das araucárias, somente entre as décadas de 1930 e 1990, perto de 100 milhões de araucárias foram derrubadas para aproveitamento da sua madeira, principalmente nos Estados da Região Sul do Brasil. Entre as décadas de 1930 e 1960, a madeira de pinho das araucárias esteve no topo da lista das madeiras exportadas pelo Brasil. De acordo com os pesquisadores Koch & Correia:
“No curto tempo de duas gerações humanas, (a Mata das Araucárias) não está resistindo às queimadas, ao fio dos machados e motosserras, disputas de terras, ausência de políticas públicas estratégicas, e a imperiosa cultura humana de domínio e posse”
A madeira de pinho das araucárias ganhou projeção e reconhecimento mundial durante a I Grande Guerra (1914-1918). O acesso às áreas produtoras do famoso pinho-de-Riga, uma das principais madeiras usadas nos países europeus e abundante na região do Mar Báltico, foi bloqueado pelo conflito entre os países. O pinho brasileiro passou a ser usado como uma espécie de “madeira genérica” e as exportações aumentaram de maneira explosiva. Grandes extensões da Mata das Araucárias, principalmente no Paraná, desapareceram nesse período.
A Floresta Ombrófila Mista também abrigava outras espécies de árvores com madeiras nobres e de grande valor comercial como as perobas, imbuias, marfins, cedros e canelas. Toda essa riqueza em madeiras de qualidade acabou levando à instalação de um sem número de serrarias e empresas especializadas na fabricação de móveis, portas e janelas, além da produção de pranchas e chapas de madeiras para os mais diversos usos. Os férteis solos das áreas desmatadas passaram a ser usados na produção das mais diferentes culturas, e criação de animais, além de abrigar florestas comerciais de eucalipto e de pinus.
Também é importante citar a erva-mate (Ilex paraguaiensis), também chamada de congonha, uma árvore da família das aquifoliáceas que nasce à sombra das araucárias. O mate ou chimarrão é uma bebida quente muito apreciada pelas populações do Sul do Brasil, além de uruguaios, argentinos e chilenos. A versão gelada – o tererê, faz sucesso em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, Acre, Rondônia, no Oeste de São Paulo, além do Paraguai e Bolívia, entre outras regiões. A exploração da erva-mate foi, durante muito tempo, uma das principais riquezas exploradas na Região Sul.
Além de uma importante vida vegetal, a Mata das Araucárias abriga uma infinidade de espécies animais, muitas delas endêmicas e dependentes de sementes e frutos locais. Na extensa lista destacamos os tucanos, beija-flores, saíras, gaturanos, sanhaços e jibóias, entre outras espécies. Merecem um destaque especial nessa lista os animais disseminadores dos pinhões, a semente das araucárias – a gralha-azul, várias espécies de papagaios e de roedores.
Falando em pinhão, vale destacar aqui a importância ancestral dessa semente para a alimentação das populações. As diversas etnias indígenas que habitavam o Sul do Brasil dependiam fortemente do consumo dos pinhões. A cultura do pinhão é tão forte que o calendário escolar de muitas regiões do Paraná possui um período de férias diferenciado, justamente na época da colheita do pinhão – crianças indígenas se embrenham nos remanescentes florestais com seus pais buscando as sementes.
Além da trágica perda de espécies animais e vegetais, a destruição maciça da Mata das Araucárias é altamente impactante para os solos. A grande massa de matéria orgânica produzida por essas árvores de grande porte é vital para a fertilização dos solos, onde forma uma espessa camada de fertilizante natural (húmus).
A antiga cobertura dessas matas também protegia essa importante camada de solo fértil contra os processos erosivos, protegendo também os corpos d’água do assoreamento. A vegetação também era importante no auxílio à recarga dos depósitos subterrâneos de água, fundamentais na alimentação das nascentes das fontes de água.
Todos esses antigos domínios da Mata das Araucárias hoje estão transformados em campos agrícolas, florestas comerciais de eucalipto e pinus, fazendas e sítios de criação de animais, além de abrigar cidades de todos os portes. A importância econômica do uso desses solos é indiscutível num país que se transformou numa das maiores potências agrícolas do mundo nas últimas décadas.
Porém, todos os esforços possíveis para salvar o que restou da Mata das Araucária têm de ser buscados. Reflorestar onde for possível e criar corredores para a interligação dos remanescentes florestais também são práticas essenciais.
A Mata Atlântica e, em especial, a Mata das Araucárias, são biomas essenciais para a preservação da vida da maior parte da população brasileira. Todo o cuidado com ela (ou com o que restou) é pouco!
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[…] Conforme apresentamos em postagens anteriores, toda a faixa Norte do Rio Grande do Sul era coberta pela Mata Atlântica. Essa vegetação se estendia desde a faixa litorânea até a divisa com a Argentina, cobrindo aproximadamente 25% do território gaúcho. Uma parte importante dessa vegetação era a chamada Floresta Ombrófila Mista, mais conhecida como Mata das Araucárias. […]
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